Tempo Comum II Semana
São
Francisco de Sales – Doutor da Igreja
Evangelho: Mc 3 20-21
20 Depois, foi para casa e de novo acorreu tanta gente,
que nem sequer podiam tomar alimento. 21 Quando os Seus
parentes ouviram isto, foram para tomar conta d'Ele; porque diziam: «Está
louco».
Comentário:
Ao ler este trecho do Evangelho de S. Lucas vem, uma
vez mais, à evidência a discrição da vida de Jesus antes de iniciar a Sua vida
pública de pregação do Reino de Deus. Trinta e três anos terá vivido no meio
dos Seus conterrâneos e vizinhos e nunca alguém notou que houvesse nele algo de
extraordinário.
Jesus viveu e trabalhou a maior parte da Sua vida como
um qualquer do Seu tempo, um qualquer de nós.
Não é de admirar que o Filho de Deus, a Segunda Pessoa
da Santíssima Trindade se reduzisse, assim, a um anonimato tão discreto e
prosaico?
Não nos provoca uma ternura enorme ver, assim, o Nosso
Senhor, vivendo normalissimamente no seio da Sua família fazendo o que todos
faziam, trabalhando como todos trabalhavam, indo à escola, primeiro, e, depois,
na oficina de São José aprendendo com ele o ofício que seria o Seu trabalho
durante tantos anos e, através do qual, ganhava o normal sustento para Sua casa?
O Verdadeiro Deus e o Verdadeiro Homem!
(ama,
comentário sobre Mc 3, 20-21, 2010.12.24)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do
cristianismo [i]
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Alguns
leitores de Caminho manifestam estranheza perante a afirmação contida no ponto
28 desse livro: “O matrimónio é para os soldados e não para o estado-maior de
Cristo”. Poderá ver-se nisto uma apreciação pejorativa do matrimónio, oposta ao
desejo da Obra de inserir-se nas realidades vivas do mundo moderno?
Aconselho-o
a ler o número anterior de Caminho, onde se diz que o matrimónio é uma vocação
divina. Não era nada frequente ouvir afirmações como essa à roda de 1935. Tirar
as conclusões de que fala é não entender as minhas palavras. Com essa metáfora
quis recolher o que sempre ensinou a Igreja acerca da excelência e valor sobrenatural
do celibato apostólico, e recordar ao mesmo tempo a todos os cristãos que, com
palavras de São Paulo, devem sentir-se milites Christi, soldados de Cristo,
membros desse Povo de Deus que realiza na Terra uma luta divina de compreensão,
de santidade e de paz. Há em todo o Mundo muitos milhares de casais que
pertencem ao Opus Dei, ou que vivem de acordo com o seu espírito, sabendo bem
que um soldado pode ser condecorado na mesma batalha em que o general fugiu
vergonhosamente.
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Em
1946, fixou residência em Roma. Dos Pontífices que conheceu, que traços se
destacam nas suas recordações?
Para
mim, depois da Santíssima Trindade e de nossa Mãe a Virgem, vem logo o Papa, na
hierarquia do amor. Não posso esquecer que foi S.S. Pio XIl quem aprovou o Opus
Dei, quando este caminho de espiritualidade parecia a alguns uma heresia; mas
também não esqueço que as primeiras palavras de carinho e afecto que recebi em
Roma, em 1946, disse-mas o então Mons. Montini. Tenho também muito presente o
encanto afável e paternal de João XXIII, de todas as vezes que tive ocasião de
o visitar. Uma vez disse-lhe: “Todos, católicos ou não, têm encontrado na nossa
Obra um lugar acolhedor: não tive de aprender o ecumenismo com Vossa Santidade
...”. E o Santo Padre João sorriu emocionado. Que quer que lhe diga? Todos os
Romanos Pontífices têm tido compreensão e carinho para com o Opus Dei.
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Tive
oportunidade, Monsenhor, de ouvir as respostas às perguntas que lhe fazia um
público de mais de 2000 pessoas, reunidas há ano e meio, em Pamplona. Nessa
altura insistia na necessidade de que os católicos se comportem como cidadãos
livres e responsáveis e “de que não vivam de ser católicos”. Que importância e
que projecção dá a esta ideia?
Sempre
me incomodou a atitude daqueles que fazem de chamar-se católicos uma profissão
ou daqueles que querem negar o princípio da liberdade responsável, sobre o qual
assenta toda a moral cristã.
O
espírito da Obra e dos seus sócios é servir a Igreja e todas as criaturas sem
se servir da Igreja. Gosto de que o católico traga Cristo, não no nome, mas na
conduta, dando real testemunho de vida cristã. Repugna-me o clericalismo e
compreendo que, ao lado de um anticlericalismo mau, exista um anticlericalismo
bom, que procede do amor ao sacerdócio, que se opõe a que o simples fiel ou o
sacerdote se sirvam de uma missão sagrada para fins terrenos. Mas não pense que
com isto me declaro contra quem quer que seja. Não existe na nossa Obra nenhuma
preocupação exclusivista, mas somente o desejo de colaborar com todos os que
trabalham para Cristo e com todos os que, cristãos ou não, fazem da sua vida
uma esplêndida realidade de serviço.
De
resto, o que importa não é tanto a projecção que tenho dado a estas ideias,
especialmente desde 1928, mas a que lhe dá o Magistério da Igreja. Há pouco
tempo, o Concílio - com uma emoção, para este pobre sacerdote, que é difícil de
explicar - lembrava a todos os cristãos, na Constituição Dogmática Lumen
gentium, que devem sentir-se plenamente cidadãos da cidade terrena,
participando em todas as actividades humanas com competência profissional e com
amor a todos os homens, procurando a perfeição cristã, à qual são chamados pelo
simples facto de terem recebido o baptismo.
(cont)
[i]
Entrevista realizada por
Jacques-Guillemé-Brûlon, publicada em Le Figaro (Paris) em 16 de Maio de 1966.