Semana II da Páscoa
Evangelho:
Jo
3 16-21
16
«Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu Seu Filho Unigénito, para
que todo aquele que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque
Deus não enviou Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo
seja salvo por Ele. 18 Quem n'Ele acredita, não é condenado, mas quem não
acredita, já está condenado, porque não acredita no nome do Filho Unigénito de
Deus. 19 A condenação é por isto: A luz veio ao mundo e os homens amaram mais
as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. 20 Porque todo aquele
que faz o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de que não sejam
reprovadas as suas obras; 21 mas aquele que procede segundo a verdade, chega-se
para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas segundo
Deus».
Comentário:
Está bem clara a razão da condenação eterna.
Não é Deus que condena mas sim o próprio homem que se auto-exclui da
salvação e, Deus que é absolutamente justo não violenta a liberdade do homem e
aceita as suas decisões mesmo que sejam impeditivas da sua felicidade eterna.
(ama, comentário sobre Jo
3, 16-21, 2014.04.30)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
O QUE É SER CRISTÃO?
I.
Relações que Deus estabelece com o homem.
O Catecismo da Igreja Católica apresenta assim todo o plano de Deus com o
homem, plano que leva consigo as relações que vamos estudar ao longo das
páginas deste livro.
«Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, num desígnio de
pura bondade criou livremente o homem para que tenha parte na sua vida
bem-aventurada.
Por isso, em todo o tempo e em todo o lugar, está perto do homem. Chama-o e
ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e a amá-lo com todas as suas forças. Convoca
todos os homens, que o pecado dispersou, à unidade da sua família, a Igreja
Fá-lo mediante o seu Filho, que enviou como Redentor e Salvador ao chegar a
plenitude dos tempos. Nele e por Ele, chama os homens a ser, no Espírito Santo,
seus filhos de adopção e, portanto, os herdeiros da sua vida bem-aventurada» [i]
Todos os planos de Deus com os homens têm origem e manifestam-se no Amor de
Deus.
«Nisto se manifestou o amor que Deus nos tem; em que Deus enviou ao mundo o
seu único Filho para que vivamos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em
que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho
como propiciação pelos nossos pecados»[ii].
«Ele amou-nos primeiro». Esta afirmação de São João indica-nos a ordem das
relações entre Deus e os homens. Deus toma sempre a iniciativa.
São Paulo, consciente de que Deus ama o homem total, adianta-se à afirmação
do Concilio Vaticano II acerca do homem, «única criatura na terra que Deus amou
por si mesma»[iii].
Com efeito, São Paulo entende que esse amor de Deus afecta o homem em todos
os planos da sua existência: vida natural, vida humana, vida
espiritual-sobrenatural, e assim o confirma aos atenienses, ao recordar-lhes
que Deus «não se encontra longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos
movemos e existimos»[iv].
Antes de continuar, é preciso que nos convençamos do seguinte. Só podemos
vislumbrar alguma verdade, alguma ideia sobre Deus partindo da iniciativa do
próprio Deus, que se nos manifesta em toda a criação. «Porque desde a criação
do mundo, o invisível de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade são
conhecidos mediante as suas obras».[v]
Desde a criação do homem, a partir do hoje e agora da sua existência, é
possível chegar a Deus, se Deus já não está de algum modo no próprio «ser» do
homem e na sua própria existência.
Por outras palavras, Deus não é «inventável». O homem é capaz de
«descobrir» Deus; é absolutamente incapaz de «o inventar», de «o criar».
Von Baltasar exprime esta realidade com estas palavras: «Desde que o homem
vive na terra, existe o espírito, e com ele, o saber e a «ciência» e, portanto,
a cultura e a técnica: o primeiro machado de pedra, o primeiro fogo e o
primeiro sepulcro testemunham-no. Por mais atrás que possa voltar a tradição
humana (e, quanto mais atrás, com maior pureza), o homem foi sempre um ser
religioso, consciente de estear sob o poder divino, que tem de reconhecer e
honrar, e de quem há-de esperar a salvação» [vi].
O facto de que o homem possa pensar em Deus é uma manifestação que Deus
está presente na sua capacidade de conhecer, que está nele. Descobre, se assim
podemos dizer, que já houve alguma relação de Deus com o homem.
O homem não pode pensar em nenhum «mais além» dele, se antes esse «mais além»
não se tornou de alguma forma presente na sua inteligência.
E Deus, não como conceito ou como pressuposto para resolver a incapacidade
humana. Sem Deus, o homem nem sequer descobriria em si próprio alguma
incapacidade, pela simples razão de que a sua inteligência – no caso de
realmente a ter – nunca lhe abriria horizontes mais para além do seu olhar.
Sem Deus, o homem jamais conheceria a angústia nem os seus horizontes se
abririam até ao infinito e, muito menos, viveria o gozo, o amor.
Não é estranho tenham afirmado que o simples facto de o homem ser capaz de
amar, de dar-se a si próprio, é um claro sinal da existência de Deus.
Perguntamo-nos agora: Quais são
essas relações que Deus quis estabelecer com o homem?
Dando por adquirido o conhecimento dos planos de Deus ao criar o mundo, que
estão manifestados na Revelação e na Sagrada Escritura, podemos estabelecer de
forma sistemática, e com a esperança que nos sirvam de guia, de referência e
até o fio condutor ao longo do desenrolar de toda a exposição, as três
realidades básicas que relacionam pessoalmente o homem com Deus, Uno e Trino; e
a Deus com o homem; que nos foram reveladas em toda a sua plenitude e em toda a
sua realidade, por Jesus Cristo Nosso Senhor.
Estas três relações, a que também poderíamos chamar as «obras de Deus no
homem», são:
Relação com Deus Pai: a Criação. Relação com Deus Filho: a Redenção.
Relação com Deus Espírito Santo, a Santificação. Ou seja, Deus trino
relaciona-se e vincula-se com o homem, como Criador, como Redentor, como
Santificador, na unidade de Deus Uno.
Um brevíssimo esquema do que supõe e comporta cada um destes vínculos
poderia ser o seguinte, sem esquecer que a criação é obra comum das Santíssima
Trindade.
Criação
- Relação de Deus Pai com o homem e, ao mesmo tempo, do homem com Deus Pai.
- Deus criou o mundo por amor.
-E criou o homem, à sua imagem e semelhança, para que o conheça, o ame, o
sirva nesta vida e o goze depois eternamente no céu.
-Na criação, Deus fez o homem livre, elevou-o à ordem sobrenatural e
deu-lhe a capacidade de ser seu filho.
- A reacção do primeiro homem: o pecado.
Redenção
- Relação de Deus Filho feito homem com o homem; do homem com Deus Filho
feito homem.
- Cristo encarna, por amor ao homem, para libertar o homem do pecado; para
o tornar partícipe da natureza divina; para lhe manifestar o amor de Deus Pai e
para lhe servir de exemplo de vida. « Deus faz-se homem, para que o homem se
faça Deus».
- A Graça. Viver em Cristo, por Cristo, com Cristo. Os Sacramentos. Filhos
de Deus em Cristo: a filiação divina.
Santificação
- Relação de Deus Espírito Santo com o homem e do homem com Deus Espirito
Santo. Deus vive no homem; o homem vive «em». Deus quer viver «com o homem»,
para que o homem viva «com Deus.
- O Espírito Santo torna possível que o homem possa viver «participando da
natureza divina». O Espirito Santo é Deus «com» o homem.
- É a vida da graça – a «nova criatura» em Cristo -, que se manifesta no
homem na Fé, na Esperança, na Caridade, configuradas pela acção dos Dons do
Espirito Santo.
- Esta vida da graça transita por uns caminhos: os Mandamentos da Lei de
Deus, vividos com a novidade de Cristo: o espírito das Bem-aventuranças.
- A vida da graça, vivida na Fé, na Esperança na Caridade, e seguindo os
Mandamentos com o espírito das Bem-aventuranças, germina na conversão
definitiva do homem – criatura, filho de Deus, santo – que fica expressa na
presença dos frutos dons Espirito Santo no actuar humano.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
[iii] Gaudium et spes, n. 24
[vi] hans urs von
balathasar, El
problema de Dio en el hombre actual, Guadarrama, Madrid 1960, I, I. p. 63.