04/06/2022

Publicações em Junho 4



 

Dentro do Evangelho –  (cfr: São Josemaria, Sulco 253)

EVANGELHO - Lc X, 25-37

 

«Estava junto do mar, quando chega um dos príncipes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, cai-lhe aos pés e suplica-lhe instantemente, dizendo: A minha filhinha está em agonia, Vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva! E foi com ele.»  (Mc V, 20-25)

 

Personagem

 

Presente no julgamento 

Sem dúvida que o porto é o seio de Deus, fim de todo o homem: A Eternidade! No cais desse porto, Ele estará à minha espera com o grande livro nas mãos. Ao lado está presente o Anjo que designou para ser o “meu Guarda”; ele sabe qual era a vontade do meu Criador a meu respeito, o que desejava que fizesse para navegar no rumo que tinha traçado para mim. Ao lado do Juiz, está atentíssimo ao folhear das páginas, preparado para intervir, sempre em meu favor, nalguma passagem mais crítica ou delicada, apressar-se-á a explicar que as circunstâncias, o mar revolto, as ondas e os ventos, o ambiente, as debilidades pessoais, talvez tenham contribuído para o meu navegar por vezes incerto, errático. Nesse livro está toda a minha vida, desde que nasci até a esse derradeiro momento da minha partida. É um registo fiel e rigoroso onde tudo, absolutamente, se descreve. Em primeiro lugar deverá constar a “expectativa” do Criador a meu respeito: ‘Desde o início do mundo, pensei em ti e criei-te para seres… Depois virá uma lista, rigorosa, completa de tudo quanto me deu para conseguir corresponder a essas “expectativas”. É uma lista longa, que, constato talvez com espanto, cobre todos os dias da minha vida. Diariamente fui recebendo dons, graças, inspirações, sentimentos que se destinaram a ajudar-me em cada momento a caminhar nesse sentido. Logo no início, deverão descrever-se os talentos que recebi, que Ele, com Infinita Bondade, inseriu na minha alma no momento em que fui concebido. Depois virá um rol exaustivo das graças iniciais que me foram conce-didas: O ambiente cristão em que nasci, a educação que os meus pais me proporcionaram, o exemplo que me deram: Assim como que uma espécie de “handicap” que mefoi concedido em relação a tantos – muitos – outros que não tiveram nada disso ou tiveram muito menos.   Aqui sobressai a graça do Baptismo que me integrou na Sua Santa Igreja e onde, perante o mundo, me foi dado o nome pelo qual Ele próprio, me chamou desde o início da criação. Constará, decerto, a primeira vez que me dirigi à Sua Santíssima Mãe, a primeira Ave-Maria que, pacientemente, a minha mãe me ensinou a balbuciar.

Com cores muito vivas estará patente o retracto da minha alma inocente, branca, pura, impecável na festa do meu primeiro encontro com Ele, quando O recebi pela primeira vez. Também consta o momento em que me tornei Seu “soldado” com a descrição das graças que em mim infundiu o Espírito Santo.  A partir destas páginas iniciais abre-se um segundo capítulo que cobre toda a minha juventude. Minuciosamente passa em revista, ponto por ponto, tudo o que se passou conmigo nesse período. Não nos lembrava nem de uma pequena parte e, no entanto, está tudo ali cuidadosamente registado. Talvez surja um “apontamento” referente a uma insinuação que me fez acerca da minha vocação e, claro, a minha resposta. Esta referência há-de aparecer mais vezes ao longo das páginas deste capítulo e, também, em cada caso, a resposta que então demos: ‘Sim, aqui estou’! ‘Sim, mas…’; ‘Agora… não’!; ‘Não! Nem pensar em tal coisa’! Fico muito admirado porque não me lembrava de quantas vezes tínha ouvido a pergunta, escutado o desafio: ‘Vem comigo. Segue-me!’ E os entusiasmos passageiros, os desejos de corresponder logo sufocados e os projectos de mudança por concretizar… tantas oportunidades não aproveitadas e para sempre perdidas! As mãos divinas folheiam agora o grande capítulo da minha vida adulta. Desejaría que algumas passagens, talvez páginas inteiras, não estivessem ali, mas… estão! Deve ser aqui que “o meu Guarda” mais intervém, quase sempre para confirmar: ‘Mas… arrependeu-se, pediu perdão’… ‘Sim – dirá Cristo – é verdade, foi perdoado e o assunto esquecido, mas… consta aquiquod scripsi, scripsi’.  E, o Senhor, passa adiante... sinto como que um “aperto” no peito ao constatar os pequenos traços vermelhos com que o Juiz vai sublinhando passagens do livro; às vezes páginas inteiras. Traços vermelhos!

Não auguram nada de bom!…

Morri’!!!

Sonhei com a minha morte e, de certa forma bizarra, percebi que estava a ficar preocupado com algo que, sei, vai acontecer: o “interrogatório” que o Senhor me fará! O que vou responder? Como vou responder? Penso que poderia usar um pequeno (grande) “truque” e usar as palavras de Pedro: «Tu, Senhor, Tu sabes tudo! Porque me interrogas?». Mas, talvez, Ele vá insistir em obter respostas concretas. Tenho ali, a meu lado, o meu Anjo da Guarda e olho para ele num apelo mudo e um pouco aflito. Inclina-se sobre o meu ombro e segreda-me: ‘Ne timeas…’ Assim, de repente, penso que isso é bem fácil de dizer, mais a mais a um Anjo: Não temas! Grande coisa!!! Não tive tempo de lhe explicar que não tenho medo, sim… na verdade, não tenho medo! Tenho a convicção absoluta que este chamamento final, derradeiro, do Senhor se deve à Sua Misericórdia. Muito provavelmente terá decidido fazê-lo pensando: ‘Chamemos este desgraçado antes que faça mais disparates!!!’. Ou seja… provavelmente não estava “pronto”, quero dizer, não tinha tudo em ordem, arrumado, muito certinho… seria só chegar ali e mostrar-me, abrir o livro e… pronto… Mas… não! O livro é Ele Quem o tem nas Suas mãos. Tem oitenta e tal páginas escritas em letra bem nítida e compreensível. Consigo ver muitos pontos de exclamação e, isto, preocupa-me um pouco porque não sei se se devem a uma apreciação positiva ou negativa.

Depois vejo a Senhora! Radiante, linda, sereníssima. Tem um enorme marcador verde na mão direita e, debruçando-se sobre o livro começa a sublinhar frases inteiras, às vezes, períodos extensos. Fico fascinado e expectante enquanto a Senhora, tranquilamente, vai passando página após página sempre sublinhando, sem qualquer hesitação palavras após palavras. De soslaio olho para o meu Anjo que me sorri de volta: ‘Ne timeas…’. O Filho não diz nada, observa atentamente a “tarefa” da Sua Mãe. Parece-me que já está habituado a estas coisas e, espera, pacientemente, até que, nas Suas mãos, fica um livro cheio de marcas verdes. Uma coisa inacreditável! Fico, também, calado, pois que hei-de eu dizer? Finalmente, este maravilhoso interregno, acaba e, eu, fico à espera do tal “interrogatório”. Mas… O Senhor, não diz nada. 

Fecha o livro e entrega-o ao meu Anjo para que o guarde na grande Estante dos Livros da Vida dos Homens. Olha para mim uns brevíssimos momentos como se uma pequena hesitação O assaltasse, mas, logo de imediato, estende-me a Sua Mão e diz-me simplesmente: ‘Vem!)

Apercebo-me sem dificuldade que faz todo o sentido a presença da Mãe. De facto, ela tem muito a ver com tudo o que se passa com a humanidade.

Afinal todos os homens – por vontade expressa do Filho - somos seus filhos. Mas também tem muito a ver com o mar porque é Guia dos Navegantes; a Stela Maris; a segurança – iter para tuto …. Guia para um caminho seguro. A sua vida depois que o Filho começou a ingente tarefa que O trouxe ao mundo, foi passada entre pescadores, homens do mar, gente habituada aos “altos e baixos” da profissão, das pescas abundantes e dos malogros das redes vazias. Sabe do que falam, conhece o que desejam, consola-os e anima-os a prosseguir. Tal como o Filho também ela lhes diz: «Duc in altum», fazei-vos ao largo onde a pesca será mais abundante e compensadora do esforço dispendido. Não vai com eles nas barcas, mas fica em terra, na praia, pensando neles, pedindo insistentemente ao Filho que os guie, os proteja, que os ventos e as ondas não se tornem perigos insuperáveis. Mas, se acaso, soçobram ou estão prestes a sucumbir porque ou perderam os remos ou as velas e estão à deriva num mar desconhecido apressa-se a socorrê-los. Em Dezembro de 2011 a embarcação “Virgem do Sameiro”, com seis pescadores a bordo, naufragou. Os pescadores recolheram-se numa balsa e andaram sessenta horas à deriva no mar, exaustos, sem comida nem água sem quaisquer meios disponíveis para sobreviver, quando finalmente foram avistados por um helicóptero que os resgatou e os trouxe para terra. Rodeado pelas televisões e jornalistas, o Mestre da embarcação respondeu a uma jornalista que perguntava o que tinha a dizer sobre o que se afirmava que teria sido milagre por intervenção de Nossa Senhora: ‘Sim, estou convencido que foi um milagre! Não é por acaso que o nome da embarcação é “Virgem do Sameiro” e que dentro da balsa tínhamos um Terço do Rosário’». ([i])  É bem conhecida a devoção das gentes do mar à Virgem Santíssima. Muitas das suas embarcações têm nomes que a invocam. Fazem-se procissões em sua honra muito concorridas com os barcos engalanados em ambiente de grande festa e alegria. Algumas ostentam pinturas algumas de carácter bem ingénuo quase infantis, outras mais elaboradas retratando cenas mais complexas em que a Senhora é sempre a figura central. Desde sempre o mar atrai o ser humano talvez pelo que encerra de mistério e desconhecido. Constitui um desafio que está ali, poderosamente presente aguardando que alguém se aventure à descoberta do que esconde. E o que é a minha vida senão um navegar num oceano desconhecido onde a cada momento preciso acertar o rumo, corrigir a rota, guiando-me pela bússola que me indica o porto onde quero chegar. Há muitíssimos portos que, aparentemente, podem parecer-me atraentes, interessantes. Talvez, até, adequados àquilo que costumo chamar “a minha maneira de ser”. Vou por ali, navegando como sei e posso, determinado, umas vezes, outras, tergiversando, lutando contra os ventos e as marés, as tempestades ou as faltas de vento que enfunem as velas da minha esperança. Considero-me marinheiro experimentado, sabendo muito bem como fazer para chegar ao porto? Tenho a certeza que os meios que uso são os mais adequados, em cada momento e circunstância, para atingir o meu fim?   Não seria muito melhor deixar nas mãos de Cristo o leme da minha barca? Ele sabe como fazer – sempre – para levar essa barca, que é a minha vida, pelas águas mais tranquilas, no rumo mais certeiro, com os ventos mais favoráveis. Nas borrascas, estará firme no Seu posto, no cansaço da luta não Se deixará vencer nem pela fadiga nem pelo desânimo. No fim e ao cabo, Ele, é o Caminho! Cristo está junto ao mar porque quer ver como me comporto na minha barca, na minha navegação. Ele sabe muito bem os perigos que o mar desta vida tem, conhece profundamente e em detalhe as minhas incapacidades e deficiências como “marinheiro”. Está ali, para “o que der e vier”. Da praia, se me vir em perigo, aflito com a perda do rumo, acenar-me-á para que vá ter com Ele.

É tão bom saber que Cristo está na praia do meu mar!   Que confiança me dá o sabê-lo ali, disponível para o que for preciso! Mesmo quando não me damos conta, ou pior, quando ignoro a Sua presença, Ele está lá, sempre, solícito e pronto a acudir-me. Até se me considero importante, capaz, instruído, sabedore, Ele não Se afasta, continua sempre disponível e expectante à minha espera.

Foi na praia que Jesus começou a fantástica história da salvação humana. [ii]  Eram homens do mar os que, em primeiro lugar, Jesus escolheu para concretizar a Sua Missão Salvadora. Muito particularmente, estes três: Pedro, Tiago e João, acompanhá-Lo-ão, sempre de perto desejando conquistar a Sua intimidade. Quantas longas horas deve ter passado instruindo a sua pouca cultura, limando as rudezas do seu carácter, cimentando a sua dedicação! Desejou tê-los consigo nos momentos mais marcantes, que conhecemos, da Sua vida pública: Nos grandes milagres, como a ressurreição de Lázaro como testemunhas particulares da Sua Divindade – na Transfiguração do Tabor - nas horas dramáticas de Getsémani. A Pedro, impetuoso, decidido e… cobarde, desculpar-lhe-á a traição, o abandono e confere-lhe a suprema honra de ser o Seu primeiro representante na terra. Sabe que, apesar de tudo, pode contar com ele. A sua maneira de ser é por vezes irreflectida, mas, quando o Mestre o chama, mesmo sabendo que não lhe é possível caminhar sobre as águas lança-se impetuosamente ao mar para ir ter com Ele. Depois, cai em si, encara a situação e a sua confiança no Senhor, esmorece e como resultado começa a afundar-se. Mas Cristo está ali a pouca distância, o Seu olhar tranquilo não se despega do seu cheio de temor e grita: «Salva-me, Senhor!» ([iii]) Jesus conversa com eles de forma que eles entendem bem: Fala-lhes do mar e da faina da pesca. Diz-lhes que o que espera deles, a tarefa grandiosa, extraordinária que lhes tem reservada. ([iv]) Talvez não tenham percebido completamente o que encerrava esta primeira lição, mas não precisaram de mais para se decidirem. Na escolha feita por Jesus, o que contou, de facto, foi a pronta decisão de O seguirem assim que os chamou.   Certamente haveria, na Palestina, outros homens de igual ou melhor carácter, com qualidades, talvez, mais marcantes, muito provavelmente mais capazes de apreenderem com maior rapidez a missão que lhes destinaria. Mas, no mar, sozinho entre o céu e a as águas profundas e misteriosas, o homem sente-se mais entregue a si mesmo, percebe que a sua vida depende da sua perícia, da sua aptidão, da sua capacidade de enfrentar as dificuldades. Os pescadores estão habituados a trabalhar em equipa, a obedecer a um chefe, o patrão da barca, a quem confiam as suas vidas. É ele quem dá as ordens, quem destina o que se deve fazer em cada momento, quem escolhe o rumo, quem melhor conhece os ventos e a força das ondas. Pedro, não só é, deles, o que tem mais experiência, mas é quem sabe sempre o que fazer em todos os momentos. Mantém a calma e a serenidade perante os perigos sempre à espreita, sabe mandar e, muito importante, é capaz de substituir sempre quem, por este ou aquele motivo, se encontre incapacitado para o trabalho que lhe compete. São solidários uns com os outros, se um, por qualquer motivo, falha no que lhe está cometido, é substituído sem demora e sem recriminações. Parece lógico que, a Igreja, venha a ser confiada a homens assim. Mais tarde, é na margem do mar, que Cristo Ressuscitado lhes aparece. Sabe onde os encontrar nas horas da desilusão e atordoamento que se seguiram à Sua Paixão e Morte; «Disse-lhes então Jesus: Não temais. Ide dar a notícia aos Meus irmãos, para que vão para a Galileia e lá Me verão». [v]

Jesus e a Igreja

Ele sabe bem o que espera os homens da Sua Igreja até ao final dos tempos. A agitação, os ventos contrários, os naufrágios, as vagas alterosas, o velame que se rompe, os mastros que quebram. Por isso, escolhe, sempre, um “patrão” para a Sua barca que sabe guiá-la através de todas estas dificuldades, que será sempre fiel ao rumo e que acabará sempre por alcançar bom porto. Esses homens que ao longo dos séculos se têm sucedido no comando da barca de Cristo, da Sua Igreja, são sempre as melhores escolhas porque, quem os escolhe, é Ele. Como não confiar inteiramente naquele que foi escolhido para esse lugar? Sozinho, entre o mundo e Cristo, o Papa encontra sempre o rumo certo para a Igreja, porque não confia em si próprio, na sua sabedoria ou aptidões, mas, sim, em Cristo a quem obedece fielmente nesse constante «duc in altum.» Nem um “til”, nem um “jota” jamais será mudado ou alterado até ao final dos tempos. Jesus afirma: «Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela[vi] Estas palavras atestam a vontade de Jesus em edificar a Sua Igreja com uma referência especial à missão e o poder específicos que Ele, por Sua vez, conferirá a Simão. Jesus define Simão Pedro como cimento sobre o qual construirá a Sua Igreja. A relação Cristo-Pedro reflecte-se, assim, na relação Pedro-Igreja. Confere-lhe valor e clarifica o seu significado teológico e espiritual, que objectiva e eclesialmente está na base do seu significado jurídico. Jesus disse a Pedro: «O que atares na terra ficará atado nos céus, e o que desatares na terra ficará desatado nos céus[vii] Como não aceitar inteiramente como guia e chefe o que foi escolhido para esse lugar?

A missão do Papa é uma missão divina porque emana do próprio Jesus Cristo, com um mandato preciso e claro. O que Jesus disse a Pedro não foram generalidades mais ou menos abrangentes, algo vago, indefinido. Não! [viii]

É, portanto, claro que um cristão tem o dever de acatar as directrizes emanadas desde a Cátedra de Pedro. Seja quem for o homem que a ocupe, ele é sempre o Vigário de Cristo na terra e, a palavra “vigário” significa exactamente, aquele que substitui alguém.

 



São José

 

São José, varão feliz, que tiveste a dita dever e ouvir o próprio Deus, a Quem muitos reis quiseram ver e não viram,ouvir e não ouviram; e não só ver e ouvir mas ainda mais: Trazê-Lo nos braços,beijá-Lo, vesti-Lo, e guardá-Lo. Rogai por nós, Bem-Aventurado José, para quesejamos dignos das promessas de Cristo. Amén.

 

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                          [i] Estas declarações estão gravadas em vídeo. (http://expresso-virgem-do-sameiro-diz-que-o-mais-dificil-foi-suportar-o-frio-video=f692077)

[ii] Cfr. Mt 4, 18-22

[iii] Cfr. Mt 14, 28-31

[iv] Cfr. Lc 5,1-11

[v] Mt 28,10

[vi] Mt 16,18.

[vii] Mt 16,19.

[viii]«Segundo textos evangélicos, a missão pastoral do Romano Pontífice, sucessor de Pedro, comporta uma missão doutrinal. Como pastor universal, o Papa tem a missão de anunciar a doutrina revelada e de promover em toda a Igreja a verdadeira fé em Cristo. Pedro é o primeiro daqueles Apóstolos aos quais Jesus disse: Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós (Jo 20,21; Cfr. 17,18). Como pastor universal, Pedro deve actuar em nome de Cristo e em sintonia com Ele em toda a ampla área humana na qual Jesus quis que se pregasse o Seu Evangelho e se anunciasse a verdade salvífica: No mundo inteiro. Contudo, o Bispo de Roma, como cabeça do colégio episcopal por vontade de Cristo, é o primeiro pregoeiro da fé, ao que corresponde a tarefa de ensinar a verdade revelada e de mostrar as suas aplicações no comportamento humano. Ele é o primeiro responsável pela difusão da fé no mundo. O sucessor de Pedro cumpre esta missão doutrinal mediante uma série contínua de intervenções orais e escritas que constituem o exercício ordinário do magistério como ensinamento das verdades em que é preciso acreditar e aplicar na vida (fidem et mores). Os actos que expressam tal magistério podem ser mais ou menos frequentes e tomar formas diferentes segundo as necessidades dos tempos, as exigências de situações concretas, as possibilidades e meios disponíveis, os métodos e as técnicas de comunicação. Mas, uma vez que derivam de uma intenção explícita ou implícita de se pronunciar em matéria de fé e costumes, remetem-se ao mandato recebido por Pedro e revestem-se da autoridade que Cristo lhe conferiu. Ao cumprir esta tarefa, o sucessor de Pedro expressa de forma pessoal, mas com autoridade institucional, a “regar da fé”, à qual devem ater-se os membros da Igreja universal – simples fiéis, catequistas, professores de religião, teólogos –, ao procurar o sentido dos conteúdos permanentes da fé cristã, inclusive em relação com as discussões que surgem dentro e fora da comunidade eclesial sobre diversos pontos ou sobre todo o conjunto da doutrina. É verdade que dentro da Igreja, todos, e de forma especial os teólogos, estão chamados a realizar este trabalho de contínuo esclarecimento e explicação. Mas a missão de Pedro e dos seus sucessores consiste em estabelecer e afirmar com autoridade o que a Igreja recebeu e acreditou desde o princípio, o que os apóstolos ensinaram, o que a Sagrada Escritura e a tradição cristã fixaram como objecto de fé e como norma cristã de vida. Também os outros pastores da Igreja, os bispos sucessores dos apóstolos, são confirmados pelo sucessor de Pedro na sua comunhão de fé com Cristo e no cumprimento fiel da sua missão. Deste modo, o magistério do bispo de Roma assinala a todos uma linha de clareza e unidade que, especialmente em tempos de máxima comunicação e discussão, como o nosso, resulta imprescindível. O Romano Pontífice (…) tem a missão de proteger o povo cristão contra os erros no campo da fé e da moral, o dever de guardar o depósito da fé (Cfr. 2 Tim 4,7). Ai daquele que se assustasse ante as críticas e as incompreensões! O seu papel é dar testemunho de Cristo, da Sua palavra, da Sua lei e do Seu amor. Mas à consciência da sua responsabilidade no campo doutrinal e moral, o Romano Pontífice deve acrescentar o compromisso de ser, como Jesus, «manso e humilde de coração» (Mt 11,29)» são joão paulo ii, Audiência Geral, 10.03.1993).