Tempo Comum V Semana
Evangelho: Mc 7 31-37
31 Jesus, deixando o
território de Tiro, foi novamente por Sidónia para o mar da Galileia,
atravessando o território da Decápole. 32 Trouxeram-Lhe um
surdo-mudo, e pediam-Lhe que lhe impusesse as mãos.33 Então, Jesus,
tomando-o à parte de entre a multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos, e
tocou-lhe com saliva a língua. 34 Depois, levantando os olhos ao
céu, deu um suspiro e disse-lhe: «Effathá», que quer dizer «abre-te». 35
Imediatamente se lhe abriram os ouvidos, se lhe soltou a prisão da língua e
falava claramente. 36 Ordenou-lhes que a ninguém o dissessem. Porém,
quanto mais lho proibia mais o divulgavam. 37 E admiravam-se
sobremaneira, dizendo: «Tudo fez bem! Faz ouvir os surdos e falar os mudos!».
Comentário:
Quantas vezes esperamos
que o Senhor nos diga também a nós: abre-te!
Sim.
Abre o teu coração ao
Meu Amor, a tua inteligência à verdadeira Fé, a tua alma às inspirações do
Espírito Santo!
Abre-te, todo tu, entrega-me
tudo o que tens, os teus desejos e aspirações nobres, as tuas ânsias de
santidade!
Abre-te a Mim e, Eu, te
encherei de mais graças para seres mais forte, corajoso, perseverante na oração
e fiel na tua amizade por Mim!
(ama, comentário sobre Mc 7, 31-37, Convento MR, 2012.09.09)
Leitura espiritual
Santíssima Virgem
Vida
de Maria (II)
A voz do Magistério
«A
Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição apresentam
de modo progressivo, até nos mostrarem claramente, o papel da Mãe do Salvador na
economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da
salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo.
Esses
antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da
plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma
mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente
presente na promessa da vitória sobre a serpente (cfr. Gn. 3,15), feita aos
nossos primeiros pais caídos no pecado.
Ela
é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será
Emanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Mq 5, 2-3; Mt 1, 22-23). É a primeira entre os
humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de
Deus. Com ela, enfim, Filha excelsa de Sião, passada a longa espera da
promessa, cumprem-se os tempos e inaugura-se a nova economia da salvação,
quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do
pecado pelo mistério da sua encarnação».
Concílio
Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 55.
«Olhai
para Maria, formosa como a lua, pulchra ut luna. É uma forma de expressar a sua
excelsa beleza. Que formosa deve ser a Virgem! Quantas vezes nos impressionaram
a beleza de uma face de anjo, o encanto do sorriso de uma criança, o fascínio
de um olhar puro! Certamente, no rosto da Sua própria Mãe, Deus recolheu todos
os resplendores da sua arte divina. O olhar de Maria! O sorriso de Maria! A
doçura de Maria! A majestade de Maria, Rainha do Céu e da terra! Do mesmo modo
que a lua brilha no céu escuro, assim também a formosura de Maria se distingue
sobre todas as formosuras, que parecem sombras junto d’Ela. Maria é a mais
formosa de todas as criaturas. Não é apenas a beleza natural que se reflecte
naquele rosto. Deus revestiu a sua alma com a plenitude das suas riquezas por
um milagre da sua omnipotência e fez passar para o olhar de Maria algo da sua
dignidade sobrenatural e divina. Uma centelha da beleza de Deus brilha nos
olhos de sua Mãe».
«Mas
a Igreja não compara Maria apenas à lua; servindo-se também da Sagrada
Escritura (cfr. Ct 6, 10), usa uma imagem mais intensa e exclama: Tu és, Maria,
electa ut sol, eleita como o sol! A luz do sol tem uma grande diferença da da
lua: é luz que aquece e vivifica. A lua brilha sobre os grandes glaciares do
Pólo, mas o glaciar permanece compacto e infecundo, como permanecem as trevas e
perdura o gelo nas noites lunares do Inverno. A luz da lua não tem calor, não
leva a vida. Fonte de luz e de calor e de vida é o sol. Pois bem, Maria, que
tem a beleza da lua, brilha também como um sol e irradia um calor vivificante.
Falando d’Ela, falando-lhe a Ela, não esqueçamos que é verdadeiramente nossa
Mãe; porque através d’Ela recebemos a vida divina. Ela deu-nos Jesus e com
Jesus a própria Fonte da graça. Maria é medianeira e distribuidora de todas as
graças».
«Electa
ut sol. Sob a luz e o calor do sol as plantas florescem sobre a terra e dão o
seu fruto; Sob o influxo e a ajuda deste sol que é Maria, os bons pensamentos
frutificam nas almas. Talvez neste momento já estejais inundados do encanto que
emana da Virgem Imaculada, Mãe da divina graça, medianeira de todas as graças,
por ser Rainha do mundo».
«Voltai
a percorrer, queridos filhos e filhas, a história da vossa vida. Não vedes um tecido
de graças de Deus? Então podeis pensar: nestas graças entrou Maria. As flores
despontaram e os frutos amadureceram na minha vida graças ao calor desta
Senhora, eleita como o sol».
PIO
XII (século XX), Mensagem radiofónica na
abertura do Ano Mariano, 8-XII-1953.
A voz dos Padres da Igreja
«Chamava-se
Joaquim; era da casa de David, rei e profeta; a sua mulher chamava-se Ana.
Permaneceu sem filhos até à velhice, porque a sua esposa era estéril. E, no
entanto, precisamente a ela estava reservada a honra a que, segundo a lei de
Moisés, aspiravam todas as mulheres que dão à luz, honra que não tinha sido
concedida a nenhuma mulher privada de filhos».
«Joaquim
e Ana, com efeito, eram dignos de honra e de veneração, tanto em palavras como
em obras; eram conhecidos como pertencentes à estirpe de Judá e de David, à
descendência de reis. Quando se uniram as casas de Judá e de Leví, o ramo real
e o sacerdotal ficaram misturados. Assim está escrito tanto a respeito de
Joaquim como a respeito de José, com quem se desposou a Virgem santa. Deste último
se afirma directamente que era da casa e tribo de David (cfr. Mt 1, 16; Lc 1,
27); mas eram-no os dois: um, segundo a descendência natural de David, o outro,
em virtude da lei segundo a qual eram levitas».
«Também
a bem-aventurada Ana era de um ramo eleito da mesma casa. Isto significava de
antemão que o rei que nasceria da sua filha seria sumo-sacerdote, enquanto Deus
e enquanto homem. Entretanto, os veneráveis e estimados pais da Virgem,
desconhecendo ainda o que neles se viria a realizar, sofriam uma grande dor
pela falta de filhos, por causa da lei de Moisés e também pelas zombarias de
alguns homens néscios. Desejavam o nascimento de um descendente que apagasse a
ignomínia e lhes devolvesse a honra diante dos seus olhos e diante do mundo
inteiro».
«Então
a bem-aventurada Ana, como aquela outra Ana mãe de Samuel (cfr. 1 Sm 1, 11),
foi ao templo e suplicou ao Criador do universo que lhe concedesse um fruto das
suas entranhas, com o voto de o consagrar, por o ter recebido como dom. O
bem-aventurado Joaquim também não estava inactivo, e pedia a Deus que o
livrasse da falta de filhos».
«O
Rei benigno, o Autor generoso de todos os dons, escutou a oração do justo e
enviou um anúncio aos dois cônjuges. Primeiro mandou uma mensagem a Joaquim
enquanto rezava no templo. Fez-lhe ouvir uma voz do Céu que lhe dizia:
"Terás uma filha que será glória, não só para ti, mas para o mundo
inteiro". Este mesmo anúncio foi feito à bem-aventurada Ana; ela não
cessava de rezar a Deus com lágrimas ardentes. Também a ela foi enviada a
mensagem da parte de Deus, no jardim onde oferecia sacrifícios com petições e
orações ao Senhor. O anjo de Deus veio junto dela e disse-lhe: "Deus
escutou a tua oração; darás à luz aquela que será o anúncio da alegria e
chamá-la-ás Maria, porque d’Ela nascerá a salvação do mundo"».
«Depois
da mensagem teve lugar a gravidez; e da estéril Ana nasceu Maria, luz para
todos: com efeito, assim se traduz o nome de Maria: "a que ilumina".
Então os veneráveis pais da feliz e santa menina ficaram cheios de uma grande
alegria. Joaquim organizou um banquete e convidou todos os seus vizinhos,
sábios e ignorantes e todos deram glória a Deus, que tinha feito para eles um
grande prodígio».
«Deste
modo, a angústia de Ana transformou-se numa glória mais sublime, a glória de se
converter na porta da porta de Deus, porta da Sua vida e começo da Sua gloriosa
conduta».
Vida
de Maria atribuída a SÃO Máximo, O Confessor (século VII).
Os factos expostos inspiram-se em
escritos apócrifos, principalmente no "Protoevangelho de Santiago",
que remonta ao século II.
A voz dos santos
«Muitíssimo
dano, amadíssimos, nos causaram um homem e uma mulher; mas graças a Deus,
igualmente por um homem e uma mulher tudo foi restaurado. E com grandíssimo
aumento de graças. Porque o dom não foi como tinha sido o delito, mas a
grandeza do benefício excede o dano».
«Assim,
o prudentíssimo e clementíssimo Artífice não quebrou o que estava rachado,
antes o refez mais utilmente por todos os modos, formando um novo Adão a partir
do velho e trocando Eva por Maria».
«Certamente,
podia bastar Cristo, pois toda a nossa suficiência nos vem d’Ele; mas não era
bom para nós que o homem estivesse sozinho (cfr. Gn 2, 18). Muito mais
conveniente era que ambos os sexos participassem na nossa reparação, já que
ambos contribuíram para a nossa corrupção. Jesus Cristo Homem, é fiel e
poderoso Mediador entre Deus e os homens, mas os homens veneram n’Ele a
majestade divina. N’Ele a humanidade pareceria absorvida na divindade, não por
a natureza humana já não ser tal, mas por estar divinizada. D’Ele se canta a
misericórdia, mas igualmente a justiça, porque embora, pelo que sofreu, tenha
aprendido a compaixão e a misericórdia (cfr. Hb 5, 8), tem simultaneamente o
poder de juiz. Enfim, a exigência do nosso Deus é como um fogo ardente, de modo
que o pecador não temeria chegar-se a Ele, com medo de morrer diante da sua
presença, como se derrete a cera?»
«Assim
pois, a mulher bendita entre todas as mulheres não está a mais. Vê-se
claramente o papel que desempenha na obra da nossa reconciliação, porque
precisávamos de um mediador próximo deste Mediador e ninguém pode desempenhar
este ofício melhor que Maria. Eva tinha sido uma mediadora demasiado cruel, por
quem a serpente antiga infundiu no homem o veneno mortífero. Mas fiel é Maria,
que ofereceu aos homens e às mulheres o antídoto salvador. Eva foi instrumento
da tentação, Maria do perdão; aquela induziu a pecar, esta trouxe a redenção.
Que receio teria a fragilidade humana de se chegar a Maria? N’Ela nada é
austero, nada é terrível; tudo é suave, oferecendo a todos leite e lã».
«Estuda
com cuidado toda a história evangélica e se encontras em Maria algo de dureza,
de repreensão desabrida, ou algum sinal de indignação, ainda que leve, poderias
desconfiar e ter receio de te chegares a Ela. Mas se, pelo contrário, como
acontece de facto, descobres que tudo o que a Ela pertence está cheio de
piedade e de misericórdia, de mansidão e de graça, agradece-o ao Senhor que,
com a sua benigníssima misericórdia, providenciou para ti uma mediadora tão
maravilhosa, pois nada pode haver na Virgem que inspire temor. Ela fez-se toda
para todos; tornou-se devedora de sábios e de ignorantes, com imensíssimo amor.
A todos abre o regaço da misericórdia, para que todos recebam da sua plenitude:
o cativo redenção, o enfermo cura, o aflito consolo, o pecador perdão, o justo
graça, o anjo alegria; enfim, toda a Trindade recebe glória; e a própria Pessoa
do Filho recebe d’Ela a substância da carne humana, a fim de que não haja quem
se esconda da sua ternura».
São
Bernardo (século XII), Sermão no Domingo da oitava anterior à Assunção, 1-2.