Ainda que tudo se vá abaixo e se acabe;
ainda que os acontecimentos se sucedam ao contrário do previsto, com tremenda
adversidade; nada se ganha perturbando-se. Além disso, recorda a oração
confiante do profeta: "O Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso
Legislador; o Senhor é o nosso Rei; Ele é quem nos há-de salvar". Reza-a
devotamente, todos os dias, para acomodar a tua conduta aos desígnios da
Providência, que nos governa para nosso bem. (Forja, 855)
E quando a tentação do desânimo, dos
contrastes, da luta, da tribulação, de uma nova noite da alma nos ataca –
violenta –, o salmista põe-nos nos lábios e na inteligência aquelas palavras:
estou com Ele no tempo da adversidade. Jesus, perante a Tua Cruz, que vale a
minha; perante as Tuas feridas, os meus arranhões? Perante o Teu Amor imenso,
puro e infinito, que vale o minúsculo fardo que Tu colocaste sobre os meus
ombros? E os vossos corações e o meu enchem-se de uma santa avidez,
confessando-Lhe – com obras – que morremos de Amor.
Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de
compreender as Suas lágrimas; de ver o Seu sorriso, o Seu rosto... Julgo que o
melhor modo de o exprimir é voltar a repetir, com a Escritura: como o veado
deseja a fonte das águas, assim a minha alma te anela, ó meu Deus! E a alma
avança, metida em Deus, endeusada: o cristão tornou-se um viajante sedento, que
abre a boca às águas da fonte.
Com esta entrega, o zelo apostólico
ateia-se, aumenta dia-a-dia – pegando esta ânsia aos outros – porque o bem é
difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não
arda em desejos de semear no mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com
as águas redentoras que brotam do lado aberto de Cristo, de começar e acabar
todas as tarefas por Amor.
Falava
antes de dores, de sofrimentos, de lágrimas. E não me contradigo se afirmo que,
para um discípulo que procura amorosamente o Mestre, é muito diferente o sabor
das tristezas, das penas, das aflições: desaparecem imediatamente, quando
aceitamos deveras a Vontade de Deus, quando cumprimos com gosto os Seus
desígnios, como filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam rebentar e o suplício
pareça insuportável. (Amigos de Deus, nn. 310–311)