São Josemaria Escrivá
Amigos
de Deus
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Começai por contar o que não quereríeis que
se soubesse. Abaixo o demónio mudo!
De
uma coisa de nada, dando-lhe voltas e mais voltas, faz-se uma grande bola como
com a neve, e acaba-se por ficar fechado lá dentro. Porquê?...
Abri
a alma!
Asseguro-vos
a felicidade, que é fidelidade à vocação cristã, se fordes sinceros.
A
clareza e a simplicidade são disposições absolutamente indispensáveis.
Abramos
pois, de par em par a nossa alma, de modo que o sol de Deus possa entrar e com
ele a caridade do Amor.
Para se afastar da sinceridade total nem
sempre é preciso má intenção; às vezes, basta um erro de consciência.
Há
pessoas que formaram (isto é, deformaram) de tal modo a consciência que o seu
mutismo, a sua falta de simplicidade lhes parece bom; até pensam que é bom
calar.
Acontece
que às vezes até receberam uma boa preparação e conhecem as coisas de Deus e
talvez, por isso, se convençam de que é conveniente calar.
Enganam-se,
porém, porque a sinceridade é sempre necessária e não cabem desculpas, ainda
que pareçam boas.
Acabamos esta conversa, na qual tu e eu
fizemos a nossa oração com o Nosso Pai, pedindo-lhe a graça de viver essa
afirmação gozosa, que é a virtude cristã da castidade.
Pedimo-la por intercessão de Santa Maria,
que é a pureza imaculada.
Recorramos
a Ela, tota pulchra, seguindo um
conselho que eu dava, há muitos anos, àqueles que se sentiam intranquilos no
seu empenho diário por ser humildes, limpos, sinceros, alegres e generosos:
Todos os pecados da tua vida parecem ter-se posto de pé. - Não desanimes. -
Pelo contrário, chama por tua Mãe, Santa Maria, com fé e abandono de criança.
Ela trará o sossego à tua alma.
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Ouve-se às vezes dizer que actualmente os
milagres são menos frequentes.
Não
se dará antes o caso de serem menos as almas que vivem vida de fé?
Deus
não pode faltar à sua promessa: Pede-me e eu te darei as nações em herança.
Os teus domínios irão até aos confins da
terra.
O
nosso Deus é a Verdade, o fundamento de tudo o que existe: nada se cumpre sem o
seu querer omnipotente.
Como era no princípio, agora e sempre.
O
Senhor não muda, não precisa de se mover para alcançar coisas que não possua.
Ele
é todo o movimento, toda a beleza e toda a grandeza.
Hoje
como outrora.
Passarão
os céus como o fumo e a terra envelhecerá como um vestido, mas a minha salvação
durará pela eternidade e a minha justiça durará para sempre.
Deus estabeleceu em Jesus Cristo uma nova e
eterna aliança com os homens.
Pôs
a sua omnipotência ao serviço da nossa salvação.
Quando
as criaturas desconfiam, quando vacilam por falta de fé, ouvimos novamente
Isaías anunciar em nome do Senhor: Será
que o meu braço tenha ficado mais curto para vos salvar ou que já não tenha
força para vos libertar?
Só com a minha ameaça,
seco o mar e transformo os rios num deserto, até perecerem os seus peixes por
falta de água e morrerem de sede os seus viventes.
Eu revisto os céus com um
manto de sombra e cubro-os com um saco de luto.
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A fé é a virtude sobrenatural que predispõe
a nossa inteligência a aderir às verdades reveladas, a responder
afirmativamente a Cristo, que nos deu a conhecer plenamente o desígnio
salvífico da Santíssima Trindade.
Deus,
tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos
profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho, a quem
constituiu herdeiro de tudo, por quem criou também os séculos; o qual, sendo o
resplendor da sua glória e a figura viva da sua substância, sustentando tudo
com a sua poderosa palavra, depois de nos ter purificado dos nossos pecados,
está sentado à direita da majestade no mais alto dos céus.
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Junto
da piscina de Siloé
Gostaria que fosse Jesus quem nos falasse
de fé, quem nos desse lições de fé.
Por
isso, abriremos o Novo Testamento e viveremos com Ele algumas passagens da sua
vida.
Efectivamente,
Cristo não se poupou a esforços para, pouco a pouco, ensinar os seus
discípulos, a fim de se entregarem com confiança ao cumprimento da Vontade do
Pai.
Vai-os
doutrinando com palavras e com obras.
Considerai o capítulo nono de S. João.
E, passando Jesus, viu um
homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram-lhe: Mestre, quem
pecou, este ou os seus pais, para que nascesse cego?
Estes
homens, apesar de estarem tão perto de Cristo, julgam mal aquele pobre cego.
Para
que não vos admireis se, com o andar dos anos, ao servirdes a Igreja,
encontrais discípulos do Senhor que se comportam assim convosco ou com outras
pessoas.
Não
vos preocupeis e não façais caso, como aquele cego.
Abandonai-vos
de verdade nas mãos de Cristo; Ele não ataca, perdoa; não condena, absolve; não
olha a doença com desinteresse, mas aplica-lhe o remédio com divina diligência.
Nosso Senhor cuspiu no chão, fez lodo com a
saliva, untou com o lodo os olhos do cego e disse-lhe:
Vai e lava-te na piscina
de Siloé, que quer dizer Enviado.
Foi ele, pois, e lavou-se,
e voltou com vista.
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Que belo exemplo de firmeza na fé nos dá
este cego!
Uma
fé viva, operativa.
É
assim que te comportas com os mandatos de Deus, quando muitas vezes estás cego,
quando nas preocupações da tua alma se oculta a luz?
Que
poder continha a água, para que os olhos ficassem curados ao serem humedecidos?
Teria
sido mais adequado um colírio desconhecido, um medicamento precioso preparado
no laboratório dum sábio alquimista.
Mas
aquele homem crê, põe em prática o que Deus lhe ordena e volta com os olhos
cheios de claridade.
Foi
útil
- escreveu S. Agostinho ao comentar esta passagem - que o Evangelista explicasse o sentido do nome da piscina, dizendo que
significava Enviado.
Agora entendemos quem é
este Enviado.
Se o Senhor não nos
tivesse sido enviado, nenhum de nós teria sido liberto do pecado.
Temos de crer com fé firme
em quem nos salva, neste Médico divino que foi enviado precisamente para nos
curar.
E crer com tanto mais
vigor quanto mais grave ou desesperada for a doença de que padeçamos.
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É preciso que adquiramos a medida divina
das coisas, sem perder nunca o ponto de mira sobrenatural, e contando com que
Jesus se serve também das nossas misérias, para que a sua glória resplandeça.
Por
isso, quando sintais serpentear na vossa consciência o amor-próprio, o cansaço,
o desânimo, o peso das paixões, reagi prontamente e ouvi o Mestre, sem vos
assustardes perante a triste realidade que é cada um de nós; com efeito,
enquanto vivermos, acompanhar-nos-ão sempre as debilidades pessoais.
Este é o caminho do cristão.
É
necessário invocar sem descanso, com uma fé rija e humilde: Senhor, não te fies
de mim!
Eu,
sim, confio em Ti.
E
ao pressentir na nossa alma o amor, a compaixão e a ternura com que Jesus
Cristo nos olha - Ele não nos abandona - compreenderemos em toda a sua
profundidade as palavras do Apóstolo: virtus
in infirmitate perficitur; com fé no Senhor, apesar das nossas misérias -
ou melhor, com as nossas misérias - seremos fiéis ao nosso Pai Deus e o poder
divino brilhará, sustentando-nos no meio da nossa fraqueza.
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A
Fé de Bartimeu
É S. Marcos quem nos conta, desta vez, a
cura doutro cego.
Ao sair de Jericó, Ele com
os seus discípulos e grande multidão, Bartimeu, o cego, filho de Timeu, estava
sentado junto do caminho a pedir esmola.
Ouvindo aquele grande
vozear das pessoas, o cego perguntou: o que é isto?
Responderam-lhe: é Jesus
de Nazaré.
Então inflamou-se-lhe
tanto a alma na fé em Cristo, que gritou: Jesus, Filho de David, tem piedade de
mim.
Não te dá vontade de gritar, a ti que
também estás parado na berma do caminho, desse caminho da vida que é tão curta;
a ti, a quem faltam luzes; a ti, que necessitas de mais graça para te decidires
a procurar a santidade?
Não
sentes urgência em clamar: Jesus, Filho de David, tem piedade de mim?
Que
bela jaculatória para repetires com frequência!
Aconselho-vos a meditar com vagar sobre as
circunstâncias que precedem o prodígio, a fim de que conserveis bem gravada na
vossa mente uma ideia muito nítida: como os nossos pobres corações são
diferentes do Coração misericordioso de Jesus!
Isto
ser-vos-á sempre muito útil, de modo especial na hora da prova, da tentação, e
também na hora da resposta generosa nos pequenos afazeres do dia-a-dia ou nas
ocasiões heróicas.
Muitos repreendiam-no para o fazer calar.
Tal
como a ti, quando suspeitaste de que Jesus passava a teu lado. Acelerou-se o
bater do teu coração e começaste também a clamar, movido por uma íntima
inquietação.
E
amigos, costumes, comodidade, ambiente, todos te aconselharam: cala-te, não
grites!
Porque
é que hás-de chamar por Jesus?
Não
o incomodes!
Mas o pobre Bartimeu não os ouvia e
continuava ainda com mais força: Filho de
David, tem piedade de mim.
O
Senhor, que o ouviu desde o começo, deixou-o perseverar na sua oração.
Contigo,
procede da mesma maneira.
Jesus
apercebe-se do primeiro apelo da nossa alma, mas espera. Quer que nos
convençamos de que precisamos dele; quer que lhe roguemos, que sejamos
teimosos, como aquele cego que estava à beira do caminho, à saída de Jericó.
Imitemo-lo.
Ainda
que Deus não nos conceda imediatamente o que lhe pedimos e, apesar de muitos
procurarem afastar-nos da oração, não cessemos de lhe implorar.
(cont)