Art.
4 — Se Cristo devia por si mesmo manifestar a sua natividade.
O quarto discute-se assim. — Parece que Cristo
devia manifestar por si mesmo a sua natividade.
1. — Pois, a que é causa, por si mesma é mais principal que a causa dependente de
outra, como diz Aristóteles. Ora, Cristo manifestou por outros a sua
natividade, a saber, pelos pastores e pelos anjos, e aos Magos pela estrela.
Logo, com maior razão, devia manifestar por si mesmo a sua natividade.
2. Demais. — A Escritura diz: Se a sabedoria se conserva escondida e o
tesouro não está visível, que utilidade haverá em ambas estas coisas? Ora,
Cristo teve desde o princípio da sua concepção plenamente o tesouro da
sabedoria e da graça. Logo, se não manifestasse essa plenitude por obras e
palavras, em vão lhe teria sido dado a sabedoria e a graça. Ora, tal é
inadmissível, porque Deus e a natureza
nada fazem em vão, como diz Aristóteles.
3. Demais. — No livro, da infância do
Salvador se lê, que Cristo na sua puerícia fez muitos milagres. E assim parece
que manifestou por si mesmo a sua natividade.
Mas, em contrário, Leão Papa diz que
os Magos encontraram o menino Jesus, em nada diferente da generalidade da infância
humana. Ora, as outras crianças não se manifestam a si mesmas. Logo, também não
convinha que Cristo por si mesmo manifestasse a sua natividade.
A natividade de Cristo ordenava-se
à salvação humana, e esta realiza-se pela fé. Ora, a fé salvadora confessa a
divindade e a humanidade de Cristo. Donde, era necessário manifestar-se a
natividade de Cristo, a fim de que a demonstração da sua divindade não
prejudicasse à fé na sua humanidade. Ora, isso fez-se por Cristo ter
manifestado em si mesmo a semelhança da fraqueza humana, ao mesmo tempo que
pelas criaturas de Deus mostrou, na sua pessoa, o poder da divindade. Donde,
Cristo não manifestou por si mesmo a sua natividade, mas por meio de algumas
outras criaturas.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Na via da geração e do movimento é necessário partir do imperfeito para
chegar ao perfeito. Por isso Cristo primeiro manifestou-se por outras criaturas
e depois, por si mesmo, numa perfeita manifestação.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora uma
sabedoria oculta seja inútil, contudo não deve a sabedoria manifestar-se a si
mesma em qualquer tempo, mas no tempo oportuno. Assim, diz a Escritura: Suponha-se que a sabedoria se conserva
escondida e que o tesouro não está visível, que utilidade haverá em ambas estas
coisas? Donde, a sabedoria dada a Cristo não foi inútil, porque se
manifestou em tempo oportuno. E o mesmo ter-se escondido no tempo conveniente
era sinal de sabedoria.
RESPOSTA À TERCEIRA. — O livro Da infância
do Salvador é apócrifo. E Crisóstomo diz que Cristo não fez nenhum milagre,
antes do de converter a água em vinho, segundo a Escritura: Por este milagre deu Jesus princípio aos
seus. — Pois, se já desde os seus primeiros anos tivesse feito milagres, não
teriam os Israelitas precisado de ninguém que o manifestasse. E contudo João
Batista diz: Por isso eu vim baptizar em
água, para ele ser conhecido em Israel. E era conveniente que não começasse
a fazer milagres desde a sua primeira idade. Pois, haveriam de pensar que se
tinha encarnado figuradamente; e antes do tempo oportuno tê-lo-iam crucificado,
consumidos de inveja.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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