10/01/2012

Evangelho do dia e comentário

São Gonçalo de Amarante













T. Comum– I Semana


Evangelho: Mc 1, 21-28

21 Depois foram a Cafarnaum; e Jesus, tendo entrado no sábado na sinagoga, ensinava. 22 Os ouvintes ficavam admirados com a Sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. 23 Na sinagoga estava um homem possesso dum espírito imundo, que começou a gritar: 24 «Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei Quem és, o Santo de Deus». 25 Mas Jesus o ameaçou dizendo: «Cala-te, e sai desse homem!». 26 Então o espírito imundo, agitando-o violentamente e dando um grande grito, saiu dele. 27 Ficaram todos tão admirados, que se interrogavam uns aos outros: «Que é isto? Que nova doutrina é esta? Ele manda com autoridade até nos espíritos imundos, e eles obedecem-Lhe». 28 E divulgou-se logo a Sua fama por toda a região da Galileia.

Comentário:

É bem verdade que para se ensinar, primeiro tem de se aprender e, só se pode fazê-lo, ouvindo quem tem capacidade, conhecimentos e idoneidade para tal.

Todo o cristão tem um papel específico na humanidade que terá de cumprir: fazer apostolado.

Ora, fazer apostolado, não é mais que ensinar aos outros quem é Jesus Cristo para que, conhecendo-o, o possa amar e seguir.

Como não se pode dar o que não se tem há que adquiri-lo primeiro, inteirar-se junto de alguém com conhecimentos e são critério como proceder em cada caso e, nunca, absolutamente, agir livremente com autonomia e “desgarrado”.

Não se pode fazer um “trabalho” de Deus e para Deus, como definitivamente o apostolado deve ser, sem ter a orientação da Igreja e do Magistério que, na pessoa de um director espiritual, nos levará com inteira segurança e sem desvios pelos caminhos correctos.

(ama, comentário sobre Mc 1, 21-28, 2012.12.17)

Livres para construir o futuro 8

Uma fórmula de São Josemaria expressa com eficácia esta ideia: não há dogmas nas coisas temporais [i]. Com isto não pretendia defender uma espécie de «liberalismo cristão», no sentido de separar as actividades seculares – política, ciências, artes... – da fé, que ficaria relegada para a vida de piedade e para a teologia. Nada seria mais contrário ao seu pensamento.

Com grande vigor defendeu sempre, como parte da sua mensagem sobre a santificação do trabalho e das estruturas seculares, que a fé cristã deve iluminar todos os problemas temporais e que o cristão não pode deixar de o ser quando é deputado, médico, arquitecto ou dona de casa, pois tem que santificar a família, o trabalho e o mundo, para os levar para Cristo (entra aqui em jogo o seu conceito fundamental de unidade de vida). Mas isto há-de fazer-se não de um modo fundamentalista, mas em liberdade, sem que as soluções e opções pessoais – iluminadas pela fé – por muito nobres e acertadas que sejam, vinculem de algum modo ou comprometam a Igreja.

© 2011, Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet 2011.07.06


[i] Artigo Las riquezas de la fe, publicado no ABC, Madrid, 2-XI-1969.

Pensamentos inspirados à procura de Deus

À procura de Deus

Em tudo louva.


Em tudo reconhece.


Em tudo agradece.




jma

Leitura Espiritual para 10 Jan 2012


Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemariaCaminho 116)



Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.



  
Para ver texto completo para hoje, clicar abaixo

Confissão, mão estendida em direcção à conversão

O Prelado do Opus Dei respondeu a 3 perguntas colocadas pela agência de notícias Zenit. D. Javier Echevarría vê na luz verde do confessionário uma mão estendida rumo à conversão.

A confissão é uma “mão estendida” em direcção à conversão, e a Eucaristia é o selo da “amizade inigualável” com Jesus. Este foi o centro da entrevista que D. Javier Echevarría, prelado do Opus Dei, concedeu à ZENIT.

ZENIT: Por que a Eucaristia é “o centro e a raiz da vida de todo cristão”?

D. Javier Echevarría: Colocar a Eucaristia no centro da vida cristã significa colocar Jesus no coração de tudo. Na Eucaristia, estamos chamados a entrar no amor trinitário. Fazendo da Santa Missa o centro da nossa vida interior, nós nos unimos a Jesus e, n'Ele, a toda a Igreja, a todos os homens.

Este era o contínuo ensinamento de São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei, que dizia: “Se no centro dos seus pensamentos e das suas esperanças está o tabernáculo, como serão abundantes, meu filho, os frutos de santidade e de apostolado!”. Jesus Eucarístico é o cume do dom de Si à humanidade; portanto, se nos identificamos com Ele, nos transmitirá a mesma vontade de incrementar o dom de nós mesmos e nosso serviço aos outros.

ZENIT: Qual é a importância, no carisma do Opus Dei, da prática da Confissão e da Eucaristia?

D. Javier Echevarría: No espírito do Opus Dei, os sacramentos da Penitência e da Eucaristia têm a importância que têm para a Igreja: como todos os cristãos, tentamos ser pessoas penitentes e eucarísticas, com uma prática frequente da Confissão e a participação diária na Santa Missa.
(...) no sacrário encontra-se a fortaleza, o refúgio mais seguro contra os temores e as inquietações.
O sacramento da Reconciliação está profundamente ligado à Eucaristia. A Confissão pressupõe a consciência de sermos pecadores, com fé na misericórdia divina. Jesus purifica-nos no seu sangue derramado na Cruz por nós, para que o cristão possa participar com mais fidelidade do sacrifício do Calvário, que se faz presente cada dia na Santa Missa.

Ambos os sacramentos culminam a alma de alegria e paz, como com o bom ladrão que, vendo Jesus no Calvário, sentiu-se impelido a reconhecer seus pecados, movido pela contrição e, assim, encontrou a salvação eterna.

Insisto: a Confissão é muito importante na vida do cristão, porque é um sacramento de alegria e é a porta de acesso à paz e à felicidade que estão dentro da Eucaristia.

ZENIT: Que sugestões daria para que as práticas da Confissão e da comunhão fossem mais intensas e generalizadas?

D. Javier Echevarría: A Igreja ensina, desde sempre, que no tabernáculo se encontra a fortaleza, o refúgio mais seguro contra os temores e as inquietudes. Não basta que cada um de nós, individualmente, busque e encontre o Senhor na Eucaristia: devemos conseguir “contagiar”, com o nosso testemunho, o máximo possível de pessoas, para que também elas contemplem e descubram esta amizade inigualável.

A comunhão espiritual é uma grande ajuda na preparação para a comunhão eucarística. Para sermos homens e mulheres conscientes da nossa filiação divina, devemos frequentar Cristo cada vez mais, recebendo-O, se pudermos, todos os dias.

Quanto à Penitência, considero que é muito importante a disponibilidade generosa dos sacerdotes para a escuta das confissões: um confessor disponível, um confessionário “com a luz verde” são uma mão estendida em direcção à conversão.

Sobre este ponto, Bento XVI sugeriu-nos recentemente “seguir o exemplo dos grandes santos da história, de S. João Maria Vianney a S. João Bosco, de S. Josemaria Escrivá a S. Pio de Pietrelcina, de S. José Cafasso a S. Leopoldo Mandic” [i]

ZENIT.org, 2011/09/12


[i] (Discurso aos participantes do curso organizado pela Penitenciaria Apostólica, 2011)

A difícil arte do diálogo 3

Agora bem, na cultura dominante,  o diálogo  é uma palavra “mágica”. Os políticos utilizam este termo constantemente; em muitas ocasiões com uma forte carga de ideologia, que é utilizada para neutralizar o adversário. Mas é evidente que as atitudes de diálogo são vitais nas relações familiares, sociais e eclesiais. Por isso é conveniente que aclaremos: O que é o diálogo? Quais são as suas propriedades e dimensões? Toda a conversação ou recepção de informação é diálogo?

O diálogo é a característica essencial da pessoa, que é “espírito encarnado” e está dotada de razão. A sua estrutura dialogal capacita-o para se abrir aos seus semelhantes e ao próprio Deus. Por isso, podemos definir o diálogo como o acontecimento relacional que tem por objecto a compreensão daquilo sobre o que se conversa, e daquele com quem se conversa. Agora bem, se tudo fosse expressão falada, o diálogo não seria nada. Para que haja colóquio é importante saber “o que se diz”, “como se diz” e “quem diz”. Quer dizer, entram no jogo as dimensões humanas do pensamento, da estética e da ética.

(Mons. João do Rio, trad ama)

A evolução do evolucionismo 10

Há azar na evolução?

Ao lançar uma moeda ao ar, não sai cara ou cruz pelo azar, mas sim devido ao movimento que se deu à moeda, pela resistência do ar e o tipo de superfície sobre que cai: factores que são impossíveis de medir com exactidão. Por isso se fala de jogos de azar. Aristóteles expressou-o de forma insuperável quando disse que "o azar é uma etiqueta para a nossa ignorância". Pode falar-se do azar na linguagem coloquial, mas não na científica, porque a ciência define -precisamente como "conhecimento por causas", e apelar ao azar é uma forma acientífica de prescindir das causas. Talvez, por excepção, poderia surgir, por azar, um órgão de um ser vivo, mas não se pode converter a excepção em lei, como pretendem muitos darwinistas. O azar, na realidade, tem a mesma capacidade explicativa que a geração espontânea. Hoje torna-se risível a ingenuidade que suporia acreditar na geração espontânea, mas é igualmente ingénuo crer no azar.

(jose ramón ayllón, trad. ama)


Cristo diz-me a mim e diz-te a ti que precisa de nós

Textos de São Josemaria Escrivá

Devoção de Natal. – Não sorrio quando te vejo fazer as montanhas de musgo do Presépio e dispor as ingénuas figuras de barro em volta da gruta. – Nunca me pareceste mais homem do que agora, que pareces uma criança. (Caminho, 557)

Quando chega o Natal, gosto de contemplar as imagens do Menino Jesus. Essas figuras que nos mostram o Senhor tão apoucado, recordam-me que Deus nos chama, que o Omnipotente Se quis apresentar desvalido, quis necessitar dos homens. Do berço de Belém, Cristo diz-me a mim e diz-te a ti que precisa de nós; reclama de nós uma vida cristã sem hesitações, uma vida de entrega, de trabalho, de alegria.
Não conseguiremos jamais o verdadeiro bom humor se não imitarmos deveras Jesus, se não formos humildes como Ele. Insistirei de novo: vedes onde se oculta a grandeza de Deus? Num presépio, nuns paninhos, numa gruta. A eficácia redentora das nossas vidas só se pode dar com humildade, deixando de pensar em nós mesmos e sentindo a responsabilidade de ajudar os outros.
É corrente, às vezes até entre almas boas, criar conflitos íntimos, que chegam a produzir sérias preocupações, mas que carecem de qualquer base objectiva. A sua origem está na falta de conhecimento próprio, que conduz à soberba: o desejo de se tornarem o centro da atenção e da estima de todos, a preocupação de não ficarem mal, de não se resignarem a fazer o bem e desaparecerem, a ânsia da segurança pessoal... E assim, muitas almas que poderiam gozar de uma paz extraordinária, que poderiam saborear um imenso júbilo, por orgulho e presunção tornam-se desgraçadas e infecundas!
Cristo foi humilde de coração. Ao longo da sua vida, não quis para Si nenhuma coisa especial, nenhum privilégio. (Cristo que passa, 18)

© Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet

Tratado De Deo Trino 56

Art. 8 – Se os nomes essenciais são convenientemente atribuídos ou apropriados às Pessoas pelos santos doutores.

(I Sent., dist. XIV, exposit. litt.; dist. XXXI, q. 2, a. 1; q. 3, a. 1; dist. XXXIV, q. 2; dist. XXXVII q. 1, a. 3, ad 5; De Verit., q. 1, a. 7; a. 3; ad Rom., cap. XI, lect. V; II ad Cor., cap. XIII, lect. III).

O oitavo discute-se assim. – Parece que os nomes essenciais são inconvenientemente atribuídos ou apropriados às Pessoas pelos santos Doutores.

1. – Pois, Hilário diz: A eternidade está no Pai; a beleza, na Imagem; o uso, no Dom [1]. Com cujas palavras introduz três nomes próprios das Pessoas, a saber: o de Pai, o de Imagem, próprio ao Filho, como se disse [2]; e o de Dom, próprio ao Espírito Santo, como se demonstrou [3]. E introduz também três apropriados; pois, a eternidade a apropria ao Pai; a beleza, ao Filho; o uso, ao Espírito Santo. E parece que irracionalmente. Porque a eternidade implica a duração da existência; a beleza, por seu lado, é o princípio do existir; e o uso respeita à operação. Ora, a essência e a operação não vemos que sejam apropriadas a nenhuma das Pessoas. Logo, parecem inconvenientes estes apropriados às Pessoas.

2. Demais. – Diz Agostinho: No Pai está a unidade; no Filho, a igualdade; no Espírito Santo, a combinação da unidade e da igualdade [4]. E parece que inconvenientemente. Pois, uma Pessoa não é formalmente denominada por aquilo que se apropria a outra; assim, o Pai não é sábio por sabedoria gerada, como se disse [5]. Mas no mesmo lugar acrescenta: Todas essas três coisas são uma só por causa do Pai; todas iguais, por causa do Filho; todas conexas, por causa do Espírito Santo. Logo, não se apropriam convenientemente às Pessoas.

3. Ainda. – Segundo Agostinho, ao Pai se atribui o poder; ao Filho, a sabedoria; ao Espírito Santo, a bondade [6]. Mas, isto parece inadmissível. Assim, a virtude é própria do poder; e, entretanto, a Escritura a considera propriedade do Filho, quando diz (1 Cor 1, 24): Cristo, virtude de Deus; e também do Espírito Santo, segundo o lugar (Lc 6, 19): Saía dele uma virtude que curava a todos. Logo, o poder não deve ser apropriado ao Pai.

4. Ainda. – Agostinho diz: Não se devem compreender indiscriminadamente as palavras do Apóstolo – dele, por ele e nele, pois, diz – dele, por causa do Pai; por ele, por causa do Filho; nele, por causa do Espírito Santo [7]. Mas isto parece inconvenientemente dito. Pois, o dizer – nele – parece importar a relação de causa final, que é a primeira das causas. Logo, essa relação causal deveria ser apropriada ao Pai, que é princípio sem princípio.

5. Ainda. – A verdade aparece na Escritura como apropriada ao Filho (Jo 16, 6): Eu sou o caminho e a verdade e a vida. E semelhantemente, o livro da vida, segundo o salmo (Sl 39, 8): Na cabeceira do livro está escrito de mim; o que a Glosa comenta: i. e, junto do Pai, que é a minha cabeça. Do mesmo modo, a expressão – Aquele que é; pois, aquilo da Escritura (Is 65, 1) – Eu me dirijo às nações, diz a Glosa: Fala o Filho, que disse a Moisés: Eu sou quem sou. Ora, parece que esses atributos são considerados próprios ao Filho e não, apropriados. Pois a verdade, segundo Agostinho, é a suma semelhança do princípio, sem nenhuma dissemelhança [8]; e portanto parece que propriamente convém ao Filho, que tem princípio. Também o ser livro da vida parece-lhe próprio, por signi­ficar um ser, de outro, porque todo livro é es­crito por alguém. E enfim, a expressão – Que é – parece própria ao Filho. Porque, se pelas palavras de Moisés – Eu sou quem sou – é a Trindade quem fala, ele poderia também ter dito: Aquele que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo mandou-me para vós. Logo, também a seguir poderia dizer: Aquele que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo mandou-me para vós, declarando uma Pessoa certa. Ora, isto é falso, pois nenhuma Pessoa é Pai e Filho e Espírito Santo. Logo, não pode a referida expressão ser comum à Trindade, mas é própria do Filho.

O nosso intelecto, que parte das criaturas para chegar ao conhecimento de Deus, deve considerá-lo do modo pelo qual as considera. Ora, o exame de qualquer criatura faz­nos descobrir nelas quatro coisas, na ordem seguinte. Primeira, que, considerada absolutamente, é um ser. Segunda, que se manifesta como uma. Terceira, que é dotada de virtude operativa e causal. Quarta, que tem relação com os seus efeitos. Donde o aplicarmos a Deus essa quádrupla consideração.

Por onde, se do primeiro modo considerar­mos Deus absolutamente, no seu ser mesmo, então a apropriação de Hilário significa que a eternidade é apropriada ao Pai; a beleza ao Filho; o uso, ao Espírito Santo.A beleza ou especiosidade tem semelhança com os próprios do Filho. 




Pois, a beleza exige três condições. Primeiro, a integridade ou perfeição; donde vem, que coisas mesquinhas são por isso mesmo feias. Segundo, a proporção devida ou consonância. E, por fim, o esplendor, que nos leva a chamarmos belas às coisas de colorido brilhante. – Ora, pela primeira condição, a beleza tem semelhança com a propriedade do Filho, por trazer o Filho em si, verdadeira e perfeitamente, a natureza do Pai. Por isso, Agostinho, indicando-o, diz na sua exposição: Em quem, i. e, no Filho, está à suma e primeira vida, etc [9]. Pela segunda ela convém com a propriedade do Filho, como imagem expressa do Pai. Por isso chamamos bela à imagem, que representa perfeitamente o seu objecto, embora feio. Ao que alude Agostinho quando diz: Em quem há tão grande conveniência, e a primeira igualdade, etc. [10]. Finalmente, pela terceira, convém com a propriedade do Filho, enquanto Verbo, que é a luz e esplendor do intelecto, no dizer de Damasceno [11]. E a isto alude Agostinho, quando diz: Como Verbo perfeito a quem nada falta, e como arte de Deus omnipotente, etc [12].

Pois eternidade, enquanto significa o ser não principiado, tem semelhança com a propriedade do Pai, de ser princípio sem princípio.



Quanto ao uso, ele tem semelhança com as propriedades do Espírito Santo, tomando-se, o uso em sentido lato, segundo o qual usar compreende em si também o gozar; pois, usar é submeter alguma coisa ao império da nossa vontade; e gozar é usar com prazer, como diz Agostinho [13]. Ora, o uso pelo qual o Pai e o Filho mutuamente se gozam convém com a propriedade do Espírito Santo, enquanto Amor. E a isso se refere Agostinho: Aquela dilecção, aquele prazer, aquela felicidade ou beatitude é chamada uso por ele [14]. Quanto ao uso, pelo qual gozamos de Deus, ele tem semelhança com a propriedade do Espírito Santo, enquanto Dom. E isso o mostra Agostinho quando diz: Na Trindade é o Espírito Santo a suavidade do Gerador e do Gerado, derramando-se sobre nós com grande largueza e fertilidade [15].

Por onde, é claro que a eternidade, a especiosidade e o uso se atribuem ou apropriam às Pessoas; não porém a essência ou a operação. Porque, sendo por natureza comum, não têm nenhuma semelhança com as propriedades das Pessoas.

Pela segunda consideração, vemos que Deus é uno. E assim, Agostinho apropria a unidade ao Pai; a igualdade, ao Filho; a concórdia ou o nexo, ao Espírito Santo. O que tudo manifestamente importa a unidade, mas de modo diferente. Assim, a unidade tem sentido absoluto, nada mais pressupondo. Por isso se apropria ao Pai que não pressupõe nenhuma outra pessoa, por ser princípio sem princípio. Porém a igualdade importa a unidade em relação a outro ser; pois, é igual a outro o ser que tem a mesma quantidade que ele. Por isso a igualdade se apropria ao Filho, princípio com princípio. O nexo, enfim, implica unidade de dois seres. Por isso se apropria ao Espírito Santo, enquanto o Espírito Santo procede das duas Pessoas.

Por onde também podemos entender o dito de Agostinho, que os três são um, por causa do Pai; iguais, por causa do Filho; conexos, por causa do Espírito Santo. Pois, é claro que uma atribuição pertence primariamente ao ser ao qual primeiro convém; assim, dizemos que todos os seres inferiores vivem, pela alma vegetativa, na qual primeiramente se encontra a essência da vida deles. A unidade, por seu lado, imediatamente existe na Pessoa do Pai, mesmo se, por impossível, fossem removidas as outras Pessoas. Por isso as outras Pessoas recebem do Pai a unidade. Mas, removidas elas, não existe no Pai a igualdade, a qual imediatamente aparece, reposto o Filho. Por isso, todos se consideram iguais por causa do Filho; não que o Filho seja princípio da igualdade do Pai; mas que, se não fosse o Filho igual ao Pai, este não poderia chamar-se igual. Pois, a sua igualdade é primeiramente considerada em relação ao Filho; assim, mesmo o ser o Espírito Santo igual ao Pai vem do Filho. Semelhantemente, excluído o Espírito Santo, nexo das outras duas Pessoas, não poderíamos compreender a unidade de ligação entre o Pai e o Filho. Por isso que são conexos pelo Espírito Santo; pois, posto o Espírito Santo, compreendemos porque o Pai e o Filho podem chamar-se conexos.

Segundo, porém, o terceiro ponto de vista, pelo qual consideramos em Deus a virtude suficiente para causar, tem lugar uma terceira apropriação, a saber, a do poder, da sabedoria e da bondade. Essa apropriação se funda na ideia de semelhança, se levarmos em conta a reali­dade das divinas pessoas; e na ideia de dissemelhança, se levarmos em conta a realidade das criaturas. Assim, o poder tem a natureza de princípio, e por isso tem semelhança com o Pai celeste, princípio de toda divindade. Mas falta, por vezes, ao pai humano, por causa da velhice. A sabedoria, por sua vez, tem semelhança com o Filho celeste, como Verbo, que nada mais é do que o conceito da sabedoria. Falta, porém, às vezes aos filhos dos homens, quando ainda em tenra idade. Por fim, a bon­dade, razão e objecto do amor, têm semelhança com o Espírito divino, que é Amor. Mas parece repugnar ao espírito terreno, por importar um certo impulso violento, conforme diz a Escritura (Is 25, 4): O espírito dos robustos é como um torvelinho que impele uma parede. Quanto à virtude, ela apropria-se ao Filho e ao Espírito Santo, não no sentido em que chamamos virtude à potência mesma de um ser, mas no sentido em que às vezes chamamos virtude ao que resulta da potência desse ser, quando dizemos que um ato virtuoso é a virtude de um agente.

Finalmente, o quarto ponto de vista, pelo qual consideramos a Deus em relação aos seus efeitos, tem lugar a apropriação de quem, por quem e em quem. Pois, a preposição de importa por vezes a relação de causa material, o que não é possível em Deus. Outras vezes, porém, importa relação de causa eficiente; a qual convém a Deus em razão da sua potência activa; e por isso se apropria ao pai, do mesmo modo que a potência. Quanto à preposição por, ela designa às vezes a causa média (instrumental), como quando dizemos que o ferreiro trabalha por meio do martelo. E assim, às vezes a preposição por não é um apropriado, mas próprio do Filho, segundo aquilo da Escritura (Jo 1, 3): Todas as coisas foram feitas por ele; não que o Filho seja instrumento, mas por ser em si princípio com princípio. Outras vezes, porém, a preposição por designa uma relação de forma pela qual o agente opera; como quando dizemos que o artífice opera pela arte. Por onde, como a sabedoria e a arte se apropriam ao Filho, assim também a locução por quem. Enfim, a preposição em denota propriamente a relação de continente. Ora, Deus contém as coisas de duplo modo. De um modo, pelas semelhanças delas; no sentido em que dizemos que as coisas estão em Deus por estarem na ciência dele. E assim a locução – nele mesmo, deve apropriar-se ao Filho. Mas, de outro modo, as coisas estão contidas em Deus, enquanto Deus pela sua bondade as conserva e governa, conduzindo-as ao fim conveniente. E assim a locução em quem se apropria, como a bondade, ao Espírito Santo. Nem é necessário, que a relação de causa final, embora seja esta causa a primeira das causas, se aproprie ao Pai, princípio sem princípio. Porque as Pessoas divinas, das quais o Pai é o princípio, não procedem como tendendo a um fim, pois cada uma delas é o último fim; mas por uma processão natural, considerada como pertencente essencialmente, antes, à potência na­tural.

Quanto ao que se objecta, concernente a outros pontos, devemos responder, que a verdade, pertencendo ao intelecto, como já vimos [16], apropria-se ao Filho, embora não lhe seja própria. Pois a verdade, como dissemos [17], pode ser considerada em relação ao intelecto ou ao objecto. Pois, assim como o intelecto e o objecto, essencialmente considerados, são realidades essenciais e não pessoais, assim também a verdade. Ora; a definição aduzida de Agostinho, é da verdade enquanto apropriada ao Filho. Quanto ao livro da vida, ele importa directamente o conhecimento; mas, indirectamente, a vida, pois é, como dissemos [18], o conhecimento que Deus tem dos que devem alcançar a vida eterna. Por isso se apropria ao Filho, embora a vida se aproprie ao Espírito Santo, por importar um certo movimento interior, convindo assim com o próprio do Espírito Santo, como Amor. Mas ser escrito por outro não é da essência do livro, como tal, mas enquanto produto da arte. Por isso não implica origem, nem é nada de pessoal, mas, apropriado à Pessoa. Quanto à expressão – Que é, ela é apropriada à Pessoa do Filho, não na noção própria dessa expressão, mas como adjunto; a saber, enquanto a fala de Deus a Moisés prefigurava a liberdade do género humano, operada pelo Filho. Contudo, tomado relativamente, poderia referir-se, às vezes, à Pessoa do Filho e então seria tomado em sentido pessoal como por exemplo, se disséssemos: O Filho é o gerado que é, do mesmo modo que o Deus gerado é pessoal. Mas tomado como indefinido, o sentido é essencial. Embora o pronome – este, gramaticalmente falando, diga respeito a uma pessoa certa, todavia qualquer coisa susceptível de designação pode, gramaticalmente falando, ser designada por esse pronome, se bem não seja, por natureza, pessoa; assim, dizemos esta pedra e este asno. Por onde, a essência divina, gramaticalmente falando, enquanto significa e suposta pelo nome de Deus, pode ser designada pelo pronome este, conforme a Escritura (Ex 15, 2): Este é o meu Deus e eu o glorificarei.

SÃO TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica,



[1] II de Trin., num. 1.
[2] Q. 35, a. 2
[3] Q. 38, a. 2
[4] I De Doctr. Christ., c.5.
[5] Q. 39, a. 7 ad 2; q. 37, a. 2, arg. 1.
[6] Vide Hug. De S. Vict., de Sacram., l. I, p. II, c. 6, 8.
[7] De Trin., L. VI, c. 10.
[8] De Vera Religione, c. 36.
[9] De Trin., l, VI, c. 10.
[10] De Trin., l, VI, c. 10.
[11] De Fide Orth., l. 1, c. 13.
[12] Loco prox. Cit., 3.
[13] X de Trin., c. 11.
[14] De Trin., l. VI, c. 10.
[15] Loco proxime cit.
[16] Q. 16, a. 1.
[17] Q. 16, a. 1.
[18] Q. 24, a. 1.