Tempo Comum II Semana
Evangelho: Mc 3 13-19
13 Tendo subido a um
monte, chamou a Si os que quis, e aproximaram-se d'Ele. 14 Escolheu doze para que andassem com Ele e para os enviar a pregar, 15
com poder de expulsar os demónios: 16 Simão, a quem pôs o nome de
Pedro; 17 Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais
pôs o nome de Boanerges, que quer dizer “filhos do trovão”; 18 e
André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o
Cananeu, 19 e Judas Iscariotes, que foi quem O entregou
Comentário:
É – sempre
– Jesus Quem chama e chama aqueles que quer. E não sabemos bem porquê, qual o
critério do Senhor para escolher este em lugar daquele.
Mas, a
questão está mal colocada porque, na verdade, o Senhor chama todos, sem
excepção. Sim… é verdade, chama todos os homens sem acepção alguma à santidade
pessoal porque todos somos Seus filhos e, um Pai, quer a todos os filhos por
igual sejam quais forem as suas virtudes, aptidões, defeitos ou limitações.
Como é que
chama este Doze simples pescadores na sua maioria e não outros?
Porquê
escolhe Paulo um perseguidor e carrasco de cristãos?
Será que
não viu que Judas O haveria de vender por trinta moedas?
Não
conhecia a fragilidade de Pedro que O negaria com juramento?
Claro que
sim mas também sabia que o apurado sentido de justiça de Paulo o levaria por
inauditos caminhos de apostolado!
Que a
fragilidade de Pedro seria ultrapassada pelo seu amor ao Mestre e, por isso lhe
entregaria as chaves do Reino e confiando-lhe a chefia da Sua Igreja!
Que a
tragédia pessoal de Judas seria a consequência de não ser capaz de amar e,
amando, converter-se e pedir perdão!
(ama,
comentário sobre Mc 3, 13-19, 2014.01.24)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do
cristianismo [i]
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Algumas
pessoas têm afirmado às vezes que o Opus Dei é organizado internamente segundo
as normas das sociedades secretas. Que se deve pensar de tal afirmação? Poderia
dar-nos, a propósito dista, uma ideia da mensagem que desejou dirigir aos
homens do nosso tempo ao fundar a Obra em 1928?
Desde
1928 não tenho deixado de pregar que a santidade não está reservada a
privilegiados, que todos os caminhos da Terra podem ser divinos, porque o cerne
da espiritualidade específica do Opus Dei é a santificação do TRABALHO. É
preciso acabar com o preconceito de que os fiéis correntes não podem senão
limitar-se a ajudar o clero, em apostolados eclesiásticos; e fazer notar que,
para alcançar esse fim sobrenatural, os homens têm necessidade de ser e de se
sentir pessoalmente livres, com a liberdade que Jesus Cristo ganhou para nós.
Para pregar e ensinar a praticar esta doutrina, nunca tive necessidade de
segredo algum. Os membros da Obra detestam o segredo, porque são fiéis
correntes, pessoas exactamente iguais às outras: ao entrarem para o Opus Dei
não mudam de estado. Repugnar-lhes-ia trazer um letreiro nas costas que
dissesse: “Reparem que estou dedicado ao serviço de Deus”. Isto não seria nem
laical nem secular. Mas os conhecidos e amigos dos sócios do Opus Dei sabem que
eles fazem parte da Obra, porque o não dissimulam, ainda que o não apregoem.
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Poderia
traçar um rápido esquema da estrutura do Opus Dei à escala mundial e da sua
articulação com o Conselho Geral a que preside em Roma?
O
Conselho Geral tem o seu domicílio em Roma, independente para cada Secção: a de
homens e a de mulheres (“Anuário Pontifício” de 1966, págs. 885 e 1226); e em
cada país existe um organismo análogo, presidido pelo Conselheiro nessa nação
[*]. Não pense numa organização poderosa, estendida capilarmente até ao último
recanto do Mundo. Imagine antes uma organização desorganizada, pois o trabalho
dos directores do Opus Dei destina-se principalmente a fazer com que chegue a
todos os seus membros o espírito genuíno do Evangelho - espírito de caridade,
de convivência, de compreensão, absolutamente alheio ao fanatismo - mediante
uma sólida e adequada formação teológica e apostólica. Depois, cada um actua
com inteira liberdade pessoal e, formando de modo autónomo a sua própria
consciência, esforça-se por procurar a perfeição cristã e cristianizar o seu
ambiente, santificando o seu próprio trabalho intelectual ou manual, em todas
as circunstâncias da sua vida e no seu próprio lar.
Por
outro lado, a direcção da Obra é sempre colegial. Detestamos a tirania,
especialmente neste governo exclusivamente espiritual do Opus Dei. Amamos a
pluralidade: o contrário não conduziria senão à ineficácia, a não fazer nem
deixar fazer, a não progredir.
[*]
Cfr. nota ao n.º 19. A erecção do Opus Dei como Prelatura pessoal reforçou
juridicamente a unidade do Opus Dei, ficando muito claro que toda a Prelatura -
homens e mulheres, sacerdotes e leigos, casados e solteiros - constitui uma
unidade pastoral orgânica e indivisível, que realiza os seus apostolados por
meio da Secção de varões e da Secção feminina, sob o governo e a direcção do
Prelado que, ajudado pelos seus Vigários e pelos seus Conselhos, dá e assegura
a unidade fundamental de espírito e de jurisdição entre as duas Secções.
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O
ponto 484 do seu código religioso, Caminho, precisa: “Sê instrumento”. Que
sentido se deve atribuir a esta afirmação dentro do contexto das perguntas
precedentes?
Caminho,
um código? Não! Escrevi em 1934 uma boa parte deste livro, resumindo para todas
as almas que dirigia - do Opus Dei ou não - a minha experiência sacerdotal. Não
suspeitei que trinta anos mais tarde alcançaria uma difusão tão ampla - milhões
de exemplares - em tantas línguas. Não é um livro somente para os sócios do
Opus Dei; é para todos, mesmo para os não cristãos. Caminho deve ser lido com
um mínimo de espírito sobrenatural, de vida interior e de preocupação
apostólica. Não é um código do homem de acção. Pretende ser um livro que leva a
viver na intimidade de Deus e a amá-lo, e a servir todas as almas: a ser um
instrumento - era esta a sua pergunta - como o Apóstolo Paulo queria sê-lo de
Cristo. Instrumento livre e responsável; aqueles que querem ver nas suas
páginas uma finalidade temporal, enganam-se. Não se esqueça que é corrente, nos
autores espirituais de todos os tempos, considerar as almas como instrumentos
nas mãos de Deus.
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A
Espanha ocupa um lugar de preferência na Obra? Pode considerar-se como ponto de
partida dum programa mais ambicioso, ou um simples sector de actividade entre
muitos outros?
A
Espanha não é senão um dos 65 países em que há sócios do Opus Dei, e os
espanhóis são uma minoria. Geograficamente, o Opus Dei nasceu na Espanha; mas o
seu fim é universal desde o princípio. De resto, eu resido em Roma há vinte
anos.
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O
facto de alguns membros da Obra estarem presentes na vida pública do país, não
politizou, de certo modo, o Opus Dei em Espanha? Não comprometem, assim, a Obra
e a própria Igreja?
Nem
em Espanha, nem em nenhum outro sítio! Insisto em que os sócios do Opus Dei
trabalham com plena liberdade e sob a sua responsabilidade pessoal, sem
comprometer nem a Igreja nem a Obra, porque não se apoiam nem na Igreja nem na
Obra para realizarem as suas actividades pessoais.
Pessoas
formadas numa concepção militar do apostolado e da vida espiritual tenderão a
ver no trabalho livre e responsável dos cristãos um modo de actuar colectivo.
Mas digo-lhe, como não me tenho cansado de repetir desde 1928, que a
diversidade de opiniões e de comportamentos no terreno temporal e no campo
teológico opinável não constitui problema algum para a Obra: a diversidade que
existe e existirá sempre entre os sócios do Opus Dei é, pelo contrário, uma
manifestação de bom espírito, de vida honesta, de respeito pelas opiniões legítimas
de cada um.
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Não
lhe parece que em Espanha, e em virtude do particularismo inerente à raça
ibérica, um certo sector da Obra poderia ser tentado a utilizar o seu poder
para satisfazer interesses particulares?
Levanta
uma hipótese que me atrevo a garantir que nunca se apresentará na nossa Obra,
não só porque nos associamos exclusivamente para fins sobrenaturais, mas ainda
porque, se alguma vez um membro do Opus Dei quisesse impor, directa ou
indirectamente, um critério temporal aos outros, ou servir-se deles para fins
humanos, seria expulso sem contemplações, porque os outros sócios se revoltariam
legitimamente, santamente.
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Em
Espanha, o Opus Dei orgulha-se de reunir pessoas de todas as classes sociais.
Esta afirmação é válida também para o resto do Mundo, ou deve admitir-se que
nos outros países os sócios do Opus Dei procedem antes de meios ilustrados,
como os estados-maiores da Indústria, da Administração, da Política e das
Profissões Liberais?
De
facto, pertencem ao Opus Dei, tanto em Espanha como em todo o mundo, pessoas de
todas as condições sociais: homens e mulheres, velhos e jovens, operários,
industriais, empregados, camponeses, representantes das profissões liberais,
etc. A vocação é Deus quem a dá e para Deus não há acepção de pessoas.
Mas
o Opus Dei não se orgulha de coisa nenhuma: não e às forças humanas que as
obras de apostolado devem o seu crescimento, é ao sopro do Espírito Santo. Numa
associação com fins temporais, é lógico publicar estatísticas que ostentem o
número, a condição e as qualidades dos sócios, e assim costumam fazer as
organizações que buscam prestígio temporal; mas este modo de actuar, quando se
procura a santificação das almas, favorece a soberba colectiva: ora Cristo quer
a humildade para cada um dos cristãos e para todos os cristãos.
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Qual
é a situação actual do desenvolvimento da Obra em França?
Corno
lhe dizia, o governo da Obra em cada país é autónomo. A melhor informação sobre
o trabalho do Opus Dei em França, pode obtê-la perguntando-o aos directores da
Obra nesse país.
Entre
as actividades que o Opus Dei realiza corporativamente e pelas quais responde
como tal, há residências de estudantes - como a Résidence lnternationale de
Rouvray, em Paris; a Résidence Universitaire de L'Ile-Verte, em Grenoble -,
centros de reuniões e convívios - como o Centre de Rencontre de Couvrelles, no
departamento de L'Aisne - etc. Mas recordo-lhe que as obras corporativas são o
que menos importa; o trabalho principal do Opus Dei é o testemunho pessoal,
directo, que os seus sócios dão no ambiente do seu trabalho. E para isso a
enumeração não serve. Não pense no fantasma do segredo. Não! As aves que sulcam
o céu não são segredo e a ninguém passa pela cabeça contá-las.
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Qual
é a situação actual da Obra no resto do Mundo, especialmente no mundo
anglo-saxónico?
O
Opus Dei encontra-se tão à vontade na Inglaterra como no Quénia, na Nigéria,
como no Japão, nos Estados Unidos como na Áustria, na Irlanda como no México ou
na Argentina: em cada lugar é o mesmo fenómeno teológico e pastoral, enraizado
nas almas do país. Não se baseia numa cultura determinada nem numa época
concreta da História. No mundo anglo-saxónico, o Opus Dei tem, graças à ajuda
de Deus e à colaboração de grande número de pessoas, obras apostólicas de
diversas espécies: Netherhall House, em Londres, que presta especial atenção
aos estudantes afro-asiáticos; Hudson Center, em Montreal, para a formação
humana e intelectual de raparigas; Nairana Cultural Center, que se dirige aos
estudantes de Sydney... Nos Estados Unidos, onde o Opus Dei começou a trabalhar
em 1949, podem mencionar-se: Midtown, centro para operários num bairro do
coração de Chicago; Stonecrest Community Center, em Washington, destinado à
formação de mulheres que carecem de preparação profissional; Trimount House,
residência universitária, em Boston, etc. Uma advertência: a influência da
Obra, na medida em que exista em cada caso, será sempre espiritual e de
carácter religioso, nunca temporal.
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Fontes
diversas pretendem que uma inimizade profunda oporia a maior parte das ordens
religiosas, e singularmente a Companhia de Jesus, ao Opus Dei. Estes boatos têm
algum fundamento ou fazem parte desses mitos que o público alimenta quando não
conhece bem algum assunto?
Embora
não sejamos religiosos nem nos pareçamos com os religiosos - nem há autoridade
no Mundo que nos possa obrigar a sê-lo - no Opus Dei veneramos e amamos o
estado religioso. Todos os dias rezo para que todos os veneráveis religiosos
continuem a oferecer à Igreja frutos de virtudes, de obras apostólicas e de
santidade. Os boatos de que se falou são... boatos. O Opus Dei teve sempre a
admiração e a simpatia de inúmeras ordens e congregações, particularmente dos
religiosos e das religiosas de clausura, que rezam por nós, nos escrevem com
frequência e dão a conhecer a nossa Obra de mil e uma maneiras, porque se dão
conta da nossa vida de contemplação no meio dos afazeres da rua. O secretário
geral do Opus Dei, Dr. Alvaro del Portillo, conhecia e estimava o anterior
Geral da Companhia de Jesus. O actual Geral, o Padre Arrupe, conheço-o eu e
estimo-o, e ele a mim. As incompreensões, se as houvesse, demonstrariam pouco
espírito cristão, porque a nossa fé é de unidade, não de rivalidade e divisões.
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Qual
é a posição da Obra acerca da declaração conciliar em favor da liberdade
religiosa, e de modo especial acerca da sua aplicação em Espanha, onde o
“projecto Castiella” continua suspenso? E que dizer desse famoso “integrismo”
atribuído alguma vez ao Opus Dei?
lntegrismo?
O Opus Dei não está à direita, nem à esquerda, nem ao centro. Pessoalmente,
como sacerdote, procuro estar com Cristo, que na Cruz estendeu os dois braços,
e não apenas um deles. - Tomo com liberdade, de cada grupo, aquilo que me
convence, e que me torna o coração e os braços acolhedores para com toda a
gente. Por sua vez, cada um dos sócios da Obra é libérrimo de fazer as opções
que quiser, no âmbito da fé cristã.
Quanto
à liberdade religiosa, o Opus Dei, desde a sua fundação, nunca fez discriminações:
trabalha e convive com todos, porque vê, em cada um, uma alma que é preciso
respeitar e amar. Não são meras palavras: a nossa Obra foi a primeira
organização católica a admitir, com autorização da Santa Sé, como Cooperadores
os não católicos, sejam ou não cristãos. Defendi sempre a liberdade das
consciências. Não compreendo a violência: não me parece apta para convencer nem
para vencer. O erro supera-se com a oração, com a graça de Deus, com o estudo;
nunca com a força, sempre com a caridade. Compreenderá que, sendo este o
espírito que temos vivido desde o princípio, só me podem ter causado alegria os
ensinamentos que o Concílio promulgou sobre este tema. Acerca do projecto
concreto a que se refere, não é questão da minha competência, mas da hierarquia
da Igreja em Espanha e dos católicos desse país, aplicando ao caso concreto o
espírito do Concílio.
(cont)
[i]
Entrevista realizada por
Jacques-Guillemé-Brûlon, publicada em Le Figaro (Paris) em 16 de Maio de 1966.