RESUMOS DA FÉ CRISTÃ
TEMA 8 Jesus Cristo, Deus e Homem verdadeiro
4. A
Humanidade Santíssima de Jesus Cristo
…/2
No que se refere a uma eventual ignorância
propriamente dita, é preciso ter presente que «o que neste domínio reconhece
ignorar [i] declara, noutro
ponto não ter a missão de o revelar [ii]» [iii].
Entende-se que Cristo era humanamente
consciente de ser o Verbo e da sua missão salvífica [iv].
Por outro lado, a teologia católica, ao
pensar que Cristo possuía já na terra a visão imediata de Deus, negou sempre a
existência em Cristo da virtude da fé [v].
Frente às heresias monoenergeta e monotelista
que, em lógica continuidade com o monofisismo precedente, afirmavam que em
Cristo há uma só operação ou uma só vontade, a Igreja confessou no III Concílio
ecuménico de Constantinopla, no ano 681, que «Cristo possui duas vontades e
duas operações naturais, divinas e humanas, não opostas mas cooperantes, de
forma que o Verbo feito carne quis humanamente, em obediência ao Pai, tudo
quanto decidiu divinamente com o Pai e o Espírito Santo para a nossa salvação [vi].
A vontade humana de Cristo “segue a sua
vontade divina sem fazer resistência nem oposição em relação a ela, antes
estando subordinada a essa vontade omnipotente” [vii]» [viii].
Trata-se de uma questão fundamental pois está
directamente relacionada com o ser de Cristo e com a nossa salvação.
São Máximo, o Confessor, distinguiu-se neste
esforço doutrinal de clarificação e serviu-se, com grande eficácia, da
conhecida passagem da oração de Jesus no Horto, em que aparece o acordo da
vontade humana de Cristo com a vontade do Pai [ix].
Consequência da dualidade de naturezas é
também a dualidade de operações. Em Cristo há duas operações, as divinas,
procedentes da sua natureza divina e as humanas, que procedem da natureza
humana.
Fala-se também de operações teândricas para
referir aquelas em que a operação humana actua como instrumento da divina: é o
caso dos milagres realizados por Cristo.
O realismo da Encarnação do Verbo
manifestou-se também na última grande controvérsia cristológica da época
patrística: a disputa sobre as imagens.
O costume de representar Cristo, em frescos,
ícones, baixos-relevos, etc., é antiquíssima e existem testemunhos que
remontam, pelo menos, ao século segundo.
A crise iconoclasta produziu-se em
Constantinopla no início do século VIII e teve origem numa decisão do
Imperador.
Já antes tinha havido teólogos que se tinham
mostrado, ao longo dos séculos, partidários ou contrários ao uso das imagens,
mas ambas as tendências tinham coexistido pacificamente.
Os opositores costumavam aduzir que Deus não
tem limites e não pode, portanto, encerrar-se no interior dumas linhas, duns
traços, não se pode circunscrever.
No entanto, como assinalou São João Damasceno
é a própria Encarnação que circunscreve o Verbo que não se pode circunscrever
«Uma vez que o Verbo se fez carne, assumindo uma verdadeira natureza humana, o
corpo de Cristo era circunscrito. Portanto, o rosto humano de Jesus pode ser
“pintado” [x]» [xi].
No II Concílio ecuménico de Niceia, do ano
787, «a Igreja reconheceu como legítimo que Ele fosse representado em santas
imagens» [xii].
Com efeito, «as particularidades individuais
do corpo de Cristo exprimem a pessoa divina do Filho de Deus.
Este fez seus, os traços do seu corpo humano
de tal modo que, pintados numa imagem sagrada, podem ser venerados porque o
crente que venera a Sua imagem, venera nela a pessoa nela representada» [xiii].
A alma de Cristo, ao não ser divina por
essência, mas humana, foi aperfeiçoada, como as almas dos outros homens,
mediante a graça habitual, que é «um dom habitual, uma disposição estável e
sobrenatural que aperfeiçoa a alma, mesmo para a tornar capaz de viver com Deus
e de agir por seu amor» [xiv].
Cristo é santo, como anunciou o arcanjo S.
Gabriel a S. Santa Maria na Anunciação [xv].
A humanidade de Cristo é radicalmente santa,
fonte e paradigma de santidade de todos os homens.
Pela Encarnação, a natureza humana de Cristo
foi elevada à maior união com a divindade – com a Pessoa do Verbo – à qual
criatura alguma pode ser elevada.
Do ponto de vista da humanidade do Senhor, a
união hipostática é o maior dom que jamais se tenha podido receber, e costuma
conhecer-se com o nome de graça de união.
Pela graça habitual a alma de Cristo foi
divinizada com essa transformação que eleva a natureza e as operações da alma
ao plano da vida íntima de Deus, proporcionando às suas operações sobrenaturais
uma conaturalidade que, de outro modo, não teria.
A sua plenitude de graça implica também a existência
das virtudes infusas e dos dons do Espírito Santo.
Desta plenitude de graça de Cristo, «todos recebemos, graça sobre graça» [xvi].
A graça e os dons foram outorgados a Cristo
não só em atenção à sua dignidade de Filho, mas também em atenção à sua missão
de novo Adão e Cabeça da Igreja.
Por isso, fala-se duma graça capital em
Cristo, que não é uma graça distinta da graça pessoal do Senhor, mas um aspecto
dessa mesma graça que sublinha a sua acção santificadora sobre os membros da
Igreja.
A Igreja, com efeito, «é o Corpo de Cristo» [xvii], um Corpo «cuja
cabeça é Cristo: ela vive d’Ele, n’Ele e para Ele; e Ele vive com ela e nela» [xviii].
O Coração do Verbo encarnado. «Jesus,
conheceu-nos e amou-nos, a todos e a cada um, durante a Sua vida, a Sua agonia
e a Sua paixão, entregando-Se por cada um de nós: “O Filho de Deus amou-me e
entregou-Se por mim”.
Amou-nos a todos com um coração humano» [xix].
Por este motivo, o Sagrado Coração de Jesus
«é considerado sinal e símbolo, por excelência daquele amor com que o divino
Redentor ama, sem cessar, o eterno Pai e todos os homens» [xx].
José Antonio
Riestra
Bibliografia
básica:
Catecismo da Igreja
Católica, 422-483. Bento XVI-Joseph Ratzinger, Jesus de Nazaré, Esfera dos
Livros, Lisboa 2007, pp. 395435. Leituras recomendadas A. Amato, Jesús el
Señor, BAC, Madrid 1998. F. Ocáriz – L.F. Mateo Seco – J.A. Riestra, El
misterio de Jesucristo, 3ª ed., EUNSA, Pamplona 2004.
Notas
[iv] Cf. Comissão Teológica Internacional, La conciencia
que Jesús tenía de Sí mismo y de su misión (1985), em ID., Documentos 1969-1996,
2ª ed., BAC, Madrid 2000, 377-391.
[v] Cf. Congregação para
a Doutrina da Fé, Notificação, n. V, 26-XI-2006.
[xiii] Concílio de Niceia
II, DS 601.