30/04/2020

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Amemos a direcção espiritual!


Abriste sinceramente o teu coração ao teu Director, falando na presença de Deus... E foi maravilhoso verificar como tu ias encontrando sozinho. a resposta adequada às tuas próprias tentativas de evasão. Amemos a direcção espiritual! (Sulco, 152)

Conhecem muito bem as obrigações do vosso caminho de cristãos, que os hão-de levar sem parar e com calma à santidade; também estão precavidos contra as dificuldades, praticamente contra todas, porque já se vislumbram desde o princípio do caminho. Agora insisto em que se deixem ajudar e guiar por um director de almas, a quem confiem todos os entusiasmos santos, os problemas diários que afectarem a vida interior, as derrotas que sofrerem e as vitórias.
Nessa direcção espiritual mostrem-se sempre muito sinceros: não deixem nada por dizer, abram completamente a alma, sem medo e sem vergonha. Olhem que, se não, esse caminho tão plano e tão fácil de andar complica-se e o que ao princípio não era nada acaba por se converter num nó que sufoca.
(...) Lembram-se da história do cigano que se foi confessar? Não passa de uma história, de uma historieta, porque da confissão nunca se fala e, além disso, estimo muito os ciganos. Coitadinho! Estava realmente arrependido: Senhor Padre, acuso-me de ter roubado uma arreata... – pouca coisa, não é? – e atrás vinha uma burra...; e depois outra arreata...; e outra burra... e assim até vinte. Meus filhos, o mesmo acontece no nosso comportamento: quando cedemos na arreata, depois vem o resto, a seguir vem uma série de más inclinações, de misérias que aviltam e envergonham; e acontece o mesmo na convivência: começa-se com uma pequena falta de delicadeza e acaba-se a viver de costas uns para os outros, no meio da indiferença mais gelada. (Amigos de Deus, 15)

LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Lucas

Cap. II


1 Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, 2 como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram "Servidores da Palavra", 3 resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, 4 a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído. 5 No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. 6 Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7 Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. 8 Ora, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, 9 coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. 10 Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. 11 Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12 Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. 13 Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. 14 Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15 Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe 16 e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17 Irá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições.» 18 Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» 19 O anjo respondeu: «Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. 20 Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.» 21 O povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. 22 Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que tinha tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo. 23 Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. 24 Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. 25 Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.» 26 Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28 Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29 Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30 Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31 Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32 Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33 reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34 Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35 O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36 Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37 porque nada é impossível a Deus.» 38 Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela. 39 Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40 Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42 Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43 E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44 Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45 Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» 46 Maria disse, então: «A minha alma glorifica o Senhor 47 e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. 48Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49 O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. 50 A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. 51 Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. 52 Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53 Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. 54 Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55 como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56 Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa. 57 Entretanto, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 58 Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. 59 Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60 Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61 Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62 Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63 Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. 64 Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65 O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66 Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. 67  Então, seu pai, Zacarias, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou com estas palavras: 68 «Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo 69e nos deu um Salvador poderoso na casa de David, seu servo, 70 conforme prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos; 71 para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam, 72 para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança; 73 e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: 74 de o servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, 75 em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. 76 E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, 77 para dar a conhecer ao seu povo a salvação pela remissão dos seus pecados, 78 graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, 79 para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.» 80 Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel.

Comentários:

5-25 –

No início da história da salvação da humanidade os Santos Anjos têm três missões de suma importância: Anunciar a José a maternidade de Maria; Anunciar a Zacarias o nascimento de João Baptista e, finalmente, o anúncio à Santíssima Virgem que iria ser Mãe do Salvador. O primeiro não faz qualquer pergunta depois do sonho em que o Anjo lhe transmitiu a vontade de Deus. Faz imediatamente como lhe é ordenado. O segundo faz perguntas, fica surpreendido, não tem a certeza se deve ou não acreditar. O terceiro anúncio também provoca perguntas naturais, simples que, uma vez esclarecidas resolvem qualquer hesitação. De certo modo fica bem claro que os corações puros e as almas simples – que não quer dizer ingénuas – estão predispostos a receber e aceitar o que Deus manda.
Não podemos comparar as duas “anunciações”: a Nossa Senhora e a Zacarias. Ambas contêm notícias de suma importância enviadas por Deus por meio dos Seus Anjos mas, as pessoas que as recebem são diferentes. A Santíssima Virgem está admirada e surpreendida e, por isso, faz uma pergunta. A resposta é concludente para ela porque sabe muito bem o que consta nas Escrituras. Por isso, humildemente, se declara a “escrava do Senhor” e se dispõe a aceitar sem mais oque lhe é anunciado. Zacarias não tem – não pode ter – a mesma candura e pureza de coração da Virgem Maria e por isso “se fica” num abismo de incredulidade talvez por não se considerar digno de tal anúncio que lhe é feito. Os Santos Anjos são muitas vezes encarregados por Deus de fazer chegar às criaturas os desígnios da Sua Vontade. Nomeadamente os da guarda de cada um com insinuações inspiradas e simples. Nós não temos que pôr à prova coisa nenhuma, sabemos com segurança que estes excelentes seres têm por missão proteger-nos, guiar-nos e assistir-nos.

26-38 -

A Mãe do Rei é a Rainha. Rainha do mundo, dos céus e da terra, dos Anjos e dos homens porque o seu Filho é o Rei Supremo de quanto existe. Assim foi coroada numa festa celeste que dura permanentemente e assim é venerada pelos seus súbditos os homens. Com especial relevo por nós portugueses porque, em acto soleníssimo, como tal foi coroada pelo próprio Rei de Portugal.
E se tivesse dito que não, que o que lhe era pedido era demais, muito alto, muito grande e que, ela, Maria, não estava à altura de planos tão grandiosos! Era possível esta resposta? Sim, era e, até de certo modo, compreensível. Mas, a Virgem, em vez de se reconhecer como não merecedora de tão extraordinária escolha, o que poderia parecer um acto de humildade, prefere declarar-se escrava. Ora a atitude da escrava dispensa a declaração de humildade, mas exige a da obediência total e sem reservas à vontade do seu Senhor. E, a verdade, é que esta escrava, se converte em Rainha – cuja festa hoje celebramos – e como tal é coroada nos Céus por Deus Nosso Senhor, numa festa cuja grandiosidade não podemos imaginar. Vemos os Anjos e Potestades e os Santos mirando a Sua Rainha com tal amor e admiração que perdura para todo o sempre.
Quem é esta «escrava do Senhor»? Nada menos que a verdadeira Mãe de Deus! À maior dignidade corresponde a maior humildade! Como se pode entender tal coisa? Temos de fazer um verdadeiro esforço para tentar compreender em toda a sua magnitude esta extraordinária verdade e, mesmo assim, ficaremos sempre muito longe. É que a humildade da Santíssima Virgem não colide com a sua magnífica maternidade, bem ao contrário, quanto mais humilde mais próximo de Deus e, portanto, à maior proximidade - que a maternidade implica - corresponderá a mais absoluta humildade. Porque «achou graça diante de Deus» a humilde virgem foi elevada à mais alta posição de mulher!
A Liturgia escolheu para este dia de festa – a Imaculada Conceição de Nossa Senhora – o texto em que São Lucas relata o anúncio da Maternidade de Maria. Aquela jovem mulher, escolhida por Deus desde o princípio dos tempos, é a criatura mais perfeita e adornada de virtudes, de facto, a única que poderia ser a Mãe do Salvador da humanidade. Na sua presença, hoje de modo muito particular, lembramo-nos que também é nossa Mãe amantíssima, intercessora, refúgio e protecção, sempre pronta a atender-nos.
No dia em que a Igreja celebra a festa de Nossa Senhora Rainha este Evangelho é sem dúvida muito apropriado. Temos a mais excelsa criatura cantando um hino de louvor pelas extraordinárias maravilhas que o Senhor operou nela pelas quais será louvada por todo o sempre. A Mãe de Deus não poderia ocupar outro lugar que não fosse o de Rainha dos Céus e da terra dos anjos e dos homens. O nosso D. João IV assim o reconheceu ao "oficialmente" com a autoridade régia que era a sua, que a Santíssima Virgem era a Rainha de Portugal a única que poderia a partir de então usar a coroa real símbolo maior de grandeza e dignidade que nós portugueses somos o único povo no mundo a colocar na sua cabeça. Com tão excelsa Senhora como Rainha que também é nossa Mãe como não sermos felizes e gratos?
Com este acontecimento extraordinário, que São Lucas nos relata com os detalhes que deverá ter ouvido da própria Santíssima Virgem, começa, verdadeiramente, a História da Salvação da Humanidade. Sentimos um misterioso clima de grandiosa simplicidade – se assim se pode dizer – em que se envolvem uma jovem rapariga e um Enviado de Deus, num diálogo intenso, de perguntas e respostas, de estranheza e segurança, de incompreensão e acatamento. Nada falta! Tudo é completo, grandioso e simples ao mesmo tempo como é sempre o momento em que a Vontade de Deus é aceite e, naturalmente, se cumpre. Virgem e Mãe! Mãe sempre Virgem! A Nossa Senhora! A nossa Mãe! «Dum steteris in conspecto Domine, loquaris pro nos bona[i]
A Liturgia repete este texto de São Lucas precisamente na véspera do dia em que celebramos o nascimento do Salvador. E, evidentemente, tem uma intenção clara ao fazê-lo: Que todos os cristãos retenham de forma indelével os acontecimentos que marcaram para sempre a humanidade. Não podemos senão imaginar esta cena íntima, reservada, simples e solene ao mesmo tempo. O que foi dito pelo Anjo, o que a Senhora respondeu; à grandeza do anúncio pergunta como será; obtida a resposta aceita rendidamente a Vontade de Deus. Mas, e além disso, aquela que foi escolhida e designada como única entre todas as mulheres declara-se escrava, humilde e simples e, por isso mesmo não diz ‘quero… aceito’ mas «faça-se a Sua Vontade».
Ah! Senhora minha, minha Mãe do Céu! Como eu te admiro e me sinto o mais feliz dos homens por teres aceite ser a Mãe do Salvador! Sem o teu “fiat” pronto e simples, tornaste-me, também a mim, teu Filho em que a Bondade e Misericórdia de Jesus, pendente da Cruz onde dava a vida pela salvação da humanidade, te entregou a João como sua mãe. De certa forma, Senhora, nasci da Cruz da Redenção e por isso mesmo me recolhes nos teus braços amorosos para me protegeres e embalares carinhosamente. Algumas das tuas lágrimas caíram sobre mim e são essas graças que me permitem viver como vivo, bem agarrado ao teu manto protector. Senhora minha, minha Querida Mãe: Hoje neste dia tão especial que todos no Céu e na terra louvam e rejubilam com a tua Imaculada Conceição, atrevo-me a pedir-te – e tanto… tanto te devo – que me ajudes a seguir as tuas indicações “fazendo tudo quanto o Teu Filho quiser que faça” e, como em Caná, eu possa ser esse servo obediente e solícito que desejas que seja. Atrevo-me a pedir-te uma vez mais que quero ser melhor para poder ganhar esse Céu de onde me abençoas.
Como num filme cujo realizador é o próprio Deus Todo Poderoso, uma novel actriz desempenha um papel inesquecível! A cena é entranhável de simplicidade grandiosa e de extraordinária dignidade. O que é dito pelos intervenientes é o essencial, o que verdadeiramente importa para a esta primeira cena do filme da Salvação humana.
Este é um trecho do Evangelho escrito por São Lucas que sabemos – todos os cristãos – praticamente de cor. E é bom que assim seja porque se trata do relato do maior e mais importante acontecimento para a humanidade. Deus, Nosso Senhor, resolve que é chegado o momento de cumprir o prometido e dar início à salvação dos Seus filhos, os homens e, de maneira completa e definitiva, como que pôr um “ponto final” nas relações perturbadas pelo pecado dos nossos primeiros Pais. Aquela que, desde o princípio dos tempos, determinara que seria a Mãe do Salvador está disposta e disponível para aceitar a Sua Vontade com a simples humildade de uma escrava que não tem outra vontade que a do seu Senhor. O diálogo breve e intenso travado entre o Seu mensageiro e a Virgem é profunda e totalmente esclarecedor, nada fica por dizer, nenhuma dúvida por colocar. Este é o início da “nossa história” de filhos de Deus; gravemo-la de forma indelével no nosso coração considerando a grandeza e honra que, sem qualquer mérito da nossa parte, nos foram concedidas.
O maior acontecimento da história humana parece - narrado pelo génio literário de S. Lucas -, uma história simples desprovida de qualquer grandiosidade. E, de facto, assim é. Deus Nosso Senhor é, Ele próprio, a simplicidade e a Santíssima Virgem não é mais que uma jovem e simples rapariga da Galileia. Nós, homens, apreciamos os discursos elaborados, a oratória grandiloquente sem as quais os acontecimentos não têm relevância. Perdemo-nos nas palavras e esquecemos a substância. Não nos esqueçamos nunca de agradecer ao Senhor todas as maravilhas que Ele operou.

29-56 –

Este é um Evangelho onde pela primeira vez aparece bem marcada a acção do Espírito Santo. O conhecimento de Santa Isabel sobre a Santíssima Virgem, a "agitação" do menino no seio de sua mãe, o Magnificat que irrompe espontaneamente dos lábios da Virgem Santíssima. Estão presentes nesta cena entranhável as Duas Pessoas da Santíssima Trindade que a partir daqueles momentos acompanharão para sempre a humanidade: O Jesus Cristo que vem redimir e salvar e O Paráclito que ficará para consolidar na Fé a mesma humanidade.
Como é feliz esta jovem mulher a quem foi revelado o papel de extraordinária relevância que irá desempenhar na história da humanidade! Feliz não pela honra, o destaque, a distinção mas porque Deus Se revelou na serva humilíssima como a si mesma se considera. Maria não pensa nela mas em Deus que nela quis revelar-se porque, de facto, faz o que quer e como quer. Não consegue manter por mais tempo o que lhe sufoca o peito e, as palavras de Isabel foram como que a chave que abriu esse cofre e, o seu canto de louvor, jorra impetuoso, intenso, magnífico.
A Mãe de Deus dá-nos a sua segunda lição de humildade. A primeira foi quando declarou a São Gabriel que se considerava a Escrava de Deus. A segunda, agora, visitando a sua prima Isabel que no sexto mês de gravidez deveria precisar da sua assistência. Não pensou um instante que ela, que já trazia no seu seio o próprio Deus, não teria que sujeitar-se a uma deslocação longa e desconfortável para prestar um serviço. É assim a Senhora Nossa Mãe: sempre pronta e disponível para assistir a quem precisa. E… todos nós homens – seus filhos – precisamos dela, constantemente, todos os dias da nossa vida. Que consolação o sabermos que podemos contar com ela!
Já uma vez comentei que a história da salvação humana começa como um filme em que as cenas se vão desenrolando apresentando os protagonistas no momento próprio. E assim é, cabe-nos como expectadores, prestar a melhor atenção para não perdermos um pormenor, um detalhe e, naturalmente, guardá-los no nosso coração. O “realizador” – Deus Pai – envia o Seu “Director de Cena” o Arcanjo Gabriel, para que estas passagens tão importantes e decisivas tenham o desempenho correcto e ambiente adequado. E nada falta: A grandiosidade do Anúncio, a aceitação da Virgem, a sua pronta disponibilidade na assistência a Santa Isabel, o seu hino de louvor e agradecimento… enfim, um “enredo” apaixonante que nos prende uma e outra vez, que nos leva a repetir vezes sem conta a leitura destes trechos respeitantes à “Visitação” de Nossa Senhora que hoje comemoramos. E ficamos sumamente gratos a São Lucas que nos deixou o precioso “argumento” que nos comove e maravilha.

39-46 -

Ficamos abismados e sem palavras ao tomar conhecimento desta primeira acção da Mãe de Deus! Talvez que – poderíamos pensar- depois do Anjo a ter deixado, a Senhor mergulhasse em oração profunda, íntima e intensa com Deus. Mas, ela surpreende-nos – sempre nos surpreende – porque o que faz é apressar-se a dar assistência à sua prima Isabel que, “já entrada em anos”, bem deveria precisar dela. Os outros! A Senhora pensa nos outros, sempre, muito antes de os outros lhe pedirem o que for. Está atenta, disponível, amável e carinhosa e, como em Caná, onde mais uma vez faz o mesmo, não nos diz outra coisa que: «Fazei o que Ele vos disser»!
O dom especial de São Lucas descreve uma cena de capital importância como uma história simples, natural absolutamente “normal”. A jovem Mãe que traz no seu ventre o Salvador não pensa em si e na “sua grandeza excepcional” mas nos outros, neste caso Isabel que necessita da sua assistência nos meses que antecedem o parto do filho há muito esperado. E vai «apressadamente», como sublinha o Evangelista, cheia de ardor solidário e prestativo pelos árduos caminhos da montanha de Judá. A alegria do encontro está bem patente no que se segue: a saudação de Isabel e o magnífico hino da Santíssima Virgem. Este importantíssimo episódio é bem elucidativo do carácter da Santíssima Mãe de Deus: os outros, sempre os outros! Declara sem rebuço que sabe muito bem quem é, e conhece os desígnios de Deus a seu respeito mas tudo –a absolutamente tudo – se deve ao Senhor e aos Seus altos desígnios. Ela será sempre a escrava do Senhor!
Não é possível com palavras humanas descrever este momento inolvidável da história da salvação Humanidade. Parece que estamos na presença de um acontecimento que irreal. A Mãe de Deus, solta, irreprimível um hino de louvor que ficará para sempre conhecido por Magnificat e entoado através dos tempos por milhões de crentes. As Managlia dei são reconhecidas e apregoadas aos quatro cantos da terra e, quem o fez é a que a ela própria se considera escrava.
No espaço de poucos dias a Liturgia repete este trecho do Evangelho de São Lucas. Parece-me muito natural e adequado que o faça porque a dois dias do Nascimento do Salvador, nunca será demais revivermos com compunção maravilhada os começos da história da Salvação da Humanidade. Pessoalmente, o que talvez mais me faça reflectir é a ”simples grandiosidade”, se assim posso dizer destes acontecimentos que, graças à pena inspirada do Evangelista, podemos felizmente conhecer e meditar. Parece uma história de gente comum, sem nenhum privilégio ou grandeza como, de facto será, o Nascimento do Salvador numa simples gruta de pastores tendo por berço uma prosaica manjedoura de animais. De maravilha em maravilha, vamos preparando a nossa alma e o nosso coração com a simplicidade que Deus quer: Simplicidade de Criança!
A jovem mulher de Nazaré sabe que no seu seio já habita o Rei do Mundo, o seu Filho que se chamará Jesus Cristo. Esta maravilha grandiosa não a faz hesitar um momento em prestar assistência à sua parente Isabel arrostando com os incómodos de uma viajem por caminhos duros e agrestes. A Rainha dos Homens presta o seu primeiro serviço, o seu cuidado e preocupação pelos homens seus irmãos. Sim, é verdade, ela declarou-se “a escrava do Senhor”, mas não acrescentou o que sabemos sobejamente: Que é a Nossa Mãe que nos protege e desvela em cuidados para connosco.

57-66-
Quando acontecem factos extraordinários que saem do comum é natural haver sentimentos de temor. O que não se compreende ou não tem uma explicação lógica e evidente, além surpreender causa sempre esse sentimento de inquietação e perplexidade. É o que acontece com o nascimento de São João Baptista. Todos sabem de esterilidade de Isabel e da idade avençada do casal pelo que, a gravidez e o nascimento do seu filho causa natural surpresa. Acrescenta-se a mudez de Zacarias e a escolha do nome da criança, algo inusitado nos costumes de então. Como que um sinal, o nascimento do Baptista decerto ficaria na memória de todos os que presenciaram ou tomaram conhecimento destes factos extraordinários. É bem evidente a Vontade de Deus a querer assinalar este novo ser ao qual estava reservada uma missão de enorme importância.
O nosso nome, aquele que nos identifica e pelo qual nos conhecem, faz parte integrante da nossa vida. Mas, por si só, não basta, normalmente, para uma identificação completa há que juntar os chamados apelidos, nomes de família dos nossos pais e, assim, fica completa a nossa identificação. Nós, cristãos, para sermos conhecidos por Deus Nosso Senhor, é suficiente esse recebido no Baptismo, porque, Ele, nosso Pai, conhece-nos intimamente, individualmente, a cada um de nós.
Quando se trata de São João Baptista somos invadidos por um misto de ternura e admiração. Ternura pela sua figura simples e absolutamente desprendida de bens ou de afectos. Sabemos que teve numerosos seguidores mas sempre lhes referiu que seria Outro Quem deveriam seguir. Uma vida austera, frugal de afastamento voluntário da vida de sociedade. Admiração porque embora sabendo muito bem a relevância da sua missão como Percursor se considerava como não estar à altura nem ter dignidade suficiente para tal: «não sou digno de desatar as correias das sandálias...».  Por último, cumprido o seu papel na História da Salvação da Humidade entrega a sua vida em holocausto total
É importante o nome que os nossos Pais e Padrinhos escolhem para nós no dia do nosso Baptismo? Evidentemente que sim e, por isso mesmo, a escolha desse nome - pelo qual seremos conhecidos pelos homens nossos irmãos e por Deus nosso Pai -, deverá obedecer a critérios correctos que não se coadunam com subjectividades, nem “modas” do momento. O Baptismo é um Sacramento cristão logo, a escolha de um nome cristão é (consoante a nacionalidade do baptizando, sem qualquer dúvida, o mais adequado.
São João Baptista é o único santo que a Igreja celebra por duas vezes: O nascimento e a morte. O primeiro porque está indelevelmente ligado à Redenção, ele foi o percursor do anúncio da vinda do Reino de Deus, cuja chegada eminente seria confirmada por Jesus Cristo. O segundo porque foi o último mártir do Antigo Testamento, como que iniciando a multidão de mártires que dariam – e continuam a dar – as suas vidas por Cristo e pela Verdade.


67-79 -
Penso em Zacarias e no que deve ter sofrido no seu silêncio forçado pela dúvida manifestada ao Anjo. Mas, Zacarias, é um homem de Deus, profundamente crente e não pode mais que deixar expandir o que lhe vai na alma neste maravilhoso hino que o Espírito Santo lhe insinuou e que, para sempre, ficará como a expressão da verdadeira fé, do autêntico amor, da confiança absoluta nas promessas de Deus.
São Lucas apresenta-nos a sua descrição do Nascimento de Jesus de uma forma “mais completa”, fazendo preceder o acontecimento fulcral da Salvação da humanidade, da genealogia do Salvador. A sua intenção é clara: Revelar a identidade completa do Menino para que não restem dúvidas de Quem È e como Se relaciona com os homens. Depois repete, também, a descrição da revelação do Anjo a São José. Podemos dizer que, na véspera do dia em que a Igreja e o mundo celebram o Acontecimento, quer deixar-nos um relato muito concreto e em detalhe dos acontecimentos que precederam o grande momento da história da Salvação.



(AMA, 2018)  




[i] Quando estiveres na presença de Deus, diz-lhe bem de nós!

Temas para reflectir e meditar

Bem comum


O desenvolvimento da sociedade tem lugar graças à contribuição dos seus membros, cada um dos quais aporta o que lhe é próprio, aqueles dons que recebeu do Senhor e que aumentou com a sua inteligência, a ajuda da sociedade e a graça de Deus. 
Estes bens e dons foram-nos dados para o desenvolvimento da própria personalidade e para lograr o fim último; mas também para servir o próximo. Mais, não poderíamos alcançar o fim pessoal se não contribuirmos para o bem de todos.

(Leão XIIIEncíclica Rerum Novarum, Roma, 1881.09.15)

El Reto Del Amor



PANDEMIA


PANDEMIA - 29

PAZ

Finalmente o VERDADEIRO AMOR é PAZ.

Na verdade, amando, imitamos Jesus Cristo que nos amou, e nos ama, até ao fim.

Ele é, o PRÍNCIPE DA PAZ, e RESSUSCITADO, as Suas primeiras palavras aos discípulos foram: A PAZ ESTEJA CONVOSCO!

O AMOR É:
ENTREGA – DOAÇÃO – RESPEITO – PRUDÊNCIA – UNIVERSAL -TOTAL – SACRIFÍCIO – REFLEXO -  OBEDIÊNCIA – CONFIANÇA – PACIENTE – GENUÍNO – HUMANO – CONSAGRAÇÃO - ALEGRIA – PACIENTE – ESPERANÇA – BONDADE – TUDO SUPORTA - CAMINHO DE PERFEIÇÃO - PAZ


O AMOR NÃO É NEM TEM:
INVEJOSO – GLÓRIA – ORGULHO – MEDIDA – INTERESSES – IRA - RANCOR

Com estes predicados o AMOR não será a solução?

(AMA, 2020)

PANDEMIA


PANDEMIA - 28

CAMINHO DE PERFEIÇÃO

Sem dúvida alguma que, o verdadeiro AMOR é caminho de perfeição porque, com os predicados que abaixo se assinalam, caminha num sentido que se aproxima do AMOR DE DEUS.

O AMOR É:
ENTREGA – DOAÇÃO – RESPEITO – PRUDÊNCIA – UNIVERSAL -TOTAL – SACRIFÍCIO – REFLEXO -  OBEDIÊNCIA – CONFIANÇA – PACIENTE – GENUÍNO – HUMANO – CONSAGRAÇÃO - ALEGRIA – PACIENTE – ESPERANÇA – BONDADE – INABALÁVEL- CAMINHO DE PERFEIÇÃO


O AMOR NÃO É NEM TEM:
INVEJOSO – GLÓRIA – ORGULHO – MEDIDA – INTERESSES – IRA - RANCOR

Com estes predicados o AMOR não será a solução?

(AMA, 2020)

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira

PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





29/04/2020

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LEITURA ESPIRITUAL

COMENTANDO OS EVANGELHOS

São Lucas

Cap. I


1 Visto que muitos empreenderam compor uma narração dos factos que entre nós se consumaram, 2 como no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e se tornaram "Servidores da Palavra", 3 resolvi eu também, depois de tudo ter investigado cuidadosamente desde a origem, expô-los a ti por escrito e pela sua ordem, caríssimo Teófilo, 4 a fim de reconheceres a solidez da doutrina em que foste instruído. 5 No tempo de Herodes, rei da Judeia, havia um sacerdote chamado Zacarias, da classe de Abias, cuja esposa era da descendência de Aarão e se chamava Isabel. 6 Ambos eram justos diante de Deus, cumprindo irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor. 7 Não tinham filhos, pois Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. 8 Ora, estando Zacarias no exercício das funções sacerdotais diante de Deus, na ordem da sua classe, 9 coube-lhe, segundo o costume sacerdotal, entrar no santuário do Senhor para queimar o incenso. 10 Todo o povo estava da parte de fora em oração, à hora do incenso. 11 Então, apareceu-lhe o anjo do Senhor, de pé, à direita do altar do incenso. 12 Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e encheu-se de temor. 13 Mas o anjo disse-lhe: «Não temas, Zacarias: a tua súplica foi atendida. Isabel, tua esposa, vai dar-te um filho e tu vais chamar-lhe João. 14 Será para ti motivo de regozijo e de júbilo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento. 15 Pois ele será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem bebida alcoólica; será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe 16 e reconduzirá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus. 17 Irá à frente, diante do Senhor, com o espírito e o poder de Elias, para fazer voltar os corações dos pais a seus filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, a fim de proporcionar ao Senhor um povo com boas disposições.» 18 Zacarias disse ao anjo: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» 19 O anjo respondeu: «Eu sou Gabriel, aquele que está diante de Deus, e fui enviado para te falar e anunciar esta Boa-Nova. 20 Vais ficar mudo, sem poder falar, até ao dia em que tudo isto acontecer, por não teres acreditado nas minhas palavras, que se cumprirão na altura própria.» 21 O povo, entretanto, aguardava Zacarias e admirava-se por ele se demorar no santuário. 22 Quando saiu, não lhes podia falar e eles compreenderam que tinha tido uma visão no santuário. Fazia-lhes sinais e continuava mudo. 23 Terminados os dias do seu serviço, regressou a casa. 24 Passados esses dias, sua esposa Isabel concebeu e, durante cinco meses, permaneceu oculta. 25 Dizia ela: «O Senhor procedeu assim para comigo, nos dias em que viu a minha ignomínia e a eliminou perante os homens.» 26 Ao sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, 27 a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. 28 Ao entrar em casa dela, o anjo disse-lhe: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» 29 Ao ouvir estas palavras, ela perturbou-se e inquiria de si própria o que significava tal saudação. 30 Disse-lhe o anjo: «Maria, não temas, pois achaste graça diante de Deus. 31 Hás-de conceber no teu seio e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. 32 Será grande e vai chamar-se Filho do Altíssimo. O Senhor Deus vai dar-lhe o trono de seu pai David, 33 reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim.» 34 Maria disse ao anjo: «Como será isso, se eu não conheço homem?» 35 O anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer é Santo e será chamado Filho de Deus. 36 Também a tua parente Isabel concebeu um filho na sua velhice e já está no sexto mês, ela, a quem chamavam estéril, 37 porque nada é impossível a Deus.» 38 Maria disse, então: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.» E o anjo retirou-se de junto dela. 39 Por aqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa para a montanha, a uma cidade da Judeia. 40 Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41 Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42 Então, erguendo a voz, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43 E donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor? 44 Pois, logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio. 45 Feliz de ti que acreditaste, porque se vai cumprir tudo o que te foi dito da parte do Senhor.» 46 Maria disse, então: «A minha alma glorifica o Senhor 47 e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. 48 Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações. 49 O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. 50 A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. 51 Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. 52 Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. 53 Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. 54 Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, 55 como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.» 56 Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois regressou a sua casa. 57 Entretanto, chegou o dia em que Isabel devia dar à luz e teve um filho. 58 Os seus vizinhos e parentes, sabendo que o Senhor manifestara nela a sua misericórdia, rejubilaram com ela. 59 Ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e queriam dar-lhe o nome do pai, Zacarias. 60 Mas, tomando a palavra, a mãe disse: «Não; há-de chamar-se João.» 61 Disseram-lhe: «Não há ninguém na tua família que tenha esse nome.» 62 Então, por sinais, perguntaram ao pai como queria que ele se chamasse. 63 Pedindo uma placa, o pai escreveu: «O seu nome é João.» E todos se admiraram. 64 Imediatamente a sua boca abriu-se, a língua desprendeu-se-lhe e começou a falar, bendizendo a Deus. 65 O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos, e por toda a montanha da Judeia se divulgaram aqueles factos. 66 Quantos os ouviam retinham-nos na memória e diziam para si próprios: «Quem virá a ser este menino?» Na verdade, a mão do Senhor estava com ele. 67  Então, seu pai, Zacarias, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou com estas palavras: 68 «Bendito o Senhor, Deus de Israel, que visitou e redimiu o seu povo 69 e nos deu um Salvador poderoso na casa de David, seu servo, 70 conforme prometeu pela boca dos seus santos, os profetas dos tempos antigos; 71 para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam, 72 para mostrar a sua misericórdia a favor dos nossos pais, recordando a sua sagrada aliança; 73 e o juramento que fizera a Abraão, nosso pai, que nos havia de conceder esta graça: 74 de o servirmos um dia, sem temor, livres das mãos dos nossos inimigos, 75 em santidade e justiça, na sua presença, todos os dias da nossa vida. 76 E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque irás à sua frente a preparar os seus caminhos, 77 para dar a conhecer ao seu povo a salvação pela remissão dos seus pecados, 78 graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente, 79 para iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.» 80 Entretanto, o menino crescia, o seu espírito robustecia-se, e vivia em lugares desertos, até ao dia da sua apresentação a Israel.

Comentários:

5-25 –

No início da história da salvação da humanidade os Santos Anjos têm três missões de suma importância: Anunciar a José a maternidade de Maria; Anunciar a Zacarias o nascimento de João Baptista e, finalmente, o anúncio à Santíssima Virgem que iria ser Mãe do Salvador. O primeiro não faz qualquer pergunta depois do sonho em que o Anjo lhe transmitiu a vontade de Deus. Faz imediatamente como lhe é ordenado. O segundo faz perguntas, fica surpreendido, não tem a certeza se deve ou não acreditar. O terceiro anúncio também provoca perguntas naturais, simples que, uma vez esclarecidas resolvem qualquer hesitação. De certo modo fica bem claro que os corações puros e as almas simples – que não quer dizer ingénuas – estão predispostos a receber e aceitar o que Deus manda.
Não podemos comparar as duas “anunciações”: a Nossa Senhora e a Zacarias. Ambas contêm notícias de suma importância enviadas por Deus por meio dos Seus Anjos mas, as pessoas que as recebem são diferentes. A Santíssima Virgem está admirada e surpreendida e, por isso, faz uma pergunta. A resposta é concludente para ela porque sabe muito bem o que consta nas Escrituras. Por isso, humildemente, se declara a “escrava do Senhor” e se dispõe a aceitar sem mais oque lhe é anunciado. Zacarias não tem – não pode ter – a mesma candura e pureza de coração da Virgem Maria e por isso “se fica” num abismo de incredulidade talvez por não se considerar digno de tal anúncio que lhe é feito. Os Santos Anjos são muitas vezes encarregados por Deus de fazer chegar às criaturas os desígnios da Sua Vontade. Nomeadamente os da guarda de cada um com insinuações inspiradas e simples. Nós não temos que pôr à prova coisa nenhuma, sabemos com segurança que estes excelentes seres têm por missão proteger-nos, guiar-nos e assistir-nos.

26-38 -

A Mãe do Rei é a Rainha. Rainha do mundo, dos céus e da terra, dos Anjos e dos homens porque o seu Filho é o Rei Supremo de quanto existe. Assim foi coroada numa festa celeste que dura permanentemente e assim é venerada pelos seus súbditos os homens. Com especial relevo por nós portugueses porque, em acto soleníssimo, como tal foi coroada pelo próprio Rei de Portugal.
E se tivesse dito que não, que o que lhe era pedido era demais, muito alto, muito grande e que, ela, Maria, não estava à altura de planos tão grandiosos! Era possível esta resposta? Sim, era e, até de certo modo, compreensível. Mas, a Virgem, em vez de se reconhecer como não merecedora de tão extraordinária escolha, o que poderia parecer um acto de humildade, prefere declarar-se escrava. Ora a atitude da escrava dispensa a declaração de humildade, mas exige a da obediência total e sem reservas à vontade do seu Senhor. E, a verdade, é que esta escrava, se converte em Rainha – cuja festa hoje celebramos – e como tal é coroada nos Céus por Deus Nosso Senhor, numa festa cuja grandiosidade não podemos imaginar. Vemos os Anjos e Potestades e os Santos mirando a Sua Rainha com tal amor e admiração que perdura para todo o sempre.
Quem é esta «escrava do Senhor»? Nada menos que a verdadeira Mãe de Deus! À maior dignidade corresponde a maior humildade! Como se pode entender tal coisa? Temos de fazer um verdadeiro esforço para tentar compreender em toda a sua magnitude esta extraordinária verdade e, mesmo assim, ficaremos sempre muito longe. É que a humildade da Santíssima Virgem não colide com a sua magnífica maternidade, bem ao contrário, quanto mais humilde mais próximo de Deus e, portanto, à maior proximidade - que a maternidade implica - corresponderá a mais absoluta humildade. Porque «achou graça diante de Deus» a humilde virgem foi elevada à mais alta posição de mulher!
A Liturgia escolheu para este dia de festa – a Imaculada Conceição de Nossa Senhora – o texto em que São Lucas relata o anúncio da Maternidade de Maria. Aquela jovem mulher, escolhida por Deus desde o princípio dos tempos, é a criatura mais perfeita e adornada de virtudes, de facto, a única que poderia ser a Mãe do Salvador da humanidade. Na sua presença, hoje de modo muito particular, lembramo-nos que também é nossa Mãe amantíssima, intercessora, refúgio e protecção, sempre pronta a atender-nos.
No dia em que a Igreja celebra a festa de Nossa Senhora Rainha este Evangelho é sem dúvida muito apropriado. Temos a mais excelsa criatura cantando um hino de louvor pelas extraordinárias maravilhas que o Senhor operou nela pelas quais será louvada por todo o sempre. A Mãe de Deus não poderia ocupar outro lugar que não fosse o de Rainha dos Céus e da terra dos anjos e dos homens. O nosso D. João IV assim o reconheceu ao "oficialmente" com a autoridade régia que era a sua, que a Santíssima Virgem era a Rainha de Portugal a única que poderia a partir de então usar a coroa real símbolo maior de grandeza e dignidade que nós portugueses somos o único povo no mundo a colocar na sua cabeça. Com tão excelsa Senhora como Rainha que também é nossa Mãe como não sermos felizes e gratos?
Com este acontecimento extraordinário, que São Lucas nos relata com os detalhes que deverá ter ouvido da própria Santíssima Virgem, começa, verdadeiramente, a História da Salvação da Humanidade. Sentimos um misterioso clima de grandiosa simplicidade – se assim se pode dizer – em que se envolvem uma jovem rapariga e um Enviado de Deus, num diálogo intenso, de perguntas e respostas, de estranheza e segurança, de incompreensão e acatamento. Nada falta! Tudo é completo, grandioso e simples ao mesmo tempo como é sempre o momento em que a Vontade de Deus é aceite e, naturalmente, se cumpre. Virgem e Mãe! Mãe sempre Virgem! A Nossa Senhora! A nossa Mãe! «Dum steteris in conspecto Domine, loquaris pro nos bona[i]
A Liturgia repete este texto de São Lucas precisamente na véspera do dia em que celebramos o nascimento do Salvador. E, evidentemente, tem uma intenção clara ao fazê-lo: Que todos os cristãos retenham de forma indelével os acontecimentos que marcaram para sempre a humanidade. Não podemos senão imaginar esta cena íntima, reservada, simples e solene ao mesmo tempo. O que foi dito pelo Anjo, o que a Senhora respondeu; à grandeza do anúncio pergunta como será; obtida a resposta aceita rendidamente a Vontade de Deus. Mas, e além disso, aquela que foi escolhida e designada como única entre todas as mulheres declara-se escrava, humilde e simples e, por isso mesmo não diz ‘quero… aceito’ mas «faça-se a Sua Vontade».
Ah! Senhora minha, minha Mãe do Céu! Como eu te admiro e me sinto o mais feliz dos homens por teres aceite ser a Mãe do Salvador! Sem o teu “fiat” pronto e simples, tornaste-me, também a mim, teu Filho em que a Bondade e Misericórdia de Jesus, pendente da Cruz onde dava a vida pela salvação da humanidade, te entregou a João como sua mãe. De certa forma, Senhora, nasci da Cruz da Redenção e por isso mesmo me recolhes nos teus braços amorosos para me protegeres e embalares carinhosamente. Algumas das tuas lágrimas caíram sobre mim e são essas graças que me permitem viver como vivo, bem agarrado ao teu manto protector. Senhora minha, minha Querida Mãe: Hoje neste dia tão especial que todos no Céu e na terra louvam e rejubilam com a tua Imaculada Conceição, atrevo-me a pedir-te – e tanto… tanto te devo – que me ajudes a seguir as tuas indicações “fazendo tudo quanto o Teu Filho quiser que faça” e, como em Caná, eu possa ser esse servo obediente e solícito que desejas que seja. Atrevo-me a pedir-te uma vez mais que quero ser melhor para poder ganhar esse Céu de onde me abençoas.
Como num filme cujo realizador é o próprio Deus Todo Poderoso, uma novel actriz desempenha um papel inesquecível! A cena é entranhável de simplicidade grandiosa e de extraordinária dignidade. O que é dito pelos intervenientes é o essencial, o que verdadeiramente importa para a esta primeira cena do filme da Salvação humana.
Este é um trecho do Evangelho escrito por São Lucas que sabemos – todos os cristãos – praticamente de cor. E é bom que assim seja porque se trata do relato do maior e mais importante acontecimento para a humanidade. Deus, Nosso Senhor, resolve que é chegado o momento de cumprir o prometido e dar início à salvação dos Seus filhos, os homens e, de maneira completa e definitiva, como que pôr um “ponto final” nas relações perturbadas pelo pecado dos nossos primeiros Pais. Aquela que, desde o princípio dos tempos, determinara que seria a Mãe do Salvador está disposta e disponível para aceitar a Sua Vontade com a simples humildade de uma escrava que não tem outra vontade que a do seu Senhor. O diálogo breve e intenso travado entre o Seu mensageiro e a Virgem é profunda e totalmente esclarecedor, nada fica por dizer, nenhuma dúvida por colocar. Este é o início da “nossa história” de filhos de Deus; gravemo-la de forma indelével no nosso coração considerando a grandeza e honra que, sem qualquer mérito da nossa parte, nos foram concedidas.
O maior acontecimento da história humana parece - narrado pelo génio literário de S. Lucas -, uma história simples desprovida de qualquer grandiosidade. E, de facto, assim é. Deus Nosso Senhor é, Ele próprio, a simplicidade e a Santíssima Virgem não é mais que uma jovem e simples rapariga da Galileia. Nós, homens, apreciamos os discursos elaborados, a oratória grandiloquente sem as quais os acontecimentos não têm relevância. Perdemo-nos nas palavras e esquecemos a substância. Não nos esqueçamos nunca de agradecer ao Senhor todas as maravilhas que Ele operou.

29-56 –

Este é um Evangelho onde pela primeira vez aparece bem marcada a acção do Espírito Santo. O conhecimento de Santa Isabel sobre a Santíssima Virgem, a "agitação" do menino no seio de sua mãe, o Magnificat que irrompe espontaneamente dos lábios da Virgem Santíssima. Estão presentes nesta cena entranhável as Duas Pessoas da Santíssima Trindade que a partir daqueles momentos acompanharão para sempre a humanidade: O Jesus Cristo que vem redimir e salvar e O Paráclito que ficará para consolidar na Fé a mesma humanidade.
Como é feliz esta jovem mulher a quem foi revelado o papel de extraordinária relevância que irá desempenhar na história da humanidade! Feliz não pela honra, o destaque, a distinção mas porque Deus Se revelou na serva humilíssima como a si mesma se considera. Maria não pensa nela mas em Deus que nela quis revelar-se porque, de facto, faz o que quer e como quer. Não consegue manter por mais tempo o que lhe sufoca o peito e, as palavras de Isabel foram como que a chave que abriu esse cofre e, o seu canto de louvor, jorra impetuoso, intenso, magnífico.
A Mãe de Deus dá-nos a sua segunda lição de humildade. A primeira foi quando declarou a São Gabriel que se considerava a Escrava de Deus. A segunda, agora, visitando a sua prima Isabel que no sexto mês de gravidez deveria precisar da sua assistência. Não pensou um instante que ela, que já trazia no seu seio o próprio Deus, não teria que sujeitar-se a uma deslocação longa e desconfortável para prestar um serviço. É assim a Senhora Nossa Mãe: sempre pronta e disponível para assistir a quem precisa. E… todos nós homens – seus filhos – precisamos dela, constantemente, todos os dias da nossa vida. Que consolação o sabermos que podemos contar com ela!
Já uma vez comentei que a história da salvação humana começa como um filme em que as cenas se vão desenrolando apresentando os protagonistas no momento próprio. E assim é, cabe-nos como expectadores, prestar a melhor atenção para não perdermos um pormenor, um detalhe e, naturalmente, guardá-los no nosso coração. O “realizador” – Deus Pai – envia o Seu “Director de Cena” o Arcanjo Gabriel, para que estas passagens tão importantes e decisivas tenham o desempenho correcto e ambiente adequado. E nada falta: A grandiosidade do Anúncio, a aceitação da Virgem, a sua pronta disponibilidade na assistência a Santa Isabel, o seu hino de louvor e agradecimento… enfim, um “enredo” apaixonante que nos prende uma e outra vez, que nos leva a repetir vezes sem conta a leitura destes trechos respeitantes à “Visitação” de Nossa Senhora que hoje comemoramos. E ficamos sumamente gratos a São Lucas que nos deixou o precioso “argumento” que nos comove e maravilha.

39-46 -

Ficamos abismados e sem palavras ao tomar conhecimento desta primeira acção da Mãe de Deus! Talvez que – poderíamos pensar- depois do Anjo a ter deixado, a Senhor mergulhasse em oração profunda, íntima e intensa com Deus. Mas, ela surpreende-nos – sempre nos surpreende – porque o que faz é apressar-se a dar assistência à sua prima Isabel que, “já entrada em anos”, bem deveria precisar dela. Os outros! A Senhora pensa nos outros, sempre, muito antes de os outros lhe pedirem o que for. Está atenta, disponível, amável e carinhosa e, como em Caná, onde mais uma vez faz o mesmo, não nos diz outra coisa que: «Fazei o que Ele vos disser»!
O dom especial de São Lucas descreve uma cena de capital importância como uma história simples, natural absolutamente “normal”. A jovem Mãe que traz no seu ventre o Salvador não pensa em si e na “sua grandeza excepcional” mas nos outros, neste caso Isabel que necessita da sua assistência nos meses que antecedem o parto do filho há muito esperado. E vai «apressadamente», como sublinha o Evangelista, cheia de ardor solidário e prestativo pelos árduos caminhos da montanha de Judá. A alegria do encontro está bem patente no que se segue: a saudação de Isabel e o magnífico hino da Santíssima Virgem. Este importantíssimo episódio é bem elucidativo do carácter da Santíssima Mãe de Deus: os outros, sempre os outros! Declara sem rebuço que sabe muito bem quem é, e conhece os desígnios de Deus a seu respeito mas tudo –a absolutamente tudo – se deve ao Senhor e aos Seus altos desígnios. Ela será sempre a escrava do Senhor!
Não é possível com palavras humanas descrever este momento inolvidável da história da salvação Humanidade. Parece que estamos na presença de um acontecimento que irreal. A Mãe de Deus, solta, irreprimível um hino de louvor que ficará para sempre conhecido por Magnificat e entoado através dos tempos por milhões de crentes. As Managlia dei são reconhecidas e apregoadas aos quatro cantos da terra e, quem o fez é a que a ela própria se considera escrava.
No espaço de poucos dias a Liturgia repete este trecho do Evangelho de São Lucas. Parece-me muito natural e adequado que o faça porque a dois dias do Nascimento do Salvador, nunca será demais revivermos com compunção maravilhada os começos da história da Salvação da Humanidade. Pessoalmente, o que talvez mais me faça reflectir é a ”simples grandiosidade”, se assim posso dizer destes acontecimentos que, graças à pena inspirada do Evangelista, podemos felizmente conhecer e meditar. Parece uma história de gente comum, sem nenhum privilégio ou grandeza como, de facto será, o Nascimento do Salvador numa simples gruta de pastores tendo por berço uma prosaica manjedoura de animais. De maravilha em maravilha, vamos preparando a nossa alma e o nosso coração com a simplicidade que Deus quer: Simplicidade de Criança!
A jovem mulher de Nazaré sabe que no seu seio já habita o Rei do Mundo, o seu Filho que se chamará Jesus Cristo. Esta maravilha grandiosa não a faz hesitar um momento em prestar assistência à sua parente Isabel arrostando com os incómodos de uma viajem por caminhos duros e agrestes. A Rainha dos Homens presta o seu primeiro serviço, o seu cuidado e preocupação pelos homens seus irmãos. Sim, é verdade, ela declarou-se “a escrava do Senhor”, mas não acrescentou o que sabemos sobejamente: Que é a Nossa Mãe que nos protege e desvela em cuidados para connosco.

57-66-
Quando acontecem factos extraordinários que saem do comum é natural haver sentimentos de temor. O que não se compreende ou não tem uma explicação lógica e evidente, além surpreender causa sempre esse sentimento de inquietação e perplexidade. É o que acontece com o nascimento de São João Baptista. Todos sabem de esterilidade de Isabel e da idade avençada do casal pelo que, a gravidez e o nascimento do seu filho causa natural surpresa. Acrescenta-se a mudez de Zacarias e a escolha do nome da criança, algo inusitado nos costumes de então. Como que um sinal, o nascimento do Baptista decerto ficaria na memória de todos os que presenciaram ou tomaram conhecimento destes factos extraordinários. É bem evidente a Vontade de Deus a querer assinalar este novo ser ao qual estava reservada uma missão de enorme importância.
O nosso nome, aquele que nos identifica e pelo qual nos conhecem, faz parte integrante da nossa vida. Mas, por si só, não basta, normalmente, para uma identificação completa há que juntar os chamados apelidos, nomes de família dos nossos pais e, assim, fica completa a nossa identificação. Nós, cristãos, para sermos conhecidos por Deus Nosso Senhor, é suficiente esse recebido no Baptismo, porque, Ele, nosso Pai, conhece-nos intimamente, individualmente, a cada um de nós.
Quando se trata de São João Baptista somos invadidos por um misto de ternura e admiração. Ternura pela sua figura simples e absolutamente desprendida de bens ou de afectos. Sabemos que teve numerosos seguidores mas sempre lhes referiu que seria Outro Quem deveriam seguir. Uma vida austera, frugal de afastamento voluntário da vida de sociedade. Admiração porque embora sabendo muito bem a relevância da sua missão como Percursor se considerava como não estar à altura nem ter dignidade suficiente para tal: «não sou digno de desatar as correias das sandálias...».  Por último, cumprido o seu papel na História da Salvação da Humidade entrega a sua vida em holocausto total
É importante o nome que os nossos Pais e Padrinhos escolhem para nós no dia do nosso Baptismo? Evidentemente que sim e, por isso mesmo, a escolha desse nome - pelo qual seremos conhecidos pelos homens nossos irmãos e por Deus nosso Pai -, deverá obedecer a critérios correctos que não se coadunam com subjectividades, nem “modas” do momento. O Baptismo é um Sacramento cristão logo, a escolha de um nome cristão é (consoante a nacionalidade do baptizando, sem qualquer dúvida, o mais adequado.
São João Baptista é o único santo que a Igreja celebra por duas vezes: O nascimento e a morte. O primeiro porque está indelevelmente ligado à Redenção, ele foi o percursor do anúncio da vinda do Reino de Deus, cuja chegada eminente seria confirmada por Jesus Cristo. O segundo porque foi o último mártir do Antigo Testamento, como que iniciando a multidão de mártires que dariam – e continuam a dar – as suas vidas por Cristo e pela Verdade.


67-79 -
Penso em Zacarias e no que deve ter sofrido no seu silêncio forçado pela dúvida manifestada ao Anjo. Mas, Zacarias, é um homem de Deus, profundamente crente e não pode mais que deixar expandir o que lhe vai na alma neste maravilhoso hino que o Espírito Santo lhe insinuou e que, para sempre, ficará como a expressão da verdadeira fé, do autêntico amor, da confiança absoluta nas promessas de Deus.
São Lucas apresenta-nos a sua descrição do Nascimento de Jesus de uma forma “mais completa”, fazendo preceder o acontecimento fulcral da Salvação da humanidade, da genealogia do Salvador. A sua intenção é clara: Revelar a identidade completa do Menino para que não restem dúvidas de Quem È e como Se relaciona com os homens. Depois repete, também, a descrição da revelação do Anjo a São José. Podemos dizer que, na véspera do dia em que a Igreja e o mundo celebram o Acontecimento, quer deixar-nos um relato muito concreto e em detalhe dos acontecimentos que precederam o grande momento da história da Salvação.



(AMA, 2018)  




[i] Quando estiveres na presença de Deus, diz-lhe bem de nós!