Semana V da Páscoa
Evangelho:
Jo 15 18-21
18 «Se o mundo vos aborrece, sabei
que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. 19 Se fosseis do mundo, o mundo
amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do
meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece. 20 Lembrai-vos da palavra que Eu
vos disse: Não é o servo maior do que o senhor. Se eles Me perseguiram a Mim,
também vos hão-de perseguir a vós; se guardaram a Minha palavra, também hão-de
guardar a vossa. 21 Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome, porque não
conhecem Aquele que Me enviou.
Comentário:
A “herança” que Jesus Cristo deixa aos Seus discípulos
parece – e de facto é – bastante pesada.
Mas o discípulo não é maior que o Mestre e, por isso
quando tenta, com todas as suas forças, imitá-lo tem de esperar ser tratado
como Ele o foi e, também, vir a ganhar o que Ele prometeu a quem o seguisse sem
condições: a vitória final, a conquista definitiva do Reino de Deus, a Salvação
Eterna.
(ama,
comentário sobre Jo 15, 18-21, 2014.05.24)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
XI. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
…/25
O cristão sob a acção do Dom de Temor de Deus,
toma como próprias todas as ofensas que nós os homens fazemos a Deus e oferece-se
por elas em reparação redentora.
Movido pela acção do Dom, desperta na sua alma o anseio de amar a Deus
pelos que O não amam, como uma Mãe que deseja amar a Deus pelos seus filhos que
se afastam dele.
E, no amor, encontra a fortaleza necessária para se abandonar na Cruz com
Cristo, sem sequer considerar a união definitiva com Cristo na Ressurreição que
já se iniciou na sua própria alma.
Sem fazer expressa referência ao Dom de Temor de Deus, São Paulo deixa bem
manifesto a acção do Espírito Santo no sentido que vimos assinalando, entre
outros, nestes dois textos:
«Levamos sempre nos nossos corpos por todos os lugares o morrer de Jesus, a
fim de que também a vida de Jesus se manifeste no nosso corpo.»[i]
«Porque se nos fizemos uma mesma coisa com Ele por uma morte semelhante à
Sua, também o seremos por uma ressurreição semelhante.»[ii]
Em resumo, podemos dizer que o Dom de Temor de Deus não se reduz a um certo
medo a Deus nem a um temor de O ofender.
Tampouco esgota o seu significado num certo aninhar-se ante a majestade de
Deus nem se identifica com a pena de não corresponder às Suas graças nem de não
O amar como gostaríamos de o fazer.
Sendo o Dom de Temor, como já recordámos, « o princípio da sabedoria» e
sendo a sabedoria a união da nossa mente com a inteligência divina, o «Temor de
Deus» requer como primeiro fundamento o adentrar-se no insondável mistério do
coração de Deus, bem conscientes que « nem o olho viu nem o ouvido ouviu nem
veio à mente do homem o que Deus preparou para os que O amam.»[iii]
Uma vez imerso no coração de Deus,
descobre-se que amar com Deus e em Deus é sempre amar em «Temor de Deus».
Deus ama com «temor» de não poder
dar-nos todo o amor que deseja dar-nos.
Esse «temor» engendra a «pena» da falta de gozo das criaturas ao não receber
o amor de Deus.
Partilhar com Deus essa «pena» é viver o «temor de Deus» na perspectiva e
na dimensão que uma criatura pode em verdade fazê-lo.
Definitivamente, o «temor de Deus» é «viver» com Deus o «peso» do seu Amor
aos homens.
Concluímos este capítulo, assinalando que o facto de relacionar cada Dom
com uma das três virtudes teologais, a Fé, a Esperança, a Caridade, verdadeiros
mananciais que alimentam a vida cristã, não é obstáculo para dizer, sem medo de
enganar-nos, que cada um dos Dons e os sete no seu conjunto, participam
activamente no actuar de cada uma das virtudes e na totalidade das acções do
crente.
Como já assinalámos, recordamos uma vez mais que as virtudes e os Dons são
como canais pelos quais transcorre a acção da Graça santificante vivendo em nós
e sempre sob o influxo imediato do Espírito Santo, quem, com fé, convence o
mundo – o homem - «no referente ao pecado» ao permitir-lhe conhecer o amor de
Deus e reconhecer o seu próprio pecado; com a Esperança, convence o mundo – o
homem - «no referente ao juízo, porque o príncipe deste mundo (o pecado) «já
está condenado», e abre-se ao homem a perspectiva da vida eterna; com a
Caridade, convence o mundo «no referente à justiça», a tornar possível que
descubra o perdão de Deus e o Seu Coração infinitamente misericordioso.
A contrassenha, a chave do universo é o amor: «Deus é amor».
O amor de Deus está latente em todos e cada um dos lugares do mundo.
O homem chegará a descobrir as leis que regulam as forças do Universo,
conseguirão penetrar nos mistérios da criação no macro e no micro universo.
Jamais poderá amar como Deus ama.
Bento XVI escreve:
«A fé, que leva a tomar consciência do amor de Deus revelado no coração de
Jesus trespassado na cruz, suscita por sua vez o amor:
O amor é uma luz – no fundo a única – que ilumina constantemente um mundo
obscuro e nos dá a força para viver e actuar.
O amor é possível e nós podemos pô-lo em prática porque fomos criados à
imagem de Deus.
Viver o amor e assim levar a cruz de Deus ao mundo: a isto queria convidar
com esta Encíclica».[iv]
XII perspectiva da
Redenção
Impõe-se agora uma pequena paragem nas
nossas considerações.
Estudámos a Criação, a primeira relação
de Deus Pai com o homem: a Criação; relação que nem se apagou nem ficou
absorvida pelo pecado nem pela Redenção.
Assinalámos
depois a realidade da Redenção, fruto da Encarnação, segunda relação de Deus
Filho com o homem.
E a nova vida
do homem, que se converte em «cristão» ao receber a Redenção, por obra da Graça
nele.
O desenvolvimento da Redenção comporta a terceira relação de Deus Espírito
Santo com o homem.
Por acção dos Dons do Espírito Santo, desenvolvendo as virtudes da Fé, da
Esperança e da Caridade, tem lugar a santificação: o crescimento da Graça nas
potências do ser humano que vai tornado possível ao ser humano chegar a dizer
com São Paulo:
«Vivo, mas já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim.»[v]
Antes de continuar na tentativa de descobrir e na medida possível
compreender os sinais certos da conversão do cristão em santo – que
encontraremos no viver dos Mandamentos com o espírito das Bem-Aventuranças e no
crescimentos do Frutos do Espírito Santo na alma do cristão – parece oportuno
reflectir brevemente sobre o conteúdo da Redenção, ainda que com o perigo de
voltar a coisas já ditas.
Fazemo-lo na esperança de que essas afirmações adquiram uma nova luz ao ser
apresentadas numa nova perspectiva.
Sim, desde o começo da pregação apostólica, foi muito importante que cada
convertido a Cristo descobrisse a grandeza e a beleza de ser cristão, nestes
tempos, essa conveniência tornou-se peremptória e assim será até ao fim da
história do homem.
Dividimos este resumo em duas partes:
a) A Redenção que Cristo nos oferece
(redenção objectiva).
b) A Redenção aceite pelo homem
(redenção subjectiva).
A)
a redenção que cristo nos oferece
A Redenção de Cristo é a vitória definitiva sobre o pecado sobre a morte,
fruto da Encarnação do Filho de Deus e da plena disponibilidade da liberdade do
Filho de Deus em serviço do homens que culmina no mistério pascal com a Paixão,
Morte gloriosa Ressurreição.
É um facto que se cumpre uma vez no tempo, se integra na história do homem
e continua vivo em Cristo ressuscitado.
Como acontece com a Ressurreição, a Redenção é um acontecimento histórico,
humano e divino, que teve lugar mais expressamente no Calvário e durante toda a
vida na terra de Jesus Cristo e que é, ao mesmo tempo, vivido na sua plenitude
divina-humana no seio da Trindade Beatíssima, ao ser Jesus Cristo «perfeito
Deus e perfeito homem».
A Redenção ocorrida num preciso instante do transcorrer do tempo na
história d humanidade, é, ao mesmo tempo e desde a sua origem, uma realidade
permanente.
Sai fora do ciclo vida-morte que preside e rege o viver humano.
E assim podemos dizer que a «Redenção de Cristo não é um acontecimento
cumprido uma vez e que já pertence à história, mas uma realidade permanente.
É força e vida, eterna regeneração e reconciliação».
Cristo ressuscitado, todavia, passa apenas quarenta dias na terra antes de
ascender definitivamente ao Céu em corpo e alma.
A Ascensão de Cristo significa o seu afastamento dos avatares da terra, da
sorte do homem na sua história?
Leva consigo que a obra redentora iniciada com a Encarnação do Filho de
Deus já está concluída?
A resposta a estas perguntas é Não.
Se o Filho de Deus ao encarnar-se, no seio da Virgem Maria, se diz que, de
um certo modo, quis ao mesmo tempo unir-se a cada um de nós e continuar vivendo
em cada ser humano até ao fim dos tempos, de forma semelhante podemos dizer que
Cristo, realizada a redenção do mundo e a Criação libertada do pecado, deseja
redimir cada homem, libertar cada um dos seus irmãos os homens da escravidão do
pecado e da morte, abrindo-lhe as portas da vida eterna.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
[iv] Bento XVI, Deus caritas est, n. 39