13/02/2015

Ele nos anima, ensina, guia

"Iesus Christus, perfectus Deus, perfectus Homo" – Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem! Muitos são os cristãos que seguem Cristo, pasmado com a sua divindade, mas que O esquecem como Homem... e fracassam no exercício das virtudes sobrenaturais (apesar de todo o aparato externo de piedade), porque não fazem nada por adquirir as virtudes naturais. (Sulco, 652)


Enamora-te da Santíssima Humanidade de Jesus Cristo.

– Não te dá alegria que tenha querido ser como nós? Agradece a Jesus este cúmulo de bondade. (Forja, 547)

Obrigado, meu Jesus, porque quiseste fazer-te perfeito Homem, com um Coração amante e amabilíssimo, que ama até à morte e sofre; que se enche de júbilo e de dor; que se entusiasma com os caminhos dos homens, e nos mostra o que nos leva ao Céu; que se sujeita heroicamente ao dever, e se guia pela misericórdia; que vela pelos pobres e pelos ricos; que cuida dos pecadores e dos justos...

Obrigado, meu Jesus, e dá-nos um coração à medida do Teu! (Sulco, 813)

Nisto se define a verdadeira devoção ao Coração de Jesus: em conhecer a Deus e conhecermo-nos a nós mesmos, e em olhar para Jesus e recorrer a Ele – que nos anima, nos ensina, nos guia. A única superficialidade que pode haver nesta devoção é a do homem que não é integralmente humano e que, por isso, não consegue aperceber-se da realidade de Deus feito carne.


Cristo na Cruz, com o Coração trespassado de Amor pelos homens, é uma resposta eloquente – as palavras não são necessárias – à pergunta sobre o valor das coisas e das pessoas. (Cristo que passa, nn. 164–165)

Tratado do verbo encarnado 120

Questão 18: Da unidade de Cristo quanto a vontade

Art. 3 — Se Cristo tinha duas vontades racionais.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Cristo tinha duas vontades racionais.

1. — Pois, como diz Damasceno, há duas vontades no homem a natural, chamada e a racional, chamada. Ora, Cristo na sua natureza humana tinha tudo o concernente à perfeição da natureza humana. Ora, ambas as vontades referidas existiam em Cristo.

2. Demais. — A potência apetitiva diversifica-se no homem conforme as diversidades da potência apreensiva, e portanto, da diferença entre o sentido e o intelecto deriva para o homem a diferença entre o sensitivo e o intelectivo. Ora, semelhantemente, quanto à apreensão no homem, há diferença entre a razão e o intelecto, que ambos existiram em Cristo. Logo, houve nele dupla vontade — uma intelectual e outra, racional.

3. Demais. — Alguns atribuem a Cristo uma vontade de piedade que só pode pertencer à parte racional. Logo, em Cristo há várias vontades racionais.

Mas, em contrário, em toda ordem há um primeiro motor. Ora, a vontade é primeiro motor na ordem dos actos humanos. Logo, cada homem não tem senão uma vontade propriamente dita, e é a racional. Ora, Cristo é homem. Logo, em Cristo só há a vontade humana.

Como se disse, a vontade é umas vezes, tomada pela potência e outras, pelo acto. Se, pois, a vontade é tomada pelo acto, então, devemos atribuir a Cristo duas vontades racionais, isto é, duas espécies de actos de vontade. Pois, a vontade, como se disse, na Segunda Parte, tanto tem por objecto o fim, como os meios para o conseguir, e num outro sentido, é levada para ambos.

Pois, ela quer o fim simples e absolutamente falando, como o bem essencial, e os meios ela quere-os com uma certa dependência, enquanto tiram a sua bondade do fim a que se ordenam. Donde, o acto da vontade tem uma natureza quando é levada a querer o que é em si mesmo digno de ser querido, como a saúde, e a essa Damasceno chama, isto é, simples vontade, ao que os Mestres lhe dão o nome de vontade como natureza. É porém de outra natureza, quando é levada a querer um objeto como meio para conseguir um fim, como quando tomamos um remédio, a cuja vontade Damasceno chama, isto é, vontade conciliativa, e os Mestres dão-lhe o nome de vontade como razão. Mas, essa diversidade de actos não constitui diversidade de potências, pois uns e outros fundam-se num objecto da própria natureza, que é o bem. Donde, devemos dizer, que se falamos da potência da vontade, há em Cristo uma só vontade humana essencialmente dita e não participativamente. Mas se nos referimos à vontade como acto, então distinguimos em Cristo uma vontade como natureza, chamada e uma vontade como razão, chamada.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Essas duas vontades não constituem potências diferentes, mas só se diferenciam pelos seus actos, como se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Mesmo o intelecto e a razão não constituem potências diferentes, como dissemos na Primeira Parte.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A vontade de piedade não difere da vontade considerada como natureza, pois, ela evita o mal alheio, absolutamente considerado.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Temas para meditar - 364

Vida interior 



Mais duro é para o soldado aguentar muito tempo debaixo das balas numa trincheira húmida e fria do que tomar parte num ataque com todo o ardor do seu temperamento.




(R. Garrigou Lagrange, Las três edades de la vida interior, vol. II, Palabra, Madrid, 1982, pg. 650 trad ama)

Pequena agenda do cristão

Sexta-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:

Contenção; alguma privação; ser humilde.


Senhor: Ajuda-me a ser contido, a privar-me de algo por pouco que seja, a ser humilde. Sou formado por este barro duro e seco que é o meu carácter, mas não Te importes, Senhor, não Te importes com este barro que não vale nada. Parte-o, esfrangalha-o nas Tuas mãos amorosas e, estou certo, daí sairá algo que se possa - que Tu possas - aproveitar. Não dês importância à minha prosápia, à minha vaidade, ao meu desejo incontido de protagonismo e evidência. Não sei nada, não posso nada, não tenho nada, não valho nada, não sou absolutamente nada.

Lembrar-me:
Filiação divina.

Ser Teu filho Senhor! De tal modo desejo que esta realidade tome posse de mim, que me entrego totalmente nas Tuas mãos amorosas de Pai misericordioso, e embora não saiba bem para que me queres, para que queres como filho a alguém como eu, entrego-me confiante que me conheces profundamente, com todos os meus defeitos e pequenas virtudes e é assim, e não de outro modo, que me queres ao pé de Ti. Não me afastes, Senhor. Eu sei que Tu não me afastarás nunca. Peço-Te que não permitas que alguma vez, nem por breves instantes, seja eu a afastar-me de Ti.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Ev. comentário, L esp. (Vida de Maria II)

Tempo Comum V Semana

Evangelho: Mc 7 31-37

31 Jesus, deixando o território de Tiro, foi novamente por Sidónia para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. 32 Trouxeram-Lhe um surdo-mudo, e pediam-Lhe que lhe impusesse as mãos.33 Então, Jesus, tomando-o à parte de entre a multidão, meteu-lhe os dedos nos ouvidos, e tocou-lhe com saliva a língua. 34 Depois, levantando os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: «Effathá», que quer dizer «abre-te». 35 Imediatamente se lhe abriram os ouvidos, se lhe soltou a prisão da língua e falava claramente. 36 Ordenou-lhes que a ninguém o dissessem. Porém, quanto mais lho proibia mais o divulgavam. 37 E admiravam-se sobremaneira, dizendo: «Tudo fez bem! Faz ouvir os surdos e falar os mudos!».

Comentário

Quantas vezes esperamos que o Senhor nos diga também a nós: abre-te!

Sim. 
Abre o teu coração ao Meu Amor, a tua inteligência à verdadeira Fé, a tua alma às inspirações do Espírito Santo!

Abre-te, todo tu, entrega-me tudo o que tens, os teus desejos e aspirações nobres, as tuas ânsias de santidade!

Abre-te a Mim e, Eu, te encherei de mais graças para seres mais forte, corajoso, perseverante na oração e fiel na tua amizade por Mim!

(ama, comentário sobre Mc 7, 31-37, Convento MR, 2012.09.09)


Leitura espiritual


Santíssima Virgem 

Vida de Maria (II)

A voz do Magistério

«A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição apresentam de modo progressivo, até nos mostrarem claramente, o papel da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação na qual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo.

Esses antigos documentos, tais como são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se já profeticamente presente na promessa da vitória sobre a serpente (cfr. Gn. 3,15), feita aos nossos primeiros pais caídos no pecado.

Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho, cujo nome será Emanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Mq 5, 2-3; Mt 1, 22-23). É a primeira entre os humildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus. Com ela, enfim, Filha excelsa de Sião, passada a longa espera da promessa, cumprem-se os tempos e inaugura-se a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana, para libertar o homem do pecado pelo mistério da sua encarnação».

Concílio Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 55.

«Olhai para Maria, formosa como a lua, pulchra ut luna. É uma forma de expressar a sua excelsa beleza. Que formosa deve ser a Virgem! Quantas vezes nos impressionaram a beleza de uma face de anjo, o encanto do sorriso de uma criança, o fascínio de um olhar puro! Certamente, no rosto da Sua própria Mãe, Deus recolheu todos os resplendores da sua arte divina. O olhar de Maria! O sorriso de Maria! A doçura de Maria! A majestade de Maria, Rainha do Céu e da terra! Do mesmo modo que a lua brilha no céu escuro, assim também a formosura de Maria se distingue sobre todas as formosuras, que parecem sombras junto d’Ela. Maria é a mais formosa de todas as criaturas. Não é apenas a beleza natural que se reflecte naquele rosto. Deus revestiu a sua alma com a plenitude das suas riquezas por um milagre da sua omnipotência e fez passar para o olhar de Maria algo da sua dignidade sobrenatural e divina. Uma centelha da beleza de Deus brilha nos olhos de sua Mãe».

«Mas a Igreja não compara Maria apenas à lua; servindo-se também da Sagrada Escritura (cfr. Ct 6, 10), usa uma imagem mais intensa e exclama: Tu és, Maria, electa ut sol, eleita como o sol! A luz do sol tem uma grande diferença da da lua: é luz que aquece e vivifica. A lua brilha sobre os grandes glaciares do Pólo, mas o glaciar permanece compacto e infecundo, como permanecem as trevas e perdura o gelo nas noites lunares do Inverno. A luz da lua não tem calor, não leva a vida. Fonte de luz e de calor e de vida é o sol. Pois bem, Maria, que tem a beleza da lua, brilha também como um sol e irradia um calor vivificante. Falando d’Ela, falando-lhe a Ela, não esqueçamos que é verdadeiramente nossa Mãe; porque através d’Ela recebemos a vida divina. Ela deu-nos Jesus e com Jesus a própria Fonte da graça. Maria é medianeira e distribuidora de todas as graças».

«Electa ut sol. Sob a luz e o calor do sol as plantas florescem sobre a terra e dão o seu fruto; Sob o influxo e a ajuda deste sol que é Maria, os bons pensamentos frutificam nas almas. Talvez neste momento já estejais inundados do encanto que emana da Virgem Imaculada, Mãe da divina graça, medianeira de todas as graças, por ser Rainha do mundo».

«Voltai a percorrer, queridos filhos e filhas, a história da vossa vida. Não vedes um tecido de graças de Deus? Então podeis pensar: nestas graças entrou Maria. As flores despontaram e os frutos amadureceram na minha vida graças ao calor desta Senhora, eleita como o sol».

PIO XII (século XX), Mensagem radiofónica  na abertura do Ano Mariano, 8-XII-1953.

A voz dos Padres da Igreja

«Chamava-se Joaquim; era da casa de David, rei e profeta; a sua mulher chamava-se Ana. Permaneceu sem filhos até à velhice, porque a sua esposa era estéril. E, no entanto, precisamente a ela estava reservada a honra a que, segundo a lei de Moisés, aspiravam todas as mulheres que dão à luz, honra que não tinha sido concedida a nenhuma mulher privada de filhos».

«Joaquim e Ana, com efeito, eram dignos de honra e de veneração, tanto em palavras como em obras; eram conhecidos como pertencentes à estirpe de Judá e de David, à descendência de reis. Quando se uniram as casas de Judá e de Leví, o ramo real e o sacerdotal ficaram misturados. Assim está escrito tanto a respeito de Joaquim como a respeito de José, com quem se desposou a Virgem santa. Deste último se afirma directamente que era da casa e tribo de David (cfr. Mt 1, 16; Lc 1, 27); mas eram-no os dois: um, segundo a descendência natural de David, o outro, em virtude da lei segundo a qual eram levitas».

«Também a bem-aventurada Ana era de um ramo eleito da mesma casa. Isto significava de antemão que o rei que nasceria da sua filha seria sumo-sacerdote, enquanto Deus e enquanto homem. Entretanto, os veneráveis e estimados pais da Virgem, desconhecendo ainda o que neles se viria a realizar, sofriam uma grande dor pela falta de filhos, por causa da lei de Moisés e também pelas zombarias de alguns homens néscios. Desejavam o nascimento de um descendente que apagasse a ignomínia e lhes devolvesse a honra diante dos seus olhos e diante do mundo inteiro».

«Então a bem-aventurada Ana, como aquela outra Ana mãe de Samuel (cfr. 1 Sm 1, 11), foi ao templo e suplicou ao Criador do universo que lhe concedesse um fruto das suas entranhas, com o voto de o consagrar, por o ter recebido como dom. O bem-aventurado Joaquim também não estava inactivo, e pedia a Deus que o livrasse da falta de filhos».

«O Rei benigno, o Autor generoso de todos os dons, escutou a oração do justo e enviou um anúncio aos dois cônjuges. Primeiro mandou uma mensagem a Joaquim enquanto rezava no templo. Fez-lhe ouvir uma voz do Céu que lhe dizia: "Terás uma filha que será glória, não só para ti, mas para o mundo inteiro". Este mesmo anúncio foi feito à bem-aventurada Ana; ela não cessava de rezar a Deus com lágrimas ardentes. Também a ela foi enviada a mensagem da parte de Deus, no jardim onde oferecia sacrifícios com petições e orações ao Senhor. O anjo de Deus veio junto dela e disse-lhe: "Deus escutou a tua oração; darás à luz aquela que será o anúncio da alegria e chamá-la-ás Maria, porque d’Ela nascerá a salvação do mundo"».

«Depois da mensagem teve lugar a gravidez; e da estéril Ana nasceu Maria, luz para todos: com efeito, assim se traduz o nome de Maria: "a que ilumina". Então os veneráveis pais da feliz e santa menina ficaram cheios de uma grande alegria. Joaquim organizou um banquete e convidou todos os seus vizinhos, sábios e ignorantes e todos deram glória a Deus, que tinha feito para eles um grande prodígio».

«Deste modo, a angústia de Ana transformou-se numa glória mais sublime, a glória de se converter na porta da porta de Deus, porta da Sua vida e começo da Sua gloriosa conduta».

Vida de Maria atribuída a SÃO Máximo, O Confessor (século VII).

Os factos expostos inspiram-se em escritos apócrifos, principalmente no "Protoevangelho de Santiago", que remonta ao século II.

A voz dos santos

«Muitíssimo dano, amadíssimos, nos causaram um homem e uma mulher; mas graças a Deus, igualmente por um homem e uma mulher tudo foi restaurado. E com grandíssimo aumento de graças. Porque o dom não foi como tinha sido o delito, mas a grandeza do benefício excede o dano».

«Assim, o prudentíssimo e clementíssimo Artífice não quebrou o que estava rachado, antes o refez mais utilmente por todos os modos, formando um novo Adão a partir do velho e trocando Eva por Maria».

«Certamente, podia bastar Cristo, pois toda a nossa suficiência nos vem d’Ele; mas não era bom para nós que o homem estivesse sozinho (cfr. Gn 2, 18). Muito mais conveniente era que ambos os sexos participassem na nossa reparação, já que ambos contribuíram para a nossa corrupção. Jesus Cristo Homem, é fiel e poderoso Mediador entre Deus e os homens, mas os homens veneram n’Ele a majestade divina. N’Ele a humanidade pareceria absorvida na divindade, não por a natureza humana já não ser tal, mas por estar divinizada. D’Ele se canta a misericórdia, mas igualmente a justiça, porque embora, pelo que sofreu, tenha aprendido a compaixão e a misericórdia (cfr. Hb 5, 8), tem simultaneamente o poder de juiz. Enfim, a exigência do nosso Deus é como um fogo ardente, de modo que o pecador não temeria chegar-se a Ele, com medo de morrer diante da sua presença, como se derrete a cera?»

«Assim pois, a mulher bendita entre todas as mulheres não está a mais. Vê-se claramente o papel que desempenha na obra da nossa reconciliação, porque precisávamos de um mediador próximo deste Mediador e ninguém pode desempenhar este ofício melhor que Maria. Eva tinha sido uma mediadora demasiado cruel, por quem a serpente antiga infundiu no homem o veneno mortífero. Mas fiel é Maria, que ofereceu aos homens e às mulheres o antídoto salvador. Eva foi instrumento da tentação, Maria do perdão; aquela induziu a pecar, esta trouxe a redenção. Que receio teria a fragilidade humana de se chegar a Maria? N’Ela nada é austero, nada é terrível; tudo é suave, oferecendo a todos leite e lã».

«Estuda com cuidado toda a história evangélica e se encontras em Maria algo de dureza, de repreensão desabrida, ou algum sinal de indignação, ainda que leve, poderias desconfiar e ter receio de te chegares a Ela. Mas se, pelo contrário, como acontece de facto, descobres que tudo o que a Ela pertence está cheio de piedade e de misericórdia, de mansidão e de graça, agradece-o ao Senhor que, com a sua benigníssima misericórdia, providenciou para ti uma mediadora tão maravilhosa, pois nada pode haver na Virgem que inspire temor. Ela fez-se toda para todos; tornou-se devedora de sábios e de ignorantes, com imensíssimo amor. A todos abre o regaço da misericórdia, para que todos recebam da sua plenitude: o cativo redenção, o enfermo cura, o aflito consolo, o pecador perdão, o justo graça, o anjo alegria; enfim, toda a Trindade recebe glória; e a própria Pessoa do Filho recebe d’Ela a substância da carne humana, a fim de que não haja quem se esconda da sua ternura».

São Bernardo (século XII), Sermão no Domingo da oitava anterior à Assunção, 1-2.





Jesus Cristo e a Igreja - 55

Celibato eclesiástico: História e fundamentos teológicos [i]

II. CONCEITO E MÉTODO

Significado do conceito do celibato: a continência.

…2/

Orientações para a investigação sobre a origem e desenvolvimento do celibato eclesiástico.
O segundo pressuposto para alcançar um conhecimento correcto da origem e do desenvolvimento do celibato eclesiástico – ao que podemos chamar simplesmente “continência” sexual, uma vez esclarecido o seu significado – é tanto mais importante quanto melhor advertimos a variedade de opiniões sobre a origem e primeiro desenvolvimento da obrigação de continência, e pode ser explicado pelo facto do método justo de investigar e expor a questão não ser observado.
Deve-se notar aqui que, em geral, cada campo científico tem a sua própria autonomia em relação aos demais, com base no seu objecto próprio e no método postulado por ele. É verdade que na investigação científica sobre ciências relacionadas existem regras comuns que devem ser observadas. Por exemplo, numa investigação de caráter histórico não se pode prescindir da regra que prescreve uma crítica preliminar das fontes, que determine a sua autenticidade e integridade, para se ocupar depois do seu valor intrínseco sobre essa base, ou seja, sobre sua credibilidade e valor demonstrativo.
Neste contexto, é absolutamente necessária a capacidade e a vontade de compreender e utilizar adequadamente documentos e o seu conteúdo. Somente sobre esta base segura – autenticidade, integridade, credibilidade e valor – se pode desenvolver uma adequada hermenêutica ou interpretação das fontes.
Junto a estes pressupostos metodológicos gerais, é necessário também aplicar a metodologia especificamente requerida por cada ciência. A Historiografia Filosófica competente, por exemplo, exige um conhecimento adequado da Filosofia, bem como a Historiografia Teológica pressupõe o conhecimento da Teologia e a Historiografia da Medicina ou da Matemática requerem um conhecimento suficiente dessas ciências. Do mesmo modo, na Historiografia Jurídica não pode faltar o conhecimento do Direito e das suas exigências metodológicas próprias.
De acordo com o dito, deve-se ter em conta que a história do celibato eclesiástico implica, em seu conteúdo e desenvolvimento, o Direito e a Teologia da Igreja. Por isso, se quisermos fazer uma boa hermenêutica dos testemunhos históricos (factos e documentos), não se pode prescindir do método próprio do Direito Canônico e da Teologia. O significado e a necessidade dessas observações, que à primeira vista podem parecer abstractas, serão evidentes ao aplicá-las de modo concreto à questão que agora estudamos.

(cont)

(revisão da tradução portuguesa por ama)





[i] Card. alfons m. stickler, Cardeal Diácono de São Giorgio in Velabro