10/01/2015

Diante de Deus tu és uma criança

Diante de Deus, que é Eterno, tu és uma criança mais pequena do que, diante de ti, um miúdo de dois anos. E, além de criança, és filho de Deus. – Não o esqueças. (Caminho, 860)

Se reparardes bem, é muito diferente a queda de uma criança e a queda de uma pessoa crescida. Para as crianças, uma queda, em geral, não tem importância; tropeçam com tanta frequência! E se começam a chorar, o pai lembra-lhes: os homens não choram. Assim se encerra o incidente com o empenho do miúdo por contentar o seu pai.

(…) Se procurarmos portar-nos como eles, os tropeções e os fracassos – aliás inevitáveis – na vida interior, nunca se transformarão em amargura. Reagiremos com dor, mas sem desânimo, e com um sorriso que brota, como a água límpida, da alegria da nossa condição de filhos desse Amor, dessa grandeza, dessa sabedoria infinita, dessa misericórdia, que é o nosso Pai. Aprendi durante os meus anos de serviço ao Senhor a ser filho pequeno de Deus. E isto vos peço: que sejais quasi modo geniti infantes, meninos que desejam a palavra de Deus, o pão de Deus, o alimento de Deus, a fortaleza de Deus para se comportarem de agora em diante, como homens cristãos. (Amigos de Deus, 146)

Temas para meditar - 330


Amor de Deus


O amor a Deus, se é autêntico, reflectir-se-á em todos os aspectos da vida. Por isso, ainda que as questões temporais tenham a sua autonomia própria e não exista uma única 'solu­ção católica' para os problemas sociais, políticos, etc., também não existem âmbitos de neutralidade, em que o cristão deixe de o ser e de actuar como tal.


(francisco fernandez carvajal & pedro betteta lópez, Filhos de Deus, DIEL, nr. 125)

Ev. diário, coment. e L. esp. (Amigos de Deus)

Epifania
        
Evangelho: Jo 3 22-30

22 Depois disto, foi Jesus com os Seus discípulos para a terra da Judeia. Convivia com eles e baptizava. 23 João estava também a baptizar em Enon, junto a Salim, porque havia ali muita água e o povo concorria para ser baptizado. 24 João ainda não tinha sido metido na prisão. 25 Levantou-se uma questão entre os discípulos de João e um judeu acerca da purificação. 26 Foram ter com João e disseram-lhe: «Mestre, O que estava contigo além Jordão, de Quem tu deste testemunho, ei-l'O que está a baptizar e todos vão a Ele». 27 João respondeu: «O homem não pode receber coisa alguma se lhe não for dada do céu. 28 Vós próprios sois testemunhas de que vos disse: Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante d'Ele. 29 O que tem a esposa é o esposo, mas o amigo do esposo, que está ao lado e o ouve, enche-se de gozo com a voz do esposo. Esta é a minha alegria e ela é perfeita. 30 Convém que Ele cresça e eu diminua.

Comentário

As duas figuras centrais da redenção -  Jesus Cristo e João Baptista  - têm uma ligação íntima e permanente o que o segundo faz - sempre - é em função do segundo que, aliás, é a razão verdadeira da sua existência.
O seu papel de Percursor, reveste-se especialíssima importância.

Ainda hoje em dia, por exemplo, as chamadas visitas de estado são preparadas com o envio de embaixadores cuja tarefa é exactamente aplanar as dificuldades que possam existir, para que, a visita obtenha os frutos esperados. 

(ama, comentário sobre Jo 3, 22-30 2014.01.11)


Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amigos de Deus 309 a 316

309         
Assim actua o Nosso Deus. Quando aquele filho regressa, depois de ter gasto o seu dinheiro, vivendo mal, depois - sobretudo - de se ter esquecido do pai, o pai diz: depressa, trazei aqui o vestido mais rico e vesti-lho e colocai-lhe um anel no dedo; calçai-lhe as sandálias. Tomai um vitelo gordo, matai-o e comamos e celebremos um banquete. O Nosso Pai, Deus, quando recorremos a Ele com arrependimento, tira riqueza da nossa miséria e força da nossa debilidade. Que preparará para nós, se não O abandonarmos, se O procurarmos todos os dias, se Lhe dirigirmos palavras carinhosas confirmadas pelas nossas acções, se Lhe pedirmos tudo, confiados na Sua omnipotência e na Sua misericórdia? Só por o filho voltar a Ele, depois de o atraiçoar, prepara um banquete. Que nos concederá, a nós, que procurámos ficar sempre ao Seu lado?

Longe da nossa conduta, portanto, a lembrança das ofensas que nos tenham feito, das humilhações que tenhamos padecido - por mais injustas, grosseiras e rudes que tenham sido - porque é impróprio de um filho de Deus ter um registo preparado para apresentar depois uma lista de ofensas. Não podemos esquecer o exemplo de Cristo. Não se muda a nossa fé cristã como quem muda um vestido: pode enfraquecer ou robustecer-se ou perder-se. Com esta vida sobrenatural revigora-se a fé e a alma aterra-se ao considerar a miserável nudez humana sem o auxílio divino. E perdoa e agradece: meu Deus, se contemplo a minha pobre vida não encontro nenhum motivo de vaidade e menos ainda de soberba; só encontro abundantes razões para viver sempre humilde e compungido. Sei bem que a melhor nobreza é servir.

310         
Oração viva

Levantar-me-ei e percorrerei a cidade: pelas ruas e praças procurarei aquele que amo... E não apenas a cidade; correrei o mundo de lés a lés - por todas as nações, por todos os povos, por carreiros e atalhos - para conquistar a paz da minha alma. E descubro-a nas ocupações diárias, que não me servem de estorvo; que são - pelo contrário - o caminho e a ocasião de amar cada vez mais e de cada vez mais me unir a Deus.

E quando a tentação do desânimo, dos contrastes, da luta, da tribulação, de uma nova noite da alma nos ataca -violenta -, o salmista põe-nos nos lábios e na inteligência aquelas palavras: estou com Ele no tempo da adversidade. Jesus, perante a Tua Cruz, que vale a minha; perante as Tuas feridas, os meus arranhões? Perante o Teu Amor imenso, puro e infinito, que vale o minúsculo fardo que Tu colocaste sobre os meus ombros? E os vossos corações e o meu enchem-se de uma santa avidez, confessando-Lhe - com obras - que morremos de Amor.

Nasce uma sede de Deus, uma ânsia de compreender as Suas lágrimas; de ver o Seu sorriso, o Seu rosto... Julgo que o melhor modo de o exprimir é voltar a repetir, com a Escritura: como o veado deseja a fonte das águas, assim a minha alma te anela, ó meu Deus! E a alma avança, metida em Deus, endeusada: o cristão tornou-se um viajante sedento, que abre a boca às águas da fonte.

311          
Com esta entrega, o zelo apostólico ateia-se, aumenta dia-a-dia - pegando esta ânsia aos outros - porque o bem é difusivo. Não é possível que a nossa pobre natureza, tão perto de Deus, não arda em desejos de semear no mundo inteiro a alegria e a paz, de regar tudo com as águas redentoras que brotam do lado aberto de Cristo, de começar e acabar todas as tarefas por Amor.

Falava antes de dores, de sofrimentos, de lágrimas. E não me contradigo se afirmo que, para um discípulo que procura amorosamente o Mestre, é muito diferente o sabor das tristezas, das penas, das aflições: desaparecem imediatamente, quando aceitamos deveras a Vontade de Deus, quando cumprimos com gosto os Seus desígnios, como filhos fiéis, ainda que os nervos pareçam rebentar e o suplício pareça insuportável.

312         
Vida corrente

Interessa-me afirmar novamente que não me refiro a um modo extraordinário de viver cristãmente. Que cada um de nós medite no que Deus realizou por ele e como tem correspondido. Se formos valentes neste exame pessoal, perceberemos o que ainda nos falta. Ontem comovi-me ao saber de um catecúmeno japonês que ensinava o catecismo a outros que ainda não conheciam Cristo. E envergonhava-me. Precisamos de mais fé, de mais fé! E, com a fé, a contemplação.

Recordem com calma aquela divina advertência, que enche a alma de inquietação e, ao mesmo tempo, Lhe traz sabores de favo de mel: redemi te, et vocavi te nomine tuo: meus es tu redimi-te e chamei-te pelo teu nome: és meu! Não roubemos a Deus o que é Seu. Um Deus que nos amou até ao ponto de morrer por nós, que nos escolheu desde toda a eternidade, antes da criação do mundo, para sermos santos na sua presença: e que continuamente nos oferece ocasiões de purificação e de entrega.

Se porventura ainda tivéssemos alguma dúvida, receberíamos outra prova dos Seus lábios: não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi a vós, para que possais ir longe e dar fruto; e permaneça abundante esse fruto do vosso trabalho de almas contemplativas.

Portanto, fé, fé sobrenatural! Quando a fé fraqueja, o homem tende a imaginar Deus como se estivesse longe, sem se preocupar com os seus filhos. Pensa na religião como em algo de justaposto, de exterior à vida, que usa quando não há outro remédio; espera, não se sabe porquê, manifestações aparatosas, acontecimentos insólitos. Quando a fé vibra na alma, descobre-se, pelo contrário, que os passos do cristão não se separam da sua vida humana corrente e habitual. E que esta santidade grande, que Deus nos exige, se encerra aqui e agora, nas pequenas coisas de cada dia.

313         
Agrada-me falar de caminho, porque somos caminhantes, dirigimo-nos para a casa do Céu, para a nossa Pátria. Mas reparemos que um caminho, mesmo que um ou outro trecho apresente dificuldades especiais, mesmo que alguma vez nos obrigue a passar a vau um rio ou a atravessar um pequeno bosque quase impenetrável, habitualmente é simples, sem surpresas. O perigo é a rotina: supor que nisto, no que temos de fazer em cada instante, não está Deus, porque é tão simples, tão vulgar!

Iam os dois discípulos para Emaús. O seu caminhar era normal, como o de tantas outras pessoas que transitavam por aquelas paragens. E aí, com naturalidade, aparece-Lhes Jesus e vai com eles, com uma conversa que diminui a fadiga. Imagino a cena: já bem adiantada a tarde. Sopra uma brisa suave. De um lado e de outro, campos semeados de trigo já crescido e as velhas oliveiras com os ramos prateados pela luz indecisa...

Jesus, no caminho! Senhor, que grande és Tu sempre! Mas comoves-me quando te rebaixas para nos acompanhares, para nos procurares na nossa lida diária. Senhor, concede-nos a ingenuidade de espírito, o olhar limpo, a mente clara, que permitem entender-Te, quando vens sem nenhum sinal externo da Tua glória.

314         
Termina o trajecto ao chegar à aldeia e aqueles dois que - sem o saberem - tinham sido feridos no fundo do coração pela palavra e pelo amor do Deus feito homem, têm pena de que Ele se vá embora. Porque Jesus despede-se como quem vai para mais longe. Nosso Senhor nunca se impõe. Quer que O chamemos livremente, desde que entrevimos a pureza do Amor que nos meteu na alma. Temos de O deter à força e pedir-Lhe: fica connosco, porque é tarde e já o dia está no ocaso, cai a noite.

Somos assim: sempre pouco atrevidos, talvez por falta de sinceridade, talvez por pudor. No fundo pensamos: fica connosco, porque as trevas nos rodeiam a alma e só Tu és luz, só Tu podes acalmar esta ânsia que nos consome! Porque entre as coisas belas, honestas, não ignoramos qual é a primeira: possuir sempre Deus.

E Jesus fica. Abrem-se os nossos olhos como os de Cléofas e os do companheiro, quando Cristo parte o pão; e, mesmo que Ele volte a desaparecer da nossa vista, também seremos capazes de empreender de novo a marcha - anoitece - para falar d'Ele aos outros; porque tanta alegria não cabe num só coração.

Caminho de Emaús. O nosso Deus encheu este nome de doçura. E Emaús é o mundo inteiro, porque Nosso Senhor abriu os caminhos divinos da terra.

315         
Com os Santos Anjos

Peço a Nosso Senhor que, durante a nossa permanência neste chão da terra, nunca nos afastemos do caminhante divino. Para isso aumentemos também a nossa amizade com os Santos Anjos da Guarda. Todos necessitamos de muita companhia: companhia do Céu e da terra. Sejamos devotos dos Santos Anjos! A amizade é muito humana, mas também é muito divina; tal como a nossa vida, que é divina e humana. Temos presente o que diz Nosso Senhor? Já não vos chamo servos, mas amigos. Ensina-nos a ter confiança com os amigos de Deus, que já moram no Céu e com as criaturas que convivem connosco, mesmo com as que parecem afastadas de Nosso Senhor, para as atrair ao bom caminho.

Terminarei repetindo com S. Paulo aos Colossenses: não cessamos de orar por vós e de pedir a Deus que alcanceis pleno conhecimento da sua vontade, com toda a sabedoria e inteligência espiritual, sabedoria que nasce da oração, da contemplação, da efusão do Paráclito na alma.

A fim de que tenhais uma conduta digna de Deus, agradando-Lhe em tudo, produzindo frutos de toda a espécie de boas obras e crescendo na ciência de Deus; confortados com toda a fortaleza pelo poder da sua graça, para ter sempre uma perfeita paciência e longanimidade acompanhada de alegria; dando graças a Deus Pai, que nos fez dignos de participar da sorte dos santos, iluminando-nos com a sua luz; que nos arrebatou do poder das trevas e nos transferiu para o reino do seu Filho muito amado

316         
Que a Mãe de Deus e nossa Mãe nos proteja a fim de que cada um de nós possa servir a Igreja na plenitude da fé, com os dons do Espírito Santo e com a vida contemplativa. Cada um, realizando os deveres que lhe são próprios; cada um no seu ofício e profissão e no cumprimento das obrigações do seu estado, honre o Senhor com alegria.

Amemos a Igreja, sirvamo-la com a alegria consciente de quem soube decidir-se a esse serviço por Amor. E se virmos que alguém anda sem esperança, como os dois de Emaús, aproximemo-nos com fé - não em nome próprio, mas em nome de Cristo - para lhe assegurarmos que a promessa de Jesus não pode falhar, que Ele vela sempre pela sua Esposa: que não a abandona. Que as trevas passarão, porque somos filhos da luz e estamos chamados a uma vida perdurável.

E Deus enxugará dos seus olhos todas as lágrimas, já não haverá morte, nem pranto, nem gritos; não haverá mais dor, porque as primeiras coisas passaram. E disse o que estava sentado no trono: eis que renovo tudo. E indicou-me: escreve, porque todas estas palavras são digníssimas de fé e verdadeiras. E continuou: isto é um facto. Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim. Àquele que tiver sede dar-Lhe-ei de beber gratuitamente da fonte da água da vida. Quem vencer possuirá todas estas coisas e eu serei seu Deus e ele será meu filho.





Tratado do verbo encarnado 86

Questão 13: Da potência da alma de Cristo

Em seguida devemos tratar da potência da alma de Cristo.

E nesta questão discutem-se quatro artigos:

Art. 1 — Se a alma de Cristo tinha a omnipotência.
Art. 2 — Se a alma de Cristo tem a omnipotência para causar mudanças nas criaturas.
Art. 3 — Se a alma de Cristo tinha a omnipotência em relação ao próprio corpo.
Art. 4 — Se a alma de Cristo tinha a omnipotência quanto à execução da própria vontade.

Art. 1 — Se a alma de Cristo tinha a omnipotência.

O primeiro discute-se assim. — Parece que a alma de Cristo tinha a omnipotência.

1 — Pois, diz Ambrósio: O poder que o Filho de Deus tem naturalmente, o homem o teria num certo tempo. Ora, parece que isso se aplica sobretudo à alma, a parte mais importante do homem. Ora, como o Filho de Deus tinha a omnipotência abeterno, parece que a alma de Cristo recebeu a omnipotência no tempo.

2. Demais. — Como o poder de Deus é onipotente, assim também a sua ciência. Ora, a alma de Cristo tem de certo modo a ciência de tudo o que Deus sabe, como se disse. Logo, também tem o poder SOBRE TUDO. E assim, é onipotente.

3. Demais. — A alma de Cristo tem a ciência total. Ora, das ciências, umas são práticas, outras especulativas. Logo, tem, daquilo que sabe, uma ciência prática, de modo que saiba que faz o que sabe. E assim, parece que pode fazer tudo.

Mas, em contrário. — O que é próprio a Deus não pode sê-lo de nenhuma criatura. Ora, é próprio de Deus ser omnipotente, segundo a Escritura: Este é o meu Deus e eu o glorificarei, e depois acrescenta: Seu nome é onipotente. Logo, a alma de Cristo sendo uma criatura, não tem a omnipotência.

Como dissemos, no mistério, da Encarnação a união com a pessoa fez-se sem destruir a distinção das naturezas, conservando cada natureza o que lhe é próprio. Ora, a potência activa de um ser resulta da sua forma, que é o princípio de acção. Ora, a forma ou é a natureza própria do ser, como nos simples, ou a constitui, como nos compostos de matéria e forma. Donde, é manifesto que a potência activa de todo ser resulta da sua natureza. E, deste modo, a omnipotência resulta, como uma consequência, da natureza divina. Mas, sendo a natureza divina o ser mesmo incircunscrito de Deus, segundo o diz Dionísio, daí vem o ele ter a potência activa em relação a tudo o que por essência é um ser o que é ter a omnipotência, assim, qualquer outro ser tem a potência activa em relação ao que se estende a perfeição da sua natureza, como o corpo quente, ao aquecer. Ora, sendo a alma de Cristo parte da natureza humana, é-lhe impossível ter a omnipotência.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O homem recebeu no tempo a omnipotência, que o Filho de Deus tinha abeterno em virtude da união pessoal, donde resultava que, assim como o homem era Deus, também era onipotente. Não que a omnipotência do homem seja diferente da do Filho de Deus, como não o é a divindade, mas, por ser uma só a pessoa de Deus e a do homem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Alguns dizem que não se pode atribuir à ciência o mesmo que se atribui à potência activa, pois, a potência activa resulta da natureza própria do ser, porque a acção se considera como originária do agente. Ao passo que a ciência nem sempre resulta da própria essência do ciente, mas pode ser adquirida pela assimilação do ciente com as causas sabidas, pelas semelhanças por ele recebidas. — Mas esta razão não é suficiente. Pois, se podemos conhecer mediante a semelhança recebida de outro, também podemos agir pela forma de outro recebida, assim, a água ou o ferro aquecem pelo calor recebido do fogo. Mas isto não impede que, assim como a alma de Cristo, mediante as semelhanças de todas as coisas nela infundidas por Deus, pode conhecer tudo, assim também possa fazê-las, mediante essas mesmas semelhanças. — Por isso, devemos ainda considerar, ulteriormente, que o recebido, de uma natureza superior, por outra, inferior, o é ao modo da inferior, assim, a água não recebe o calor com a mesma perfeição que ele tem no fogo. Ora, a alma de Cristo, sendo de natureza inferior à natureza divina, as semelhanças das coisas não as recebe com a mesma perfeição e a mesma virtude com que existem na natureza divina. Donde vem que a ciência da alma de Cristo é inferior à ciência divina, quanto ao modo de conhecer porque Deus conhece as coisas mais perfeitamente que a alma de Cristo, e também quanto ao número das coisas conhecidas, porque a alma de Cristo não conhece todas as coisas que Deus pode fazer, as quais contudo Deus conhece pela ciência da simples inteligência, embora, a alma de Cristo conheça todas as coisas presentes, passadas e futuras, que Deus conhece pela ciência de visão. Semelhantemente, as semelhanças das coisas, infundidas na alma de Cristo, não igualam a acção do poder divino, de modo que possa fazer tudo o que Deus o pode, ou ainda, agir, do mesmo modo como Deus age, o qual age pelo seu poder infinito, de que a criatura não é capaz. Ora, não existe nenhum ser que, para ser conhecido, exija uma virtude de algum modo infinita, embora haja um modo de conhecer cujo poder é infinito, Mas, há algumas coisas que só podem ser feitas por um poder infinito, como a criação e outras tais, segundo se colige do que dissemos na Primeira Parte, Donde, a alma de Cristo que, sendo criatura, tem um poder finito, pode certamente, conhecer tudo, mas não, omnimodamente, Assim não pode fazer tudo que essencialmente supõe a omnipotência, e, quanto ao mais, é claro que não podia criar-se a si mesma.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A alma de Cristo tinha tanto a ciência prática como a especulativa, mas isso não implica que tivesse a ciência prática de tudo o de que tinha a especulativa. Pois, para se adquirir a ciência especulativa basta só a conformidade ou a assimulação do ciente com a coisa sabida. Ao passo que a aquisição da ciência prática exige que sejam factivas as coisas cujas formas estão no intelecto, Ora, é mais ter uma forma e imprimir essa forma em outro, que somente tê-la, assim como luzir e iluminar é mais que somente luzir. Donde vem que a alma de Cristo tem, certamente, a ciência especulativa de criar, pois, sabe como Deus cria, mas não tem disso a ciência prática, por não ter a ciência factiva da criação.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Pequena agenda do cristão




SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:
Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?