02/05/2016

Doutrina – 130

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

34. Quais são os mais antigos Símbolos da fé?

São os Símbolos baptismais. Porque o Baptismo é administrado «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo» [1], as verdades de fé neles professadas estão articuladas segundo a sua referência às três Pessoas da Santíssima Trindade.




[1] Mt 28,19

Antigo testamento / Génesis

Génesis 40

O chefe de vinhos e o padeiro

1 Algum tempo depois, o copeiro e o padeiro do rei do Egipto fizeram uma ofensa ao seu senhor, o rei do Egipto.

2 O faraó irou-se com os dois oficiais, o chefe dos copeiros e o chefe dos padeiros, e mandou prendê-los na casa do capitão da guarda, na prisão em que José estava.

3 O capitão da guarda deixou-os aos cuidados de José, que os servia.
Depois de certo tempo, o copeiro e o padeiro do rei do Egipto, que estavam na prisão, sonharam. Cada um teve um sonho, ambos na mesma noite, e cada sonho tinha a sua própria interpretação.

4 Quando José foi vê-los na manhã seguinte, notou que estavam abatidos.

5 Por isso perguntou aos oficiais do faraó, que também estavam presos na casa do seu senhor: "Por que hoje estão com o semblante triste?"

6 Eles responderam: "Tivemos sonhos, mas não há quem os interprete".
Disse-lhes José: "Não são de Deus as interpretações? Contem-me os sonhos".

7 Então o chefe dos copeiros contou o seu sonho a José: "No meu sonho vi diante de mim uma videira, com três ramos. Ela brotou, floresceu e deu uvas que amadureciam em cachos.

8 A taça do faraó estava na minha mão. Peguei nas uvas, e espremi-as na taça do faraó, e entreguei-a na sua mão".

9 Disse-lhe José: "Esta é a interpretação: os três ramos são três dias.

12 Dentro de três dias o faraó vai exaltá-lo e restaurá-lo à sua posi­ção, e você servirá a taça na mão dele, como costu­mava fazer quando era seu copeiro.

13 Quando tudo estiver indo bem contigo, lembra -te de mim e sê bondoso comigo; fala de mim ao faraó e tira-me desta prisão, pois fui trazido à força da terra dos hebreus, e também aqui nada fiz para ser atirado para este calabouço".

14 Ouvindo o chefe dos padeiros essa interpretação favorável, disse a José: "Eu também tive um sonho: sobre a minha cabeça havia três cestas de pão branco.

15 Na cesta de cima havia todo tipo de pães e doces que o faraó aprecia, mas as aves vinham comer da cesta que eu trazia na cabeça".

16 E disse José: "Esta é a interpretação: as três cestas são três dias.

17 Dentro de três dias o faraó vai decapitá-lo e pendurá-lo numa árvore. E as aves comerão a sua carne".

18 Três dias depois era o aniversário do faraó, e ele ofereceu um banquete a todos os seus conselheiros. Na presença deles reapresentou o chefe dos copeiros e o chefe dos padeiros; restaurou na sua posição o chefe dos copeiros, de modo que ele voltou a ser aquele que servia a taça do faraó, mas ao chefe dos padeiros mandou-o enforcar, como José lhes dissera na sua interpretação.

19 O chefe dos copeiros, porém, não se lembrou de José; ao contrário, esqueceu-se dele.

 (Revisão da versão portuguesa por ama)








Maio - Santo Rosário - Primeiro Mistério Gozoso

M i s t é r i o s  G o z o s o s


                         

Anunciação  do  Anjo Nossa  Senhora



Salve, ó cheia de graça! [1]

Foi com estas palavras que, Gabriel, o Anjo do Senhor se dirigiu a ti, Maria de Nazaré.

Tão longe estarias tu deste acontecimento.
Decerto que, desde pequenina, a oração constante, a simplicidade nos pensamentos e nos actos, sem a mais leve mancha de malícia ou impudor, deverias sentir Deus muito próximo, ao alcance da tua voz.
Certamente que sim, pois acreditavas firmemente que Ele te ouvia sempre e em cada momento.
Mas a tua modéstia, a tua simplicidade, a tua total e humilde submissão a teu Senhor, ao teu Deus, não permitiriam nunca que essa possibilidade te ocorresse sequer.
O Senhor Todo Poderoso, o Criador do Céu e da Terra e de tudo quanto existe, enviar a Nazaré, à tua casa humilde e simples, um Anjo Seu, para te saudar! Que coisa mais extraordinária.
Sabias que Deus não era um ser longínquo e distante, inacessível aos homens. Constantemente tinha intervindo junto do povo eleito para comunicar a Sua Vontade, os Seus desígnios.
Mas, os Seus interlocutores tinham sido sempre grandes personagens da História Humana: Abraão, Moisés, David, os Profetas.
E tu, pobre e humilde menina, recebias do Senhor uma graça semelhante!?

Logo no início o salve do Mensageiro te perturba. Salve, isto é, alegra-te.

Mas, mais: Ó cheia de graça!

Que saudação estranha e desusada que manifesta uma dignidade e honra que julgas não merecer.

Alegra-te Filha... de Jerusalém... o Senhor está no meio de ti. [2]

Estes altíssimos louvores ferem o teu espírito humilde e, por isso a estas palavras, ela perturbou-se e ficou a pensar que saudação seria aquela. [3]

Mas, Gabriel é um Anjo do Senhor, e apercebe-se a tua confusão, talvez, o teu natural temor. E sossega-te: Não tenhas receio, Maria.

Conhecias bem pelas Escrituras que lias e meditavas, o que significava esta saudação e portanto, quando Gabriel evoca estas prerrogativas, entendeste claramente que te era anunciado que irias ser a Mãe do Messias Salvador.
Mas há ainda no teu espírito esclarecido, não obstante a tua juventude, uma dúvida séria: Como poderias tu, virgem humilde, teres sido escolhida para Mãe de Jesus Salvador pelo próprio Deus a quem tinhas dedicado a tua virgindade?!
E, não obstante a tua humildade de jovem simples não deixas de interrogar:

Como será isso, se eu não conheço homem?! [4]

Ah! ... mas o Anjo tranquiliza-te:

Virá sobre ti o Espírito Santo, e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. [5]

Esta resposta corresponde também ao que nas Escrituras se revelava sobre o aparecimento do Messias.

Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho a quem será dado o nome de Emanuel, que quer dizer Deus connosco. [6]

Não tinhas mais dúvidas por isso nada mais perguntaste. Não quiseste saber como, quando, porquê.
Nada, nada absolutamente te interessava averiguar porque:

Heis aqui a escrava do Senhor: seja-me feito segundo a tua palavra! [7]

Assim, tal qual, tu, Senhora, a quem acabava de anunciado seres eleita por Deus a maior, a mais sublime de entre as mulheres da Terra, assim, com esta simplicidade que fere pela sua inteira singeleza, assim, tu defines um coração puro, uma alma de Deus, uma total entrega ao Senhor.
Por isso Deus te escolheu.
A Mãe do Salvador, do Deus feito homem, perfeito homem, que haveria de morrer na Cruz para salvar todos os homens, num sacrifício cruento, completo, total, não poderia senão expressar a aceitação pronta e total da Vontade Divina.
Faça-se a Tua Vontade de uma forma total e completa.
Não para meu bem, não para minha glória, não para benefício de quem quer que seja, não...só e unicamente porque é a Tua Vontade Senhor; o resto não me interessa...
E, no entanto esta jovem era já a Mãe do Salvador, escolhida desde o princípio dos tempos.

Poderei eu, algum dia, alguma vez, do fundo do coração, manifestar tal sentimento?
Decerto que não.
Quantas vezes que me proponho aceitar a Vontade de Deus, mas reservando no meu íntimo, que ela esteja de acordo com a minha vontade. Que se satisfaçam os meus desejos, que obtenha o que quero que o Senhor, actue assim, como uma espécie de Deus privado, ao meu serviço.
Ah! Senhora minha, que maravilha a tua resposta, que espantosa a tua entrega.
Ajuda-me, querida Mãe, a dizer a cada momento sim ao Senhor.
Instila no meu coração de filho, porque és minha Mãe, esses sentimentos puros e humildes, esse desprendimento das coisas, essa disponibilidade permanente para ouvir e, ouvindo, dizer que sim aos desejos do Senhor.
Desejo tanto ser honesto comigo mesmo para poder ser honesto para com os outros e para com Deus. Não me mentir, não me enganar, não me esconder atrás de falsas coisas, defeitos ou virtudes, para me esquivar constantemente ao que me é pedido.
E a Tua Vontade, o Teu mandato, claríssimo é que eu seja santo. [8]
Não um dia, não qualquer dia, agora - «nunc coepi - pois pode ser que o amanhã me falte.» [9]

"Ave Cheia de Graça, o Senhor está contigo".

Assim te falou o Anjo do Senhor.
Ave minha Mãe Santíssima.
Ave, minha querida Mãe que estás no Céu, digo-te eu, com a esperança, que é certeza, que me ouves e atenderás as minhas súplicas.
Como tu, também eu quero dizer “fiat”, faça-se, «cumpra-se a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas.»
«Monstra te esse mater, mostra que és mãe, ajuda-me e guia-me todos os dias da minha vida para que eu seja um bom filho.


[1] Lc 1, 28
[2] So 3, 14. 17a
[3] Lc 1, 29
[4] Lc 1, 34
[5] Lc 1, 35
[6] Is 7, 14
[7] Lc 1, 38
[8] Pois n'Ele elegeu-nos antes da criação do mundo para que fôssemos santos Ef 1, 4-6
[9] cfr. S. Josemaría, Caminho, nrs 251 a 254

Antigo testamento / Génesis

Génesis 32

Jacob prepara-se para se encontrar com Esaú

1 Jacob também seguiu o seu caminho, e osanjos de Deus vieram ao encontro dele.

2 Quando Jacob os avistou, disse: "Este é o exército de Deus!" Por isso deu àquele lugar o nome de Maanaim.

3 Jacob mandou mensageiros adiante dele a seu irmão Esaú, na região de Seir, território de Edom.

4 E ordenou-lhes: "Dirão o seguinte ao meu senhor Esaú: Assim diz o teu servo Jacob: Morei na casa de Labão e com ele permaneci até agora.

5 Tenho bois e jumentos, ovelhas e cabras, servos e servas. Envio agora esta mensagem ao meu senhor, para que me recebas bem".

6 Quando os mensageiros voltaram a Jacob, disseram-lhe: "Fomos ter com o teu irmão Esaú, e ele está vindo ao teu encontro, com quatrocentos homens".

7 Jacob encheu-se de medo e foi tomado de angústia. Então dividiu em dois grupos todos os que estavam com ele, bem como as ovelhas, as cabras, os bois e os camelos, pois pensou assim: "Se Esaú vier e atacar um dos grupos, o outro poderá escapar".

8 Então Jacob orou: "Ó Deus de meu pai Abraão, Deus de meu pai Isaac, ó Senhor que me disseste: 'Volta para a tua terra e para os teus parentes e eu te farei prosperar'; não sou digno de toda a bondade e lealdade com que trataste o teu servo. Quando atravessei o Jordão eu tinha apenas o meu cajado, mas agora possuo duas caravanas.

9 Livra-me, rogo-te, das mãos do meu irmão Esaú, porque tenho medo que ele venha atacar-nos, tanto a mim como às mães e às crianças.

10 Pois tu prometeste: Fica certo de que eu te farei prosperar e farei os teus descendentes tão numerosos como a areia do mar, que não se pode contar' ".

11 Depois de passar ali a noite, escolheu entre os seus rebanhos um presente para o seu irmão Esaú: duzentas cabras e vinte bodes, duzentas ovelhas e vinte carneiros, trinta fêmeas de camelo com os seus filhotes, quarenta vacas e dez touros, vinte jumentas e dez jumentos.

12 Designou cada rebanho sob o cuidado de um servo e disse-lhes: "Vão à minha frente e mantenham certa distância entre um rebanho e outro".

13 Ao que ia à frente deu a seguinte instrução: "Quando o meu irmão Esaú se encontrar contigo e te perguntar: 'A quem pertences, para onde vais e de quem é todo este rebanho à tua frente?', responderás: É do teu servo Jacob. É um presente para o meu senhor Esaú; e ele mesmo está vindo atrás de nós".

14 Também instruiu o segundo, o terceiro e todos os outros que acompanhavam os rebanhos: "Digam também a mesma coisa a Esaú quando o encontrarem.

15 E acrescentem: O teu servo Jacob está vindo atrás de nós". Porque pensava: "Eu o apaziguarei com esses presentes que estou enviando antes de mim; mais tarde, quando eu o vir, talvez me receba".

16 Assim os presentes de Jacob seguiram à sua frente; ele, porém, passou a noite no acampa­mento.

Jacob luta com Deus

17 Naquela noite, Jacob levantou-se, tomou as suas duas mulheres, as suas duas servas e os seus onze filhos para atravessar o lugar de passagem do Jaboque.

18 Depois de tê-los feito atravessar o ribeiro, fez passar também tudo o que possuía.

19 E Jacob ficou sozinho. Então veio um homem que se pôs a lutar com ele até o amanhecer.

20 Quando o homem viu que não poderia dominar Jacob, tocou-lhe na articulação da coxa, de forma que a deslocou enquanto lutavam.

21 Então o homem disse: "Deixa-me ir, pois o dia já desponta". Mas Jacob respondeu-lhe: "Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes".

22 O homem perguntou-lhe: "Qual é o teu nome?"
"Jacob", respondeu ele.

23 Então disse o homem: "O teu nome não será mais Jacob, mas sim Israel, porque lutaste com Deus e com homens e venceste".

24 Prosseguiu Jacob: "Peço-te que digas o teu nome".
Mas ele respondeu: "Por que perguntas o meu nome?" E ali o abençoou.

25 Jacob chamou àquele lugar Peniel, pois disse: "Vi a Deus face a face e, todavia, a minha vida foi poupada".

26 Ao nascer do sol, atravessou Peniel, coxeando por causa da coxa.

27 Por isso, até o dia de hoje, os israelitas não comem o músculo ligado à articulação do quadril, porque Jacob foi ferido nesse músculo.

(Revisão da versão portuguesa por ama)








Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Que em cada um de vós esteja a alma de Maria

– Minha Mãe! As mães da terra olham com maior predilecção para o filho mais débil, o mais doente, o menos esperto, o pobre defeituoso... Senhora!, eu sei que tu és mais Mãe que todas as mães juntas... E como sou teu filho... E como sou débil, e doente..., e defeituoso..., e feio... (Forja, 234)

As mães não contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhes demonstram, não pesam nem medem com critérios mesquinhos. Uma pequena demonstração de amor, saboreiam-na como se fosse mel e acabam por conceder muito mais do que receberam. Se assim fazem as mães boas da terra, imaginai o que poderemos esperar da nossa Mãe, Santa Maria!

Agrada-me voltar, em pensamento, àqueles anos em que Jesus permaneceu junto de sua Mãe e que abarcam quase toda a vida de Nosso Senhor neste mundo. Vê-lo pequeno quando Maria cuida d'Ele e o beija e o entretém... Vê-lo crescer diante dos olhos enamorados de sua Mãe e de José, seu pai na terra... Com quanta ternura e com quanta delicadeza Maria e o Santo Patriarca se preocupariam com Jesus durante a sua infância! E, em silêncio, aprenderiam muito e constantemente d'Ele. As suas almas ir-se-iam afazendo à alma daquele Filho, Homem e Deus. Por isso, a Mãe – e, depois dela, José – conhece como ninguém os sentimentos do coração de Cristo e os dois são o caminho melhor, diria até que o único, para chegar ao Salvador.


Que em cada um de vós, escrevia Santo Ambrósio, esteja a alma de Maria, para louvar o Senhor; que em cada um esteja o espírito de Maria, para se regozijar em Deus. (Amigos de Deus, 280–281)

Diálogos apostólicos

Diálogos apostólicos II Parte
5 - [1]

Não é verdade que ler Santo Agostinho requer maturidade de conhecimentos e solidez de doutrina?

Sem pretender dar-me como exemplo, as primeiras "Confissões" que comprei tinha apenas dezasseis anos de idade.
Guardo esse livro e posso consultar as numerosas anotações que então fiz.

Aliás, meu caro amigo, as respostas que procuras estão no teu coração mas precisas do auxílio de bons livros que te ensinem a descobri-las.
É o que os "formadores" normalmente chamam "leitura espiritual" cuja prática diária aconselham porque exactamente vai conduzindo o espírito para patamares mais altos mas com segurança, mais como um utilíssimo meio de formação espiritual sólida e coerente que a aquisição de saber e conhecimento.

Falamos de leitura espiritual porque está implícito que te convém ter um Director Espiritual que deve ser quem te deve sugerir os livros que te convém ir lendo.

Não o faças por teu livre alvedrio - nós nunca somos os melhores conselheiros de nós próprios - até porque, normalmente, a leitura espiritual obedece a um plano estruturado de acordo com o que o Director pense ser o mais adequado no teu caso e nas circunstâncias que se apresentem.

Quero, desejo muito, que consideres estes "diálogos" não como conselhos ou "lições" de quem sabe muito ou tem vasta experiência, mas como sugestões concretas de quem te estima, quer o teu bem e se sente na obrigação de tentar corresponder à confiança que depositas.



[1] Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa


Evangelho: Jo 15. 26 – 16 4

26 Quando, porém, vier o Paráclito, que Eu vos enviarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim.
16, 4 Ora Eu disse-vos estas coisas para que, quando chegar esse tempo, vos lembreis de que vo-las disse. Não vos disse isto, porém, desde o princípio, porque estava convosco.

Comentário:

Este trecho do Evangelho, à primeira vista, termina de forma algo enigmática. Porém, se atentarmos na realidade concreta podemos entender.
Estando Jesus fisicamente presente junto dos Seus discípulos não era necessário mais nada para que acreditassem nele, exactamente porque O viam e viam as Suas obras e ouviam as Suas palavras.
Quando, porém, Cristo Se ausentar fisicamente as coisas serão muito diferentes e todos irão precisar de uma fé forte e inamovível para permanecerem fiéis ao Mestre.
Esta Fé terá de ser alimentada e esclarecida pelo Espírito Santo, o Senhor que dá a Vida em plenitude e confirma a Verdade da Mensagem de Jesus Cristo, o Amor do Pai e a Esperança na Vida Eterna.

(ama, comentário sobre Jo 15, 26; 16, 4, 2013.05.06)



Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES


LIVRO DÉCIMO-TERCEIRO

CAPÍTULO XIV

Esperança

Também eu pergunto: “Onde estás, meu Deus? Onde estás?” – Respiro um pouco de ti quando a minha alma se expande dentro de mim mesmo em gritos de exaltação e de louvor, verdadeiro canto de festa. – Mas ela ainda está triste, porque torna a cair e a ser abismo, ou melhor, porque sente que ainda é abismo.

A minha fé, que tu acendeste à noite para conduzir os meus passos, diz-lhe: “Por que estás triste, ò minha alma, e por que me perturbas? Espera no Senhor. O Seu Verbo é uma lâmpada para os teus passos. Espera, persevera, até que a noite passe, a noite, mãe dos iníquos, até que passe a ira do Senhor, ira da qual outrora fomos filhos quando éramos trevas”. – Dessas trevas ainda arrastamos os restos neste corpo morto pelo pecado, até que alvoreça o dia e se dissipem as sombras. Espera no Senhor. Desde a manhã estarei diante deles, e o contemplarei, e o louvarei eternamente. Desde a manhã estarei diante dele e verei a salvação da minha face, meu Deus, que vivificará os nossos corpos mortais pelo seu Espírito que habita em nós, misericordiosamente levado por sobre as águas tenebrosas das nossas almas.

Por isso, na nossa peregrinação, recebemos dele o penhor de já sermos luz; ele já nos salvou pela esperança e, de filhos da noite e das trevas que éramos, ele fez filhos da luz e do dia.

Na incerteza da ciência humana, só tu és capaz de distinguir entre uns e outros, porque pões os nossos corações à prova e chamas à luz dia e às trevas noite. Quem, senão tu, sabe distinguir-nos? E que temos nós que não o tenhamos recebido de ti? Nós, feitos vasos de honra, fomos feitos da mesma argila que serviu para fazer os vasos de ignomínia.

CAPÍTULO XV

Símbolos

E quem, senão tu, nosso Deus, estendeu sobre nós um firmamento de autoridade, da tua divina Escritura? O céu se dobrará como um livro, e agora estende-se sobre nós como um pergaminho. Mais sublime é a autoridade de que goza a tua divina Escritura depois que morreram aqueles por cujo intermédio no-las comunicaste. E sabes, Senhor, sabes como cobriste de peles os homens, quando o pecado os tornou mortais. Por isso estendeste como um pergaminho o firmamento do teu Livro, e as tuas palavras em tudo concordes, que dispuseste sobre nós pelo ministério de homens mortais. Pela sua morte, a autoridade das tuas palavras, por eles divulgadas, desdobra a sua força sobre tudo o que existe em baixo; ela não se erguia tão alto enquanto eles viviam. É que ainda não tinhas desenrolado o céu como um pergaminho, nem tinhas ainda difundido a glória da sua morte por toda parte.

Senhor, faz com que contemplemos os céus, obra das tuas mãos! Dissipa dos e nossos olhares as nuvens com que os tens velado. Neles está o teu testemunho, dando sabedoria aos humildes. Meu Deus completa o teu louvor pela boca dos meninos que ainda mamam! Não conhecemos outros livros que assim destruam a soberba, e que abatam tão bem o inimigo que resiste a toda a reconciliação contigo, e defende os seus pecados. Não, Senhor, não conheci outras palavras tão puras, que tantos me persuadissem à confissão, e sujeitassem a minha mente ao teu jugo, convidando-me a servir-te tão desinteressadamente. Oxalá eu as compreenda, bondoso Pai!

Concede esta graça à minha submissão, pois firmaste-as para os corações submissos.

Há outras águas, creio eu, sobre esse firmamento: águas imortais e isentas da corrupção terrena. Que elas louvem o teu nome! Que os povos celestes dos teus anjos te bendigam, pois não têm necessidade de olhar esse firmamento, nem de ler para aprenderem a conhecer a tua palavra!

Eles veem sempre a tua face, e ali leem, sem as sílabas transitórias, o objecto da tua vontade eterna.

Leem, escolhem, amam. Leem perpetuamente, e o que eles leem jamais fenece; escolhendo e amando, leem a tua imutável vontade. O teu códice jamais se fecha, jamais se enrola, porque tu mesmo és eternamente esse livro; tu os estabeleceste acima deste firmamento, levantado por ti acima da fraqueza dos povos da terra, para que estes, olhando-o, reconheçam a tua misericórdia, que te anuncia no tempo, tu criador do tempo. A tua misericórdia está no céu, e a tua verdade eleva-se até às nuvens. As nuvens passam, mas o céu permanece. Os que pregam a tua palavra passam para uma outra vida, mas a tua Escritura estende-se sobre os povos até o fim dos séculos.

O céu e a terra passarão, mas as tuas palavras não passarão. O pergaminho será enrolado, e a erva sobre o qual se estendia passará com o seu esplendor, mas a tua palavra permanecerá eternamente. Agora ela aparece-nos no enigma das nuvens e através do espelho dos céus, e não como é na realidade, porque ainda não se manifestou o que havemos de ser, apesar de amados pelo teu filho. Ele olhou-nos através da teia da sua carne e acariciou-nos, e inflamou-nos de amor, e corremos atrás da sua fragrância. Mas quando ele aparecer seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. Vê-lo tal qual é será a nossa felicidade, mas nós ainda não o podemos contemplar.

CAPÍTULO XVI

Deus, fonte de luz

Assim como só tu existes plenamente, só tu possuis o conhecimento absoluto: imutável, com efeito, és no teu ser, imutável no teu saber, imutável na tua vontade. A tua essência sabe e quer imutavelmente, a tua ciência é e quer imutavelmente, a tua vontade é e sabe imutavelmente.

Não é justo a teus olhos que a luz imutável seja conhecida pelo ser mutável, que ela ilumina, como ela se conhece a si própria. Por isso, a minha alma é para ti como terra sem água, porque assim como não se pode iluminar a si mesma, não se pode saciar por seus próprios meios. Porque em ti está a fonte da vida, e graças à tua luz é que veremos a luz.

CAPÍTULO XVII

As águas amargas

Quem reuniu num só mar as águas amargas? O seu objectivo é o mesmo: uma felicidade temporal, terrena, alvo de todas as suas acções a despeito da grande diversidade de cuidados que as agitam. Quem, senão tu, Senhor, poderia dizer a essas águas que se reunissem num só lugar, e à terra enxuta que aparecesse, sedenta de ti? O mar é teu, pois tu o fizeste, e as tuas mãos formaram a terra enxuta. Não é à amargura das vontades mas à reunião das águas que chamamos mar. Também refreias as paixões más das almas e fixas os limites até onde permites que avancem as águas, para que as suas ondas se quebrem sobre si mesmas; e assim, crias o mar, submetido ao teu poder universal.

As almas sedentas de ti, que aparecem aos teus olhos separadas do mar com outra finalidade, tu as regas com um orvalho vivo, misterioso e doce, para que a terra produza seu fruto.

E a terra o produz; ao teu comando, ó Senhor que és seu Deus, nossa alma germina obras de misericórdia, de acordo com a sua condição: ela ama o próximo e vai em auxílio das suas necessidades materiais. Carrega em si a semente da compaixão, por uma semelhança de natureza, porque é o sentimento da nossa fraqueza que nos leva a compadecer das misérias dos que são necessitados, a socorrê-los, como desejaríamos que nos socorressem se tivéssemos as mesmas necessidades. E não se trata só de dar apoio fácil, como ervas nascidas de sementes, mas de protecção enérgica, vigorosa como a árvore que carrega frutos, símbolos das obras que arrebatam à mão do poderoso a vítima da injustiça, dando-lhe um abrigo à sombra protetora de um julgamento justo.

CAPÍTULO XVIII

Meditação

Senhor, assim como crias e concedes alegria e força, assim te peço que nasça da terra a vontade, e que a justiça lance os olhos sobre nós do alto dos céus, e que no firmamento brilhem os astros! Dividamos o nosso pão com quem tem fome, acolhamos em nossa casa o pobre sem teto, vistamos quem está nu, e não desprezemos os nossos semelhantes! Quando tais frutos nascem da nossa terra, olha, Senhor, e diz: Isso é bom; faz com que a tua luz brilho no momento oportuno. Por esta humilde messe de boas obras, faz que nos possamos elevar a uma contemplação deliciosa do Verbo da Vida, e que brilhemos no mundo como astros, fixados no firmamento da tua Escritura.

E aí, de facto, que nos ensinas a distinguir entre as realidades inteligíveis e as sensíveis, entre as almas espirituais e as almas que se entregam aos sentidos, como entre o dia e a noite.

Deste modo já não és mais o único, no segredo do teu discernimento, como eras antes da criação do firmamento, a distinguir entre a luz e as trevas. Também as tuas criaturas espirituais, dispostas e ordenadas nesse mesmo firmamento, depois que a tua graça se manifestou através do mundo, brilham sobre a terra, separam o dia da noite e marcam as diferenças dos tempos. De facto, as coisas antigas passaram, e eis que se fizeram novas, a nossa salvação está mais próxima do que quando começamos a crer, a noite avançou e aproximou-se o dia, coroas o ano com tua bênção, envias os teus operários à tua messe, semeada pelo trabalho de outros operários, enviando-os também para outra sementeira, cuja messe será colhida no fim dos séculos.

Assim ouves as preces do justo e abençoas os seus anos. Mas continuas eternamente o mesmo, e nos teus anos, que não terão fim, preparas um celeiro para os anos que passam.

Por desígnio eterno, lanças sobre a terra os bens do céu no tempo oportuno; a um, teu Espírito dá a palavra de sabedoria, luminar maior para os que encontram o seu deleite na luz de uma verdade clara como o raiar do dia; a outro dás, pelo mesmo Espírito, a palavra de ciência, luminar menor; a outro a fé; a outro o poder de curar; a outro o dom dos milagres; a outro a graça da profecia; a este o discernimento dos espíritos, àquele o dom de línguas. E todos esses dons são como estrelas, são obra de um só e mesmo Espírito, que reparte a cada um os seus dons como lhe agrada, e que faz aparecer tais astros para o bem comum.

Mas a palavra de ciência em que estão encerrados todos os mistérios, que variam com o tempo, como varia a lua, e os outros dons que mencionei ao compará-los com as estrelas, diferem a tal ponto desse brilho de sabedoria de que goza o raiar do dia, que não passam de crepúsculo.

Contudo, os teus dons são necessários àqueles homens, a quem o teu prudente servidor não pôde dirigir como a espirituais, mas como a carnais, ele que pregou a Sabedoria entre os perfeitos.

Quanto ao homem carnal, semelhante a um menino em Cristo, que só se alimenta de leite, que não se julgue abandonado na sua noite, que saiba contentar-se com a luz da lua e das estrelas, até que possa tomar alimento sólido e olhar para o sol. Eis o que nos ensinas na tua sabedoria, nosso Deus, no teu livro, que é o teu firmamento, para que distingamos todas as coisas em contemplação admirável, embora ainda estejamos sob a lei dos sinais, dos tempos, dos dias e dos anos.

(Revisão de versão portuguesa por ama)