TEMA
16. Creio na ressurreição da carne e na vida eterna 4
4. O inferno como recusa
definitiva de Deus
A
Sagrada Escritura afirma, repetidas vezes, que os homens que não se arrependerem
dos seus pecados graves perderão o prémio eterno da comunhão com Deus, sofrendo
a desgraça perpétua. «Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar
acolhimento ao amor misericordioso de Deus, significa permanecer separado d’Ele
para sempre, por nossa própria livre escolha. É este estado de auto-exclusão
definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa pela
palavra “Inferno”» (Catecismo, 1033). Não é que Deus predestine
alguém à condenação perpétua; é o homem que, procurando o seu fim último à
margem de Deus e da sua vontade, constrói para si um mundo isolado onde não
pode penetrar a luz e o amor de Deus. O inferno é um mistério, o mistério do
Amor recusado, é sinal do poder destruidor da liberdade humana quando se afasta
de Deus 11.
Relativamente
ao inferno, é tradicional distinguir entre “pena de dano”, a mais fundamental e
dolorosa, que consiste na separação perpétua de Deus, sempre desejado
ardentemente pelo coração humano, e “pena dos sentidos”, a que se alude frequentemente
nos evangelhos com a imagem do fogo eterno.
A
doutrina sobre o inferno no Novo Testamento apresenta-se como um chamamento à
responsabilidade no uso dos dons e talentos recebidos e à conversão. A sua
existência faz com que o homem vislumbre a gravidade do pecado mortal e a
necessidade de o evitar por todos os meios, principalmente, como é lógico,
mediante a oração confiada e humilde. A possibilidade da condenação recorda aos
cristãos a necessidade de viver uma vida inteiramente apostólica.
Sem
lugar a dúvidas, a existência do inferno é um mistério, o mistério da justiça
de Deus para com aqueles que se fecham ao Seu perdão misericordioso. Alguns autores
pensaram na possibilidade da aniquilação do pecador impenitente quando morre.
Esta teoria é difícil de conciliar com o facto de que Deus deu, por amor, a existência
– espiritual e imortal – a cada homem 12.
paul o’callaghan
Bibliografia
básica:
Catecismo
da Igreja Católica, 988-1050.
Leituras
recomendadas:
João
Paulo II, Catequese sobre o Credo IV: Credo en la vida eterna, Palabra, Madrid
2000 (audiências de 25-V-1999 a 4-VIII-1999).
Bento
XVI, Enc. Spe Salvi, 30-XI-2007.
São
Josemaria, Homilia «A esperança do cristão», em Amigos de Deus, 205-221.
(Resumos da Fé cristã: © 2013,
Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Notas
11 «Com a morte, a opção de vida feita
pelo homem torna-se definitiva; esta sua vida está diante do Juiz. A sua opção,
que tomou forma ao longo de toda a sua vida, pode ter caracteres diversos. Pode
haver pessoas que destruíram totalmente em si próprias o desejo da verdade e a
disponibilidade para o amor; pessoas nas quais tudo se tornou mentira; pessoas
que viveram para o ódio e espezinharam o amor em si mesmas. Trata-se de uma perspectiva
terrível, mas algumas figuras da nossa mesma história deixam entrever, de um forma
assustadora, perfis deste género. Em tais indivíduos, não haveria nada de
remediável e a destruição do bem seria irrevogável: é já isto que se indica com
a palavra inferno» (Bento XVI, Enc. Spe Salvi, 45).
12 Cf. Ibidem, 47.