2.2. A missão da Igreja
A
Igreja tem que anunciar e instaurar o Reino de Deus, inaugurado por Cristo,
entre todos os povos. Na terra é o gérmen e início deste Reino. Depois da sua
Ressurreição, o Senhor enviou os Apóstolos a pregar o Evangelho, a baptizar e a
ensinar a cumprir o que Ele tinha mandado (cf. Mt 28, 18ss). O Senhor entregou
à sua Igreja a mesma missão que o Pai lhe tinha confiado (cf. Jo 20, 21). Desde
o início da Igreja, esta missão foi realizada por todos os cristãos (cf. Act 8,
4; 11, 19), que muitas vezes chegaram ao sacrifício da própria vida para a
cumprir. O mandato missionário do Senhor tem a sua fonte no amor eterno de
Deus, que enviou o seu Filho e o seu Espírito porque «quer que todos os homens
se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tm 2, 4).
Nesse
envio missionário estão contidas as três funções da Igreja na terra: o munus
profeticum (anunciar a boa notícia da salvação em Cristo), o munus sacerdotale
(tornar efectivamente presente e transmitir a vida de Cristo que salva pelos
sacramentos) e o munus regale (ajudar os cristãos a cumprir a missão e a
crescer em santidade). Embora todos os fiéis partilhem a mesma missão, nem
todos desempenham o mesmo papel. Alguns deles foram eleitos pelo Senhor para
exercer determinadas funções, como os Apóstolos e os seus sucessores, que são
conformados com Cristo, cabeça da Igreja, de uma forma específica, diferente
dos outros, pelo sacramento da Ordem.
Porque
a Igreja recebeu de Deus uma missão salvífica na terra para os homens, e foi
disposta por Deus para a realizar, diz-se que a Igreja é o sacramento universal
de Salvação, pois tem como fim a glória de Deus e a salvação dos homens (cf.
Catecismo, 775). É sacramento universal de salvação porque é sinal e
instrumento da reconciliação e da comunhão da humanidade com Deus, e da unidade
de todo o género humano 7. Também se diz que a Igreja é um mistério
porque na sua realidade visível se faz presente e actua uma realidade
espiritual e divina que só se percebe mediante a fé.
A
afirmação «fora da Igreja não há salvação» significa que toda a salvação vem de
Cristo Cabeça por meio da Igreja, que é o seu Corpo. Portanto não poderiam ser
salvos os que, conhecendo a Igreja como fundada por Cristo e necessária à
salvação dos homens, nela não entrassem e nela não perseverassem. Ao mesmo
tempo, graças a Cristo e à sua Igreja, podem conseguir a salvação eterna todos
os que, sem culpa própria, ignoram o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, mas
procuram sinceramente Deus e, sob o influxo da graça, se esforçam por cumprir a
sua vontade, conhecida através do que a consciência lhes dita. Tudo quanto de
bom e de verdadeiro existe nas outras religiões vem de Deus, pode preparar para
acolher o Evangelho e mover em direcção à unidade da humanidade na Igreja de
Cristo (cf. Compêndio, 170 e seg.).
Miguel de Salis Amaral
Bibliografia:
Catecismo da Igreja Católica, 683-688;
731-741.
Compêndio do Catecismo de la Igreja
Católica, 136-146.
João Paulo II, Enc. Dominum et
Vivificantem, 18-V-1986, 3-26.
João Paulo II, Catequese sobre o
Espírito Santo, 8-XII-1989.
São Josemaria, Homilia «O Grande
Desconhecido», em Cristo que Passa, 127-138.
Leituras recomendadas:
Catecismo da Igreja Católica, 748-945.
Compêndio do Catecismo da Igreja
Católica, 147-193.
São Josemaria, Homilia «Lealdade à
Igreja», em Amar a Igreja, Rei dos Livros, Lisboa 1986.
_________________________
Notas:
7 Cf. Concílio Vaticano II, Const.
Lumen Gentium, 1.