(Re
Lc VI 36-38 )
Em
plena Quaresma a Liturgia traz à minha consideração o tema da misericórdia.
Embora
o Magistério defina as chamadas “Obras de Misericórdia” para me ajudar a melhor
reflectir e tê-las presentes, muitas vezes as confundo com meros actos
exteriores descurando o que é essencial: tê-las no coração.
No
que respeita a perdoar não sou tão rápido e decidido como no que se refere aos
julgamentos que faço.
Não
me dando conta que os defeitos que julgo ver nos outros são muitas vezes o
reflexo dos meus próprios defeitos, como que olhando-me num espelho não vendo a
verdadeira imagem que está reflectida.
Não
penso que se os outros usarem de igual critério para comigo que desgraçado
serei.
Como
poderei aspirar receber o que eu próprio não dou?
Jesus
É bem claro:
«Não
julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Perdoai
e sereis perdoados. Dai e dar-se-vos-á: deitar-vos-ão no regaço uma boa medida,
calcada, sacudida, a transbordar. A medida que usardes com os outros será usada
também convosco».
Como
sempre as palavras de Jesus são certas e lógicas não admitindo duas
interpretações.
Reflectindo na Quaresma
O que posso fazer.
Por
vezes debato-me com esta pergunta que me surge a propósito de algo que, à
primeira vista, será algo estranho, insólito ou, pelo menos, fora do âmbito
onde me movo.
Sim…
o que posso fazer?
Que
conhecimentos habilitações ou autoridade tenho, para me “meter num assunto” que
parece não me dizer respeito directamente?
E
porque sinto que tenho de fazer alguma coisa, intervir seja de que modo for,
para sossegar o meu espírito e a minha vontade de ser útil, solidário,
interessado?
Será
que a minha missão neste mundo passa por aí, quer dizer, intervir sem mais, sem
esperar convite ou desafio, mas apenas porque entendo que é minha obrigação
fazê-lo?
Será
que os outros, nomeadamente a quem o assunto respeita, esperam isso de mim?
Terão
alguma expectativa sobre o que penso ou faço para resolver – ou pelo menos
ajudar a resolver – essa questão?
Mereço
essa confiança?
Existe
da parte dos outros essa expectativa?
Na
verdade penso que tenho de responder positivamente a todas essas questões mesmo
sem me preocupar se tenho ou não aptidões para tal.
Talvez
espere por um convite que poderá surgir de forma “muda”, sem formalidade nem
uma solicitação expressa, mas, tal, não tem de acontecer dessa forma tão clara
e evidente.
Se
alguém me conta algo, um problema, me revela uma dificuldade, me expõe uma
dúvida, seguramente que o faz não para só para “desabafar” mas, para que eu
possa dar o meu contributo – seja conselho ou opinião – sobre o que me revela.
Se
não porque o faria?
Se
alguém me diz simplesmente: ‘Estou triste’ sem acrescentar o que for, não
esperará de mim uma pergunta simples: ‘Porquê?’
É
evidente que sim, ninguém anuncia a outro um estado de alma sem ser para tentar
obter uma resposta que revele interesse e, possivelmente, ajuda.
O
que posso fazer?
Muito!
Posso – e devo – fazer muito.
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