26/03/2017

Fátima: Centenário - Oração diária


Senhora de Fátima:

Neste ano do Centenário da tua vinda ao nosso País, cheios de confiança vimos pedir-te que continues a olhar com maternal cuidado por todos os portugueses.
No íntimo dos nossos corações instala-se alguma apreensão e incerteza em relação a este nosso País.

Sabes bem que nos referimos às diferenças de opinião que se transformam em desavenças, desunião e afastamento; aos casais desfeitos com todas as graves consequências; à falta de fé e de prática da fé; ao excessivo apego a coisas passageiras deixando de lado o essencial; aos respeitos humanos que se traduzem em indiferença e falta de coragem para arrepiar caminho; às doenças graves que se arrastam e causam tanto sofrimento.
Faz com que todos, sem excepção, nos comportemos como autênticos filhos teus e com a sinceridade, o espírito de compreensão e a humildade necessárias para, com respeito de uns pelos outros, sermos, de facto, unidos na Fé, santos e exemplo para o mundo.

Que nenhum de nós se perca para a salvação eterna.

Como Paulo VI, aqui mesmo em 1967, te repetimos:

Monstra te esse Matrem”, Mostra que és Mãe.

Isto te pedimos, invocando, uma vez mais, ao teu Dulcíssimo Coração, a tua protecção e amparo.


AMA, Fevereiro, 2017

O Senhor quer-nos contentes!

Habitua-te a falar cordialmente de tudo e de todos; em especial dos que trabalham ao serviço de Deus. E, quando isso não for possível, cala-te! Os simples comentários bruscos ou descuidados também podem raiar a murmuração ou a difamação. (Sulco, 902)

Torna a olhar de novo para a tua vida e pede perdão por esse pormenor e aquele outro que saltam imediatamente aos olhos da tua consciência; pelo mau uso que fazes da língua; por esses pensamentos que giram continuamente à volta de ti mesmo; por esse juízo crítico consentido que te preocupa tontamente, causando-te uma contínua inquietação e pesadelo... Podeis ser muito felizes! O Senhor quer-nos contentes, ébrios de alegria, andando pelos mesmos caminhos de felicidade que Ele percorreu! Só nos sentimos desgraçados quando nos empenhamos em sair do caminho e em meter por esse atalho do egoísmo e da sensualidade; e muito pior ainda se entramos no dos hipócritas.

O cristão tem de manifestar-se autêntico, veraz, sincero em todas as suas obras. Na sua conduta deve transparecer um espírito: o de Cristo. Se alguém tem neste mundo a obrigação de mostrar-se consequente, é o cristão, porque recebeu em depósito, para fazer frutificar esse dom, a verdade que liberta e salva. Padre, perguntar-me-eis, e como conseguirei essa sinceridade de vida? Jesus Cristo entregou à sua Igreja todos os meios necessários: ensinou-nos a rezar, a conviver com o Seu Pai Celestial; enviou-nos o Seu Espírito, o Grande Desconhecido, que actua na nossa alma; deixou-nos esses sinais visíveis da graça que são os sacramentos. Usa-os. Intensifica a tua vida de piedade. Faz oração todos os dias. E não afastes nunca os teus ombros do peso gostoso da Cruz do Senhor.


Foi Jesus quem te convidou a segui-lo como bom discípulo, com o fim de realizares a tua passagem pela terra semeando a paz e a alegria que o mundo não pode dar. Para isso – insisto – tens de andar sem medo à vida e sem medo à morte, sem fugir a todo o custo da dor que, para o cristão, é sempre um meio de purificação e ocasião de amar verdadeiramente os seus irmãos, aproveitando as mil circunstâncias da vida ordinária. (Amigos de Deus, 141)

Evangelho e comentário

Tempo da Quaresma


Evangelho: Jo 9, 1-41

Naquele tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença. Os discípulos perguntaram-Lhe: «Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus pais?». Jesus respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus. É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo». Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver. Entretanto, perguntavam os vizinhos e os que antes o viam a mendigar: «Não é este o que costumava estar sentado a pedir esmola?». Uns diziam: «É ele». Outros afirmavam: «Não é. É parecido com ele». Mas ele próprio dizia: «Sou eu». Perguntaram-lhe então: «Como foi que se abriram os teus olhos?». Ele respondeu: «Esse homem, que se chama Jesus, fez um pouco de lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai lavar-te à piscina de Siloé’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver». Perguntaram-lhe ainda: «Onde está Ele?». O homem respondeu: «Não sei». Levaram aos fariseus o que tinha sido cego. Era sábado esse dia em que Jesus fizera lodo e lhe tinha aberto os olhos. Por isso, os fariseus perguntaram ao homem como tinha recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos; depois fui lavar-me e agora vejo». Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um pecador fazer tais milagres?». E havia desacordo entre eles. Perguntaram então novamente ao cego: «Tu que dizes d’Aquele que te deu a vista?». O homem respondeu: «É um profeta». Os judeus não quiseram acreditar que ele tinha sido cego e começara a ver. Chamaram então os pais dele e perguntaram-lhes: «É este o vosso filho? É verdade que nasceu cego? Como é que ele agora vê?». Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não sabemos como é que ele agora vê, nem sabemos quem lhe abriu os olhos. Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». Foi por medo que eles deram esta resposta, porque os judeus tinham decidido expulsar da sinagoga quem reconhecesse que Jesus era o Messias. Por isso é que disseram: «Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós». Os judeus chamaram outra vez o que tinha sido cego e disseram-lhe: «Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem é pecador». Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. O que sei é que eu era cego e agora vejo». Perguntaram-lhe então: «Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?». O homem replicou: «Já vos disse e não destes ouvidos. Porque desejais ouvi-lo novamente? Também quereis fazer-vos seus discípulos?». Então insultaram-no e disseram-lhe: «Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos de Moisés. Nós sabemos que Deus falou a Moisés; mas este, nem sabemos de onde é». O homem respondeu-lhes: «Isto é realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a verdade é que Ele me deu a vista. Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles que O adoram e fazem a sua vontade. Nunca se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. Se Ele não viesse de Deus, nada podia fazer». Replicaram-lhe então eles: «Tu nasceste inteiramente em pecado e pretendes ensinar-nos?». E expulsaram-no. Jesus soube que o tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do homem?». Ele respondeu-Lhe: «Quem é, Senhor, para que eu acredite n'Ele?». Disse-lhe Jesus: «Já O viste: é quem está a falar contigo». O homem prostrou-se diante de Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor». Então Jesus disse: «Eu vim a este mundo para exercer um juízo: os que não vêem ficarão a ver; os que vêem ficarão cegos». Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto, perguntaram-Lhe: «Nós também somos cegos?». Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas como agora dizeis: ‘Nós vemos’, o vosso pecado permanece».

Comentário:

O texto do Evangelho que a Liturgia hoje propõe à nossa consideração é extenso, mas, não poderia deixar de o ser porque trata de algo extremamente importante:

A cegueira!

A cegueira é uma doença terrível, que impressiona sobretudo pelas limitações que traz a quem a sofre.

Refiro-me, claro está, à cegueira da vista que nos impede de ver e maravilhar-nos com a beleza da criação à nossa volta.

Mas há uma cegueira muitíssimo pior ou, se quisermos, muitíssimo mais limitativa: a cegueira do espírito, do coração!

Porque se a outra é um mal físico involuntário – ninguém se priva da visão por querer -, esta é um mal moral voluntário que implica uma renitência actuante e absurda em não querer ver o evidente, em colocar entraves à visão do óbvio.

À ausência de critério estas pessoas juntam como que uma “impenitência” formal como se, de facto, afirmassem:

‘Não quero… não desejo ver!’.

E, como Jesus confirma, ao contrário daquela, esta sim, é um pecado grave.

(ama, comentário sobre Jo 9, 1-41, 31.11.2016)



Epístolas de São Paulo – 26

1ª Epístola de São Paulo aos Coríntios

III. RESPOSTA A QUESTÕES CONCRETAS (7,1-11,1)

Capítulo 8

As carnes imoladas aos ídolos (Rm 14,1-23)

1Acerca das carnes imoladas aos ídolos, sabemos que todos já estamos instruídos. A ciência incha, mas a caridade edifica. 2Se alguém pensa que sabe alguma coisa, ainda não sabe como deveria saber. 3Mas se alguém ama a Deus, esse é conhecido por Deus.
4Portanto, quanto ao consumo de carnes imoladas aos ídolos, sabemos que um ídolo não é nada no mundo, e que não há outro deus a não ser o Deus único. 5Pois, embora haja pretensos deuses, quer no céu quer na terra - e há muitos deuses e muitos senhores - 6para nós, contudo, um só é Deus, o Pai, de quem tudo procede e para quem nós somos, e um só é o Senhor Jesus Cristo, por meio do qual tudo existe e mediante o qual nós existimos.
7Mas nem todos têm esta ciência. Alguns, acostumados até há pouco ao culto dos ídolos, comem a carne como se fosse um verdadeiro sacrifício aos ídolos, e a sua consciência, fraca como é, fica manchada. 8Ora, não será certamente um alimento que nos aproximará de Deus! Porque nem perdemos nada, se não comermos, nem lucramos, se comermos.

9Mas, tomai cuidado, que essa vossa liberdade não venha a ser ocasião de queda para os fracos. 10Se alguém te vê a ti, que tens a ciência, sentado à mesa num templo dos ídolos, não poderá ele, por fraqueza de consciência, ser levado a comer carnes imoladas aos ídolos? 11E assim, pela tua ciência, vai perder-se quem é fraco, um irmão pelo qual Cristo morreu. 12Pecando contra os próprios irmãos e ferindo a consciência deles que é débil, é contra Cristo que pecais. 13Por isso, se um alimento for motivo de queda para o meu irmão, nunca mais voltarei a comer carne, para não causar a queda do meu irmão.

Eutanásia: o que está em causa? Contributos para um diálogo sereno e humanizador

Nota Pastoral do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, 14 de Março de 2016

4. Para os crentes, a vida não é um objecto de que se possa dispor arbitrariamente, é um dom de Deus e uma missão a cumprir. E é no mistério da morte e ressurreição de Jesus que os cristãos encontram o sentido do sofrimento. Mas quando se discute a legislação de um Estado laico importa encontrar na razão, na lei natural e na tradição de uma sabedoria acumulada um fundamento para as opções a tomar. O valor intrínseco da vida humana em todas as suas fases e em todas as situações está profundamente enraizado na nossa cultura e tem, inegavelmente, a marca judaico-cristã. Mas não é difícil encontrar na razão universal uma sólida base para esse princípio. A Constituição Portuguesa reconhece-o ao afirmar categoricamente que «a vida humana é inviolável» (artigo 24º, nº 1).


(cont)

Doutrina - 250

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
PRIMEIRA SECÇÃO: «EU CREIO» – «NÓS CREMOS»

CAPÍTULO TERCEIRO: A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS

NÓS CREMOS

31. Porque é que as fórmulas da fé são importantes?

As fórmulas da fé são importantes porque permitem exprimir, assimilar, celebrar e partilhar, juntamente com outros, as verdades da fé, utilizando uma linguagem comum.



Tratado da vida de Cristo 153

Questão 52: Da descida de Cristo aos infernos

Art. 5 — Se Cristo, descendo aos infernos, dele livrou os Santos Patriarcas.

O quinto discute-se assim. — Parece que Cristo, descendo aos infernos, dele não livrou os santos Patriarcas.

1. — Pois, diz Agostinho: Ainda não pude descobrir em que a descida de Cristo aos infernos foi útil aos que estavam no seio de Abraão; pois, não vejo que jamais estivessem privados da presença beatifica da sua divindade. Ora, muito útil lhes teria sido se os tivesse livrado dos infernos. Logo parece que Cristo não livrou os santos Patriarcas, dos infernos.

2. Demais. — Ninguém é retido no inferno senão por causa do pecado. Ora, os santos Patriarcas, enquanto viviam, foram justificados do pecado pela fé de Cristo. Logo, não precisavam de ser libertos do inferno, pela descida de Cristo a esse lugar.

3. Demais. — Removida a causa, removido fica o efeito. Ora, a causa da descida aos infernos é o pecado que foi removido pela Paixão de Cristo, como se disse. Logo, a descida de Cristo ao inferno não livrou dele os santos Patriarcas.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Cristo, quando desceu aos infernos, quebrou a porta e as trancas infernais e libertou todos os justos, que estavam encarcerados em virtude do pecado original.

Como dissemos Cristo, descendo aos infernos, operou em virtude da sua Paixão. Ora, a Paixão de Cristo liberou o género humano, não só do pecado, mas também do reato da pena, como se disse. Ora, os homens estavam adstritos ao reato da pena de dois modos: pelo pecado actual, que todos pessoalmente cometeram, e pelo pecado de toda a natureza humana, que se transmitiu originalmente dos primeiros Pais a todos, como diz o Apóstolo. E desse pecado a pena é a morte do corpo e a exclusão da vida da glória, conforme resulta do que refere a Escritura; pois, Deus expulsou o homem do Paraíso, depois do pecado, a quem, antes do Pecado, fora cominada a morte, se pecasse. Por isso Cristo, descendo aos infernos, em virtude da sua Paixão livrou os santos Patriarcas desse reato pelo qual estavam excluídos da vida da glória de modo a não poderem ver a Deus em essência, no que consiste a perfeita beatitude do homem, como dissemos na Segunda Parte. Ora, os santos Patriarcas estavam detidos no inferno por não lhe ser franqueada a vida da glória, por causa do pecado dos nossos primeiros Pais. E assim Cristo, descendo aos infernos, livrou deles os santos Patriarcas. E tal é o que diz a Escritura: Tu também pelo sangue do teu testamento fizeste sair os teus presos do lago em que não há água. E o Apóstolo: Despojando os principados e potestades, isto é, infernais; e livrando, como comenta a Glosa a esse lugar, Abraão, Isaac, Jacó e os demais justos, transportou-os, isto é, conduziu-os para o céu, longe desse reino das trevas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — No lugar referido Agostinho dirige-se contra alguns que pensavam estarem os justos antigos antes do advento de Cristo, sujeitos às dores das penas, no inferno. Por isso, pouco antes das palavras citadas, tinha dito: Alguns acrescentam, que foi concedido também aos antigos santos, o benefício de ficarem livres das suas dores, quando o Senhor desceu aos infernos. Mas eu por mim não vejo de que modo se possa compreender, que sofresse as referidas dores Abraão, em cujo seio foi também recebido o pobre do Evangelho. Por isso, o que depois acrescenta, que ainda não pode descobrir em que a descida de Cristo aos infernos fosse útil aos referidos justos, devemos entendê-la quanto ao livramento das dores das penas. Isso, porém, aproveitou-lhes para alcançarem a glória; e por consequência libertou-os da dor que sofriam pelo diferimento dessa glória. Cuja esperança, porém, lhes causava grande alegria, segundo o Evangelho: Vosso pai Abraão desejou ansiosamente ver o meu dia. E por isso acrescenta Agostinho: Não vejo que Cristo tivesse jamais se afastado dele pela presença beatifica da sua divindade: Isto é, porque antes do advento de Cristo já eram bem-aventurados em esperança, embora ainda não o fossem perfeitamente na realidade.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os santos Patriarcas, enquanto ainda viviam, foram libertados por Cristo de todo pecado, tanto original, como actual, e do reato da pena dos pecados actuais. Mas não do reato da pena do pecado original, pelo qual ficavam excluídos da glória, porque ainda não estava pago o preço da redenção humana. Assim como agora os fiéis de Cristo são libertados pelo baptismo do reato dos pecados actuais, e do reato do original, quanto à exclusão da glória. Mas ainda ficam ligados ao reato do pecado original, quanto à necessidade de sofrerem a morte do corpo. Porque são renovados em espírito, mas não na carne, segundo Apóstolo: O corpo verdadeiramente está morto pelo pecado, mas o espírito vive pela justificação.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Logo que Cristo morreu, a sua alma desceu ao inferno e fez aproveitar o fruto da sua Paixão aos santos detidos nesse lugar. Embora daí não saísse enquanto Cristo se conservava no meio deles; pois a própria presença de Cristo lhes constituia o cúmulo da glória.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Leitura espiritual

A Cidade Deus
A CIDADE DE DEUS


Vol. 2

LIVRO X
CAPÍTULO XXXII

Porfírio, porque o procurou mal, não encontrou o caminho que conduz à libertação da alma. Só a graça cristã o descobre.

Esta é a religião que possui o caminho universal da libertação da alma, pois que nenhuma alma pode ser senão por esse caminho libertada. Este é, de certa maneira, o caminho régio único que conduz ao reino que não desliza na vertente do tempo, mas se afirma na estabilidade da eternidade. No fim do primeiro livro Acerca do Regresso da alma (De regressu animae), Porfírio declara que a doutrina que propõe o caminho universal da libertação da alma ainda não foi ensinada por nenhuma seita, nem por qualquer filosofia de grande aceitação, nem pelas disciplinas morais dos Indus, nem pela indução dos Caldeus, nem por qualquer outro sistema chegou essa doutrina, por via histórica, ao seu conhecimento. Admite sem a mínima hesitação que esse caminho existe, mas que não chegou ainda ao seu conhecimento. Portanto, tudo o que ele tinha aprendido à custa de muito estudo acerca da libertação da alma, tudo o que, a si e aos outros mais do que a si, lhe parecia saber e possuir, tudo isso considerava insuficiente. Realmente, sentia que ainda lhe faltava uma autoridade muito alta, cujas lições sobre questão de tanta monta deveria seguir. Quando afirma que nem a mais verdadeira lhe deu ainda a conhecer um sistema a propor o caminho universal da salvação da alma, mostra à saciedade, bem me parece, que essa filosofia, por ele professada, não é a mais Verdadeira ou não possui tal caminho. E como pode ser a mais verdadeira sem conter esse caminho? Na verdade, que outro caminho universal de salvação das almas poderá haver senão aquele pelo qual são libertadas todas as almas e sem o qual, portanto, nenhuma é libertada? Quando ele acrescenta:

Nem pelas disciplinas morais dos Indus, nem pelaindução dos Caldeus, nem por qualquer outro sistema[i]

de forma claríssima dá testemunho de que nada do que tinha aprendido dos indus e dos caldeus propõe este caminho universal da libertação da alma — e a verdade é que não lhe foi possível esconder que foi buscar aos caldeus os oráculos divinos que frequentemente vai citando.

Que pretende ele então significar com esse caminho universal que ainda não foi proposto nem pela mais aceitável das filosofias, nem pelas doutrinas desses povos que são tidos por célebres nas coisas a que chamam divinas por entre eles prevalecer uma grande curiosidade pela doutrina e pelo culto de certos anjos — caminho esse que ainda não chegou ao conhecimento da história? Que caminho universal é esse senão o que a nação nenhuma pertence como coisa própria, mas foi concedido por Deus para ser comum a todos os povos? Este homem, dotado de um não medíocre engenho, certamente que não duvida de que ele existe: não crê que a Providência divina possa deixar o género humano privado deste caminho universal da salvação da alma. Ele não diz que não existe: apenas afirma que um tão grande bem, um tão elevado auxílio ainda não foi recebido nem chegou ao seu conhecimento. Não é de estranhar. Porfírio vivia então em circunstâncias humanas em que este caminho universal de salvação da alma — que outro não era senão a religião Cristã — sofria, por permissão de Deus, os ataques dos sectários dos deuses e dos demónios bem como dos reis da Terra; era preciso que se assegurasse e consagrasse o número dos mártires, isto é, dos testemunhos da verdade destinados a mostrar que é preciso suportar os males do corpo pela fidelidade a verdadeira piedade e pela exaltação da verdade. Porfírio via isto e estava convencido de que este caminho estava prestes a sucumbir às perseguições e, portanto, não era o caminho universal da salvação da alma. Não compreendia que o que o emocionava e receava suportar se escolhesse esse caminho, servia antes para tornar mais firme esse caminho e para recomendá-lo mais eficazmente.

É, pois, este o caminho universal da salvação da alma, isto é, concedido a todos os povos pela misericórdia divina, perante cujo conhecimento ninguém a quem haja chegado ou venha a chegar, pode ou poderá perguntar: Porquê só agora? Porquê tão tarde? O desígnio d’Aquele que o envia não é penetrável para o engenho humano. Porfírio bem o compreendeu quando declara que este dom de Deus ainda não foi recebido nem levado ao seu conhecimento. Todavia, absteve-se de o considerar falso só porque ainda o não tinha aceitado com fé ou porque ainda não tinha chegado ao seu conhecimento.

Este é que é, digo eu, o caminho universal da salvação dos crentes, a propósito do qual recebeu o fiel Abraão este oráculo divino:

Todos os povos serão abençoados na tua descendência.[ii]

Não há dúvida de que este era um caldeu; mas para receber tais promessas e para se tornar naquele de quem sairia a descendência

disposta pelos anjos nas mãos do mediador,[iii]

em quem se viria a encontrar este caminho universal da salvação da alma dado a todos os povos, ele recebeu a ordem de abandonar a sua terra, os seus parentes e a casa e seu pai. Libertado, antes de mais nada, das superstições caldaicas, adoptou o culto do único Deus verdadeiro e acreditou fielmente nas suas promessas.

Este é que é o caminho universal do qual se disse numa santa profecia:

Deus tenha piedade de nós e nos abençoe; que ele faça brilhar sobre nós a sua face para que na Terra conheçamos o teu caminho e seja a tua salvação conhecida de todos os povos.[iv]

É por isso que, tanto tempo depois, o Salvador que assumira a carne na descendência de Abraão, disse de si próprio:

Eu sou o caminho, a verdade e a vida .[v]

Este é que é o caminho universal do qual tanto tempo antes se profetizou:

Nos últimos dias aparecerá a montanha do Senhor, estabelecida no cume dos montes; ela elevar-se-á acima das colinas e todos os povos virão até ela e numerosas nações avançarão e dirão: Vinde, subamos à montanha do Senhor e à casa de Deus de Jacob. Ele nos mostrará o seu caminho e nele entraremos. Porque de Sião sairá a lei e de Jerusalém a palavra do Senhor.[vi]

Não é, pois, o caminho de um só povo, mas de todas as nações; a lei do Senhor e a sua palavra não ficaram em Sião e em Jerusalém; de lá saíram e espalharam-se por todo o universo. Daí que o próprio mediador, depois da sua ressurreição, tenha dito aos seus discípulos tomados de medo:

Era preciso que se cumprisse o que foi escrito a meu respeito na lei, nos profetas e nos salmos. Então abriu-lhes o entendimento para que compreendessem as Escrituras e disse-lhes: era preciso que o Cristo sofresse, que ressuscitasse dos mortos ao terceiro dia e que em seu nome fossem pregadas a penitência e a remissão dos pecados a todos os povos a começar por Jerusalém.[vii]

Este é que é, pois, o caminho universal da libertação da alma! Foi a ele que os santos anjos e os santos profetas anunciaram mediante o tabernáculo, o templo, o sacerdócio e os sacrifícios — primeiro, quando o puderam, a poucos homens, que encontraram a graça de Deus e principalmente entre o povo hebreu. (A própria sagrada república do povo hebreu existia de certo modo, com o que para profetizar e anunciar a Cidade de Deus que se havia de formar de todos os povos). Eles a anunciaram por palavras, claras algumas, mas o mais das vezes simbólicas. Porém, o próprio mediador, presente na sua carne, e os seus bem-aventurados apóstolos, revelando a graça do Novo Testamento, mostraram mais claramente o que, nos tempos anteriores era veladamente representado em conformidade com a distribuição das idades do género humano — como aprouve à sabedoria de Deus ordená-lo com o testemunho das maravilhosas obras divinas, algumas das quais já acima citei. Realmente, não foram só visões angélicas que apareceram, não foram só palavras dos ministros celestes que se ouviram soar;
mas também, à voz de homens de Deus, falando com humilde piedade, os espíritos imundos foram expulsos dos corpos e dos sentidos dos homens;
foram curados vícios e enfermidades do corpo e os animais da Terra e das águas, as aves do Céu, as árvores, os elementos, os astros obedeceram às ordens divinas;
renderam -se os infernos e os mortos voltaram à vida;

— sem falar dos milagres particulares do próprio Salvador, sobretudo do seu nascimento e ressurreição — no primeiro se manifestou o sacramento da virgindade de sua mãe, e no segundo se revelou o modelo dos que hão-de ressuscitar no último dia.

Este caminho purifica o homem todo e, a ele mortal,
prepara-o para a imortalidade de todas as partes que o
constituem. E para que se não tenha uma purificação para a parte da alma a que Porfírio chama «intelectual», uma outra para a que ele chama «espiritual», e outra ainda para o corpo, — o purificador e Salvador poderosíssimo e veracíssimo assumiu o homem todo. Fora deste caminho — que nunca faltou ao género humano, quer no tempo em que estes acontecimentos eram preditos, quer no tempo em que foram anunciados como já cumpridos — ninguém foi libertado, ninguém é libertado, ninguém será libertado.

Diz Porfírio que o caminho universal da libertação da alma não chegou ainda ao seu conhecimento pela história. Mas que é que se pode encontrar de mais luminoso que esta história cuja autoridade, vinda de tão alto, se impõe ao mundo inteiro? E que mais digno de fé do que a narração dos factos passados a predizerem os futuros — e destes, muitos que estamos a ver já cumpridos nos incutem a esperança de que os outros se hão-de cumprir?

De facto, nem Porfírio nem qualquer outro platónico podem, mesmo neste caminho das coisas terrenas pertinentes à vida mortal, desprezar as previsões e predições, tal como o fazem, e com razão, em relação aos outros vaticínios e adivinhações, quaisquer que sejam os seus métodos e processos. Negam, efectivamente, que estas coisas sejam próprias de grandes homens ou que se tenham de ter em grande conta. Está certo. Realmente — ou acontecem com uma percepção antecipada das causas inferiores (assim, na
arte médica muitos factos relativos à saúde são previstos nos seus sinais percursores), ou são obra de imundos demónios que anunciam antecipadamente os seus projectos e reivindicam o direito de os realizar quer dirigindo os pensamentos e as paixões dos maus para as acções que com eles estão em conformidade, quer agindo sobre os mais baixos elementos da fragilidade humana.
Não foram tais predições que os homens santos, em marcha neste caminho universal da libertação das almas, tiveram a preocupação de fazer, como se elas tivessem grande importância, — em bora elas não lhes passassem desapercebidas e muitas vezes as predissessem para tornarem crível tudo o que, não caindo sob a alçada dos sentidos dos mortais, não podia impor-se nem ser verificado por uma experiência rápida. Mas havia outros factos verdadeiramente grandes e divinos cuja realização anunciaram na medida em que lhes era concedido conhecer a vontade de Deus:

a vinda de Cristo em carne com os prodígios cumpridos na sua pessoa e em seu nome;

a penitência dos homens e a conversão das suas vontades a Deus;

a remissão dos pecados, a graça da justiça, a fé dos piedosos e, no mundo inteiro, a multidão dos que crêem no verdadeiro Deus;

a ruína do culto dos ídolos e dos demónios, a provocação dos bons nas tentações, a purificação dos que progridem e a sua libertação de todo o mal;

o dia de juízo, a ressurreição dos mortos;

a eterna condenação da sociedade dos ímpios;

o reino da gloriosíssima Cidade de Deus gozando imortalmente da sua presença;

- tudo isto foi predito e prometido acerca deste caminho nas Escrituras: destas coisas vemos que foi já cumprida uma tão grande parte que uma salutar piedade nos dá confiança no cumprimento do que falta. Este é que é o caminho directo para se chegar à visão de Deus e à eterna união com ele, que se proclama e afirma pela verdade das Sagradas Escrituras. O que nela não crêem — e por isso não a entendem — poderão com certeza o pugnar esta verdade, mas não poderão vencê-la.

Talvez nestes dez livros não tenhamos respondido a tudo o que alguns esperavam de nós. Julgamos, porém, ter satisfeito, na medida em que o verdadeiro Deus e Senhor se dignou ajudar-nos, os desejos de outros, refutando as contradições dos ímpios que preferem os seus deuses ao criador da Cidade Santa que é o objecto do nosso estudo.

Destes dez livros, os cinco primeiros foram escritos contra aqueles que julgam que os deuses devem ser adorados para se alcançarem os bens desta vida; os cinco seguintes contra aqueles para quem o culto dos deuses deve ser praticado na m ira da vida que há-de vir após a morte.
E agora, como prometemos no livro primeiro, acerca das duas cidades que neste século, com o dissemos, estão ligadas e misturadas uma na outra, irei expor, com a ajuda de Deus, o que creio dever dizer a respeito da origem, desenvolvimento e desenlace que lhes são próprios.


(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)





[i] Porfírio, De regressu animae, 1º livro (?).
[ii] Gen., XXII, 18.
[iii] Gál., III, 19.
[iv] Salmo LXVI, 2-5.
[v] Jo XIV, 6.
[vi] Isaías, II, 2 e sss.
[vii] Lc XXIV,44-49,

Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?