Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
18/03/2018
Jesus está connosco!
No Santo Sacrifício do altar, o sacerdote pega
no Corpo do nosso Deus e no Cálice com o seu Sangue, e levanta-os sobre todas
as coisas da terra, dizendo: "Per
Ipsum, et cum Ipso, et in Ipso", pelo meu Amor!, com o meu Amor!, no
meu Amor! Une-te a esse gesto. Mais ainda: incorpora essa realidade na tua
vida. (Forja, 541)
Assim se entra no Canon, com a confiança
filial que nos leva a chamar clementíssimo ao nosso Pai Deus. Pedimos-Lhe pela
Igreja e por todos os que estão na Igreja, pelo Papa, pela nossa família, pelos
nossos amigos e companheiros. E o católico, como tem coração universal, pede
por todo o mundo, porque o seu zelo entusiasta nada pode excluir. E para que a
petição seja acolhida, recordamos a nossa comunhão com a Santíssima Virgem e
com um punhado de homens que foram os primeiros a seguir Cristo e por Ele
morreram.
Quam oblationem... Aproxima-se o momento da consagração. Agora, na Santa Missa, é
outra vez Cristo que actua, através do sacerdote: Isto é o meu Corpo. Este é o
cálice do meu Sangue. Jesus está connosco! Com a transubstanciação, renova-se a
infinita loucura divina, ditada pelo Amor. Quando hoje se repete esse momento,
que saiba cada um de nós dizer ao Senhor, mesmo sem pronunciar quaisquer
palavras, que nada nos poderá afastar d'Ele e que a sua disponibilidade de se
deixar ficar – totalmente indefeso – nas aparências, tão frágeis, do pão e do
vinho, nos converteu voluntariamente em escravos: praesta meae menti de te vivere et te illi semper dulce sapere, faz
com que eu viva de Ti e saboreie sempre a doçura do teu amor.
Mais petições. Nós, homens, estamos quase
sempre inclinados a pedir. Desta vez, é pelos nossos irmãos defuntos e por nós
mesmos. Por isso, aqui aparecem todas as nossas infidelidades e misérias. O
peso da sua carga é muito grande, mas Ele quer levá-lo por nós e connosco. O
Canon vai terminar com outra invocação à Santíssima Trindade: per Ipsum, et cum Ipso, et in Ipso....
por Cristo, com Cristo e em Cristo, nosso Amor, a Ti, Deus Pai Todo-poderoso,
na unidade do Espírito Santo, Te seja dada toda a honra e glória pelos séculos
dos séculos. (Cristo que passa, 90)
Temas para meditar e reflectir
O
milagre da transubstanciação realizou-se exclusivamente para vós. Jesus veio e
habitou só para vós (...).
Nenhum
intermediário, nenhum agente secundário nos comunicará a influência que a nossa
alma necessita; virá Ele próprio.
Quanto
deve querer-nos para fazer isto?
Que
decidido deve estar a que pela Sua parte não falte nada, que não tenhamos
nenhuma desculpa para rejeitar o que nos oferece, quando o traz Ele próprio!
E
nós tão cegos, tão vacilantes, tão desdenhosos, tão pouco dispostos a dar-nos
plenamente àquele que se dá totalmente a nós!
(R.
A. KNOX, Sermões pastorais, pg.
516-517)
Evangelho e comentário
Evangelho: Jo 12, 20-23
20
Entre os que tinham subido a Jerusalém à Festa para a adoração, havia alguns
gregos. 21 Estes foram ter com Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e
pediam-lhe: «Senhor, nós queremos ver Jesus!» 22 Filipe foi dizer isto a André;
André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. 23 Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora
de se revelar a glória do Filho do Homem.
Comentário:
Há
como que uma união fraterna entre os discípulos de Jesus – principalmente entre
os Doze – que os leva a não tomarem nenhuma decisão ou fazer seja o que for,
sozinhos, sem o apoio de pelo menos um companheiro.
Vê-se
que está em formação o “Colégio Apostólico”, como que uma ‘família mais próxima
de Jesus’ que partilha com Ele todos os momentos e o que vai acontecendo ao
longo dos dias.
Parece-me
que deve ser assim entre os cristãos. É sempre avisado consultar antes de agir,
informar-se previamente a qualquer acção.
Para
isso o ideal é a direcção espiritual onde nos são dadas indicações seguras de
como proceder em cada caso.
(AMA,
comentário sobre Jo 12, 20-23, 07.12.2017)
Leitura espiritual
Cristo instituiu o
sacramento da Penitência oferecendo-nos uma nova possibilidade de nos
convertermos e de recuperarmos, depois do Baptismo, a graça da justificação.
1.
A luta contra o pecado depois do Baptismo
1.1.
Necessidade da conversão
Apesar do Baptismo apagar
todo o pecado, de nos fazer filhos de Deus e dispor a pessoa para receber a dádiva
divina da glória do Céu, ainda ficamos expostos nesta vida a cair no pecado; as
quedas são frequentes e ninguém está dispensado de lutar contra ele. Jesus
ensinou-nos a rezar no Pai Nosso: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como
nós perdoamos a quem nos tem ofendido», e isto não de vez em quando, mas todos
os dias, frequentemente. O Apóstolo S. João também diz: «Se dizemos que não
temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós» (1 Jo 1,
8). E aos primeiros cristãos em Corinto, S. Paulo exortava: «Em nome de Cristo
suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20). Assim, a chamada de
Deus à conversão: «O tempo chegou ao seu termo, o Reino de Deus está próximo:
convertei-vos e acreditai na boa-nova» (Mc 1, 15), não se dirige apenas aos que
ainda não O conhecem, mas a todos os cristãos que também se devem converter e
avivar a sua fé. «Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a
Igreja» (Catecismo, 1428).
1.2.
A penitência interior
A conversão começa no nosso
interior: a que se limita a aparências externas não é verdadeira conversão.
Ninguém se pode opor ao pecado, ofensa a Deus, senão com um acto
verdadeiramente bom, acto de virtude, com o qual se arrepende daquilo com que
contrariou a vontade de Deus, e procura activamente eliminar essa desordem com
todas as suas consequências. Nisto consiste a virtude da penitência. «A penitência
interior é uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma conversão
a Deus de todo o nosso coração, uma rotura com o pecado, uma aversão ao mal,
com repugnância pelas más acções que cometemos. Ao mesmo tempo, implica o
desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia divina e
a confiança na ajuda da sua graça» (Catecismo, 1431). A penitência não é obra
exclusivamente humana, um reajustamento interior resultante dum forte domínio
de si próprio, que coloca em jogo todos os impulsos do conhecimento próprio e
uma série de decisões enérgicas. «A conversão é, antes de mais, obra da graça
de Deus, a qual faz com que os nossos corações se voltem para Ele:
«Convertei-nos, Senhor, e seremos convertidos» (Lm 5, 21).Deus é quem nos dá a
coragem de começar de novo» (Catecismo, 1432).
1.3.
Diversas formas de penitência na vida cristã
A conversão nasce do
coração, mas não fica encerrada no interior do homem, mas frutifica em obras
exteriores, pondo em jogo a pessoa inteira, corpo e alma. Entre essas,
destacam-se, em primeiro lugar, as que estão incluídas na celebração da
Eucaristia e as do sacramento da Penitência, que Jesus instituiu para que
saíssemos vitoriosos na luta contra o pecado. Além disso, o cristão possui
muitas outras formas de pôr em prática o seu desejo de conversão. «A Escritura
e os Padres insistem sobretudo em três formas: o jejum, a oração e a esmola
(cf. Tb 12, 8; Mt 6, 1-18), que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a
Deus e aos outros» (Catecismo, 1434). A essas três formas se reconduzem, dum
modo ou de outro, todas as obras que nos permitem rectificar a desordem do
pecado. Por jejum entende-se não só a renúncia moderada ao gosto nos alimentos,
mas também tudo o que se exige ao corpo para não lhe dar prazeres, a fim de nos
dedicarmos ao que Deus nos pede para o bem dos outros e de nós próprios. Como
oração, podemos entender todos os esforços das nossas faculdades espirituais –
inteligência, vontade, memória – para nos unirmos a Deus nosso Pai numa
conversação familiar e íntima. No que se refere à esmola, não se trata apenas
de dar dinheiro ou outros bens materiais aos necessitados, mas também outros
tipos de donativos: compartilhar o próprio tempo, cuidar dos doentes, perdoar
aos que nos ofenderam, corrigir quem necessita de rectificar, consolar quem
sofre, e muitas outras manifestações de entrega aos outros. Especialmente
nalguns momentos, a Igreja impulsiona-nos a realizar obras de penitência, que
nos servem também para sermos mais solidários com os nossos irmãos na fé. «Os
tempos e os dias de penitência no decorrer do Ano Litúrgico (tempo da Quaresma,
cada sexta-feira em memória da morte do Senhor) são momentos fortes da prática
penitencial da Igreja» (Catecismo, 1438).
2.
O sacramento da Penitência e Reconciliação
2.1.
Cristo instituiu este sacramento
«Cristo instituiu o
sacramento da Penitência para todos os membros pecadores da sua Igreja, antes
de mais para aqueles que, depois do Baptismo, caíram em pecado grave e assim
perderam a graça baptismal e feriram a comunhão eclesial. É a eles que o
sacramento da Penitência oferece uma nova possibilidade de se converterem e de
reencontrarem a graça da justificação. Os Padres da Igreja apresentam este
sacramento como “a segunda tábua (de salvação), depois do naufrágio que é a
perda da graça”» (Catecismo, 1446). Jesus, durante a sua vida pública, não só
exortou os homens à penitência como, acolhendo os pecadores, os reconciliava
com o Pai[1]. «Foi ao dar o Espírito Santo aos Apóstolos que Cristo
ressuscitado lhes transmitiu o seu próprio poder divino de perdoar os pecados:
“Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão
perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”» (Jo 20,
22-23). (Catecismo, 976). É um poder que se transmite aos bispos, sucessores
dos apóstolos como pastores da Igreja, e aos presbíteros, que são sacerdotes do
Novo Testamento, colaboradores dos bispos, em virtude do sacramento da Ordem.
«Cristo quis que a sua Igreja fosse, toda ela, na sua oração, na sua vida e na
sua actividade, sinal e instrumento do perdão e da reconciliação que Ele nos
adquiriu pelo preço do seu sangue. Entretanto, confiou o exercício do poder de
absolvição ao ministério apostólico» (Catecismo, 1442).
2.2.
Nomes deste sacramento
Este sacramento tem diversos
nomes conforme se acentua um ou outro aspecto. «É chamado sacramento da
Penitência, porque consagra uma caminhada pessoal e eclesial de conversão, de
arrependimento e de satisfação por parte do cristão pecador» (Catecismo, 1423).
«Sacramento da Reconciliação, porque dá ao pecador o amor de Deus que
reconcilia» (Catecismo, 1424). «Sacramento da confissão, porque (…) a confissão
dos pecados perante o sacerdote é um elemento essencial deste sacramento»
(ibidem). «Sacramento do perdão, porque, pela absolvição sacramental do
sacerdote, Deus concede ao penitente “o perdão e a paz”» (ibidem) . «Sacramento
da conversão, porque realiza sacramentalmente o apelo de Jesus à conversão»
(Catecismo, 1423).
2.3.
Sacramento da Reconciliação com Deus e com a Igreja
«Aqueles que se aproximam do
sacramento da Penitência, obtêm da misericórdia de Deus o perdão da ofensa a
Ele feita e, ao mesmo tempo, reconciliam-se com a Igreja, que tinham ferido com
o seu pecado, a qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua
conversão» (Lumen Gentium, 11). «Como o pecado é uma ofensa a Deus, que quebra
amizade com Ele, a penitência “tem como termo o amor e o abandono no Senhor”.
Assim, o pecador, movido pela graça de Deus misericordioso, inicia o seu
percurso de conversão, retorna ao Pai, que “nos amou primeiro”, a Cristo que se
entregou por nós e ao Espírito Santo que derramado copiosamente em nós»[2].
«”Por arcanos e misteriosos desígnios de Deus, os homens estão vinculados entre
si por laços sobrenaturais, de tal maneira que o pecado de um prejudica os
outros, do mesmo modo que a santidade de um beneficia os outros”. Por isso a
penitência tem como consequência a reconciliação com os outros, bem como a
santidade de um beneficia aqueles que o próprio pecado prejudica»[3].
2.4.
A estrutura fundamental da Penitência
«Os elementos essenciais do
sacramento da Reconciliação são dois: os actos realizados pelo homem que se
converte sob a acção do Espírito Santo e a absolvição do sacerdote, que em Nome
de Cristo concede o perdão e estabelece a modalidade da satisfação» (Compêndio,
302).
3.
Os actos do penitente
São «os actos do homem que
se converte sob a acção do Espírito Santo, a saber, a contrição, a confissão e
a satisfação» (Catecismo, 1448).
3.1.
A contrição
«Entre os actos do
penitente, a contrição ocupa o primeiro lugar. Ela é “uma dor da alma e uma
detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar no futuro”
[4]» (Catecismo, 1451). Quando procedente do amor de Deus, amado sobre todas as
coisas, a contrição é dita «perfeita» (contrição de caridade). Uma tal
contrição perdoa as faltas veniais: obtém igualmente o perdão dos pecados
mortais, se incluir o propósito firme de recorrer, logo que possível, à
confissão sacramental» (Catecismo, 1452). «A contrição dita «imperfeita» (ou
«atrição») é, também ela, um dom de Deus, um impulso do Espírito Santo. Nasce
da consideração da fealdade do pecado ou do temor da condenação eterna e das
outras penas de que o pecador está ameaçado (contrição por temor). Um tal abalo
da consciência pode dar início a uma evolução interior, que será levada a bom
termo sob a acção da graça, pela absolvição sacramental. No entanto, por si
mesma, a contrição imperfeita não obtém o perdão dos pecados graves, mas dispõe
para obtê-lo no sacramento da Penitência» (Catecismo, 1453). «É conveniente que
a recepção deste sacramento seja preparada por um exame de consciência, feito à
luz da Palavra de Deus. Os textos mais adaptados para este efeito devem
procurar-se no Decálogo e na catequese moral dos evangelhos e das cartas dos
Apóstolos: sermão da montanha e ensinamentos apostólicos» (Catecismo, 1454).
3.2.
A confissão dos pecados
«A confissão ao sacerdote
constitui uma parte essencial do sacramento da Penitência: “Os penitentes devem,
na confissão, enumerar todos os pecados mortais de que têm consciência, após se
terem seriamente examinado, mesmo que tais pecados sejam secretíssimos e tenham
sido cometidos apenas contra os dois últimos preceitos do Decálogo (cfr. Ex 20,
17; Mt 5, 28); porque, por vezes, estes pecados ferem mais gravemente a alma e
são mais perigosos que os cometidos à vista de todos” [5]» (Catecismo, 1456).
«A confissão individual, íntegra e a absolvição continuam a ser o único modo
ordinário para que os fiéis se reconciliem com Deus e a Igreja, a menos que
ocorra uma impossibilidade física ou moral que impeça este modo de
confissão»[6]. A confissão das culpas nasce do verdadeiro conhecimento de si
próprio perante Deus, como fruto do exame de consciência e da contrição dos
seus pecados. É muito mais que um desafogo humano: «A confissão sacramental não
é um diálogo humano, é um colóquio divino»[7]. Ao confessar os pecados, o
cristão penitente submete-se ao juízo de Jesus Cristo, que o exercita por meio
do sacerdote, o qual prescreve ao penitente as obras de penitência e o absolve
dos pecados. O penitente combate o pecado com as armas da humildade e
obediência.
3.3.
A satisfação
«A absolvição tira o pecado,
mas não remedeia todas as desordens causadas pelo pecado. Aliviado do pecado, o
pecador deve ainda recuperar a perfeita saúde espiritual. Ele deve, pois, fazer
mais alguma coisa para reparar os seus pecados: “satisfazer” de modo apropriado
ou “expiar” os seus pecados. A esta satisfação também se chama “penitência”» (Catecismo,
1459). O confessor, antes de dar a absolvição, impõe a penitência, que o
penitente deve aceitar e cumprir imediatamente. Essa penitência serve-lhe como
satisfação pelos pecados e o seu valor provém sobretudo do sacramento: o
penitente obedeceu a Cristo cumprindo o que Ele estabeleceu sobre este
sacramento, e Cristo oferece ao Pai essa satisfação de um seu membro.
ANTONIO MIRALLES
Bibliografia básica
- Catecismo da Igreja
Católica, 1422-1484.
Leituras recomendadas
- Ordo Paenitentiae, Praenotanda,
1-30. - S. João Paulo II, Ex. ap. Reconciliatio et Pænitentia, 2-XII-1984,
28-34. - Paulo VI, Const. ap. Indulgentiarum Doctrina, 1-I-1967.
Notas
Doutrina – 410
Compêndio
PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO
DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO
DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO TERCEIRO
CREIO NA SANTA IGREJA
CATÓLICA
Os fiéis: hierarquia,
leigos, vida consagrada
188. Qual é a vocação dos
fiéis leigos?
Os
fiéis leigos têm como vocação própria a de procurar o reino de Deus, iluminando
e ordenando as realidades temporais segundo Deus.
Correspondem
assim ao chamamento à santidade e ao apostolado, dirigido a todos os
baptizados.
Tratado da vida de Cristo 195
Questão
61: Da necessidade dos Sacramentos.
Art.
3 — Se depois do pecado, antes de Cristo, deviam existir sacramentos.
O terceiro discute-se assim. — Parece
que depois do pecado, antes de Cristo, não deviam existir sacramentos.
1. — Pois, como se disse, pelos
sacramentos a Paixão de Cristo é aplicada aos homens; e assim a Paixão de
Cristo está para os sacramentos como a causa para o efeito. Ora, o efeito não
precede a causa. Logo, não devia haver sacramentos antes do advento de Cristo.
2. Demais. — Os sacramentos devem ser convenientes ao estado do género humano,
como está claro em Agostinho. Ora, o estado do género humano não mudou, depois
do pecado, até a reparação feita por Cristo. Logo, nem os sacramentos deviam
ser mudados de modo que além dos sacramentos da lei natural, outros fossem
estatuídos, na lei de Moisés.
3. Demais. — Quanto mais uma coisa está
próxima à perfeição, tanto mais se lhe deve assimilar. Ora, a salvação humana,
na sua perfeição, operou-a Cristo, de quem estavam mais próximos os sacramentos
da lei antiga do que os existentes antes da lei. Logo, deviam ser mais
semelhantes aos sacramentos de Cristo. Entretanto, o contrário resulta da
predição que o sacerdócio de Cristo havia de ser segundo a ordem de
Melquisedeque e não segundo a ordem de Arão, como está no Apóstolo. Logo, antes
de Cristo, os sacramentos não foram dispostos convenientemente.
Mas, em contrário diz Agostinho, que os primeiros sacramentos, celebrados e
observados na vigência da lei, eram os prenúncios da vinda de Cristo. Ora,
era necessário à salvação humana que fosse preanunciado o advento de Cristo.
Logo, era necessário que, antes de Cristo, certos sacramentos fossem
instituídos.
Os sacramentos são
necessários à salvação humana, enquanto uns sinais sensíveis de realidades
invisíveis pelas quais o homem se santifica. Ora, ninguém pode ser santificado,
depois do pecado, senão por Cristo, ao qual propôs Deus para ser vítima de
propiciação pela fé no seu sangue, a fim de manifestar a sua justiça, a fim de
que ele seja achado justo e justificador daquele que tem a fé de Jesus Cristo.
Logo, era necessário que antes do advento de Cristo existissem certos sinais
visíveis pelos quais o homem proclamasse a sua fé no futuro advento do
Salvador. E esses sinais se chamam sacramentos. Donde é claro que antes do
advento de Cristo era necessário que fossem instituídos certos sacramentos.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. —
A Paixão de Cristo é a causa final dos sacramentos antigos, que aliás, foram
instituídos para a significar. Ora, a causa final não tem precedência no tempo,
mas só na intenção do agente. Logo, não havia inconveniente em certos sacramentos
terem existido antes da Paixão de Cristo.
RESPOSTA À SEGUNDA. — O estado do género
humano, depois do pecado e antes de Cristo, pode ser considerado a dupla luz. -
Primeiro, segundo a natureza da fé. E então permaneceu sempre o mesmo, porque
os homens eram justificados pela fé no advento futuro de Cristo. - A outra luz,
pode ser considerado segundo a intenção e a remissão do pecado e o expresso conhecimento
de Cristo. Pois no decurso dos tempos, de um lado o pecado começou a dominar
cada vez mais o homem, porque obnubilando-lhe a razão, não bastavam ao homem,
para viver rectamente, os preceitos da lei da natureza, mas foi necessário se
determinassem preceitos na lei escrita e, com estes, certos sacramentos da fé.
E também de outro lado era necessário
que, no decorrer dos tempos, mais se desenvolvesse o conhecimento da fé;
pois como diz Gregório, no suceder-se dos tempos teve maior incremento o
conhecimento divino. E por isso também foi necessário que, na lei antiga,
fossem determinados certos sacramentos da fé, que tinham no futuro advento de
Cristo. Os quais estão para os sacramentos anteriores à lei, como o determinado
para o indeterminado. Porque, antes da lei, não foi prefixado determinadamente
ao homem de que sacramentos usasse como o foi pela lei. O que era necessário,
tanto pelo entenebrecimento da lei natural como para ser mais determinada a
significação da fé.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O sacramento de
Melquisedeque, anterior à lei, mais se assemelhava ao sacramento da lei nova
pela matéria; isto é, porque oferecia pão e vinho, como está na Escritura;
assim como também o sacrifício do Novo Testamento se perfaz pelo oferecimento
do pão e do vinho. Ao passo que os sacramentos da lei Mosaica mais se
assemelham à realidade significada pelo sacramento, isto é, a Paixão de Cristo,
como é claro no caso do cordeiro pascoal e outros semelhantes. E isto assim a
fim de que se, na continuidade do tempo, permanecesse a mesma espécie de
sacramentos, concluir-se-ia pela continuação do mesmo sacramento.
Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.
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