Novo Testamento
Evangelho
Lc XI, 33-54
A lâmpada
33
«Ninguém acende uma candeia, para a colocar num lugar escondido ou debaixo do
alqueire; mas coloca-a no candelabro, para que vejam a luz aqueles que entram.
34 A candeia do teu corpo são os teus olhos. Se os teus olhos estiverem sãos,
todo o teu corpo estará iluminado; mas se estiverem em mau estado, o teu corpo
estará em trevas. 35 Examina, pois, se a luz que há em ti não é escuridão. 36
Se todo o teu corpo está iluminado, não tendo parte alguma tenebrosa, todo ele
será luminoso, como quando a candeia te ilumina com o seu fulgor.»
A censura dos fariseus
37
Mal Jesus tinha acabado de falar, um fariseu convidou-o para almoçar na sua
casa; Ele entrou e pôs-se à mesa. 38 O fariseu admirou-se de que Ele não se
tivesse lavado antes da refeição. 39 O Senhor disse-lhe: «Vós, os fariseus,
limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de
rapina e de maldade. 40 Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o
interior? 41 Antes, dai esmola do que possuís, e para vós tudo ficará limpo. 42 Mas ai de vós, fariseus, que pagais
o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e o
amor de Deus! Estas eram as coisas que devíeis praticar, sem omitir aquelas. 43
Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas e de ser
cumprimentados nas praças! 44 Ai de vós, porque sois como os túmulos, que não
se vêem e sobre os quais as pessoas passam sem se aperceberem!»
Jesus censura os doutores
45
Um doutor da Lei tomou a palavra e disse-lhe: «Mestre, falando assim, também
nos insultas a nós.» 46 Mas Ele respondeu: «Ai de vós, também, doutores da Lei,
porque carregais os homens com fardos insuportáveis e nem sequer com um dedo
tocais nesses fardos! 47 Ai de vós, que edificais os túmulos dos profetas,
quando os vossos pais é que os mataram! 48 Assim, dais testemunho e aprovação
aos actos dos vossos pais, porque eles mataram-nos e vós edificais-lhes
sepulcros. 49 Por isso mesmo é que a Sabedoria de Deus disse: ‘Hei-de
enviar-lhes profetas e apóstolos, a alguns dos quais darão a morte e a outros
perseguirão, 50 a fim de que se peça contas a esta geração do sangue de todos
os profetas, derramado desde a criação do mundo, 51 desde o sangue de Abel até
ao sangue de Zacarias, que pereceu entre o altar e o santuário.’ Sim, Eu vo-lo
digo, serão pedidas contas a esta geração. 52 Ai de vós, doutores da Lei,
porque vos apoderastes da chave da ciência: vós próprios não entrastes e impedistes
a entrada àqueles que queriam entrar!» 53 Quando saiu dali os doutores da Lei e
os fariseus começaram a pressioná-lo fortemente com perguntas e a fazê-lo falar
sobre muitos assuntos, 54 armando-lhe ciladas e procurando apanhar-lhe alguma
palavra para o acusarem.
Texto
MENSAGEM DO PAPA JOÃO PAULO II
PARA A QUARESMA DE 1988
Amados irmãos e irmãs em Cristo:
Com alegria e esperança, ao dirigir-vos
esta Mensagem de Quaresma, desejaria exortar-vos à penitência, que produza em
vós os abundantes frutos espirituais de uma vida cristã mais dinâmica e de uma
caridade efectiva.
O tempo da Quaresma, que marca
profundamente a vida de todas as comunidades cristãs, favorece o espírito de
recolhimento, de oração e de escuta da Palavra de Deus; convida a responder
generosamente ao apelo do Senhor expresso pelo Profeta: «Sabeis qual é o jejum
que eu aprecio?.... é repartir o pão com o faminto, dar abrigo aos infelizes
sem tecto... Então invocarás o Senhor e Ele te atenderá, clamarás e Ele dirá:
Eis-Me aqui!» (Is 58, 6.7.9).
A Quaresma de 1988 vai decorrer no
contexto do Ano Mariano, ao aproximar-se o segundo Milénio do nascimento de
Jesus, o Salvador. Contemplando a maternidade divina de Maria, daquela que
trouxe no seu seio o Filho de Deus e rodeou de solicitude especial a infância
de Jesus, apresenta-se ao meu espírito o drama doloroso de muitas mães que vêem
frustradas as suas esperanças e alegrias pela morte prematura dos seus filhos.
Sim, amados Irmãos e Irmãs, peço-vos que
volvais a atenção para este escândalo da mortalidade infantil, cujas vítimas
diariamente se contam às dezenas de milhares. Há crianças que morrem antes de
terem visto a luz do dia, outras não têm senão uma breve e dolorosa existência
encurtada por enfermidades que no entanto, hoje, seria fácil evitar.
Inquéritos sérios mostram que nos países
mais cruelmente provados pela pobreza, é na população infantil que se regista o
maior número de mortes por desidratação aguda, parasitas, água contaminada,
fome, falta de vacinação contra as epidemias e até mesmo por falta de carinho.
Em tais condições de miséria, grande
número de crianças morre prematuramente; outras ficam de tal maneira afectadas,
que o seu desenvolvimento físico e psíquico resta comprometido, a sua própria
sobrevivência se torna precária e encontrar-se-ão numa situação de desvantagem
para terem um lugar na sociedade.
As vítimas desta tragédia são as crianças
que nascem em situações de pobreza, que com muita frequência resultam de
injustiças sociais; e são as famílias que carecem dos meios necessários e que
ficam feridas para sempre pela morte precoce dos seus filhos.
Tenhamos presente aquela resoluta
solicitude com que o Senhor Jesus se quis mostrar solidário com as crianças:
Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles e disse: «Quem receber um menino
como este, em Meu nome, é a Mim que recebe ... », e ordenou-lhes: «Deixai as
criancinhas e não as impeçais de vir a Mim» (cf. Mt 18, 2.5; 19, 14).
Exorto-vos vivamente, neste tempo
litúrgico da Quaresma, a deixar-vos conduzir pelo Espírito de Deus, que pode
quebrar as cadeias do egoísmo e do pecado. Partilhai, em espírito de
solidariedade, com os que menos recursos têm. Dai, não só do que vos sobeja,
mas até mesmo daquilo que talvez vos seja necessário, a fim de apoiar
generosamente todas as actividades e programas da vossa Igreja local; e,
especialmente, fazei-o para assegurar um futuro justo às crianças mais
desprotegidas.
Assim, amados Irmãos e Irmãs em Cristo,
brilhará a vossa Caridade: «Então, vendo as vossas boas obras, todos glorificarão
o vosso Pai, que está nos Céus» (Mt 5, 16).
Que nesta Quaresma, seguindo o exemplo de
Maria, que acompanhou fielmente o seu Filho até à Cruz, se fortifique a nossa
fidelidade ao Senhor e que a nossa vida generosa testemunhe a nossa obediência
aos seus mandamentos!
Abençôo-vos, de todo o coração, em nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amen.
IOANNES PAULUS PP. II
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