23/03/2020

Sala sem paredes


Equilíbrio e bom senso

TERÁ A TERRA A SUA MANEIRA DE EQUILIBRAR AS COISAS? 

"Acredito que o Universo tem a sua maneira de equilibrar as coisas e as suas leis quando estão viradas do avesso. O momento que vivemos, cheio de anomalias e paradoxos, dá que pensar. Numa altura em que as alterações climáticas causadas por desastres ambientais chegaram a níveis preocupantes, primeiro a China e depois tantos outros países veem-se obrigados ao bloqueio. A Economia colapsa, mas a poluição diminui consideravelmente. O ar melhora; usam-se máscaras, mas respira-se.

Num momento histórico em que algumas ideologias e políticas discriminatórias, com fortes referências a um passado mesquinho, estão a reactivar-se em todo o planeta, chega um vírus que nos faz perceber que, num instante, podemos ser nós os discriminados, os segregados, os bloqueados na fronteira, os portadores de doenças. Mesmo que não tenhamos culpa disso. Mesmo que sejamos brancos, ocidentais e viajemos em classe executiva.

Numa sociedade fundada na produtividade e no consumo, em que todos nós corremos 14 horas por dia na direção não se sabe muito bem de quê, sem sábados nem domingos, sem feriados no calendário, de repente chega o “parem”. Fechados, em casa, dias e dias. A fazer contas com o tempo do qual perdemos o valor. Será que ainda sabemos o que fazer dele?

Numa altura em que o acompanhamento do crescimento dos filhos é, por força das circunstâncias, confiada a outras figuras e instituições, o vírus fecha as escolas e obriga a encontrar outras soluções, a juntar a mãe e o pai com as crianças. Obriga a refazer família.

Numa dimensão em que as relações, a comunicação, a sociabilidade se processam principalmente no “não-espaço” do virtual, das redes sociais, dando-nos uma ilusão de proximidade, o vírus tolhe-nos a verdadeira proximidade, a real: que ninguém se toque, nada de beijos, nada de abraços, tudo à distância, na frieza do não contacto. Até que ponto dávamos por adquiridos estes gestos e o seu significado?

Numa altura em que pensar no próprio umbigo se tornou regra, o vírus envia uma mensagem clara: a única saída possível é através da reciprocidade, do sentido de pertença, da comunidade, do sentimento de fazer parte de algo maior, de que cuidamos e que pode cuidar de nós. A responsabilidade partilhada, o sentir que das nossas acções depende não apenas o nosso destino mas o de todos os que nos rodeiam. E que dependemos das deles.

Por isso, deixemo-nos da caça às bruxas, de perguntar de quem é a culpa ou porque é que tudo isto aconteceu, e perguntemos antes o que podemos aprender com isto. Creio que temos todos muito para reflectir e fazer. Porque para com o Universo e as suas leis, evidentemente, temos uma grande dívida. Explica-nos o vírus, com juros muito altos.”

Francesca Morelli, psicóloga

EMERGÊNCIA CRISTÃ



ESTADO DE EMERGÊNCIA CRISTÃ

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CORONA VIRUS: Consagração de Portugal

Quarta- Feira 25 de Março, 18.30

Consagração de Portugal aos Sagrados Corações




Portugal será consagrado por sus obispos a los Sagrados Corazones este miércoles ante la «situación dramática» por la pandemia.


Porque permites isto!


Porque permites isto!

A gente  - talvez mais os cristãos - pergunta-se: Deus: porque permites este flagelo que nos atinge com particular violência e condiciona as nossas vidas?
É uma pergunta com sentido, sem dúvida, porque temos como certo que Deus nosso Criador, "deveria ter em atenção" a protecção dos Seus filhos.

No entanto, ao colocar esta questão, assim... sem mais, esquecemos algo importante e absolutamente verdadeiro: Deus nosso Senhor é, antes de mais, absolutamente JUSTO. Ele é a JUSTIÇA!
Assim, não interfere -  em caso nenhum - na vida dos homens porque, se o fizesse, iria contra essa Justiça, porque nos criou livres e, com esta liberdade, somos os ÚNICOS RESPONSÁVEIS pelo que nos possa acontecer.

Temos como absolutamente certo, que Ele deseja - QUER - que sejamos felizes e, bem sabemos, que a verdadeira e última felicidade só se alcança de uma forma: fazer, em tudo e sempre a Sua Vontade.

Ao reflectir deste modo, talvez sejamos levados a pedir: Senhor: Se for da Tua Vontade e Misericórdia, aceita a minha liberdade que Te entrego decididamente, porque me sinto incapaz de a usar como deve convenientemente ser.

Pessoalmente tenho uma certeza: mais "potente" que a JUSTIÇA de Deus é a Sua MISERICÓRDIA!

 (AMA, 22.03.2020)

VERDADES MENTIROSAS

VERDADES MENTIROSAS

As entidades eclesiais e a comunicação social


Reza a história que um oficial de marinha estava zangado com o comandante do navio em que ambos andavam embarcados. Tendo a seu cargo o diário de bordo, ocorreu-lhe nele escrever: «Hoje, o capitão não se embebedou». Era verdade, porque de facto o dito não se tinha embriagado, mas uma verdade mentirosa, porque qualquer leitor concluiria que o comandante andava habitualmente alcoolizado, o que mais não era do que uma rematada mentira.

Há muitas formas de mentir. Uma delas é dizendo a verdade, mas de forma a insinuar uma falsidade. Por exemplo, se se disser de alguém que não é nenhum anjinho, está-se formalmente afirmar a realidade, porque os seres humanos não são anjos, mas é óbvio que se está, sobretudo, a sugerir que a pessoa em causa é um grande malandro.

O mesmo se diga das instituições eclesiais, principalmente quando têm a desgraça de merecer algum protagonismo mediático. Se, para cúmulo, também forem alvo de uma rigorosa investigação jornalística, é certo e sabido que os resultados não poderão ser menos do que escandalosos, até porque, em caso contrário, o investimento de meios económicos e humanos não teria retorno.

Uma entidade da Igreja tem alguns bens, para assim poder realizar o seu apostolado? É podre de rica. Tem gente? Claro, é porque lhes arranja tachos e conhecimentos que lhes são úteis para trepar na vida. Os seus membros rezam? São fanáticos. Mortificam-se? São masoquistas. O fundador é santo? Compraram a canonização. Tem gente influente? São lóbi. E assim por diante, … mas sempre presos, por ter cão ou o não ter.

Já com Jesus foi assim. Ele comia e bebia? Era um glutão e um beberolas. Dava-se com publicanos e pecadores? É porque era como eles. Expulsava os demónios? Pois bem, era com o poder do próprio Belzebu que o fazia. Curava no dia de sábado? Então é evidente que transgredia a Lei. Perdoou a adúltera? Um cúmplice não teria feito de outro modo! Censurava os escribas e os fariseus? Era porque estes, sendo cultos, não se deixavam enganar, ao contrário da arraia-miúda.

É certo que nem todos crêem nestas caluniosas insinuações, mas geralmente fica a ideia de que a entidade em causa é, pelo menos, «polémica», «controversa» ou «duvidosa», até porque onde há fumo, há fogo. «Se Ele não fosse um malfeitor» – disseram os fariseus a Pilatos, quando lhe entregaram Jesus – «não O entregaríamos nas tuas mãos» (Jo 18, 30).

Não é possível que o mundo aplauda os discípulos do Crucificado, mas seria lamentável que, com as suas verdades mentirosas, lograsse dividir a Igreja, ou confundir os fiéis. Os critérios mundanos não são aptos para julgar as instituições eclesiais e qualquer cristão coerente sabe que a contradição é um dos critérios para aferir a autenticidade evangélica de um carisma. A Beata Teresa de Calcutá sabia-o e, por isso, quando João Paulo II lhe fez notar, com bom humor, que toda a gente falava bem dela, mas mal dele e de uma obra de Deus, a santa fundadora das Missionárias da Caridade reagiu com santa inveja, pedindo orações. Com razão, porque bem-aventurados serão os que forem insultados e perseguidos e deles disserem falsamente toda a espécie de mal, porque será grande a sua recompensa nos Céus (cfr. Mt 5, 11-12).


P. Gonçalo Portocarrero de Almada         

Publicada por Spe Deus

Servir, meus filhos, é o que é próprio de nós.

No meio do júbilo da festa, em Caná, só Maria nota a falta de vinho... Até aos mais ínfimos pormenores de serviço chega a alma quando vive, como Ela, apaixonadamente atenta ao próximo, por Deus. (Sulco, 631)

Servir, servir, filhos meus, é o que é próprio de nós. Sermos criados de todos, para que nos nossos dias o povo fiel aumente em mérito e número.
Olhai para Maria. Nunca criatura alguma se entregou com mais humildade aos desígnios de Deus. A humildade da ancilla Domini, da escrava do Senhor, é a razão que nos leva a invocá-la como causa nostrae laetitiae, causa da nossa alegria. Eva, depois de pecar por querer, na sua loucura, igualar-se a Deus, escondia-se do Senhor e envergonhava-se: estava triste. Maria, ao confessar-se escrava do Senhor, é feita Mãe do Verbo divino e enche-se de alegria. Que este seu júbilo de boa Mãe se nos pegue a todos nós; que saiamos nisto a Ela – a Santa Maria – e assim nos pareceremos mais com Cristo. (Amigos de Deus, 108–109)

Evangelho e comentário


TEMPO DE QUARESMA


Evangelho: Jo 4, 43-54

Naquele tempo, Jesus saiu da Samaria e foi para a Galileia. Ele próprio tinha declarado que um profeta nunca era apreciado na sua terra. Ao chegar à Galileia, foi recebido pelos galileus, porque tinham visto quanto Ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa, a que também eles tinham assistido. Jesus voltou novamente a Caná da Galileia, onde convertera a água em vinho. Havia em Cafarnaum um funcionário real cujo filho se encontrava doente. Quando ouviu dizer que Jesus viera da Judeia para a Galileia, foi ter com Ele e pediu-Lhe que descesse a curar o seu filho, que estava a morrer. Jesus disse-lhe: «Se não virdes sinais e prodígios, não acreditareis». O funcionário insistiu: «Senhor, desce, antes que meu filho morra». Jesus respondeu-lhe: «Vai, que o teu filho vive». O homem acreditou nas palavras que Jesus lhe tinha dito e pôs-se a caminho. Já ele descia, quando os servos vieram ao seu encontro e lhe disseram que o filho vivia. Perguntou-lhes então a que horas tinha melhorado. Eles responderam-lhe: «Foi ontem à uma da tarde que a febre o deixou». Então o pai verificou que àquela hora Jesus lhe tinha dito: «O teu filho vive». E acreditou, ele e todos os de sua casa. Foi este o segundo milagre que Jesus realizou, ao voltar da Judeia para a Galileia.

Comentário:


Ficamos sinceramente admirados com a atitude deste pai que procura em Cristo auxílio para o que o aflige.

Não pergunta nada, não pede um esclarecimento. Pura e simplesmente aceita a palavra de Cristo e volta  para casa.

Claro que ao procurar Cristo tem consigo fé e esperança que o que vai pedir será atendido.

É por isso mesmo que o Senhor concede o que Lhe é pedido.

Um pedido simples, concreto absolutamente razoável.

Diria que aquele Pai pede de uma forma que torna irrecusável o que pede.
Vai "direito" ao Coração Misericordioso de Jesus.


(AMA, comentário sobre Jo 4, 43-54, 01.04.2019)

Temas para reflectir e meditar

Coração


Se o coração do homem não for bom então nada mais se pode tornar bom. E a bondade do coração só pode vir d’Aquele que em Si mesmo é a bondade, o Bem.



(Bento VXI, Jesus de Nazaré, Esfera dos livros, 3ª ed., p. 65)

Orações: Netos


Protege, Senhora, os meus Netos para que sejam boas pessoas honestas e trabalhadoras que honrem a família, se respeitem a si mesmos, sejam exemplo para os outros e santos.


(AMA, orações Pessoais)


Leitura espiritual



JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR 23

Iniciação à Cristologia


b) Cristo faz-nos partícipes da vida divina

    Cristo veio para que o mundo «não pereça, mas que tenha a vida eterna» (Jo 3,16).
E conseguiu-nos a vida eterna – a vida do que é eterno, isto é a vida de Deus Pai, Filho e Espírito Santo -, de que agora já participamos verdadeiramente pela graça e que depois possuiremos plenamente no céu.
    Expressando este mesmo afecto com outros enunciados equivalentes, podemos dizer que Jesus nos alcança a justificação (cf. Rom 4,25), pois mediante a graça tira o pecado do coração do homem e fá-lo justo.
O bem que Ele nos abriu as portas do Céu e nos conseguiu o acesso ao reino dos céus, que é o nosso fim último ao qual estamos destinados pelo amor divino.
Mas do qual estávamos excluídos pelo pecado.

c) Outros efeitos da obra de Cristo

    A Sagrada Escritura enumera outros efeitos salvíficos da obra de Cristo que são diferentes aspectos compreendidos nos anteriores ou que derivam deles.
Entre outros frutos da redenção, citemos:

    A reconciliação, a comunhão e a amizade com Deus.

Ao pecar, o homem afastou-se de Deus na sua vontade, e de alguma forma (figuradamente) fez-se inimigo do Senhor enquanto ficou privado, não do amor divino, mas sim do efeito desse amor nele que é a graça.
Cristo reconcilia-nos com Deus enquanto tira o pecado que nos constitui em «inimigos» de Deus, e enquanto nos dá a graça que nos une a Deus, nos faz partícipes da sua vida íntima e nos constitui em seus «amigos»:

«Quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho» (Rom 5,10).

    A renovação interior do homem.

A graça de Cristo não só ordena o coração do homem para Deus e o liberta do pecado, como supõe uma verdadeira renovação de todo o seu ser ao fazê-lo participe da vida divina.
Esta transformação é tão profunda que o pecador é feito como um «homem novo» «criado conforme a Deus em justiça e santidade verdadeiras» (Ef 4,24).
Já não tem somente a condição humana, mas também é agora participe da natureza divina, santo e filho de Deus:

«O que está em Cristo é uma nova criatura» (2 Cor 5,17).

    A libertação da morte e a ressurreição dos corpos.

A morte e tudo o que de dor e frustração se sintetiza nela é pena do pecado (cf. Rom 5,12; cf. Gen 2,17).
Ao destruir o pecado em nós, Cristo também nos liberta da morte que é uma das suas consequências.
Cristo, vencedor da morte, é a causa da nossa ressurreição que terá lugar no final dos tempos, quando «o último inimigo a ser destruído será a morte (…)
Quando este ser corruptível se revista de incorruptibilidade e este ser mortal se revista imortalidade, então se cumprirá a palavra da Escritura:

A morte foi devorada pela vitória. Onde está. Morte, a tua vitória? Onde está, morte, o teu aguilhão?» (1 Cor 15,26.54-55).

d) Atribuição dos diferentes efeitos da redenção aos diversos mistérios de Cristo

    Vimos no capítulo IX que a redenção do homem se deve a todos os mistérios da vida de Cristo, e principalmente ao mistério pascal.

Agora devemos acrescentar que também se atribuem se atribuem diferentemente alguns efeitos da redenção à sua Morte na cruz e outros à sua Ressurreição.
A razão é que a um determinado efeito se lhe atribui como causa própria aquele mistério de Cristo que o origina e que, além disso, tem alguma semelhança com ele, pois cada efeito tem uma semelhança com a sua causa[1].

Vejamos este ponto.

    Na reparação da vida da alma podem considerar-se dois aspectos: a remissão do pecado e a nova vida da alma (ainda que se trate de duas faces da mesma realidade, pois a remissão do pecado realiza-se por infusão da graça).

São Paulo distingue esses dois aspectos e atribui-os a diferentes mistérios de Cristo, pois diz:

«Foi entregue pelos nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação» (Rom 4,15); e também a liturgia: «Com a sua morte, destruiu o pecado; ao ressuscitar deu-nos nova vida»[2].

    Assim pois, a libertação do pecado atribui-se normalmente à Paixão de Cristo (cf. Ap 1,5; cf. Ef 1,7), e a razão é que, além de ser causa eficiente e meritória da nossa salvação e de ser uma manifestação do pecado, é também causa exemplar do morrer-mos nós mesmos, do nosso morrer-mos uma vida segundo a carne ou uma vida segundo o pecado.

    A nova vida da alma, ao invés, atribui-se à Ressurreição de Cristo (cf. Rom 6,4) pois, além de ser causa eficiente da nossa salvação, é também causa exemplar da nossa nova vida sobrenatural e divina.

    E também em reparação da vida corporal se podem considerar dois aspectos: a ressurreição da morte e a restauração da vida.

A destruição da morte atribui-se à Morte de Cristo, e a nova vida do nosso corpo ou ressurreição atribui-se à Ressurreição de Cristo (cf. 1 Cor 15,12ss.), por razões semelhantes às mencionadas. Assim diz a liturgia:

«Morrendo destruiu a nossa morte, e ressuscitando restaurou a vida»[3].

4. Os frutos da redenção já são actuais, ainda que sejam escatológicos na sua plenitude

a) A salvação é uma realidade principalmente escatológica

    «O dia da redenção» (Ef 5,30), o dia da libertação completa do pecado e de todas as suas consequências, é escatológico[4]: dar-se-á quando Cristo reapareça com glória no fim do mundo para estabelecer o seu reino (a «parusía» e todos os seus inimigos sejam postos debaixo dos seus pés (cf. 1 Cor 15,25); então terá lugar a libertação de todo o mal e da morte mediante a ressurreição, que é «a redenção do nosso corpo» (Rom 8,23). Então alcançaremos a plenitude a Filiação Divina (cf. Rom 8,23; 1 Jo 3,3) e a perfeita posse da vida eterna, quando Deus seja tudo em todas as coisas (cf. 1 Cor 15,28). Então a criação inteira será renovada no homem (cf. Rom 8,19-22) e haverá «um novo céu e uma nova terra», frutos da redenção (Ap 21,1).

b) Agora já alcançamos salvação, ainda que todavia não seja completa

    A salvação é uma realidade que «já» começou no tempo presente.

«Agora é o dia da salvação» (2 Cor 6,2). Deus já «nos salvou (…) por meio do banho de regeneração e de renovação do Espírito Santo, que derramou que derramou sobre nós com largueza por meio de Jesus Cristo nosso Salvador» (Tit 3,5).

    Por meio de Cristo, mediante a fé e os sacramentos, já temos acesso ao Pai em comum com o Espírito Santo (cf. Ef 2,18), e já somos partícipes da natureza divina (cf. 2 Pd 1,4), já recebemos a adopção de filhos (cf. Jo 3,1-2), já fomos justificados pela sua graça e recebemos o perdão dos pecados.

    Mas, como dissemos, «todavia não» é completa a salvação do homem.
É que, segundo o desígnio divino, os efeitos da redenção comunicam-se aos membros de Cristo com uma certa ordem, pois estes devem imitar a sua Cabeça.
E assim como Cristo teve primeiro a graça na sua alma juntamente com a passibilidade do corpo, e depois chegou à glória, assim os seus membros recebem primeiro na alma o «espírito de adopção de filhos» (Rom 8,15) vivendo ainda num corpo passível, e depois chegarão à glória imortal:

«Se somos filhos, também herdeiros: herdeiro de Deus, co-herdeiros de Cristo; desde que padeçamos com Ele, para ser com Ele também glorificados» (Rom 8,17)[5].

c) A esperança escatológica dos cristãos

    Para os cristãos a chave da história está na Morte e Ressurreição do Senhor:

O mundo já está salvo, ainda que todavia não se tenha consumado a obra redentora. Certamente, «agora não vemos que tudo esteja já submetido a Cristo» (Heb 2,8), pois neste mundo permanecem as marcas do pecado, mas os poderes do mal foram vencidos na sua raiz pelo mistério pascal[6]; é como uma guerra em que a batalha decisiva já foi ganha e só resta ocupar o território inimigo para o libertar definitivamente.

    A vida da graça que Cristo nos comunica é uma incoação da glória, uma realidade que germinou agora e florescerá perfeita na eternidade (cf. Pd 1,23).
Agora já possuímos realmente essa semente de vida eterna e por isso temos a certeza de receber os seus frutos em plenitude. Como diz São Paulo: «Fomos salvos na esperança» (Rom 8,24; cf. Tit 3,27).
E São Tomás:

«Pela Paixão de Cristo, sua Morte, Ressurreição e Ascensão, fomos libertados do pecado e da morte e adquirimos a justiça e a glória da imortalidade; aquela realmente já e agora, e esta em esperança»[7]

    E assim como tudo o que é imperfeito procura naturalmente o seu fim e perfeição, a Igreja «anela o reino consumado e com todas as suas forças anseia reunir-se com o seu Rei na glória»[8]:

espera a sua plenitude escatológica.

5. A cooperação especial de Maria Santíssima na obra redentora de Cristo

    Segundo o desígnio divino, Maria não só recebeu a mais perfeita participação dos frutos da salvação – foi preservada imune de todo o pecado, cheia de graça, elevada ao céu e glorificada em corpo e alma -, como também foi associada de um modo singular e eminente à pessoa de Cristo e à sua obra redentora.

    A sua cooperação na obra da salvação.

Ela, desde o momento da concepção de Cristo, esteve intimamente unida ao seu Filho e «colaborou de maneira totalmente singular na obra do salvador pela sua fé, esperança e ardente amor, para restabelecer a vida sobrenatural dos homens.

Por esta razão é nossa mãe em ordem da graça»[9].

Toda a vida de Maria, a «escrava do Senhor», foi uma entrega fiel cheia de generosidade e abnegação para servir o plano redentor do seu Filhos.

    E «esta maternidade de Maria perdura sem cessar na economia da graça (…) até à realização plena e definitiva de todos os escolhidos. Com efeito, com a sua assunção aos céus, não abandonou a sua missão salvadora, antes continua a procurar-nos com a sua múltipla intercessão os dons da salvação eterna.[10].

    Maria é Mediadora na obra salvífica de Cristo.

O que dissemos de toda a Igreja, enquanto instrumento de Cristo para comunicar a salvação aos homens, diz-se singularmente de Maria Santíssima, e de um modo mais perfeito, uma vez que a Virgem é modelo e exemplo da própria Igreja[11], e Mãe de todos os fiéis.
    Maria participa de um modo singular na obra salvífica de Cristo, único mediador entre Deus e os homens:

foi feita mediadora unida ao seu Filho e «a Igreja não duvida em atribuir a Maria um tal ofício subordinado: experimenta-o continuamente e recomenda-o ao coração de todos os fiéis para que, apoiados nesta protecção maternal, se unam mais intimamente ao Mediador e Salvador»[12].

Esta «cooperação de Maria (…) participa da universalidade da mediação do Redentor, único Mediador»[13].

Assim, pois, Maria intervém – unida a seu Filho – na salvação de todos e cada um dos homens, na comunicação de todos os frutos da redenção e na dispensa de todas as graças.
Maria é realmente a Mãe que nos comunica a vida sobrenatural e que cuida amorosamente de cada um de nós.

    «Ad Iesum per Mariam»:

É uma lição e como que uma consigna surgidas na vida bimilenária da Igreja.
Por Maria alcançamos a união com o Salvador; por ela temos as graças necessárias para viver como filhos de Deus e alcançar a bem-aventurança eterna; e por ela temos parte na salvação que Deus nos dá por meio de Jesus Cristo.

Vicente Ferrer Barriendos
2005 by Ediciones Bauer, S.A., Alcalá, 28027 Madrid Trad. ama)






(Tradução do castelhano por ama)


[1] Cf. S. TOMÁS DE AQUINO, S. Th. III,50,6; Compendium theologiae, I cap 239, n. 514.
[2] Prefácio dominical IV do tempo comum; cf. CEC, 654; S.Th. III,56,2, ad 4.
[3] Prefácio pascal I; cf. S.Th. III,56,1, ad 3 e ad 4.
[4] O termo «escatologia» deriva do grego (éskata, últimas coisas), e significa a ciência dos acontecimentos dos últimos tempos, dos que terão lugar no final do mundo.
[5] Cf. S.Th. III,49,3, ad 3.
[6] Cf. CCE, 671.
[7] Cf. S. TOMÁS DE AQUINO, S. Th. III,50,6; Compendium theologiae, I cap 241, n. 520.
[8] LG, 5; cf. N. 48.
[9] LG, 61.
[10] Lg, 62.
[11] Cf. LG, 63-65).
[12] LG, 62. «Todo o influxo salvífico da Bem-aventurada Virgem em favor dos homens (…) nasce do divino beneplácito e da superabundância dos méritos de Cristo, apoia-se na sua mediação, dela depende totalmente e da mesma tira toda a virtude; e longe de impedi-la, fomenta a união imediata dos crentes com Cristo» (LG, 60).
[13] JOÃO PAULO II, Enc. Redemptoris Mater, 40.