13/08/2010

Fátima, 13 de Agosto

Fátima 1

As aparições de Fátima, comprovadas por sinais extraordinários e 1917, formam como que um ponto de referência e de irradiação para o nosso século. Maria, Nossa Mãe celestial, veio para sacudir as consciências, para iluminar o autêntico significado da vida, para estimular a conversão do pecado e o fervor espiritual, para inflamar as almas de amor a Deus e de caridade para com o próximo. Maria veio socorrer-nos, porque muitos, por desgraça, não querem acolher o convite do Filho de Deus para voltar à casa do Pai.
Desde o seu Santuário de Fátima, Maria renova todavia hoje a sua materna a premente petição: a conversão à Verdade e à Graça, A vida dos sacramentos, especialmente a Penitência e a Eucaristia, e a devoção ao seu Coração Imaculado, acompanhado pelo espírito de penitência.

(joão Paulo II, Angelus, 1987.07.23)

O CANSAÇO E A VIDA QUOTIDIANA NA FAMÍLIA




Chega-se cansado a casa. O cansaço é legítimo. O mau humor, não. Convém lembrar que o homem cansado é propenso ao mau génio, já que tem as defesas baixas e os nervos destemperados.

O cansado tende ao hermetismo. Não é comunicativo.

É preciso dar ao cansado um tempo para decantar as fadigas e preocupações de um dia de trabalho. Deve-se permitir ao guerreiro deixar suas armas, desmontar e recompor-se.

Procura desfazer-se quanto antes de sua mercadoria. Interrompe quando não deve, tem mais pressa quanto mais deve esperar. É a hora heróica dos pais.

O carinho dos filhos vale mais que o esgotamento.

Ao chegar a casa, nenhum pai pode abrir a porta e dizer: “Missão cumprida”.

Se ele acha que a casa é o lugar das compensações egoístas, um pai de família perdeu-se. A recompensa verdadeira é a de ver-se rodeado por afecto.

O carinho dos filhos não é um carinho abstracto, teórico. É tangível. Percebe-se. Toca-se.

Os olhos das crianças estão a dizer: “Seja meu pai. Tu és forte, mais forte que o cansaço”.

(Diego Ibañez Langlois, trad ama)


Evangelho para 13 de Agosto

Evangelho: Mt 19, 3-12

3 Foram ter com Ele os fariseus para O tentar, e disseram-Lhe: «É lícito a um homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?». 4 Ele respondeu: «Não lestes que, no princípio, o Criador os fez homem e mulher, e disse:5 “Por isso, deixará o homem pai e mãe, e juntar-se-á com sua mulher, e os dois serão uma só carne”? 6 Portanto, não mais são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu». 7 «Porque mandou, então, Moisés», replicaram eles, «dar o homem à sua mulher libelo de repúdio, e separar-se?». 8 Respondeu-lhes: «Porque Moisés, por causa da dureza do vosso coração, permitiu-vos repudiar vossas mulheres; mas no princípio não foi assim. 9 Eu, porém, digo-vos que todo aquele que repudiar sua mulher, a não ser por causa de união ilegítima, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com uma repudiada, comete adultério». 10 Disseram-Lhe os discípulos: «Se tal é a condição do homem a respeito de sua mulher, não convém casar». 11 Ele respondeu-lhes: «Nem todos compreendem esta palavra, mas somente aqueles a quem foi concedido. 12 Porque há eunucos que nasceram assim do ventre de sua mãe; há eunucos a quem os homens fizeram tais; e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos Céus. Quem puder compreender isto, compreenda».

Comentário:

     Santidade do amor humano
Ao falar do matrimónio, da vida matrimonial, é necessário começar por referir-nos claramente ao amor dos cônjuges.
O amor puro e limpo dos esposos é uma realidade santa, que eu, como sacerdote, abençoo com ambas as mãos. (…)
O matrimónio é um sacramento que faz de dois corpos uma só carne: como diz com expressão forte a teologia, são os próprios corpos dos contraentes que constituem a sua matéria. O Senhor santifica e abençoa o amor do marido à mulher e o da mulher ao marido; e ordenou não só a fusão das suas almas, mas também a dos seus corpos. Nenhum cristão, esteja ou não chamado à vida matrimonial, pode deixar de a estimar.
O Criador deu-nos a inteligência, centelha do entendimento divino, que nos permite - com vontade livre, outro dom de Deus - conhecer e amar; e deu ao nosso corpo a possibilidade de gerar, que é como uma participação do seu poder criador. Deus quis servir-se do amor conjugal para trazer novas criaturas ao mundo e aumentar o corpo da Igreja. O sexo não é uma realidade vergonhosa; é uma dádiva divina que se orienta limpamente para a vida, para o amor, para a fecundidade.
Esse é o contexto, o pano de fundo, em que se situa a doutrina cristã sobre a sexualidade. A nossa fé não desconhece nada do que de belo, de generoso, de genuinamente humano há neste mundo. Ensina-nos que a regra do nosso viver não deve ser a procura egoísta do prazer, porque só a renúncia e o sacrifício levam ao verdadeiro amor; Deus amou-nos e convida-nos a amá-Lo e a amar os outros com a verdade e a autenticidade com que Ele nos ama. Quem conserva a sua vida, perdê-la-á; e quem perde a sua vida por meu amor voltará a encontrá-la, escreveu S. Mateus no seu Evangelho, com frase que parece paradoxal.
As pessoas que estão pendentes de si mesmas, que actuam procurando, antes de mais, a sua própria satisfação, põem em jogo a sua salvação eterna e, mesmo aqui na Terra, são inevitavelmente infelizes e desgraçadas. Só quem se esquece de si e se entrega a Deus e aos outros - no matrimónio também - pode ser ditoso na Terra, com uma felicidade que é preparação e antecipação do Céu.
Durante o nosso caminhar terreno, a dor é pedra de toque do amor. No estado matrimonial, considerando as coisas de maneira descritiva, poderíamos afirmar que há anverso e reverso: por um lado, a alegria de se saber amado, o entusiasmo por edificar e sustentar um lar, o amor conjugal, a consolação de ver crescer os filhos; por outro, dores e contrariedades, o decurso do tempo que consome os corpos e ameaça azedar os caracteres, a monotonia dos dias, aparentemente sempre iguais.
Formaria um pobre conceito do matrimónio e do amor humano quem pensasse que ao tropeçar com essas dificuldades, o carinho e o contentamento se acabam. É precisamente então que os sentimentos que animavam aquelas criaturas revelam a sua verdadeira natureza, que a doação e a ternura se enraízam e se manifestam com um afecto autêntico e profundo, mais poderoso que a morte. 

(S. josemaria, Cristo que Passa, 24)

JOSEPH RATZINGER «Deixar Deus actuar»


Sempre me chamou a atenção o sentido que Josemaria Escrivá dava ao nome Opus Dei; uma interpretação que poderíamos chamar biográfica e que permite entender o fundador na sua fisionomia espiritual. Escrivá sabia que devia fundar algo, e ao mesmo tempo estava convencido de que esse algo não era obra sua: ele não tinha inventado nada: simplesmente o Senhor tinha-se servido dele e, em consequência, aquilo não era obra sua, mas sim a Obra de Deus. Ele era somente um instrumento através do qual Deus tinha actuado.

Ao considerar esta atitude vêm-me à mente as palavras do Senhor recolhidas no evangelho de São João 5, 17: «O Meu Pai trabalha sempre». São palavras pronunciadas por Jesus no curso de uma discussão com alguns especialistas da religião que não queriam reconhecer que Deus pode trabalhar no dia de Sábado. Um debate todavia aberto e actual, de certo modo, entre os homens – incluindo os cristãos – do nosso tempo. Alguns pensam que Deus, depois da criação, se «retirou» e já não mostra nenhum interesse pelos nossos assuntos diários. Segundo este modo de pensar, Deus não poderia intervir no tecido da nossa vida quotidiana; todavia, as palavras de Jesus Cristo indicam-nos antes o contrário. Um homem aberto à presença de Deus dá-se conta que Deus trabalha sempre e de que também actua hoje; por isso devemos deixa-lo entrar e facilitar-lhe que actue em nós. É assim que nascem tantas coisas que abrem o futuro e renovam a humanidade.

Tudo isto ajuda-nos a compreender porque Josemaria Escrivá não se considerava «fundador» de nada, e porque se via somente como um homem que quer cumprir uma vontade de Deus, secundar essa acção, a obra - com efeito – de Deus. Neste sentido, constitui para mim uma mensagem de grande importância o teocentrismo de Escrivã de Balaguer: está em coerência com essas palavras de Jesus essa confiança em que Deus não se retirou do mundo, porque está actuando constantemente; e que a nós apenas nos corresponde pormo-nos à sua disposição, estar disponíveis, sendo capazes de responder à sua chamada. É uma mensagem que também ajuda a superar o que pode considerar-se como a grande tentação do nosso tempo: a pretensão de pensar que depois do big bang, Deus se retirou da história. A acção de Deus «não se deteve» no momento do big bang, antes continua no curso do tempo, tanto no mundo da natureza como no dos homens.

O fundador da Obra dizia: eu não inventei nada; é outro que fez tudo; eu procurei estar disponível e servi-lo como instrumento. a palavra e toda a realidade que chamamos Opus Dei está profundamente enxertada com a vida do Fundador, que ainda que procurando ser muito discreto neste ponto, dá a entender que permanecia em diálogo constante, em contacto real com Aquele que nos criou e actua por nós e connosco.
De Moisés diz-se no livro de Êxodo (33,11) que Deus falava face a face com ele, como um amigo fala com um amigo». Parece-me que, se bem que o véu da discrição esconde alguns pequenos sinais, há fundamento suficiente para muito bem por aplicar a Josemaria Escrivá isso de «falar como um amigo fala com um amigo», que abre as portas do mundo para que Deus possa tornar-se presente, fazer e transformar tudo.
Nesta perspectiva compreende-se melhor o que significa santidade e vocação universal à santidade. Conhecendo um pouco da história dos santos, e sabendo que nos processos de canonização se procura a virtude «heróica» podemos ter, quase inevitavelmente, um conceito errado da santidade porque tendemos a pensar: «isto não é para mim»; «eu não me sinto capaz de praticar virtudes heróicas»; «é um ideal demasiado alto para mim». Nesse caso a santidade estaria reservada para alguns «grandes» dos quais vemos as imagens nos altares e que são muito diferentes de nós, normais pecadores. Essa seria uma ideia totalmente errada da santidade, uma concepção errónea que foi corrigida – e isto parece-me um ponto central – precisamente por Josemaria Escrivá.

Virtude heróica não quer dizer que o santo seja uma espécie de «ginasta» da santidade, que realiza uns exercícios inexequíveis para as pessoas normais. Quer dizer, pelo contrário, que na vida de um homem se revela a presença de Deus, e fica mais patente tudo quanto o homem não é capaz de fazer por si mesmo. Talvez, no fundo, se trate de uma questão terminológica, porque o adjectivo «heróico» foi com frequência mal interpretado. Virtude heróica não significa exactamente que alguém faz coisas grandes por si mesmo, mas que na sua vida aparecem realidades que ele não fez, porque ele só esteve disponível para deixar que Deus actuasse. Por outras palavras, ser santo não é outra coisa que falara com Deus como um amigo fala com o amigo. Isto é a santidade.

Ser santo não implica ser superior aos outros; pelo contrário, o santo pode ser muito débil, e contar com numerosos erros na sua vida. A santidade é o contacto profundo com Deus: é fazer-se amigo de Deus, deixara o Outro operar, o Único que realmente pode fazer com que este mundo seja bom e feliz. Quando Josemaria Escrivá diz que todos os homens são chamados a ser santos, parece-me que, no fundo, está a referir-se à sua experiência pessoal, porque nunca fez, por si mesmo, coisas incríveis, antes se limitou a deixar Deus operar. E, por isso, nasceu uma grande renovação, uma força de bem no mundo, ainda que continuem presentes todas as debilidades humanas.

Verdadeiramente todos somos capazes, todos somos chamados a abrir-nos a essa amizade com Deus, a não nos desprender-mos das suas mãos, a não nos cansarmos de voltar e regressar ao Senhor falando com Ele como se fala com um amigo sabendo, com certeza, que o Senhor é o verdadeiro amigo de todos, também de todos os que não são capazes de fazer por si mesmos coisas grandes.

Por tudo isto compreendi melhor a fisionomia do Opus Dei: a forte ligação que existe entre uma fidelidade absoluta à grande tradição da Igreja, a sua fé, com simplicidade desarmante, e abertura incondicional a todos os desafios deste mundo, seja no âmbito académico, no do trabalho ordinário, na economia, etc. Quem tem este vínculo com Deus, quem mantém com Ele um colóquio ininterrupto, pode atrever-se a responder a novos desafios., e não tem medo; porque quem está nas mãos de Deus, cai sempre nas mãos de Deus. É assim que o medo desaparece e nasce a valentia de responder aos desafios do mundo de hoje.

(Transcrição de uma intervenção oral do cardeal Joseph Ratzinguer publicada no suplemento especial do «Osservatore Romano» (6 de Outubro de 2002) editado por ocasião da canonização de Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei.)