Tempo Comum II Semana
Evangelho: Mc 3 1-6
1 Novamente
entrou Jesus na sinagoga, e encontrava-se lá um homem que tinha uma das mãos
atrofiada. 2 Observavam-n'O a ver se curaria em dia de sábado, para
O acusarem. 3 Jesus disse ao homem que tinha a mão atrofiada: «Vem
para o meio». 4 Depois disse-lhes: «É lícito em dia de sábado fazer
bem ou fazer mal? Salvar a vida a uma pessoa ou tirá-la?». Eles, porém, calaram-se.
5 Então olhando-os com indignação, contristado da cegueira de seus
corações, disse ao homem: «Estende a tua mão». Ele estendeu-a, e a mão ficou
curada. 6 Mas os fariseus, retirando-se, reuniram-se logo em
conselho com os herodianos contra Ele para ver como O haviam de matar.
Comentário:
Tudo indica que este milagre de Jesus Cristo
não acontece adrede. É muito possível que o homem com a mão atrofiada tivesse
ido à sinagoga, talvez levado por algum amigo, na esperança de ser curado.
Isto pode inferir-se pela descrição de São
Marcos sobre a expectativa dos que esperavam para «ver se curaria
em dia de sábado» e, também, porque é Jesus quem
se dirige ao homem e não este que O procura.
Seja como for, Jesus Cristo demonstra, uma vez mais que não se detém
por medo ou receio ou que não dispensa qualquer ocasião para fazer o que acha
oportuno e conveniente para mover os corações a acreditarem nele.
A simplicidade da descrição do acontecimento não ilude o portentoso
milagre: À Sua palavra o homem, levanta-se, vai para o meio da assembleia e
estende a mão!
De facto, ter sido curado foi o
prémio de ter obedecido sem titubear no Senhor.
(ama, comentário sobre Mc 3, 1-6, 2014.01.22)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do
cristianismo [i]
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Tendo
em consideração que há sócios do Opus Dei nos mais diversos estratos da
sociedade e que alguns desses sócios dirigem ou trabalham em empresas ou
sociedades de certa importância, poderá pensar-se que o Opus Dei pretenda
coordenar essas actividades segundo as directrizes de alguma linha política,
económica, etc?
De
maneira nenhuma. O Opus Dei não intervém para nada em política; é absolutamente
alheio a qualquer tendência, grupo, ou regime político, económico, cultural ou
ideológico. Os seus fins - repito - são exclusivamente espirituais e apostólicos.
Apenas exige dos seus membros que vivam como cristãos, que se esforcem por
ajustar as suas vidas ao ideal evangélico. Não se intromete, portanto, de
nenhuma maneira nas questões temporais.
Se
alguém não entender isto, talvez seja porque não entende a liberdade pessoal,
ou por não ser capaz de distinguir entre os fins exclusivamente espirituais
para que os sócios da Obra se associam, e o campo vastíssimo das actividades
humanas - a economia, a política, a cultura, a arte, a filosofia, etc. - nas
quais os sócios do Opus Dei gozam de plena liberdade e trabalham sob a sua
própria responsabilidade.
Desde
os primeiros contactos com a Obra, todos os sócios conhecem bem a realidade da
sua liberdade individual, de modo que, se em qualquer momento algum deles
pretendesse fazer pressão sobre os outros impondo as suas opiniões pessoais em
matéria política, ou se servisse deles para interesses meramente humanos, os
outros rebelar-se-iam e expulsá-lo-iam imediatamente.
O
respeito da liberdade dos seus sócios é condição essencial para a própria
existência do Opus Dei. Sem isso, a Obra não teria ninguém. Mais ainda: se
alguma vez se desse - não sucedeu, não sucede e, com a ajuda de Deus, nunca
sucederá - uma intromissão do Opus Dei na política ou em algum outro campo das
actividades humanas, o inimigo número um da Obra seria eu próprio.
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A
Associação insiste na liberdade dos seus sócios para exprimir as convicções que
nobremente defendem. Se encararmos, no entanto, o tema numa outra perspectiva,
até que ponto pensa V. Rev.ª que estará o Opus Dei, como associação, moralmente
obrigado a exprimir, em público ou em privado, opiniões sobre problemas
nevrálgicos, quer seculares quer espirituais? Haverá situações em que o Opus
Dei exerça a sua influência e a dos seus sócios, em defesa de princípios que
considere sagrados, como, num exemplo recente, para apoiar a legislação sobre
liberdade religiosa em Espanha?
No
Opus Dei, procuramos, sempre e em tudo, sentir com a Igreja de Cristo: não
temos outra doutrina senão a que a Igreja ensina a todos os fiéis. A única
coisa que nos é peculiar é que temos um espírito próprio, característico do
Opus Dei; a saber, um modo concreto de viver o Evangelho, santificando-nos no
mundo e fazendo apostolado com a profissão.
Daí
resulta directamente que todos os sócios do Opus Dei têm a mesma liberdade que
os outros católicos para formarem as suas opiniões e para actuarem em coerência
com elas. Por isso o Opus Dei como tal não deve nem pode exprimir uma opinião
própria, nem a pode ter. Se se trata de uma questão sobre a qual há doutrina
definida pela Igreja, a opinião de cada um dos membros da Obra será essa. Se,
pelo contrário, se trata de uma questão sobre a qual o Magistério - o Papa e os
Bispos - não se pronunciou, cada um dos sócios do Opus Dei terá e defenderá
livremente a opinião que lhe pareça melhor, e actuará de acordo com isso.
Por
outras palavras, o princípio que regula a atitude dos directores do Opus Dei
neste campo é o do respeito da liberdade de opção no temporal. O que é muito
diferente do abstencionismo, pois cada membro da Obra é colocado diante das
suas próprias responsabilidades e convidado a assumi-las de acordo com a sua
consciência, agindo em liberdade. Por isso mesmo é incongruente falar do Opus
Dei quando se trata de partidos, grupos ou tendências políticas, ou, em geral,
de tarefas e empreendimentos humanos. Mais ainda: é injusto e quase calunioso,
visto poder induzir ao erro de deduzir falsamente que os membros da Obra têm,
em comum, alguma ideologia, mentalidade ou interesse temporal.
Certamente
que os sócios da Obra são católicos, e católicos que procuram ser consequentes
com a sua fé. Podem ser classificados como católicos, se se quiser. Mas tendo
em conta que o facto de ser católico não significa formar grupo, nem mesmo no
terreno cultural ou ideológico, e, com razão maior, no político. Desde o
princípio da Obra - não só depois do Concílio - se tem procurado viver um
catolicismo aberto, que defende a legítima liberdade das consciências, que leva
a tratar com caridade fraterna todos os homens, católicos ou não, e a colaborar
com todos, participando dos diversos ideais nobres que movem a humanidade.
Consideremos
um exemplo. Em face do problema racial nos Estados Unidos, cada um dos sócios
do Opus Dei terá em conta os claros ensinamentos da doutrina cristã sobre a
igualdade de todos os homens e sobre a injustiça de qualquer discriminação.
Também há-de conhecer as indicações concretas dos Bispos norte-americanos sobre
este problema e sentir-se-á instado por elas. Defenderá, pois, os legítimos
direitos de todos os cidadãos e opor-se-á a qualquer situação ou projecto
discriminatório. Terá também em conta que, para um cristão, não basta respeitar
os direitos dos outros, mas em qualquer homem se deve ver um irmão, a quem é
devido um amor sincero e um serviço desinteressado.
Na
formação que o Opus Dei dá aos seus sócios, insistir-se-á mais nestas ideias no
vosso País do que em outros onde esse problema concreto não se apresenta ou se
apresenta com menor urgência. O que o Opus Dei nunca fará é ditar, ou sugerir
sequer, uma solução concreta para o problema. A decisão de apoiar, este ou
aquele projecto de lei, de inscrever-se numa associação ou noutra associação,
ou em nenhuma, de participar ou não participar em determinada manifestação, é
coisa que fica à decisão de cada um dos sócios. E, de facto, em toda a parte se
vê que os sócios do Opus Dei não actuam em bloco, mas com um natural
pluralismo.
Estes
mesmos critérios explicam o facto de tantos espanhóis que pertencem ao Opus Dei
serem favoráveis ao projecto de lei sobre a liberdade religiosa no seu país,
tal como foi recentemente redigido. Trata-se, como é óbvio, de uma opção
pessoal, como pessoal é também a opinião de quem critique esse projecto. Todos,
porém, aprenderam com o espírito da Obra a amar a liberdade e a compreender os
homens de todas as crenças. O Opus Dei é a primeira associação católica que,
desde 1950, com autorização da Santa Sé, admite como cooperadores os
não-católicos e os não-cristãos, sem discriminação alguma, com amor por todos.
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É
claro que V. Rev.ª não ignora que, em certos sectores da opinião pública, o
Opus Dei tem fama de ser de certo modo discutido. Poderia dar-me a sua opinião
sobre a origem deste facto, e, em especial, dizer-me como se pode responder à
acusação sobre “o segredo de conspiração” e “a secreta conspiração”, que
frequentemente se faz ao Opus Dei?
lncomoda-me
profundamente tudo o que possa ter um tom de auto-elogio. Mas, já que V. me
propõe este tema, não posso deixar de lhe dizer que me parece que o Opus Dei é
uma das organizações católicas que mais amigos conta no mundo inteiro. Milhões
de pessoas, incluindo muitos não-católicos e não-cristãos, a estimam e ajudam.
Por
outro lado, o Opus Dei é urna organização espiritual e apostólica. Quem
esquecer este facto fundamental, ou se negar a acreditar na boa-fé dos sócios
da Obra que assim o afirmam, não poderá entender o que estes fazem. Ora, na
impossibilidade de compreender, inventam-se versões complicadas e segredos que
nunca existiram.
Refere-se
à acusação de segredo. É história já antiga. Poderia dizer-lhe, ponto por
ponto, qual a origem histórica dessa acusação caluniosa. Durante muitos anos,
uma poderosa organização, da qual prefiro não falar (amamo-la e sempre a
amámos), entreteve-se a falsear o que não conhecia. Insistiam em considerar-nos
como religiosos e interrogavam-se: por que não pensam todos da mesma maneira?
Por que não usam hábito ou distintivo? E, ilogicamente, concluíam que
constituíamos uma sociedade secreta.
Hoje,
isso passou, e qualquer pessoa medianamente informada sabe que não há segredo
nenhum. Sabe que não usamos distintivo porque não somos religiosos, mas
cristãos como quaisquer outros. Que não pensamos da mesma maneira, porque
admitimos o máximo pluralismo em tudo quanto é temporal e nas questões
teológicas opináveis. O melhor conhecimento da realidade e a superação de
infundados ciúmes permitiram que se encerrasse essa triste e caluniosa
situação.
No
entanto, não se estranhe que, de vez em quando, alguém renove os velhos mitos:
porque procuramos trabalhar por Deus, defendendo a liberdade pessoal de todos
os homens, sempre havemos de ter contra nós os sectários, inimigos dessa
liberdade pessoal, sejam de que campo forem, e tanto mais agressivos quanto mais
se tratar de pessoas incapazes de suportar a simples ideia de religião, ou,
pior ainda, se se apoiarem num pensamento religioso de tipo fanático.
Apesar
de tudo, são, felizmente, em maior número as publicações que não se contentam
com repetir coisas velhas e falsas, e que têm clara consciência de que ser
imparcial não é difundir uma coisa que fique a meio caminho entre a realidade
objectiva e a calúnia, sem um esforço por reflectir a verdade objectiva. Por
mim, penso que também é notícia dizer a verdade, especialmente quando se trata
de informar sobre a actividade de tantas pessoas que, pertencendo ao Opus Dei
ou colaborando com ele, se esforçam, apesar dos erros pessoais (assim como eu
erro, não me espanto de que os outros errem), por realizar uma tarefa de
serviço a todos os homens. Desfazer um falso mito é sempre interessante.
Considero que é um grave dever do jornalista documentar-se bem e manter
actualizada a sua informação, embora, algumas vezes, isso implique modificar os
juízos anteriormente feitos. Será assim tão difícil admitir que alguma coisa
seja límpida, nobre e boa, sem misturar absurdas, velhas e desacreditadas
falsidades?
Informar-se
sobre o Opus Dei é bem simples. Em todos os países a Obra trabalha à luz do
dia, juridicamente reconhecida pelas autoridades civis e eclesiásticas. São
perfeitamente conhecidos os nomes dos seus directores e das suas obras
apostólicas. Quem quer que deseje informações sobre a nossa Obra pode obtê-las
sem dificuldade, pondo-se em contacto com os seus directores ou visitando
alguma das nossas obras próprias. O meu amigo, se quiser, pode ser testemunha
de que nunca nenhum dos dirigentes do Opus Dei, ou os que recebem os
jornalistas, deixaram de lhes facilitar a tarefa informativa, respondendo às
suas perguntas ou dando a documentação adequada.
Nem
eu nem nenhum dos membros do Opus Dei pretendemos que toda a gente nos
compreenda ou compartilhe connosco os mesmos ideais espirituais. Sou muito
amigo da liberdade e gosto muito de que cada um siga o seu próprio caminho. Mas
é evidente que temos o direito elementar de ser respeitados.
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Como
explica o imenso êxito do Opus Dei, e por que critérios mede V. Rev.ª esse
êxito?
Quando
um empreendimento é sobrenatural, pouco importam o êxito ou o fracasso como
vulgarmente se consideram. Já dizia S. Paulo aos cristãos de Corinto que, na
vida espiritual, o que interessa não é o juízo dos outros, nem o nosso próprio
juízo, mas o juízo de Deus.
É
certo que a Obra está hoje estendida a todo o mundo: pertencem a ela homens e mulheres
de cerca de 70 nacionalidades. Ao pensar neste facto, eu mesmo me surpreendo.
Não lhe encontro explicação humana, mas sim a vontade de Deus, pois o Espírito
sopra onde quer, e serve-Se de quem quer para realizar a santificação dos
homens. Tudo isso é para mim ocasião de acção de graças, de humildade e de
súplica a Deus para saber sempre servi-Lo.
Pergunta-me
também qual o critério com que meço e ajuízo as coisas. A resposta é muito
simples: santidade, frutos de santidade.
O
apostolado mais importante do Opus Dei é aquele que cada um dos seus sócios
realiza através do testemunho da sua vida e com a sua palavra, no convívio
diário com os amigos e companheiros de profissão. Quem poderá medir a eficácia
sobrenatural deste apostolado silencioso e humilde? É incalculável a ajuda que
representa o exemplo de um amigo leal e sincero, ou a influência de uma boa mãe
no seio da família.
Mas
talvez a sua pergunta se refira aos apostolados da Obra como tal, supondo que,
neste caso, se poderão medir os resultados sob um ponto de vista humano,
técnico: se uma escola de formação de operários consegue promover socialmente
os homens que a frequentam; se uma Universidade dá aos seus estudantes uma
formação profissional e cultural adequadas. Se admitirmos que é esse o sentido
da sua pergunta, dir-lhe-ei que o resultado se pode explicar em parte por se
tratar de tarefas realizadas por pessoas que exercem esse trabalho como uma
actividade profissional específica, para a qual se preparam como todo aquele
que deseja executar um trabalho sério. Quer isto dizer, entre outras coisas,
que essas obras não se lançam segundo esquemas preconcebidos: caso por caso,
estudam-se as necessidades particulares da sociedade em que se vão inserir,
para se adaptarem às exigências reais.
Repito-lhe
que ao Opus Dei não interessa primordialmente a eficácia humana. O êxito ou o
fracasso real desses trabalhos depende de que, estando humanamente bem feitos,
sirvam ou não sirvam para que aqueles que os realizam, e também os que deles
beneficiam, amem a Deus, se sintam irmãos de todos os outros homens e
manifestem estes sentimentos num serviço desinteressado à humanidade.
(cont)
[i]
Entrevista realizada por Peter Forbarth, correspondente
de Time (New York), em 15 de Abril de 1967.