07/11/2015

NUNC COEPI o que pode ver em 07 de Nov

Publicações em Nov 07

São Josemaria – Textos

AMA - Comentários ao Evangelho Lc 16 9-15, Leit. Espiritual (Humildade)

AT - Salmos – 7

Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Quest 36 - Art 4, São Tomás de Aquino – Suma Teológica

Idade Média


Agenda Sábado

Depois da morte vos receberá o Amor

Agora compreendes quanto fizeste sofrer Jesus, e enches-te de dor: como lhe pedes perdão, deveras e choras pelas tuas traições passadas! Não te cabem no peito as ânsias de reparar! Bem. Mas não esqueças que o espírito de penitência está principalmente em cumprir, custe o que custar, o dever de cada instante. (Via Sacra, 9ª Estação, n. 5)


Como será maravilhoso quando o nosso Pai nos disser: servo bom e fiel, porque foste fiel nas coisas pequenas, eu te confiarei as grandes: entra no gozo do teu Senhor!. Esperançados! Esse é o prodígio da alma contemplativa. Vivemos de Fé, de Esperança e de Amor; e a Esperança torna-nos poderosos. Recordais-vos de S. João? Eu vos escrevo, jovens, porque sois valentes e a palavra de Deus permanece em vós e vencestes o maligno. Deus urge-nos, para a juventude eterna da Igreja e de toda a humanidade. Podeis transformar em divino todo o humano, como o rei Midas convertia em ouro tudo o que tocava!


Nunca esqueçais que depois da morte vos receberá o Amor. E no amor de Deus encontrareis, além do mais, todos os amores limpos que tenhais tido na terra. O Senhor dispôs que passemos esta breve jornada da nossa existência, trabalhando e, como o seu Unigénito, fazendo o bem. Entretanto, temos de estar alerta, à escuta daquelas chamadas que Santo Inácio de Antioquia notava na sua alma, ao aproximar-se a hora do martírio: vem para junto do Pai, vem para o teu Pai que te espera ansioso (Amigos de Deus, n. 221)

Sobre a Idade Média - 1

Resultado de imagem para idade médiaA Idade Média foi muito mais uma idade da luz do que das trevas.

A longa noite dos mil anos!
Assim muitos haviam pintado com pesadas tintas o período que se estende da queda do Império Romano do Ocidente nas mãos dos bárbaros hérulos em 476 à queda do Império Romano do Oriente com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos em 1453. Outros marcos divisórios foram propostos, é verdade, mas fundamentalmente a Idade Média é considerada o período contido entre os séculos V e XV da era cristã.

O termo nasceu de forma pejorativa. Esses mil anos seriam uma época mediana, separada por duas gloriosas épocas de esplendor cultural, a Antiguidade Clássica e os tempos da Renascença.
O Iluminismo aumentou a carga pejorativa com seu característico anticlericalismo, criando a imagem de uma era estagnada, onde o dogmatismo clerical dominava tudo e impedia a liberdade e o progresso do conhecimento humano. Nem é necessário deter-se longamente na igualmente conhecida simplificação anacrónica feita pelo marxismo, no qual a Idade Média seria uma época de senhores feudais exploradores e de servos explorados, conformados pelo “ópio” que lhes era fornecido através do discurso religioso da Igreja.
Por outro lado, o romantismo fantasiou essa época com cavaleiros e damas quase imaculados e castelos e armaduras engenhosamente desprovidos de qualquer sentido prático.

A verdade é que geralmente vemos uma dessas duas imagens de Idade Média. O pessimismo de uma época imobilista sem liberdade e progresso ou o fantasioso cotidiano de cavaleiros sempre heróicos com uma longa rotina de salvar donzelas, rodeados por criaturas fantásticas.

Permitam-me dizer-lhes que a Idade Média é uma construção artificial, uma forma de classificar o tempo conforme determinados critérios, que os homens usam para diferenciar um determinado tempo de outro. Seja como for, o nome “Idade Média” consolidou-se, tendo sido adoptado por historiadores e homens de toda sorte, sejam eles anacrónicos, idealistas ou devotados a entender a época que estudam dentro de seu próprio contexto. Como História diz respeito não somente ao tempo, mas também ao espaço, é preciso recordar que a catalogação do período medieval refere-se com maior propriedade ao ambiente da Europa Ocidental e parte do Mediterrâneo.

(cont em 08 Nov)

Texto de rafael de mesquita diehl, professor e historiador formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestrando pela mesma universidade. Publicado pelo site Revista Vila Nova.

(revisão da versão portuguesa por ama)

Antigo testamento / Salmos

Salmo 7



1 Senhor, não me castigues na tua ira nem me disciplines no teu furor.

2 Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo! Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem:

3 Todo o meu ser estremece. Até quando, Senhor, até quando?

4 Volta-te, Senhor, e livra-me; salva-me por causa do teu amor leal.

5 Quem morreu não se lembra de ti. Entre os mortos, quem te louvará?

6 Estou exausto de tanto gemer. De tanto chorar inundo de noite a minha cama; de lágrimas encharco o meu leito.

7 Os meus olhos se consomem de tristeza; fraquejam por causa de todos os meus adversários.

8 Afastem-se de mim todos vocês que praticam o mal, porque o Senhor ouviu o meu choro.

9 O Senhor ouviu a minha súplica; o Senhor aceitou a minha oração.


10 Serão humilhados e aterrorizados todos os meus inimigos; frustrados, recuarão de repente.

Pequena agenda do cristão



SÁBADO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?


Tratado da vida de Cristo 48

Questão 36: Da manifestação de Cristo nascido
Art. 4 — Se Cristo devia por si mesmo manifestar a sua natividade.

O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo devia manifestar por si mesmo a sua natividade.

1. — Pois, a que é causa, por si mesma é mais principal que a causa dependente de outra, como diz Aristóteles. Ora, Cristo manifestou por outros a sua natividade, a saber, pelos pastores e pelos anjos, e aos Magos pela estrela. Logo, com maior razão, devia manifestar por si mesmo a sua natividade.

2. Demais. — A Escritura diz: Se a sabedoria se conserva escondida e o tesouro não está visível, que utilidade haverá em ambas estas coisas? Ora, Cristo teve desde o princípio da sua concepção plenamente o tesouro da sabedoria e da graça. Logo, se não manifestasse essa plenitude por obras e palavras, em vão lhe teria sido dado a sabedoria e a graça. Ora, tal é inadmissível, porque Deus e a natureza nada fazem em vão, como diz Aristóteles.

3. Demais. — No livro, da infância do Salvador se lê, que Cristo na sua puerícia fez muitos milagres. E assim parece que manifestou por si mesmo a sua natividade.

Mas, em contrário, Leão Papa diz que os Magos encontraram o menino Jesus, em nada diferente da generalidade da infância humana. Ora, as outras crianças não se manifestam a si mesmas. Logo, também não convinha que Cristo por si mesmo manifestasse a sua natividade.

A natividade de Cristo ordenava-se à salvação humana, e esta realiza-se pela fé. Ora, a fé salvadora confessa a divindade e a humanidade de Cristo. Donde, era necessário manifestar-se a natividade de Cristo, a fim de que a demonstração da sua divindade não prejudicasse à fé na sua humanidade. Ora, isso fez-se por Cristo ter manifestado em si mesmo a semelhança da fraqueza humana, ao mesmo tempo que pelas criaturas de Deus mostrou, na sua pessoa, o poder da divindade. Donde, Cristo não manifestou por si mesmo a sua natividade, mas por meio de algumas outras criaturas.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Na via da geração e do movimento é necessário partir do imperfeito para chegar ao perfeito. Por isso Cristo primeiro manifestou-se por outras criaturas e depois, por si mesmo, numa perfeita manifestação.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora uma sabedoria oculta seja inútil, contudo não deve a sabedoria manifestar-se a si mesma em qualquer tempo, mas no tempo oportuno. Assim, diz a Escritura: Suponha-se que a sabedoria se conserva escondida e que o tesouro não está visível, que utilidade haverá em ambas estas coisas? Donde, a sabedoria dada a Cristo não foi inútil, porque se manifestou em tempo oportuno. E o mesmo ter-se escondido no tempo conveniente era sinal de sabedoria.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O livro Da infância do Salvador é apócrifo. E Crisóstomo diz que Cristo não fez nenhum milagre, antes do de converter a água em vinho, segundo a Escritura: Por este milagre deu Jesus princípio aos seus. — Pois, se já desde os seus primeiros anos tivesse feito milagres, não teriam os Israelitas precisado de ninguém que o manifestasse. E contudo João Batista diz: Por isso eu vim baptizar em água, para ele ser conhecido em Israel. E era conveniente que não começasse a fazer milagres desde a sua primeira idade. Pois, haveriam de pensar que se tinha encarnado figuradamente; e antes do tempo oportuno tê-lo-iam crucificado, consumidos de inveja.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo comum XXXI Semana


Evangelho: Lc 16, 9-15

9 «Portanto, Eu vos digo: Fazei amigos com as riquezas da iniquidade, para que, quando vierdes a precisar, vos recebam nos tabernáculos eternos. 10 Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito. 11 Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas iníquas, quem vos confiará as verdadeiras?  12 E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? 13 Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se afeiçoará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro». 14 Ora os fariseus, que eram amigos do dinheiro, ouviam todas estas coisas e troçavam d'Ele. 15 Jesus disse-lhes: «Vós sois aqueles que pretendeis passar por justos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; o que é excelente segundo os homens é abominação diante de Deus.

Comentário:

A verdadeira “chave” desta Parábola é a Fidelidade.
O carácter firme e bem formado leva o homem a ser fiel a si mesmo, aos outros e a Deus.
Não é possível merecer crédito algum quem não merece confiança e, só merece confiança quem é fiel aos seus princípios, à sua formação, àquilo que é como pessoa, como cristão, aos outros com quem se relaciona, sobretudo, com quem convive e assumiu compromissos e, finalmente, a Deus.
As coisas pequenas como as grandes, o que escassa importância ou que tem muita, a pessoa fiel não faz acepções nem tem “variações” na sua conduta. Por isso mesmo se pode confiar nele sempre e sem reservas.

(ama, comentário sobre Lc 16, 9-15, 2010.10.11)


Leitura espiritual


Humildade

A humildade mantém a direção da intencionalidade pessoal de fundo para o valor e para o amor, sem o qual até o que aparentemente é virtude pode não o ser na realidade. [i]

1. A humildade como virtude moral

As virtudes morais são hábitos que gravam firmemente, na pessoa que as possui, os critérios reguladores das tendências humanas, de modo que os impulsos e os atos que procedem delas, nem excedam nem fiquem abaixo da medida requerida para o bem próprio e o bem dos outros.
Como a sobriedade regula a tendência para a alimentação, e a castidade modera a tendência sexual, a humildade regula duas importantes tendências do indivíduo: a necessidade de reconhecimento e de estima dos outros, e o sentimento do próprio valor (autoestima) 1. São duas tendências que fazem parte da condição humana: existem em todo o ser humano, e não se podem nem devem suprimir-se, como também não é possível eliminar a alimentação e a tendência sexual.
A sua real educação é extremamente importante para preservar o equilíbrio e o crescimento moral pessoal e, indirectamente, a boa ordem das relações interpessoais, pois as injustiças, a violência, os fracassos matrimoniais e os conflitos no campo profissional, para citar só alguns exemplos, são frequentemente consequência do orgulho, da susceptibilidade, ou do rancor.

Também nas relações do homem com Deus a humildade desempenha um papel importante: a vida espiritual pressupõe uma ideia adequada da posição que o homem tem perante Deus.

A humildade tem sido muitas vezes mal interpretada e até considerada uma qualidade negativa e desprezível, própria de moral de escravos, ou o resultado do ressentimento dos fracos.
Que alguém queira fazer passar por humildade formas falsas de compensar debilidades e desequilíbrios, é de facto perfeitamente possível, como é possível que se pretendam disfarçar comportamentos viciosos sob o nome de qualquer outra virtude (a prepotência pode dissimular-se sob o aspecto da dignidade ou da justiça e a cobardia como bondade, etc.).
Mas isso, nada tem a ver com a humildade que responde à inegável necessidade de regular e educar duas tendências fundamentais que todo o ser humano tem.

2. Importância e tarefas da humildade

É possível investigar, historicamente e também a partir da análise teórica, qual tem sido a situação da humildade fora do cristianismo. Na antiguidade pagã a humildade era mais vista como um vício que como uma virtude, embora haja algumas exceções.
Mas deixando de lado essa questão, é preferível parar para mostrar quais são as suas raízes antropológicas, antes de ver as formas próprias da humildade como virtude cristã.

A regulação ética das duas tendências a que se refere a humildade, consiste em ajustá-las à realidade de cada pessoa, considerando-a em si mesma ou vista no seu ambiente familiar, profissional e social, mas também na sua relação com Deus.

Aristóteles assim o vê quando escreve:

O que merece e pretende coisas pequenas, é modesto (...). Aquele que, sendo indigno, se julga a si mesmo digno de coisas grandes, é vaidoso (...) O que se julga menos digno do que vale, é pusilânime (fraqueza de ânimo ou cobardia), quer seja muito ou regular o que mereça, ou pouco e creia que merece ainda menos [ii].

O importante não é aspirar a muito ou a pouco, mas em cada caso ao que é razoável segundo uma apreciação objectiva e serena da realidade, não forçada pela paixão.

A humildade é importante, não tanto por realizar positivamente alguma das dimensões do bem humano, mas porque a lhe corresponde proteger as realizações do conhecimento, do amor, do trabalho, etc., de deformações, que podem privá-las do seu verdadeiro valor.
O orgulhoso é egocêntrico e dificilmente é capaz de amar verdadeiramente; vê o trabalho profissional apenas como uma forma de auto-afirmação, e não como uma modalidade de auto-transcendência que enriquece o mundo e contribui para o bem dos outros

É natural no homem a capacidade de olhar para si mesmo, como se olha para alguém que é portador de um valor.
Do ponto de vista evolutivo, a percepção do próprio valor passa através do julgamento que merecemos ante os nossos semelhantes (pais, amigos, etc.).
O ser humano precisa de um certo reconhecimento alheio, e isso reflecte a tendência que chamamos necessidade de auto-estima.

Com o desenvolvimento psicológico e moral, a pessoa, mesmo sem poder, nem dever, ser completamente indiferente às reacções que o nosso ser ou o nosso comportamento causam nos outros, adquire uma maturidade de avaliação suficiente para formar uma imagem realista de si mesma e do próprio valor (autoestima), conhecendo as qualidades positivas e negativas, o que se é, e o que se pode chegar a ser.
Na medida em que o sentimento do próprio valor depende de um juízo próprio, objectivo e realista, a pessoa pode representar adequadamente as suas relações com os outros (dependência - independência, liberdade - autoridade, etc.).

A deterioração da razoável direcção (da humildade) pode afectar as duas tendências mencionadas: a necessidade de estima, quando a pessoa não adquire um distanciamento suficientemente equilibrado do julgamento dos outros; a auto-estima quando, mesmo dispondo de suficiente autonomia de julgamento, este baseia-se sobre uma percepção pouco realista do próprio valor, seja por excesso, seja por defeito.

A dependência excessiva do julgamento dos outros dá origem a fenómenos como a ânsia de notoriedade, vaidade, teimosia e rigidez, isolamento, simulação de doença, etc.
Todos eles implicam sofrimento para quem o padece, e muitas vezes, também para os outros.

O desejo de notoriedade é típico de uma personalidade frágil e imatura que precisa de sentir-se, constantemente, aprovada e elogiada por aqueles que estão à sua volta.
Busca satisfazer essa necessidade por todos os meios ao seu alcance: usa os seus bens, e instrumentaliza o seu saber e o seu trabalho, para conseguir o prestígio e a estima pública; ou quer dar que falar, mediante condutas chamativas ou mesmo absurdas; ou busca a aprovação do grupo, aceitando as ideias e os costumes dominantes, embora contrários às suas próprias convicções profundas.
Outras vezes opta pela vaidade, ou seja, aparenta o que não é, adoptando com esse objetivo comportamentos falsos ou pouco autênticos. Quando tem de trabalhar sob a autoridade de outros, ou em estreita colaboração com eles, chama a atenção sobre si mesmo mediante a teimosia, a intransigência ou a rigidez.
Em casos extremos, busca a atenção ou o afecto dos outros, simulando uma doença e estando conscientes da astúcia, ou perdendo até essa consciência (fenómenos do tipo histérico).
Quem sofre estas deformações acaba por arruinar as suas relações sociais e a sua sensibilidade ante os valores objectivos.
A pessoa está sempre ocupada consigo mesma, porque o seu desordenado desejo de estima é insaciável.

No outro extremo, tão pouco seria justo que uma pessoa não fosse suficientemente sensível ante as reacções que produz nos outros, o que levaria a contínuas faltas de atenção, de respeito ou de educação.

O segundo problema ocorre quando o sentimento de auto-estima depende de uma avaliação autónoma, mas não suficientemente realista.
Surgem então os sentimentos, bastante irracionais de inferioridade e insegurança num extremo, ou no outro extremo de orgulho e autossuficiência.
A personalidade do orgulhoso é diversa da condicionada pelo afã de notoriedade.
Por detrás deste último fenómeno, apesar das aparências, esconde-se uma personalidade frágil e pobre, que frequentemente se tortura com comparações e invejas.
O orgulhoso tem por sua vez uma personalidade dura, geradora de conflitos, com frequência agressiva ou violenta: julga tudo e todos (espírito crítico); pensa que tem sempre razão; sente-se superior a tudo e a todos; talvez recompense quem se lhe submete, mas dificilmente ama e se entrega a alguém; e apesar de temido dificilmente pode ser amado.

Apenas se admira e respeita a si mesmo: tende para o narcisismo.

O orgulhoso é muitas vezes susceptível ou arrogante.
Tem conflitos com os outros e com a própria realidade, porque o seu nível de aspirações é superior às suas verdadeiras capacidades.
Às vezes, as suas capacidades são realmente elevadas, mas falta-lhe a sabedoria para governar e evitar o que lhe vai subindo à cabeça.

Esta breve descrição mostra a importância da humildade para o equilíbrio e desenvolvimento pessoal, e também a sua dificuldade.
A humildade mantém a direcção da intencionalidade pessoal de fundo para o valor e para o amor, sem o qual até o que aparentemente é virtude pode não o ser na realidade.
A dificuldade da humildade está em que as tendências que regula não se podem suprimir nem dominar com a vontade.
Devem ser educadas, ou seja, ajustadas à realidade e abertas à participação, ao serviço e ao amor.
Não é possível deixar, completamente, de se olhar a si mesmo, mas pode aprender-se a fazê-lo com uma mistura de realismo e sentido de humor, sobretudo sem que se oculte a percepção do que está fora e do que está por cima de nós, pois nessa dimensão adquire sentido tanto o que somos como o que não somos.

(cont)





[i] Era clássica a definição de humildade, como virtude que tem como objecto moderar o apetite (o desejo, a tendência) da própria excelência. Não é diferente do que se diz no texto, porque a própria excelência, reflectida no juízo dos demais ou no próprio é o objecto das duas tendências mencionadas. S. Tomás de Aquino considera que a humildade está ligada à temperança, porque os desejos suscitados pela própria excelência têm necessidade sobretudo de freio e moderação, que é o formalmente caraterístico da temperança e das demais virtudes relacionadas com ela. Cfr. S. Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 161.
[ii] Aristóteles, Ética a Nicómaco, IV, 3:1123 b 5 ss.