Tempo comum XVII Semana
Evangelho:
Mt 13, 31-35
31 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a
um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. 32 É a
mais pequena de todas as sementes, mas, depois de ter crescido, é maior que
todas as hortaliças e chega a tornar-se uma árvore, de modo que as aves do céu
vêm aninhar nos seus ramos». 33 Disse-lhes outra parábola: «O Reino
dos Céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas
de farinha até que tudo esteja fermentado». 34 Todas estas coisas
disse Jesus ao povo em parábolas; e não lhes falava sem parábolas, 35
a fim de que se cumprisse o que estava anunciado pelo profeta, que diz:
“Abrirei em parábolas a Minha boca, publicarei as coisas escondidas desde a
criação do mundo”»
Comentário:
Podemos
perguntar-nos por vezes, porque é que Jesus, ao povo, só falava por meio de
palavras e aos discípulos explicava com clareza o que queria transmitir.
Entre
outras, podem considerar-se estas razões:
Primeira:
porque respeitando a liberdade de cada um, se lhes falasse com clareza, não
poderiam senão acreditar nele, de contrário, condenar-se-iam;
Segunda:
os discípulos conhecem e acreditam em Jesus, as explicações, portanto, são para
enriquecer o que já sabem;
Terceira:
no modo de falar, no Oriente de então eram usadas, frequentemente as imagens
para que as populações ignaras e incultas melhor assimilassem o que ouviam;
Quarta:
Cristo, o Profeta por excelência, usa a linguagem dos profetas o que, de certo
modo, 'reforça' a Sua autoridade.
Assim
é que, por exemplo, os dois de Emaús, a Ele se referem como:
«um profeta, poderoso em obras e em
palavras diante de Deus e de todo o povo».
(Cf. Lc 24, 19)
(ama, comentário sobre Mt 13, 31-35, 2012.07.30)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ
CARTA AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA ACERCA
DE ALGUNS ASPECTOS DA MEDITAÇÃO CRISTÃ (*)
I.
INTRODUÇÃO
1. Em muitos cristãos do
nosso tempo manifesta-se vivo o desejo de aprender a orar de modo autêntico e
profundo, não obstante as não poucas dificuldades que a cultura moderna opõe à
exigência advertida de silêncio, de recolhimento e de meditação. O interesse
que algumas formas de meditação conexas com certas religiões orientais e com os
seus modos peculiares de oração têm suscitado nestes anos, também entre os
cristãos, constitui um sinal notável desta necessidade de recolhimento
espiritual e dum profundo contacto com o mistério divino. Perante este
fenómeno, adverte-se, todavia, de diversas partes, a necessidade de dispor de
critérios seguros, de carácter doutrinal e pastoral, que permitam educar à
oração nas suas variegadas manifestações, permanecendo sempre na luz da verdade
revelada em Jesus, segundo a genuína tradição da Igreja. A tal urgência procura
responder a presente Carta, a fim de que, nas várias Igrejas particulares, a
pluralidade de formas, mesmo novas, de oração, não lhes faça nunca perder de
vista a exacta natureza pessoal e comunitária desta. As presentes indicações
dirigem-se, em primeiro lugar, aos Bispos, para que as façam objecto de
solicitude pastoral em favor das Igrejas que lhes foram confiadas, de modo que
todo o povo de Deus — sacerdotes, religiosos e leigos — seja incitado a rezar,
com renovado vigor, ao Pai, mediante o Espírito de Cristo Nosso Senhor.
2. O contacto cada vez
mais frequente com outras religiões e com os seus diversos estilos e métodos de
oração, tem induzido, nos últimos decénios, muitos fiéis a interrogar-se sobre
o valor que podem representar, para os cristãos, formas não cristãs de
meditação. O interrogativo refere-se sobretudo aos métodos orientais. “1)
Há quem procure hoje tais métodos por motivos terapêuticos: a inquietude
espiritual duma vida submetida ao ritmo agitado da sociedade tecnologicamente
avançada, impele também um certo número de cristãos a procurar em tais métodos
um caminho de distensão interior e de equilíbrio psíquico. Este aspecto
psicológico não será tomado em consideração na presente Carta, a qual deseja
mais propriamente pôr em evidência as implicações teológicas e espirituais da
questão. Outros cristãos, na esteira do movimento de abertura e de diálogo com
religiões e culturas diversas, são do parecer que a própria oração tem muito a
ganhar mediante o recurso a tais métodos. Chamando a atenção para o facto de
que, em tempos recentes, não poucos métodos tradicionais de meditação próprios
do cristianismo foram caindo em desuso, alguns cristãos perguntam: não seria
possível, mediante uma nova educação à oração, enriquecer a nossa herança
tradicional, incorporando nela elementos que lhe têm sido até aqui alheios?
3. Para responder a esta
questão, é preciso esclarecer, em primeiro lugar, mesmo que seja só nas suas
grandes linhas, em que consiste a natureza íntima da oração cristã, examinando
em seguida, se e como possa ser melhorada por métodos desenvolvidos no contexto
de religiões e culturas diversas. Para tal fim, é necessário formular uma
premissa decisiva. A oração cristã é sempre determinada pela estrutura da fé
cristã, na qual resplandece a verdade mesma de Deus e da criatura. Por isso
mesmo, falando com propriedade, a oração assume a forma dum diálogo pessoal,
íntimo e profundo, entre o homem e Deus. A oração exprime, por conseguinte, a
comunhão das criaturas redimidas com a Vida íntima das Pessoas Trinitárias.
Nesta comunhão que se funda sobre o baptismo e sobre a eucaristia, fonte e cume
da vida da Igreja, encontra-se implícita uma atitude de conversão, um êxodo do
eu para o Tu de Deus. A oração cristã, portanto, é sempre ao mesmo tempo
autenticamente pessoal e comunitária. Por esta razão, recusa técnicas
impessoais ou centradas sobre o eu, as quais tendem a produzir automatismos nos
quais o orante cai prisioneiro dum espiritualismo intimista, incapaz duma livre
abertura para o Deus transcendente. Na Igreja, a legítima busca de novos
métodos de meditação deverá ter sempre em conta que, numa oração autenticamente
cristã, é essencial o encontro de duas liberdades: a infinita, de Deus, e a
finita, do homem.
II.
A ORAÇÃO CRISTÃ À LUZ DA REVELAÇÃO
4. É a Bíblia mesma que
ensina como deve rezar o homem que acolhe a revelação. No Antigo Testamento,
existe uma maravilhosa colecção de orações, a qual se conservou viva através
dos séculos também na Igreja de Jesus Cristo, em que se tornou a base de oração
oficial: o Livro dos Salmos. “2) Orações do género dos Salmos
encontram-se já em textos mais antigos ou ecoam de algum modo em passos mais
recentes do Antigo Testamento. “3) As orações do Livro dos Salmos
narram sobretudo as grandes obras de Deus em favor do povo eleito. Israel
medita, contempla e torna presentes as maravilhas de Deus, relembrando-as por
meio da oração. Na revelação bíblica, Israel reconhece e louva a Deus presente
em toda a criação e no destino de cada homem. Assim invoca-O, por exemplo, como
quem socorre no perigo, na doença, na perseguição, na tribulação. Por último,
sempre à luz das suas obras de salvação, Deus é celebrado na sua divina potência
e bondade, na sua justiça e misericórdia, na sua real majestade.
5. Em virtude das
palavras, das obras, da Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo, no Novo
Testamento a fé reconhece n’Ele a definitiva auto-revelação de Deus, a Palavra
encarnada que manifesta as profundidades mais íntimas do seu amor. É o Espírito
Santo que faz penetrar nestas profundidades de Deus, pois é Ele quem, enviado
ao coração dos crentes, «sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de
Deus» (1 Cor. 2, 10). O Espírito, segundo a promessa de Jesus aos discípulos,
explicará tudo o que o mesmo Jesus não podia ainda dizer-lhes. O Espírito,
porém, «não falará de si mesmo … Ele me glorificará porque receberá do que é
meu e vo-lo anunciará» (Jo. 16, 13 seg.). O que Jesus chama aqui «seu» é, como
explica a seguir, também de Deus Pai, porque «Tudo o que o Pai tem é meu. Por
isso vos disse: Ele receberá do que é meu e vo-lo anunciará» (Jo. 16, 15).
Com plena consciência, os
autores do Novo Testamento falam sempre da revelação de Deus em Cristo no
âmbito duma visão iluminada pelo Espírito Santo. Os Evangelhos Sinópticos
narram as obras e as palavras de Jesus Cristo, baseando-se na compreensão mais
profunda, adquirida depois da Páscoa, daquilo que os discípulos tinham visto e
ouvido; todo o Evangelho de S. João se inspira na contemplação d’Aquele que
desde o princípio é o Verbo de Deus feito carne; Paulo, a quem Jesus apareceu
na sua majestade divina no caminho de Damasco, procura educar os fiéis para que
« tenham condições para compreender com todos os santos qual é a largura e o
comprimento e a altura e a profundidade (do Mistério de Cristo) e conhecer o
amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para que sejais plenificados com
toda a plenitude de Deus» (Ef. 3,18 seg.). Para Paulo, o “Mistério de Deus é
Cristo no qual se acham escondidos todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento» (Col. 2, 3) e — continua o Apóstolo —: “Digo isto para que
ninguém vos engane com argumentos capciosos» (ibidem, v. 4).
6. Existe, portanto, uma
relação estreita entre a revelação e a oração. A Constituição dogmática Dei
Verbum ensina-nos que, mediante a sua revelação, o Deus invisível «na riqueza
do seu amor fala aos homens como amigos (cfr. Ex. 33, 11; Jo. 15, 14-15) e
convive com eles (cfr. Bar. 3, 38), para os convidar e admitir à comunhão com
Ele». “4)
Esta revelação actuou-se
mediante palavras e obras que sempre mutuamente se implicam; desde o princípio
e sem descontinuidade, tudo converge para Cristo, plenitude da revelação e da
graça, e para o dom do Espírito Santo. Este Espírito torna o homem capaz de acolher
e de contemplar as palavras e as obras de Deus, de dar-Lhe graças e de O adorar
na assembleia dos fiéis e na intimidade do próprio coração iluminado pela
graça. Por esta razão, a Igreja recomenda sempre a leitura de palavra de Deus
como fonte da oração cristã e, ao mesmo tempo, exorta a descobrir o sentido
profundo da Sagrada Escritura através da oração «para que seja possível o
diálogo entre Deus e o homem»; porque «a Ele falamos, quando rezamos; a Ele
ouvimos, quando lemos os divinos oráculos». “5)
7. De quanto foi recordado,
derivam imediatamente algumas consequências. Se a oração do cristão se deve
inserir no movimento trinitário de Deus, também o seu conteúdo essencial deverá
ser determinado necessariamente pela dupla direcção de tal movimento: no Espírito
Santo o Filho vem ao mundo para reconciliá-lo com o Pai, mediante as suas obras
e os seus sofrimentos; por outro lado, no mesmo movimento e no mesmo Espírito,
o Filho encarnado regressa ao Pai, cumprindo a sua vontade através da Paixão e
da Ressurreição. O «Pai-nosso», a oração de Jesus, indica claramente a unidade
deste movimento: a vontade do Pai deve realizar-se assim na terra como no céu;
os pedidos do pão, do perdão, da protecção explicitam as dimensões fundamentais
da vontade de Deus a nosso respeito, para quem uma nova terra viva na Jerusalém
celeste.
É à Igreja que a oração de
Jesus “6) é entregue «assim vós deveis rezar», (Mt. 6, 9), e por
isso a oração cristã, mesmo quando se realiza em solidão, possui na realidade o
seu ser no interior daquela «comunhão dos santos», na qual e com a qual se
reza, tanto em forma pública e litúrgica como em forma privada. Portanto, a
oração cristã deve realizar-se sempre no espírito autêntico da Igreja em prece
e, por isso, sob a sua orientação, que pode concretizar-se às vezes numa
direcção espiritual experimentada. O cristão, mesmo quando se encontra só e
reza em segredo, tem consciência de orar sempre em união com Cristo, no
Espírito Santo, juntamente com todos os santos, para o bem da Igreja. “7)
III.
MODOS ERRÓNEOS DE ORAR
8. Já nos primeiros
séculos se insinuaram na Igreja modos erróneos de rezar. Alguns textos do Novo
Testamento (cfr. 1 Jo. 4, 3; 1 Tim. 1, 3-7 e 4, 3-4) permitem reconhecer
vestígios de tais modos. Em seguida, podem-se relevar dois extravios
fundamentais: a pseudo-gnose e o messalianismo, de que tiveram de se ocupar os
Padres da Igreja. Dessa experiência cristã primitiva e da atitude assumida
pelos Padres, pode-se aprender muito sobre o modo de enfrentar a problemática
contemporânea.
Contra o extravio da
pseudo-gnose, “8) os Padres afirmam que a matéria foi criada por
Deus e por isso não é má. Além disso, asseveram que a graça, cujo manancial é
sempre o Espírito Santo, não é um bem próprio da alma, mas deve ser obtida de
Deus como dom. Por isso, a iluminação ou conhecimento superior do Espírito
«gnose» não torna supérflua a fé cristã. Por último, para os Santos Padres, o
sinal autêntico dum conhecimento superior, fruto da oração, é sempre a caridade
cristã.
9. Se a perfeição da
oração cristã não pode ser avaliada tomando como medida a sublimidade do
conhecimento gnóstico, também não pode ser julgada em referência à experiência
do divino, como pretende o messianismo. “9) Estes falsos
carismáticos do século IV identificavam a graça do Espírito Santo com a experiência
psicológica da sua presença na alma. Contra eles, os Padres insistiam no ponto
firme que a união da alma orante com Deus se realiza no «mistério», de modo
particular através dos sacramentos da Igreja. Tal união pode realizar-se também
por meio de experiências de aflição e de desolação. Contrariamente à opinião
dos Messialianos, a aflição e a desolação não constituem um sinal de que o
Espírito tenha abandonado a alma. Como os mestres espirituais sempre
reconheceram claramente, podem até, pelo contrário, ser uma participação
autêntica no estado de abandono de Nosso Senhor sobre a cruz, o qual Senhor é
sempre o modelo e o mediador da oração. “10)
10. Ambas estas formas de
erros continuam a constituir uma tentação para o homem pecador. Instigam-no, de
facto, a procurar ultrapassar a distância que separa a criatura do Criador,
como coisa que não deveria existir; levam-no a considerar o caminho de Cristo
na terra, mediante o qual Ele quer conduzir-nos ao Pai, como realidade «
superada »; induzem também a rebaixar o que é concedido como pura graça, ao
nível de psicologia natural, como «conhecimento superior» ou como
«experiência». Reaparecidas de vez em quando na história à margem da oração da
Igreja, tais formas erróneas parecem impressionar hoje novamente muitos
cristãos, apresentando-se-lhes como remédio quer psicológico quer espiritual, e
como processo rápido para encontrar a Deus. “11)
11. Estas formas erróneas,
porém, onde quer que se apresentem, podem ser diagnosticadas de modo muito
simples. A meditação cristã orante procura encontrar nas obras salvadoras de
Deus em Cristo Verbo encarnado, e no dom do seu Espírito, a profundidade divina
que nessas obras se revela sempre mediante a dimensão humano-terrena. Naqueles
métodos de meditação, pelo contrário, mesmo quando o ponto de partida é
constituído por palavras e obras de Jesus, procura-se prescindir, o mais que se
pode, de tudo o que é terreno, sensível e conceptualmente limitado, para subir
ou « imergir-se » na esfera do divino que, em quanto tal, não é nem terrestre,
nem sensível, nem conceptualizável. “12) Esta tendência, presente já
na religiosidade grega tardia (especialmente no «Neoplatonismo»), aparece
geralmente na inspiração religiosa de muitos povos, quando estes cheguem a
reconhecer a precariedade das próprias representações do divino e das suas
tentativas de aproximar-se dele.
12. Com a actual difusão
dos métodos orientais de oração no mundo cristão e nas comunidades eclesiais,
encontramo-nos de frente a um acentuado renovar-se da tentativa, não isenta de
riscos e erros, de fundir a meditação cristã com a não cristã. As propostas
nesta direcção são numerosas e mais ou menos radicais: algumas utilizam os
métodos orientais somente com a finalidade duma preparação psico-física em
vista duma contemplação realmente cristã; outras vão mais além e procuram
produzir, com técnicas diversas, experiências espirituais análogas àquelas de
que se fala nos escritos de certos místicos católicos; “13) outras
ainda não receiam colocar o absoluto sem imagens e conceitos, próprio da teoria
budista, “14) no mesmo plano da majestade de Deus revelada em
Cristo, a qual transcende toda a realidade finita. Nesse sentido servem-se duma
espécie de «teologia negativa» que supera qualquer afirmação dotada de conteúdo
a propósito de Deus, negando que as coisas do mundo possam ser vistas como um
vestígio que reenvia para a sua Infinidade. Por esta razão, propõem que se
abandone não somente a meditação das obras salvadoras realizadas na história
pelo Deus da Antiga e da Nova Aliança, mas também a ideia mesma de Deus Uno e
Trino, que é amor, em favor duma imersão «no abismo indeterminado da
divindade». “15)
Estas propostas ou outras
análogas de harmonização entre a meditação cristã e as técnicas orientais,
deverão ser continuamente examinadas mediante um cuidadoso discernimento de
conteúdos e de método, para evitar a queda num pernicioso sincretismo.
(cont.)
__________________________
Notas:
*
AAS 82 (1990) 362-379.
1.
Com a expressão «métodos orientais» entendem-se os métodos inspirados no
Induísmo e no Budismo, como o « Zen » ou a « Meditação transcendental », ou o «
Yoga ». Trata-se, portanto, de métodos de meditação do Extremo Oriente não
cristão, que hoje são usados frequentemente também por parte de alguns cristãos
na meditação. As orientações de princípio e de método contidas no presente
documento querem ser um ponto de referência válido não só em relação a este
problema, mas também, mais em geral, para as diversas formas de oração hoje
praticadas nas realidades eclesiais, particularmente nas Associações,
Movimentos e Grupos.
2.
Sobre o Livro dos Salmos na oração da Igreja, cfr. Institutio generalis de
Liturgia Horarum, nn. 100-109.
3.
Cfr., por ex., Ex. 15, Dt. 32, 1 Sam. 2, 2 Sam. 22, certos textos proféticos, 1
Cr. 16.
4.
Const. dogm. Dei Verbum, n. 2. Este documento oferece outras indicações
substanciosas para uma compreensão teológica e espiritual da oração cristã;
vejam-se, por. ex., os nn. 3, 5, 8, 21.
5.
Const. dogm. Dei Verbum, n. 25.
6.
Sobre a oração de Jesus, veja-se a Institutio generalis de Liturgia Horarum,
nn. 3-4.
7.
Cfr. Institutio generalis de Liturgia Horarum, n. 9.
8.
A pseudo-gnose considerava a matéria como algo de impuro, de degradado, que
envolvia a alma numa ignorância, de que a oração devia livrá-la, para a elevar
ao conhecimento superior e portanto à pureza. Certamente, não todos eram
capazes de tal elevação, mas só os homens verdadeiramente espirituais; para os
simples fiéis bastavam a fé e a observância dos mandamentos de Cristo.
9.
Os messalianos foram já denunciados por Santo Efrém Sírio (Hymni contra
Haereses 22, 4, ed. Beck, CSCO 169, 1957, p. 79) e, em seguida, entre outros,
por Epifânio de Salamina (Panarion, chamado também Adversus Haereses: PG 41,
156-1200; PG 42, 9-832) e por Anfilóquio, Bispo de Icónio (Contra haereticos:
G. Ficker, Amphilochiana, 1. Leipzig 1906, 21-77).
10.
Cfr., por ex., S. João da Cruz: Subida del Monte Carmelo, II, cap. 7, 11.
11.
Na idade Média existiam correntes extremistas à margem da Igreja, as quais são
descritas, não sem ironia, por um dos grandes contemplativos cristãos, o
flamengo Jan van Ruysbroek. Este Autor distingue na vida mística três tipos de
descaminhos (Die gheestelike Brulocht 228, 12-230, 17; 230, 8-232, 22; 232,
23-236, 6) e aduz uma crítica geral a respeito destas formas de espiritualidade
(236, 7-237, 29). Técnicas semelhantes foram sucessivamente individuadas e
criticadas por Santa Teresa de Jesus, a qual observa, com perspicácia, que « o
próprio cuidado que se tem em não pensar em nada, despertará o intelecto para
pensar muito » e que deixar de parte o mistério de Cristo na meditação cristã é
sempre uma espécie de « traição » (veja-se Santa Teresa de Jesus: Vida 12, 5 e
22, 1-5).
12.
Recomendando a toda a Igreja o exemplo e a doutrina de Santa Teresa de Jesus, a
qual, no seu tempo, teve de enfrentar a tentação de certos métodos que
incitavam a prescindir da humanidade de Cristo, em favor duma vaga imersão no
abismo da Divinidade, o Papa João Paulo II dizia numa homilia do dia 1 de
Novembro de 1982, que o apelo de Teresa de Jesus em favor duma oração toda
centrada em Cristo « é válido também nos nossos dias, contra certos métodos de
oração que não se inspiram no Evangelho e que, praticamente, tendem a
prescindir de Cristo, em favor dum vazio mental que no cristianismo não tem
sentido. Qualquer método de oração é válido na medida em que se inspira em
Cristo e conduz a Cristo, Via, Verdade e Vida (cfr. Jo. 14, 6)». Veja-se:
Homilia Abulae habita in honorem Sanctae Teresiae: AAS 75 (1983), 256-257.
13.
Veja-se, por exemplo, « A nuvem do não-conhecimento », obra espiritual dum
anónimo escritor inglês do século XIV.
14.
O conceito de «nirvana » significa, nos textos religiosos do Budismo, um estado
de repouso que consiste na extinção de qualquer realidade concreta, enquanto
transitória e, por isso, causa de ilusão e de dor.
15.
Mestre Eckhart fala duma imersão « no abismo indeterminado da divindade », que
é uma « treva na qual a luz da Trindade nunca refulgiu ». Cfr. Sermo “Ave
gratia plena”, no fim (J. QUINT, Deutsche Predigten und Traktate, Hanser 1955,
261).