A Imaculada Conceição
A história do homem sobre a terra é a história da
misericórdia de Deus. Desde a eternidade, escolheu-nos Ele, antes da criação do
mundo, para sermos santos e imaculados a seus olhos, pelo amor [1].
No entanto, por instigação do demónio, Adão e Eva
revoltaram-se contra o plano divino: tornar-vos-eis como deuses, conhecedores
do bem e do mal [2], tinha-lhes sussurrado o príncipe da mentira. E ouviram-no.
Não quiseram dever nada ao amor de Deus. Procuraram conseguir, apenas pelas
suas forças, a felicidade a que tinham sido chamados.
Mas Deus não desistiu. Desde a eternidade, na Sua
Sabedoria e no Seu Amor infinitos, prevendo o mau uso da liberdade por parte
dos homens, tinha decidido fazer-se um de nós mediante a Encarnação do Verbo,
segunda Pessoa da Trindade.
Por isso, dirigindo-se a Satanás, que sob a figura de
serpente tinha tentado o Adão e a Eva, o intimou: Eu porei inimizade entre ti e
a mulher, entre a tua descendência e os descendentes dela [3]. É o primeiro anúncio da Redenção, no qual se antevê
já a figura de uma Mulher, descendente de Eva, que será a Mãe do Redentor e,
com Ele e sob Ele, esmagará a cabeça da serpente infernal. Uma luz de esperança
se acende diante do género humano a partir do próprio instante em que pecamos.
"PROCURARAM CONSEGUIR, APENAS PELAS SUAS FORÇAS, A
FELICIDADE A QUE TINHAM SIDO CHAMADOS”.
Começavam assim a cumprir-se as palavras inspiradas —
escritas muitos séculos antes de que a Virgem viesse ao mundo — que a liturgia
põe nos lábios de Maria de Nazaré.
Javé criou-me como primeiro fruto da sua
obra, no começo dos seus feitos mais antigos...
Desde a eternidade, desde o
princípio, antes que a terra começasse a existir.
Fui gerada quando o oceano
não existia e antes que existissem as fontes de água.
Fui gerada antes que as
montanhas e colinas fossem implantadas, quando Javé ainda não tinha feito a
terra e a erva nem os primeiros elementos do mundo [4].
A Redenção do mundo estava em marcha já desde o
primeiro momento.
Depois, pouco a pouco, inspirados pelo Espírito Santo, os profetas
foram desvelando os rasgos dessa filha de Adão a quem Deus – na previsão dos
méritos de Cristo, Redentor universal do género humano – preservaria do pecado
original e de todos os pecados pessoais e encheria de graça, para fazer d’Ela a
digna Mãe do Verbo encarnado.
"CONSEGUIU UMA VITÓRIA CONTRA UM INIMIGO
IMPONENTE, AO PONTO DE QUE A ELA, MAIS DO QUE A NINGUÉM, SE DIRIGEM AQUELES
LOUVORES".
Ela é a virgem que concebeu e dará à luz um Filho e
chamá-lo-á Emanuel [5]; está representada em Judite, a heroína do povo hebreu
que conseguiu uma vitória contra um inimigo imponente, ao ponto de que a Ela,
mais do que a ninguém, se dirigem aqueles louvores: Tu és a glória de
Jerusalém!
Tu és a honra de Israel!
Tu és o orgulho do nosso povo...
Extasiados diante da beleza de Maria, os cristãos
dirigiram-lhe sempre todo o género de louvores, que a Igreja recolhe na
liturgia: horto cerrado, lírio entre espinhos, fonte selada, porta do céu,
torre vitoriosa contra o dragão infernal, paraíso de delícias plantado por
Deus, estrela amiga dos náufragos, Mãe puríssima...