Anjos
da Guarda
Tratado
dos Anjos Art. 7 –
Se
os anjos se condoem com os males dos que guardam.
(II Sent., dist., XI, part. I, a.
5).
O
sétimo discute-se assim.
Parece que os anjos se contristam com os
males dos que guardam.
1. — Pois, diz a Escritura: Os anjos da paz
chorarão amargamente. Ora, o pranto é sinal de dor e de tristeza. Logo, os
anjos condoem -se com os males dos homens que guardam.
2. Demais. — Como diz Agostinho, a tristeza
provém do que nos acontece contra a nossa vontade. Ora, a perdição de um homem
é contra a vontade do seu anjo da guarda. Logo, os anjos condoem-se com a perdição
dos homens.
3. Demais. — Como a tristeza é contrária à
alegria, assim o pecado, à penitência. Ora, os anjos se alegram com o pecador
penitente, como se lê no Evangelho. Logo, condoem-se quando o justo cai em pecado.
4. Demais. — Ao passo da Escritura — E tudo
o que oferecem como primícias, diz a Glossa de Orígenes: Os anjos são levados a
juízo, porque caíram, quer por negligência deles, quer por ignávia dos homens.
Mas é racional que a gente sofra por causa
dos males pelos quais é levado a juízo. Logo, os anjos condoem-se com os
pecados dos homens.
Mas, em contrário. — Onde há tristeza e dor
não há perfeita felicidade; por isso, diz o Apocalipse: E não haverá mais
morte, nem luto, nem clamor, nem mais dor. Ora, os anjos são perfeitamente
felizes. Logo, de nada se condoem.
SOLUÇÃO. — Os anjos não se condoem com os
pecados nem com as penas dos homens, pois, a tristeza e a dor procedem, como
diz Agostinho, do que contraria a vontade. Ora, nada acontece no mundo contrário
à vontade dos anjos e dos outros bem-aventurados, porque a vontade deles adere
totalmente à ordem da divina justiça, e nada há no mundo que não seja feito ou
permitido por essa justiça. Donde, absolutamente falando, nada acontece no
mundo, contra a vontade dos bem-aventurados. Pois, como diz o Filósofo,
chama-se voluntário absolutamente, ao que alguém quer, em particular, quando age,
i. é, consideradas todas as circunstâncias, embora considerado em universal,
não fosse voluntário. Assim, o nauta não quer que as mercadorias sejam atiradas
ao mar, absoluta e universalmente falando, mas o quer, estando em risco
eminente de perder-se; e por isso há aqui, antes, um voluntário do que um
involuntário, como no mesmo passo se diz. Donde, os anjos, universal e
absolutamente falando, não querem os pecados e as penas dos homens; querem
contudo que, por elas, se conserve a ordem da divina justiça, que submete
certos a penas e permite que pequem.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — As
palavras citadas de Isaías podem entender-se como referentes aos anjos
anunciadores de Ezequías, que choraram, conforme o sentido literal, por causa
das palavras de Rapsaco, de que se trata no mesmo livro. Pelo sentido alegórico
porém, os anjos são apóstolos e pregadores da paz, que choram sobre os pecados
dos homens. Se porém, pelo sentido anagógico, o passo se refere aos anjos bons,
então o modo de falar é metafórico, para significar que eles querem, em universal,
a salvação dos homens. Pois, é assim que tais paixões se atribuem a Deus e aos anjos.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Resulta clara a
SOLUÇÃO. do que acaba de ser dito.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Tanto na penitência
como no pecado dos homens, há razão para alegria dos anjos, que é o implemento
da ordem da divina providência.
RESPOSTA À QUARTA. — Os anjos são levados a
juízo, por causa dos pecados dos homens, não como réus, mas como testemunhas,
para convencer os homens da ignávia própria.
(São
Tomás de Aquino, Suma Teológica I, q. 113, a. 7)