Semana V da Páscoa
Evangelho:
Jo 15 9-11
9 Como o Pai Me amou,
assim Eu vos amei. Permanecei no Meu amor. 10 Se observardes os Meus preceitos,
permanecereis no Meu amor, como Eu observei os preceitos de Meu Pai e permaneço
no Seu amor. 11 Disse-vos estas coisas, para que a Minha alegria esteja em vós
e para que a vossa alegria seja completa.
Comentário:
São João é o Evangelista do Amor.
Sim, Amor com maiúscula porque nos fala do Supremo e Total Amor que é Jesus
Cristo Nosso Senhor.
Foi exclusivamente por amor que veio ao mundo fazendo-se igual a nós em tudo
menos no pecado.
De facto, o pecado é incompatível com o amor e,
este, só é verdadeiro quando é igual ao de Cristo.
As relações entre Deus e os homens podem
resumir-se numa palavra: amor!
(ama, comentário sobre Jo 15, 9-11,
2014.05.22)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
XI. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
…/23
«Os
Sete Dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência ou entendimento,
ciência, conselho, fortaleza, piedade e temor de Deus. Pertencem em plenitude a
Cristo, Filho de David “[i].[ii]
Que
virtudes aperfeiçoam e completa cada dom?
As
opiniões são variadas e, na realidade, não afectam o fundo da questão; porque
de facto poder-se-ia afirmar, simplesmente, que todos os Dons influem na Fé, na
Esperança e na Caridade.
E
esse influxo somar-se-ia à corrente de influência que já se dá entre as três
virtudes.
Para
facilitar, todavia, a compreensão do processo de gestação e de desenvolvimento
da pessoa cristã, expomos a nossa própria opinião sobre a inter-relação dos
Dons do Espírito Santo e das Virtudes teologais.
Podemos
dizer que dos sete Dons os primeiros são quatro: Sabedoria, Entendimento,
Ciência e Conselho fazem referência directa à inteligência e preparam-na para
se ir abrindo mais e mais, mais e mais à Verdade, à comunicação da sabedoria de
Deus.
De
certo modo, estes dons tornam possível e dirigem o desenvolvimento da Fé e, sob
a luz da Fé, a inteligência humana vai penetrando no mistério do ser de Deus e
do actuar de Deus.
O
dom de Fortaleza faz referência à memória e, abrindo a memória, já iluminada
pela luza da Fé, a vida eterna e a possibilidade de alcançá-la, sustenta e
fortifica o homem na Esperança.
Os
dons de Piedade e de temor de Deus relacionam-se directamente com a vontade
humana, também enriquecida com as verdades que a inteligência crente introduz
na pessoa e modelam a caridade, segundo o coração de Deus, segundo o coração de
Cristo, para que o cristão alcance amar a Deus e os homens com e no próprio
coração de Cristo.
As
palavras da Escritura, referidas directamente a Cristo, também se podem aplicar
a cada «nova criatura em Cristo”; porque o Espírito Santo deseja fazer morada
em todos e em cada um dos crentes: «E brotará uma vara do tronco de Jessé e
rebentará das suas raízes um varão. Sobre ele repousará o espírito de Yahvé,
espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza,
espírito de ciência e de piedade, e estará cheio de espírito de temor do Senhor”.[iii]
Que
transformações se originam no homem sob a influência dos Dons?
Respondemos
a esta pergunta mudando a ordem tradicional em que é costume enumera-los e
referimo-nos a eles segundo a distribuição a que acabamos de aludir: sabedoria,
entendimento, ciência e conselho; fortaleza; piedade e temor de Deus.
Deixaremos
para o capítulo sobre os Frutos do Espírito Santo a análise mais detalhada dos
efeitos da acção dos Dons no processo de conversão do cristão na «nova
criatura”.
O
Dom de Sabedoria é uma participação especial da inteligência humana no
conhecimento misterioso e sumo, que é próprio de Deus, e que a Deus e refere.
De
certo modo, ao fazer-nos partícipes da «natureza divina”, Deus predispõe-nos
para que participemos também, e sempre segundo as nossas limitações pelo facto
de ser criaturas que nunca nos abandonam, dos mistérios insondáveis do seun
próprio Ser. Da riqueza da sua Verdade.
O
conhecimento do Ser-Existir de Deus, fruto do dom da Sabedoria, é um saber
impregnado pela caridade, graças ao qual, a alma adquire familiaridade, uma
certa co-naturalidade, com as coisas divinas e deleita-se nelas. Saboreia-as.
Deleita-se na sua contemplação.
O
verdadeiro sábio, além de conhecer o viver e o actuar de Deus, tem deles uma
certa experiência e vive-os.
«Provai
e vede como o Senhor é bom; venturoso o varão que a Ele se acolhe”.[iv]
Este
dom também outorga à inteligência humana uma capacidade especial para julgar os
acontecimentos da natureza, os factos da história desde uma perspectiva que o
aproxima do modo como Deus os contempla.
O
Dom de Entendimento ou de Inteligência impulsiona a inteligência humana, e
fortalece a Fé, para conhecer mais detalhadamente, com maior profundidade e
maior plenitude, a verdade revelada.
Mediante
este dom, o Espírito Santo, que «perscruta as profundidades de Deus”,[v]
comunica ao crente uma centelha dessa capacidade de penetração nas realidades
que o cercam, que lhe abre o coração à percepção gozosa do destino amoroso de
Deus, a revelar o verdadeiro rosto de Cristo, muito especialmente ajudando a
compreender as sua actuações e a s suas palavras recolhidas nos Evangelhos.
O
Senhor já tinha adiantado a actuação deste Dom, ao anunciar a vinda do Espírito
Santo sobre os Apóstolos: «Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não
podeis entende-las agora.
Quando
vier Aquele, o Espírito da verdade vos guiará até à verdade completa”.[vi]
E
as suas palavras soam como o cumprimento daquela promessa de Yahvé a David:
«Dar-te-ei inteligência e mostrar-te-ei o caminho que hás-de seguir; fixos em
ti os olhos serei o teu conselheiro”.[vii]
Se
os dons de Sabedoria e Inteligência enformam a actuação da Fé-Inteligência do
homem para descobrir e gozar da vida de Deus em Si própria, e da compreensão do
Amor de Deus encerrado na vida terrena de Jesus Cristo, o Dom de Ciência dá-nos
a conhecer a mente de Deus ao criar o mundo e ao criar o homem; e, ao mesmo
tempo, permite que o homem descubra o verdadeiro valor das criaturas em relação
com o Criador.
Com
este dom, o homem entende directamente a dependência essencial que tudo o
criado tem com o seu Criador e descobre o sentido teológico do criado, ao
apreciar a ordem, as leis e a liberdade com que Deus corou a criação do
universo, dos animais e das plantas e do homem.
O
Dom de Ciência permite que o homem contemple a criação como o que realmente é:
manifestação da verdadeira e real, e ao mesmo tempo limitada, da verdade, da
beleza, do amor infinito que é Deus, e, como consequência dessa contemplação,
sente-se compelido a a traduzir a descoberta em louvores, em oração, em acções
de graças ao Criador.
«Se,
vãos por natureza, todos os homens que ignoraram Deus e não foram capazes de
conhecer pelos bens visíveis Aquele que è nem atendendo às obras, reconheceram
o Artífice… pois pelas grandeza e pela beleza das criaturas pode chegar-se
claramente ao conhecimento do seu Criador”.[viii]
Dentro
e no conjunto da criação, o homem tem outorgado um lugar privilegiado de
cooperador do próprio Deus.
E
já lhe foi concedido no paraíso, quando recebeu o encargo de cuidar do jardim e
de trabalhar nele, além do convite a multiplicar-se e a encher a terra.
Com
o Dom de Ciência, o ser humano pode desenvolver essa cooperação nas obras de
Deus, segundo a mente e o querer de Deus.
O
Dom de Conselho torna possível que o homem se situe nesse lugar proeminente e
coopere com Deus em relação aos encargos recebidos.
O
Espírito Santo, através do Dom de Conselho, ilumina a consciência do homem nas
opções da vida diária, e guia a alma para a luz da verdade de Deus sobre ele
próprio.
A
consciência converte-se assim em reflexo claro da verdadeira luz de Deus e
torna possível ao homem ver melhor o que há-de fazer em qualquer circunstância
do seu viver, por muito difícil e intrincada que a decisão se apresente.
«O
conselho no coração do homem é água profunda, o homem inteligente saberá
obtê-la”.[ix]
O
Dom de Conselho ilumina a inteligência do homem de Fé para descobrir os planos
de Deus sobre ele.
Ajuda-o
a discernir a sua própria vocação e a entender a Vontade de Deus no meio das
circunstâncias do seu viver, ao mesmo tempo que o orienta na escolha dos
caminhos mais adequados para prosseguir na sua conversão a Deus e chegar a
amá-lo «com todo o coração, com toda a mente”.
Uma
vez assente a verdade de Deus na mente, o cristão pode descobrir-se deslumbrado
pela riqueza divina que encontrou em si mesmo.
Deu-se
nele a conversão de que São Paulo fala na sua primeira Carta aos Coríntios: «O
homem natural não capta as coisas do espírito de Deus; são para ele, desperdício.
E
não as pode entender, poi só o Espírito as pode julgar.
Ao
invés, o homem espiritual julga tudo; e a ele ninguém o pode julgar.
Porque
quem conheceu o pensamento do Senhor para o instruir?
Mas
nós possuímos os pensamentos de Cristo”.[x]
Ante
esta luz de Deus, e na contemplação da grandeza do Criador e da própria
limitação da criatura, a conversão do homem em cristão só é possível na
Esperança.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)