23/05/2015

O que pode ver em NUNC COEPI em 23 de Maio

São Josemaria - Textos

AMA - Meditações de Maio – 2015

A beleza de ser cristão (Ernesto Juliá), AMA - Comentários ao Evangelho Jo 21 20-25, Ernesto Juliá Diaz

Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Quest 27- Art 3,São Tomás de Aquino


Agenda Sábado

E, com esse convívio, gerar-se-á o Amor

O único meio de conhecer Jesus: privar com Ele! N'Ele encontrarás sempre um Pai, um Amigo, um Conselheiro e um Colaborador para todas as actividades honestas da tua vida quotidiana... E, com esse convívio, gerar-se-á o Amor. (Sulco, 662)

Se procuras meditar, o Senhor não te negará a sua assistência. Fé e obras de fé! Obras, porque o Senhor – tu já reparaste nisso desde o princípio e eu já to fiz notar a seu tempo – cada dia é mais exigente. Isto já é contemplação e união; e assim há-de ser a vida de muitos cristãos, avançando cada um pela sua própria via espiritual – são infinitas – no meio dos afazeres deste mundo, mesmo sem se darem conta disso.

Uma oração e uma conduta que não nos afastam das nossas actividades correntes, que nos conduzem a Nosso Senhor no meio dos nossos nobres empenhos terrenos. Ao elevar a Deus todas essas ocupações, a criatura diviniza o mundo. Tenho falado tantas vezes do mito do rei Midas que convertia em ouro tudo aquilo em que tocava! Podemos converter em ouro de méritos sobrenaturais tudo o que tocamos, apesar dos nossos erros pessoais.


Assim actua o Nosso Deus. Quando aquele filho regressa, depois de ter gasto o seu dinheiro, vivendo mal, depois – sobretudo – de se ter esquecido do pai, o pai diz: depressa, trazei aqui o vestido mais rico e vesti-lho e colocai-lhe um anel no dedo; calçai-lhe as sandálias. Tomai um vitelo gordo, matai-o e comamos e celebremos um banquete. O Nosso Pai, Deus, quando recorremos a Ele com arrependimento, tira riqueza da nossa miséria e força da nossa debilidade. Que preparará para nós, se não O abandonarmos, se O procurarmos todos os dias, se Lhe dirigirmos palavras carinhosas confirmadas pelas nossas acções, se Lhe pedirmos tudo, confiados na Sua omnipotência e na Sua misericórdia? (Amigos de Deus, nn. 308–309)

Evangelho, comentário L Espiritual (A beleza de ser cristão)



Semana VII da Páscoa

Evangelho: Jo 21 20-25

20 Pedro, tendo-Se voltado, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava, aquele mesmo que na ceia estivera reclinado sobre o Seu peito e Lhe perguntara: «Senhor, quem é que Te vai entregar?». 21 Pedro, vendo-o, disse a Jesus: «Senhor, e deste, que será?» 22 Jesus disse-lhe: «Se quero que ele fique até que Eu venha, que tens com isso? Tu, segue-Me». 23 Correu então entre os irmãos que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse a Pedro: «Não morrerá», mas: «Se quero que ele fique até que Eu venha, que tens com isso?». 24 Este é aquele discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu, e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Muitas outras coisas fez Jesus. Se se escrevessem uma por uma, creio que nem todo o mundo poderia conter os livros que seria preciso escrever.

Comentário:

Efectivamente como seria possível registrar por escrito tudo quanto ao longo de mais de mil dias O Senhor deve ter feito e dito!

E, mesmo assim, não fora o Espírito Santo e o que fica constante tampouco seria possível de assimilar de forma coerente.

São João declara sem dúvida alguma que assim é e ainda bem que o faz porque nos deixa na expectativa de saber mais e conhecer melhor a vida terrena do Redentor.

(ama, comentário sobre Jo 21, 20-25 2014.06.07)



Leitura espiritual



a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS

I A VIDA CRISTÃ PESSOAL



o ser «nova criatura»

…/2

        A vida pessoal cristã leva consigo:

1. «Despojar-se do homem velho» adquire o seu verdadeiro sentido em preparar o espírito a «revestir-se do homem novo».
Além disso, «despojar-se» não é o primeiro passo nem «revestir-se» é o segundo: são duas palavras que exprimem duas acções diferentes que aplicadas ao processo de conversão cristã se convertem numa única acção com dois aspectos diferentes.
Ou seja, «despojar-se» e «revestir-se» são na realidade duas faces da mesma acção: despojar-se sem revestir-se não é nada e revestir-se sem despojar-se tampouco.
Ninguém «deita vinho novo em odres velhos».

        São Paulo expressa-o assim aos Colossenses: «Despojai-vos do homem velho com todas as suas obras e revesti-vos do homem novo que se vai renovando até alcançar um conhecimento perfeito segundo a imagem do seu Criador donde não há grego e judeu, circuncisão ou incircuncisão, bárbaro ou escita, escravo ou livre porque Cristo é tudo em todos» [1].

2. O ser «nova criatura» implica a necessidade de nos contermos e que toda a vida do cristão seja um conversão constante, principalmente no moral, mas entitativa: a redenção do pecado que a Graça opera na pessoa humana torna possível que toda a natureza humana se reajuste e esteja em condições de desenvolver todas as suas potencialidades pelos canais adequados.

São Paulo diz: «É Cristo quem vive em mim».
Pode Cristo chegar a viver plenamente em cada um de nós?
Vivendo enxertados em Cristo pelos sacramentos – como já vimos na Primeira Parte – o fruto da acção da Graça em nós é uma conversão que nunca se conclui.
A Graça jamais deixa de actuar no nosso espírito até, se não lhe colocamos obstáculo, toda a massa esteja fermentada.
Ou seja a acção da Graça acabará sendo também moral porque no cristão é entitativa, ontológica: o ser humano também chega à plenitude como homem em Cristo Jesus.

        Convém-nos, portanto, não esquecer que o homem é cristão pelo que é e não pelo que faz.
O que faz terá que manifestar o que é.
Por esta razão a acção da Graça no núcleo do ser pessoal começa o processo das conversões.

        Como uma luz descobre as sombras a conversão descobre a insuficiência e a inconsistência do presente, abre horizontes para um mundo novo e leva consigo o compromisso gozoso de todo o ser.

        3. Podemos resumir brevemente este processo da seguinte forma ao mesmo tempo que nos remetemos ao cap. X da Primeira Parte no qual já falámos do significado vital da Fé, da Esperança, da Caridade.

        Para que a conversão à Fé, à Esperança e à Caridade deite raízes no homem e se possa dizer de qualquer cristão que «vive da Fé» e para que no final do processo Cristo chegue a viver verdadeiramente no crente, requerem-se o que poderíamos chamar «conversões prévias», também frutos da acção da Graça e da cooperação livre do homem.

        A primeira e decisiva conversão é a de tomar consciência de ser criatura que leva a aceitar a criação do homem por Deus.
A primeira relação que Deus Pai estabelece com o homem.

        A segunda conversão é viver a consciência de ser pecador.
Esta conversão leva a aceitar a Encarnação, a Redenção e a estar convencidos de necessitar da Graça para vencer o pecado.
O homem, com esta conversão, responde à segunda relação que Deus Filho estabelece com o ser humano.

        A terceira conversão que logicamente pressupõe as duas anteriores, consiste em ansiar ser «nova criatura» e leva consigo aceitar a vinda do Espírito Santo à alma num Pentecostes constante.
Nesta conversão, o cristão descobre o gozo de viver como «nova criatura», de fé, de esperança, de caridade.
E aceita agradecido a terceira relação que Deus Espírito Santo estabeleceu com a criatura: a santificação.


disposições necessárias para crescer na fé


A essa tomada de consciência correspondem umas disposições no espírito do cristão que vão configurando a conversão.
Sem essas disposições vivas na alma a «nova criatura» nunca acabará de se formar.
Ao mesmo tempo essas disposições manifestam a liberdade com que o homem acolhe as luzes de Deus e quer secundar os seus planos.

        Estas disposições são fundamentalmente três:

        A primeira, a humildade, que torna possível que a Fé assente no homem, ao mesmo tempo que a humildade se origina na Fé.
Esta é a disposição do homem que se sabe «criatura de Deus» e agradece os dons recebidos: A Vida, a Graça.

        A humildade manifesta-se especialmente numa afirmação repetida de «não ser nada», de «não valer nada», mas no reconhecimento de tudo o que o ser humano tem de bom é «dom de Deus», «dom gratuito do amor de Deus».
É o canto do Magnificat da Santíssima Virgem Maria.
A Mãe de Deus expressa a humildade dando graças a Deus porque «fez coisas santas nela ao ver a humildade da sua escrava».
O humilde anseia sempre dar toda a glória a Deus.

        Em segundo lugar a docilidade sem a qual é impossível que a Caridade assente na alma e que, ao mesmo tempo, abre sempre novos horizontes à Caridade.
É a disposição do homem que se abre sem reservas à vida de Deus e pede a Deus que venha ao seu espírito e «faça nele morada».

        Também foi a Virgem Maria quem melhor expressou esta disposição da alma, ao abrir plenamente a sua pessoa à vontade de Deus.
«Faça-se em mim segundo a Tua palavra».

        A docilidade é o abandono na vontade amorosa de Deus que o homem nunca chega a conhecer totalmente, o cristão vive a docilidade porque sabe que de Deus, seu Pai amoroso, só pode vir o bem.

        É normal ver essa docilidade expressa com a frase bíblica: « como o barro nas mãos do oleiro» [2].
Se lemos a frase com perspectiva humana a docilidade pode ser entendida como quase escravidão e o homem converter-se-ia num brinquedo de Deus.
Se, pelo contrário, a lemos com perspectiva divina e a unimos à passagem da criação do homem quando Deus enche de espírito o barro da terra, compreenderemos que «as mãos do oleiro» dão vida ao barro, enchem-no de espírito.
Esse é o fruto da docilidade.

        A terceira disposição, o arrependimento que assenta na Esperança e que ao mesmo tempo possibilita que a Esperança renasça sempre no espírito do cristão.
É a disposição do homem que reconhece o seu pecado, não se esconde do olhar de Deus como Adão fez no Paraíso e solicita a Graça para renovar a amizade com Deus.

        O arrependimento permite ao homem nunca afastar o seu olhar da luz de Deus e assim recompor, enriquecido, o «manancial que salta até à vida eterna», a acção da Graça em nós.
E ao mesmo tempo recompor de tal forma a sua orientação vital que todo o seu existir fica de novo dirigido a Deus guiado pela luz de Deus.

        Logicamente estas disposições-conversões não têm uma ordem de sucessão temporal e não podem existir umas sem as outras.
É necessário que se deem conjuntamente num movimento complementar.
De facto, a humildade torna possível o arrependimento e é impossível sem a docilidade.
Por sua vez o arrependimento enriquece a humildade e faz crescer a docilidade.
A docilidade permite que o arrependimento cresça na alma e goze na humildade.

        Temos de lembrar que estamos falando de «vida cristã pessoal»
De uma vida que surge da acção conjunta da Graça divina e da vontade humana.
Entende-se que a Graça e a vontade não actuam como duas forças que confluem na acção, mas que a acção o viver a «vida cristã», o homem que actua surge da inserção da Graça na vontade, da vontade na Graça.

        Repetimos que este caminho de conversão nunca acaba pelo simples facto de nunca chegar a ser plenamente cristãos que a nossa pessoa seja e se torne totalmente «una com Cristo».
Nunca podemos chegar, por exemplo, a ser tão dóceis» ao Espírito Santo que alcancemos amar como Cristo ama.




(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)







[1] Col 3, 9-11
[2] Cfr. Is 29, 16; Jr 18, 6

Meditações de Maio 23

Neste Sábado desejo fazer algo especial pela minha Mãe do Céu.

O que poderia fazer que lhe fosse agradável e reflectisse o meu amor, carinho e veneração pela Excelsa Mãe de Deus e minha Mãe?

Ocorre-me, então, que, seguramente, o que lhe dará maior alegria, é participar na Santa Missa com todo o meu empenho, as minhas forças e potências para, assim, dar maior glória a Deus e receber as abundantes graças que me tem reservadas.

Santa Maria, ajuda-me neste propósito.

(Lapa, 2011.02.19)


(ama, meditações de Maio, 2015)

Pequena agenda do cristão


SÁBADO


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Honrar a Santíssima Virgem.

A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da Sua serva, de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas, santo é o Seu nome. O Seu Amor se estende de geração em geração sobre os que O temem. Manifestou o poder do Seu braço, derrubou os poderosos do seu trono e exaltou os humildes, aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu a Israel Seu servo, lembrado da Sua misericórdia, como tinha prometido a Abraão e à sua descendência para sempre.

Lembrar-me:

Santíssima Virgem Mãe de Deus e minha Mãe.

Minha querida Mãe: Hoje queria oferecer-te um presente que te fosse agradável e que, de algum modo, significasse o amor e o carinho que sinto pela tua excelsa pessoa.
Não encontro, pobre de mim, nada mais que isto: O desejo profundo e sincero de me entregar nas tuas mãos de Mãe para que me leves a Teu Divino Filho Jesus. Sim, protegido pelo teu manto protector, guiado pela tua mão providencial, não me desviarei no caminho da salvação.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?

Tratado da vida de Cristo 3

Questão 27: Da santificação da Virgem Maria

Art. 3 — Se a Santa Virgem foi purificada do contágio do gérmen da concupiscência.

O terceiro discute-se assim. — Parece que a Santa Virgem não foi purificada do contágio do gérmen da concupiscência.

1. Pois, assim como a pena do pecado original é a concupiscência, consistente na rebelião das potências inferiores contra a razão, assim também a pena do pecado original é a morte e as demais penalidades corpóreas. Ora, a Santa Virgem foi sujeita a essas penalidades. Logo, também não foi totalmente isenta da concupiscência.

2. Demais. — O Apóstolo diz: A virtude aperfeiçoa-se na enfermidade, referindo-se à enfermidade da concupiscência, por causa da qual sofria o estímulo da carne. Ora, a Santa Virgem não foi privada de nada do que exige a perfeição da virtude. Logo, não foi de todo isenta da concupiscência.

3. Demais. — Damasceno diz, que o Espírito Santo sobrevém à Santa Virgem, purificando-a antes da concepção do Filho de Deus. O que não pode entender-se senão da purificação da concupiscência, pois, nenhum pecado cometeu, como diz Agostinho. Logo, pela santificação no ventre materno não foi de todo isenta da concupiscência.

Mas, em contrário, a Escritura: Toda tu és formosa, amiga minha, e em ti não há mácula. Ora, a concupiscência é mácula, pelo menos da carne. Logo, na Santa Virgem não houve concupiscência.

Nesta matéria divergem as opiniões. — Assim, uns disseram que a Santa Virgem, pela sua própria santificação, operada no ventre materno, ficou totalmente isenta da concupiscência. — Mas outros dizem que lhe permaneceu a concupiscência, enquanto causa de dificuldade na prática do bem; ficou porém dela isenta, enquanto inclinação para o mal. — Outros, ainda, disseram que ficou isenta da concupiscência, no atinente à corrupção da pessoa, enquanto impede para o mal e dificulta o bem; mas não o ficou, quanto à corrupção da natureza, isto é, enquanto a concupiscência é a causa da transmissão do pecado original aos filhos. — Outros, enfim, dizem que, a primeira santificação não eliminou a concupiscência, mas a deixou travada nos seus efeitos; sendo porém totalmente eliminada na própria concepção do Filho de Deus.

Mas, para bem compreendermos, neste assunto, devemos notar que contágio do pecado nada mais é que uma concupiscência desordenada do apetite sensível; mas, habitual, porque a concupiscência actual é o movimento do pecado. Diremos porém que a concupiscência da sensualidade é desordenada, porque repugna à razão; o que se dá, por inclinar para o mal ou opor dificuldades ao bem. Donde, é da própria natureza da concupiscência inclinar para o mal, ou dificultar a prática do bem. Por isso, dizer que a concupiscência existiu na Santa Virgem, sem a inclinar para o mal, é querer que coexistam duas coisas opostas. - Semelhantemente, também implica oposição o permanecer da concupiscência enquanto corrupção da natureza e não enquanto corrupção da pessoa. Pois, segundo Agostinho, é a concupiscência que transmite para a prole o pecado original. Ora, essa é uma concupiscência desordenada e não totalmente sujeita à razão. Se, pois, a concupiscência tivesse sido totalmente eliminada, enquanto corrupção da pessoa, não poderia permanecer enquanto corrupção da natureza.

Resta, pois, admitirmos ou que a primeira santificação a isentou totalmente da concupiscência ou que, se esta subsistiu, ficou travada nos seus efeitos. Pois, poder-se-ia entender que a concupiscência ficou totalmente eliminada, na Santa Virgem, por lhe ter sido concedida, pela abundância da graça que lhe foi conferida, uma tal disposição das potências da alma, que as inferiores nunca se movessem sem o assentimento da razão. Tal o que dissemos ter passado com Cristo, de quem sabemos que não teve inclinação para o pecado, e com Adão, antes do pecado, pela justiça original. De modo que, assim, nesta matéria, a graça da santificação teve para a Virgem a virtude da justiça original. Mas, embora esta opinião venha salvar a dignidade da Virgem Mãe, contraria de algum modo à dignidade de Cristo, sem cuja virtude ninguém pode livrar-se da condenação primitiva. E embora pela fé de Cristo, e, antes da sua Encarnação, alguns fossem espiritualmente livres dessa condenação, contudo ninguém poderia livrar-se dela, quanto à carne, senão depois da Encarnação, pela qual devia primariamente manifestar-se a imunidade dessa condenação. Donde, assim como antes da imortalidade da carne de Cristo ressuscitado, ninguém alcançou a imortalidade da carne, assim é inconveniente admitirmos que, antes da carne de Cristo, que não teve nenhum pecado, a carne da Virgem sua Mãe, ou de quem quer que seja, fosse isenta da concupiscência, chamada lei da carne ou dos membros.

Por isso parece melhor pensarmos que, a santificação no ventre materno não isentou a Santa Virgem da concupiscência, na sua essência, mas os seus efeitos ficaram paralisados. Não por acto da sua razão, como se deu com os varões santos; pois, não teve o uso do livre arbítrio logo que começou a existir no ventre materno – privilégio especial de Cristo; mas, a abundância da graça, recebida na santificação, e ainda mais perfeitamente por acção da divina providência, paralisou-lhe todo movimento desordenado dos sentidos. Mas, depois, na própria concepção da carne de Cristo, quando primeiramente devia refulgir a imunidade do pecado, devemos crer que do filho redundou ela para a mãe, ficando então totalmente eliminada a inclinação para o pecado. E já isso estava figurado na Escritura, quando diz: Eis que entrava a glória do Deus de Israel pela banda do oriente, isto é, por meio da Santa Virgem; e a terra estava resplandecente pela presença da sua majestade, isto é de Cristo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A morte e outras penalidades semelhantes por si mesmas não inclinam ao pecado. E por isso Cristo, embora as assumisse, não se sujeitou à concupiscência. E por isso também na Santa Virgem, para conformar-se ao Filho, de cuja plenitude recebeu a graça - primeiro, a concupiscência ficou impedida nos seus efeitos e, depois, foi eliminada; mas não ficou livre da morte e de outras penalidades semelhantes.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A fraqueza da carne constituída pela sua inclinação ao pecado, é certo, para os varões santos uma ocasião de virtude perfeita; mas não a causa sem a qual não possa a perfeição ser alcançada. Basta, pois, atribuir à Santa Virgem a virtude perfeita pela abundância da graça; nem lhe é preciso atribuir toda ocasião possível de perfeição.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O Espírito Santo operou na Santa Virgem uma dupla purificação. - Uma, quase preparatória à concepção de Cristo, que veio, não purificá-la de qualquer impureza da culpa ou da concupiscência, mas imprimir mais profundamente na sua alma o carácter de unidade e elevá-la acima da multidão. Assim, também dizemos que são purificados os anjos, nos quais não há nenhuma impureza, como diz Dionísio. - A outra purificação o Espírito Santo operou na Santa Virgem, mediante a concepção de Cristo, obra do mesmo Espírito. E, por ela, podemos dizer que a purificou totalmente da concupiscência.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.