17/07/2014

O homem forte sofre, mas resiste

A fachada é de energia e fortaleza. Mas, quanta frouxidão e falta de vontade por dentro! Fomenta a determinação de não transformar as tuas virtudes em disfarce, mas em hábitos que definam o teu carácter. (Sulco, 777)

O caminho do cristão, o de qualquer homem, não é fácil. Certo é que em determinadas épocas parece que tudo se cumpre segundo as nossas previsões; mas isto habitualmente dura pouco. Viver é defrontar dificuldades, sentir no coração alegrias e pesares; e é nesta forja que o homem pode adquirir a fortaleza, a paciência, a magnanimidade e a serenidade.


É forte quem persevera no cumprimento do que entende dever fazer, segundo a sua consciência; quem não mede o valor de uma tarefa exclusivamente pelos benefícios que recebe, mas pelo serviço que presta aos outros. O homem forte às vezes sofre, mas resiste; talvez chore, mas traga as lágrimas. Quando a contradição aumenta, não se curva. (Amigos de Deus, 77)

Pequena agenda do cristão

Quinta-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:
Participar na Santa Missa.


Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.
O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.
Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.


Lembrar-me:
Comunhões espirituais.


Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?



Temas para meditar - 177

Filiação divina



Mediante a fé conhecemos a Vontade de Deus e podemos ter uma conduta digna de filhos Seus.



(JAVIER ABAD GOMÉZ, Fidelidade, Quadrante, 1989, pg 55)

Reflectindo - 29

Oportunidade perdida

Ontem, Domingo, depois da Missa das 18.15, fui pôr gasolina no automóvel.
No balcão onde servem café e outras coisas ligeiras, estava um homem, novo, em grande conversa com o único empregado.
Dei-me conta que não era bem uma conversa mas, antes, um monólogo já que o tal funcionário, não dava qualquer sinal que lhe interessasse o que o outro dizia.

Pedi um descafeinado e um queque.

Logo o sujeito se largou a rir. Explicou: ‘esta do “queque” fez-me lembrar uma anedota, aliás eu tenho anedotas sobre qualquer assunto, sabe?’

O empregado só lhe respondeu: ‘o senhor é muito bem-disposto!’

O outro que se dirigia para a saída - reparei que usava uma muleta e se movia com dificuldade - voltou-se e disse:
‘Mas eu tenho motivos mais que suficientes para ser bem-disposto e alegre, ainda há três meses estava no hospital com uma paralisia total e os médicos diziam-me que, caso saísse dali, seria para uma carreira de rodas até ao fim dos meus dias.
No entanto, repare... E mesmo esta muleta irá para o lixo um dia destes.
Não acha que tenho motivos para estar contente?’

Sem resposta nenhuma, voltou-nos as costas e foi-se embora.

Não tenho pensado noutra coisa: a minha indiferença, falta de solidariedade, não ter dito uma palavra de coragem, feito um gesto de admiração.
Não fiz NADA, aquele homem, para mim, naquele lugar, no Domingo à tarde, foi como se não existisse.
A minha “importância” e “dignidade” classificaram-no logo como “um daqueles fulanos chatos que só querem meter conversa”.

Estou arrependidíssimo mas, de pouco vale.

Provavelmente nunca mais encontrarei aquele sujeito.

Perdi, definitivamente, uma oportunidade que me foi oferecida de ser solidário para com o meu próximo!

(ama, reflexões, 2010)


Tratado da lei 56

Questão 100: Dos preceitos morais da lei antiga.

Art. 12 — Se os preceitos morais da lei antiga justificavam.


(Supra, q. 98, a. 1; III Sent., dist. XL, a.3; Ad Rom., cap. II, lect. III; cap. III lect. II; Ad Galat., cap. II, lect; cap. III, lect. IV).

O duodécimo discute-se assim. — Parece que os preceitos morais da lei antiga justificavam.

1. — Pois, diz o Apóstolo (Rm 2, 13): Porque não são justos diante de Deus os que ouvem a lei; mas os que fazem o que manda a lei serão justificados. Ora, obedientes à lei são os que cumprem os seus preceitos. Logo, esses preceitos, cumpridos, justificavam.

2. Demais. — A Escritura diz (Lv 18, 5): Guardai as minhas leis e mandados, os quais fazendo o homem, viverá neles. Ora, a vida espiritual o homem vive-a pela justiça. Logo, os preceitos da lei, sendo cumpridos, justificavam.

3. Demais. — A lei divina é mais eficaz que a humana. Ora, esta justifica, pois há uma certa justiça em lhe cumprir os preceitos. Logo, os preceitos da lei justificavam.

Mas, em contrário, diz o Apóstolo (2 Cor 3, 6): A letra mala. O que, segundo Agostinho, também se entende dos preceitos morais. Logo, estes não justificavam.

Própria e primariamente chama-se a quem tem saúde, são; e em significação derivada, ao que exprime ou conserva a saúde. Assim também, em sentido próprio e primário, chama-se justificação à própria prática da justiça; e em sentido derivado e quase impróprio, pode-se chamar justificação à figuração da justiça ou à disposição para ela. E desses dois modos é manifesto, que os preceitos da lei justificavam, por disporem os homens para a graça de Cristo justificante, a qual também figuravam. Pois, como diz Agostinho, também a vida do povo judaico era profética e figurativa de Cristo.

Se porém nos referimos à justificação propriamente dita, então devemos considerar que a justiça pode ser tomada como habitual, ou como actual. E a esta luz, a justificação tem duplo sentido: Num, é porque o homem se torna justo, adquirindo o hábito da justiça; noutro, significa a execução dos actos de justiça, e neste sentido a justificação nada mais é do que a execução da justiça. — Como as outras virtudes porém, a justiça pode ser considerada como adquirida e infusa, conforme do sobredito resulta (q. 63, a. 4). A adquirida é causada pelas obras. Ao passo que a infusa, pelo próprio Deus, por meio da sua graça. E esta é a verdadeira justiça, de que agora tratamos, pela qual somos considerados justos, em Deus, conforme a Escritura (Rm 4, 2): Se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não, diante de Deus. Donde, esta justiça não podia ser causada pelos preceitos morais, relativos aos actos humanos. E por aí os preceitos morais não podiam justificar, causando a justiça. Se porém considerarmos a justiça como a execução da mesma, então todos os preceitos da lei justificavam, por conterem o que é em si mesmo justo, mas de modos diversos. Assim, os preceitos cerimoniais continham, certamente, a justiça em si mesma e em geral, enquanto se manifestava no culto de Deus. Mas, em especial, não a continham, em si mesma, senão pela só determinação da lei divina. Por isso, destes preceitos se diz, que não justificavam senão pela devoção e obediência dos que praticavam os seus ditames. Por outro lado, os preceitos morais e os judiciais continham o que era em si mesmo justo, em geral, ou também em especial. Mas os preceitos morais continham o que era em si mesmo justo, conforme a justiça geral, que é toda a virtude, como diz Aristóteles; ao passo que os preceitos judiciais pertenciam à justiça especial, relativa aos contratos que na vida, os homens pactuam entre si.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O Apóstolo, no lugar citado, toma a justificação no sentido de execução da justiça.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Do que cumpre os preceitos da lei se diz que vive neles, por não incorrer na pena de morte, que a lei infligia aos transgressores. E neste sentido é que determina o Apóstolo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Os preceitos da lei humana justificam pela justiça adquirida, da qual agora não tratamos, senão só da que justifica perante Deus.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Evangelho e comentário, Leit. Espiritual (Nota doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização,)


Tempo comum XV Semana

Evangelho: Mt 11, 28-30

28 O «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. 30 Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo leve».



Comentário:

Percebe-se que, conhecer Deus, depende da vontade de Jesus Cristo, tal e como Ele próprio o afirma claramente.
Parece que Jesus escolhe as pessoas que devem ter esse conhecimento e, de facto assim é. Todos, em princípio, podemos aceder a tal mas, evidentemente, temos de querê-lo, desejá-lo e pedir que assim seja.

Porquê? Por Jesus não impõe nada – absolutamente – a ninguém e, mesmo que seja o Seu desejo veemente que todos conheçam Deus e, conhecendo-o, o louvem, adorem e façam a Sua Vontade, respeita a vontade de cada um.

Mas, atenção, as oportunidades são sempre dadas e sugeridas a todos os homens. Depende destes aceitar e seguir o indicado.


(AMA, comentário, Mt 11, 25-30, 2012.12.12)

Leitura espiritual


Documentos do Magistério

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

NOTA DOUTRINAL SOBRE
ALGUNS ASPECTOS DA EVANGELIZAÇÃO

.../3

IV. Algumas implicações ecuménicas

12. Desde os inícios o movimento ecuménico esteve intimamente ligado à evangelização. A unidade é, de facto, a marca da credibilidade da missão e o Concílio Vaticano II manifestou com pesar que o escândalo da divisão «prejudica a santíssima causa da pregação» 43. O próprio Jesus, na vigília da sua morte, rezou: «para que todos sejam uma só coisa… para que o mundo acredite» (Jo 17, 21).

A missão da Igreja é universal e não está limitada a determinadas regiões da terra. A evangelização, no entanto, realiza-se de um modo diferente, segundo as diversas situações em que acontece. Num sentido próprio é a «missio ad gentes» dirigida àqueles que não conhecem Cristo. Num sentido mais lato fala-se de «evangelização», relativo ao aspecto ordinário da pastoral, e de «nova evangelização», relativo àqueles que deixaram a praxis cristã 44. Além disso, há evangelização em países onde vivem cristãos não católicos, sobretudo em países de antiga tradição e cultura cristã. Aqui requer-se tanto um verdadeiro respeito pela sua tradição e riquezas espirituais, bem como um sincero espírito de cooperação. «Banindo toda a aparência de indiferentismo, de confusionismo e odiosa rivalidade, os católicos colaborem com os irmãos separados, em conformidade com as disposições do decreto sobre o Ecumenismo, por meio da comum profissão de fé em Deus e em Jesus Cristo diante dos gentios, na medida possível, e pela cooperação em questões sociais e técnicas, culturais e religiosas» 45.

No compromisso ecuménico, podem-se distinguir várias dimensões: primeiro a escuta, como condição fundamental de qualquer diálogo; depois vem a discussão teológica, pela qual, procurando compreender as confissões, tradições e as certezas dos outros, se pode encontrar a concórdia, por vezes escondida na discórdia. E inseparável destas duas, não pode faltar outra essencial dimensão do trabalho ecuménico: o testemunho e o anúncio dos elementos que não são tradições particulares ou nuances teológicas mas pertencem à Tradição da própria fé.

Mas o ecumenismo não tem apenas uma dimensão institucional que procura «fazer crescer a comunhão parcial existente entre os cristãos até à plena comunhão na verdade e na caridade» 46: essa é tarefa de todo o fiel, principalmente através da oração, da penitência, do estudo e da colaboração. Sempre e em toda a parte, cada fiel católico tem o direito e o dever de dar testemunho e anunciar totalmente a sua fé. Com os cristãos não católicos, o católico deve entrar em diálogo respeitoso da caridade e da verdade: um diálogo que não é apenas uma troca de ideias mas de dons 47, de modo a ser-lhes oferecida a plenitude dos meios da salvação 48. Assim se é conduzido sempre a uma mais profunda conversão a Cristo.

A este respeito é de realçar que se um cristão não católico, por razões de consciência e convencido das verdades católicas, pede para entrar em plena comunhão na Igreja católica, isso é respeitado como obra do Espírito Santo e como expressão da liberdade de consciência e de religião. Neste caso não se trata de proselitismo, no sentido negativo atribuído a este termo 49. Como reconheceu explicitamente o Decreto sobre o Ecumenismo do Concílio Vaticano II, «é evidente que o trabalho de preparação e reconciliação dos indivíduos que desejam a plena comunhão católica é, por sua natureza, distinto da empresa ecuménica: Entretanto, não existe nenhuma oposição entre as duas, pois ambas procedem da admirável Providência divina» 50. Logo, tal iniciativa não priva do direito nem exime da responsabilidade de anunciar em plenitude a fé católica aos outros cristãos, que livremente aceitam acolhê-la.

Esta perspectiva requer naturalmente evitar qualquer indevida pressão: «na difusão da fé religiosa e na introdução de novas práticas, deve sempre evitar-se todo o modo de agir que tenha visos de coacção, persuasão desonesta ou simplesmente menos leal, sobretudo quando se trata de gente rude ou sem recursos. Tal modo de agir deve ser considerado como um abuso do próprio direito e lesão do direito alheio» 51. O testemunho da verdade não procura impor algo pela força, nem por uma acção coerciva ou artifícios contrários ao Evangelho. O próprio exercício da caridade é gratuito 52. O amor e o testemunho da verdade procuram acima de tudo convencer pela força da palavra de Deus (cf. 1 Cor 2,3-5; 1 Tes 2,3-5) 53. A missão cristã reside na potência do Espírito Santo e na própria verdade proclamada.

V. Conclusão

13. A acção evangelizadora da Igreja não pode ser menor, pois nunca lhe faltará a presença do Senhor Jesus na força do Espírito Santo, segundo a sua própria promessa: «Eu estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).

Os relativismos e irenismos de hoje em âmbito religioso não são um motivo válido para descurar este trabalhoso mas fascinante compromisso, que pertence à própria natureza da Igreja e é «sua tarefa primária» 54. «Caritas Christi urget nos – o amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14): testemunha-o um grande número de fiéis que, levados pelo amor de Jesus tiveram, ao longo da sua história, iniciativas e obras várias para anunciar o Evangelho, a todas as pessoas e em todos os âmbitos da sociedade, como aviso e convite perene a todas as gerações cristãs a cumprirem com generosidade o mandato de Cristo. Por isso, como recorda o Papa Bento XVI, «o anúncio e o testemunho do Evangelho são o primeiro serviço que os cristãos podem dar às pessoas e à humanidade, chamados a comunicar a todos o amor de Deus, que se manifestou plenamente no único Redentor do mundo, Jesus Cristo» 55. O amor que vem de Deus une-nos a Ele e «transforma-nos em um Nós, que supera as nossas divisões e nos faz ser um só, até que, no fim, Deus seja “tudo em todos” (1 Cor 15, 28)» 56.

O Sumo Pontífice Bento XVI, na Audiência concedida ao Cardeal Prefeito, no dia 6 de Outubro de 2007, aprovou a presente Nota doutrinal, decidida na Sessão Ordinária desta Congregação, e ordenou a sua publicação.

Dado em Roma, na sede da Congregação para a Doutrina da Fé, a 3 de Dezembro de 2007, memória litúrgica de S. Francisco Xavier, Padroeiro das Missões.

William Cardeal Levada
Prefeito

Angelo Amato, sdb
Arcebispo titular de Sila
Secretário

___________________________________-
Notas:
 43 Cf. Unitatis redintegratio, n. 1; cf. J. PAULO II, Redemptoris missio, nn. 1,50: AAS 83 (1991) 249, 297.
44 Cf. J. PAULO II, Redemptoris missio, n. 34: AAS 83 (1991) 279-280.
45 Ad gentes, n. 15.
46 J. PAULO II, Ut unum sint, n. 14: AAS 87 (1995) 929.
47 Cf. ibidem, n. 28: AAS 87 (1995) 939.
48 Cf. Unitatis redintegratio, nn. 3, 5.
49 Originalmente o termo «proselitismo» nasce em âmbito hebraico, onde «prosélito» indicava aquele que, proveniente dos «gentios», passava a fazer parte do «povo eleito». Assim também no âmbito cristão, o termo proselitismo foi, muitas vezes, usado como sinónimo da actividade missionária. Recentemente, o termo tomou  uma conotação negativa como publicidade para a própria religião com meios e motivos contrários ao espírito do Evangelho e que não salvaguardam a liberdade e a dignidade da pessoa. Em tal sentido, o termo «proselitismo» é compreendido no contexto do movimento ecuménico: cf. The Joint Working Group between the Catholic Church and the World Council of Churches, “The Challenge of Proselytism and the Calling to Common Witness” (1995).
50 Cf. Unitatis redintegratio, n. 4.
51 Cf. Dignitatis humanae, n. 4.
52 Cf. BENTO XVI, Deus caritas est, n. 31 c: AAS 98 (2006) 245.
53 Cf. Dignitatis humanae, n. 11.
54 BENTO XVI, Homilia de 25-IV-2005, n. 4: AAS 97 (2005) 745.
55 BENTO XVI, Discurso de 11-III-2006: AAS 98 (2006) 334.

56 BENTO XVI, Deus caritas est, n. 18: AAS 98 (2006) 232.