19/09/2011

Música e repouso


Beethoven (1770-1827) Overture to Leonore "No. 3", op. 72b 
Anthony Lofield - Satu Mare Philarmonic Orchestra

selecção ALS

Evolucionismo

Do Céu à Terra
A evolução do evolucionismo

Como valorar a adaptação ao meio?

Tal e como observou Darwin nos pinzones [i] das ilhas Galápagos, a adaptação provoca pequenas alterações de tamanho, forma ou cor. Não passa, portanto, de uma maquilhagem. Mas nenhuma maquilhagem produz uma mudança de espécie. Nietzsche expressou perfeitamente esta objecção quando escreveu que "Darwin sobrestima de modo absurdo a influencia do meio ambiente, porque o factor essencial do processo vital é precisamente o tremendo poder de criar e construir formas a partir de dentro". Esta certeira intuição foi plenamente confirmada pela genética e a biologia molecular.

Mas o evolucionismo foi formulado no século XIX, quando não se tinha inventado o microscópio electrónico e a célula se definia como um pequeno grumo de matéria orgânica com membrana e núcleo. Assim, o primeiro evolucionismo só teve acesso à morfologia. Mas estudar um ser vivo na sua forma externa é como valorizar um vinho pela sua garrafa.

De facto, enquanto o primeiro evolucionismo sabia tudo sobre a anatomia e a morfologia, se escapava-lhe o próprio ser vivo.

jose ramón ayllón, trad. ama




[i] Pássaros de bico robusto típicos das Galápagos

Pensamentos inspirados à procura de deus


À procura de Deus



Jesus não é a cruz.

Mas na nossa cruz, encontramos Jesus.



JMA, 2011.09.19

Evangelho do dia e comentário













T. Comum– XXV Semana




Evangelho: Lc 8, 16-18

16 «Ninguém, pois, acendendo uma lâmpada a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama, mas põe-na sobre um candeeiro, para que os que entram vejam a luz. 17 Porque nada há oculto que não acabe por ser manifestado, nem escondido que não deva saber-se e tornar-se público. 18 Vede, pois, como ouvis. Porque àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado».

Comentário:

Este trecho do Evangelho tem sido comentado ao longo dos séculos pelos mais insignes pensadores místicos e não parece haver nenhuma dúvida que a aparente contradição nas palavras de Cristo está bem justificada. De facto quem não cultiva a sua fé por meio da convivência com Cristo, frequência dos Sacramentos e a prática da piedade, irá inevitavelmente perdendo a fé que tem até nada lhe restar. Que fique claro: o Senhor não tira nada a ninguém é o homem que não “cultiva” o que tem.
Porque, o importante, contém-se na recomendação do Mestre: «Vede, pois, como ouvis» porque, de facto, daqui depende tudo o resto. Se se ouve com clareza, abertura de espírito e vontade de saber, então está-se no bom caminho para compreender o que se ouve se, ao invés, houver um espírito preconceituoso, uma tendência para se ouvir só o que agrada e se presume bom para nós… então não se guardou nada do que se ouviu e perde-se essa oportunidade de ficar a saber algo importante.

(ama, comentário sobre Lc 8, 16-18, 2011.08.23)

Esta doutrina é sabedoria?

Escola de Atenas
Rafael

Suma Teológica: Art. 6

(I Sent., prol., a. 3, qI, 3; II Cont. Gent., cap. IV)

O sexto discute-se assim — Parece que esta doutrina não é sabedoria.

1. Pois nenhuma doutrina que receba de outra os seus princípios, merece o nome de sabedoria,  cabendo ao sábio ordenar e não ser ordenado, como diz Aristóteles [i]. Ora, esta doutrina recebe de outra os seus princípios, como do sobredito aparece (a. 2). Logo, não é sabedoria.

2. Demais — À sabedoria compete provar os princípios das outras ciências, por onde é chamada cabeça das demais, como se vê no Filósofo [ii]. Ora, não justifica esta doutrina os princípios das outras ciências, nem é, portanto, sabedoria.

3. Demais — Adquire-se esta doutrina pelo estudo, mas recebemos a sabedoria por infusão, e, por isso, se conta entre os sete dons do Espírito Santo, como se vê na Escritura (Is 2,2). Logo, esta doutrina não é sabedoria.

Mas,  em contrário, a Escritura (Dt 4, 6):  Porque nisto mostrarei a vossa sabedoria e inteligência aos povos.

SOLUÇÃO. — De toda a sabedoria humana, é esta doutrina a mais alta, não relativa, mas absolutamente. Pois sendo próprio do sábio ordenar e julgar, e, pela causa mais alta, considerar as inferiores, sábio se chama, em qualquer género, quem lhe atende à altíssima causa. Assim, no tocante à construção, o artífice que traça a planta da casa é chamado sábio e arquitecto, em relação aos operários inferiores, que aplainam a madeira e preparam as pedras; donde o dito da Escritura (1 Cor 3,10):  Lancei o fundamento como sábio arquitecto. Também, no que respeita à vida humana em conjunto, é o prudente chamado sábio, enquanto ordena os atos humanos ao fim obrigatório; donde outro dito da Escritura (Pr 10, 23): A sabedoria é, para o homem, prudência. Quem, portanto, considera a causa absoluta mais alta do universo, que é Deus, deve ser chamado sábio por excelência. Pelo que também se define a sabedoria conhecimento das coisas divinas, como se vê em Agostinho [iii]. Ora, o próprio da sagrada doutrina é considerar a Deus, causa altíssima, não só enquanto cognoscível por meio das criaturas — o que souberam os filósofos, como diz a Escritura (Rm 1, 19):  O que se pode conhecer de Deus lhes é manifesto — senão também naquilo que só ele de si mesmo conhece e foi aos outros revelados e comunicado. Por isso, tal doutrina em sumo grau merece o nome de sabedoria.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJEÇÃO. — Não recebe a sagrada doutrina os seus princípios de nenhum saber humano, senão da ciência divina, a qual regula todo o nosso conhecimento, a título de suprema sabedoria.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os princípios das demais ciências ou são por si evidentes, e não podem ser provados; ou se demonstram noutra ciência por algum motivo natural. Porém, o conhecimento próprio desta ciência assenta na revelação, e não em premissas naturais. Donde, não lhe cabe provar os princípios das outras ciências, mas só julgá-las; porque tudo o que nelas repugnar à verdade desta, condena-se, de vez, como falso, segundo o Apóstolo (2 Cor 10, 4-5):  Derribando os conselhos e toda a altura que se levanta contra a ciência de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Por ser o juízo próprio do sábio, e por haver dois modos de julgar, deve a sabedoria ter dois sentidos. O primeiro modo de julgar é por inclinação: por exemplo, quem tiver bons costumes, por atracção da virtude, pode com acerto julgar dos actos que se devem praticar moralmente. Por isto está em Aristóteles:  o virtuoso é medida e regra dos actos humanos [iv]. — O segundo modo é pelo conhecimento: como o instruído na ciência moral poderia julgar dos actos de virtude, mesmo se a não tivesse. Ora, o primeiro modo de julgar as coisas divinas pertence à sabedoria enquanto dom do Espírito Santo, segundo a Escritura (1 Cor 2,15):  O espiritual julga todas as coisas; e Dionísio:  Hieroteu é douto, não só por aprender mas, antes, por sentir as coisas divinas [v]. O segundo modo de julgar é próprio desta doutrina, enquanto se adquire por estudo, embora sejam os princípios recebidos pela revelação.




[i] I Metaphys., c. 2
[ii] VI Ethic., c. 7
[iii] XII de Trinitate
[iv] X Ethic, c. 5
[v] 2 cap. De Divinis Nominibus