A natureza de Deus e a Sua
actuação 3
2. Como é Deus?
O
Deus da Sagrada Escritura não é uma projecção do homem, pois a Sua absoluta
transcendência só pode ser descoberta a partir de fora do mundo e, por isso,
como fruto de uma revelação; quer dizer, não há propriamente uma revelação
intra-mundana. Ou, dito de outro modo, a natureza como lugar da revelação de
Deus 6 remete sempre para um Deus transcendente. Sem esta
perspectiva, não teria sido possível para o homem chegar a estas verdades. Deus
é ao mesmo tempo exigente 7 e amante, muito mais do que o homem se atreveria
a esperar. De facto, podemos imaginar facilmente um Deus omnipotente, mas
custa-nos reconhecer que essa omnipotência nos possa amar 8. Entre a
concepção humana e a imagem de Deus revelada há, simultaneamente, continuidade
e descontinuidade, porque Deus é o Bem, a Beleza, o Ser, como dizia a
filosofia, mas, ao mesmo tempo, esse Deus ama-me a mim, que sou nada em
comparação com Ele. O eterno procura o temporal e isso altera radicalmente as
nossas expectativas e a nossa perspectiva de Deus.
Em primeiro lugar Deus é Uno, mas não no
sentido matemático como um ponto, mas é Uno em sentido absoluto desse Bem,
dessa Beleza e desse Ser de quem tudo procede. Pode dizer-se que é Uno porque
não há outro deus e porque não tem partes; mas, ao mesmo tempo, há que dizer
que é Uno porque é fonte de toda a unidade. De facto, sem Ele tudo se decompõe
e regressa ao não ser: a Sua unidade é a unidade de um Amor que também é Vida e
dá a vida. Por isso, esta unidade é infinitamente mais do que uma simples
negação da multiplicidade.
A unidade leva a reconhecer Deus como o único
verdadeiro. Mais ainda, Ele é a Verdade e a medida e fonte de tudo o que é
verdadeiro (cf. Compêndio, 41); e isto porque justamente Ele é o Ser. Por
vezes, tem-se medo desta identificação, porque parece que, dizendo que a
verdade é una, se torna impossível todo o diálogo. Por isso, é tão necessário
considerar que Deus não é verdadeiro no sentido humano do termo, que é sempre
parcial. Mas que n’Ele a Verdade se identifica com o Ser, com o Bem e com a
Beleza. Não se trata de uma verdade meramente lógica e formal, mas de uma
verdade que se identifica com o Amor que é Comunicação, em sentido pleno:
efusão criativa, exclusivo e universal ao mesmo tempo, vida íntima divina
partilhada e participada pelo homem. Não estamos a falar da verdade das
fórmulas ou das ideias, que são sempre insuficientes, mas da verdade do real
que, no caso de Deus, coincide com o Amor. Além disso, dizer que Deus é a
Verdade quer dizer que a Verdade é o Amor. Isto não mete nenhum medo e não
limita a liberdade. De modo que, a imutabilidade de Deus e a Sua unicidade
coincidem com a sua Verdade, enquanto que é a verdade de um Amor que não pode
passar.
giulio maspero
Bibliografia básica
Catecismo da Igreja Católica, 199-231;
268-274.
Compêndio do Catecismo da Igreja
Católica, 36-43; 50.
Leituras recomendadas:
São Josemaria, Homilia «Humildade», em
Amigos de Deus, 104-109.
J. Ratzinger, El Dios de los
cristianos. Meditaciones, Ed. Sígueme, Salamanca 2005.
(Resumos da Fé cristã: © 2013,
Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet)
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Notas:
6
João Paulo II, Enc. Fides et Ratio, 14-IX-1998, 19.
7
Deus pede ao homem – a Abraão – que saia da terra prometida, que deixe as suas
seguranças, confia nos pequenos, pede coisas de acordo com uma lógica diferente
da humana, como no caso de Oseias. É claro que não pode ser uma projecção das
aspirações ou dos desejos humanos.
8
«Como é possível darmo-nos conta disso, apercebermo-nos de que Deus nos ama e
não enlouquecermos também nós de amor? É necessário deixar que essas verdades
da nossa fé vão calando na alma, até mudarem toda a nossa vida. Deus ama-nos! O
Omnipotente, o Todo Poderoso, o que fez os céus e a terra» (São Josemaria,
Cristo que Passa, 144).