Semana VII da Páscoa
Evangelho:
Jo 21 20-25
20
Pedro, tendo-Se voltado, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava,
aquele mesmo que na ceia estivera reclinado sobre o Seu peito e Lhe perguntara:
«Senhor, quem é que Te vai entregar?». 21 Pedro, vendo-o, disse a Jesus:
«Senhor, e deste, que será?» 22 Jesus disse-lhe: «Se quero que ele fique até
que Eu venha, que tens com isso? Tu, segue-Me». 23 Correu então entre os irmãos
que aquele discípulo não morreria. Jesus, porém, não disse a Pedro: «Não
morrerá», mas: «Se quero que ele fique até que Eu venha, que tens com isso?».
24 Este é aquele discípulo que dá testemunho destas coisas e que as escreveu, e
sabemos que o seu testemunho é verdadeiro. 25 Muitas outras coisas fez Jesus.
Se se escrevessem uma por uma, creio que nem todo o mundo poderia conter os
livros que seria preciso escrever.
Comentário:
Efectivamente
como seria possível registrar por escrito tudo quanto ao longo de mais de mil
dias O Senhor deve ter feito e dito!
E, mesmo assim, não fora o Espírito Santo e o que fica constante tampouco seria possível de assimilar de forma coerente.
São João declara sem dúvida alguma que assim é e ainda bem que o faz porque nos deixa na expectativa de saber mais e conhecer melhor a vida terrena do Redentor.
(ama, comentário sobre Jo
21, 20-25 2014.06.07)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
I A VIDA CRISTÃ PESSOAL
o ser «nova criatura»
…/2
A vida pessoal cristã leva consigo:
1. «Despojar-se do homem velho» adquire o seu verdadeiro sentido em
preparar o espírito a «revestir-se do homem novo».
Além disso,
«despojar-se» não é o primeiro passo nem «revestir-se» é o segundo: são duas
palavras que exprimem duas acções diferentes que aplicadas ao processo de
conversão cristã se convertem numa única acção com dois aspectos diferentes.
Ou seja,
«despojar-se» e «revestir-se» são na realidade duas faces da mesma acção:
despojar-se sem revestir-se não é nada e revestir-se sem despojar-se tampouco.
Ninguém «deita
vinho novo em odres velhos».
São Paulo expressa-o assim aos
Colossenses: «Despojai-vos do homem velho com todas as suas obras e revesti-vos
do homem novo que se vai renovando até alcançar um conhecimento perfeito
segundo a imagem do seu Criador donde não há grego e judeu, circuncisão ou
incircuncisão, bárbaro ou escita, escravo ou livre porque Cristo é tudo em
todos» [1].
2. O ser «nova criatura» implica a necessidade de nos contermos e que toda
a vida do cristão seja um conversão constante, principalmente no moral, mas
entitativa: a redenção do pecado que a Graça opera na pessoa humana torna
possível que toda a natureza humana se reajuste e esteja em condições de
desenvolver todas as suas potencialidades pelos canais adequados.
São Paulo diz: «É Cristo quem vive em mim».
Pode Cristo chegar
a viver plenamente em cada um de nós?
Vivendo
enxertados em Cristo pelos sacramentos – como já vimos na Primeira Parte – o
fruto da acção da Graça em nós é uma conversão que nunca se conclui.
A Graça jamais
deixa de actuar no nosso espírito até, se não lhe colocamos obstáculo, toda a
massa esteja fermentada.
Ou seja a
acção da Graça acabará sendo também moral porque no cristão é entitativa,
ontológica: o ser humano também chega à plenitude como homem em Cristo Jesus.
Convém-nos, portanto, não esquecer que o
homem é cristão pelo que é e não pelo que faz.
O que faz terá
que manifestar o que é.
Por esta razão
a acção da Graça no núcleo do ser pessoal começa o processo das conversões.
Como uma luz descobre as sombras a
conversão descobre a insuficiência e a inconsistência do presente, abre
horizontes para um mundo novo e leva consigo o compromisso gozoso de todo o
ser.
3. Podemos resumir brevemente este
processo da seguinte forma ao mesmo tempo que nos remetemos ao cap. X da
Primeira Parte no qual já falámos do significado vital da Fé, da Esperança, da
Caridade.
Para que a conversão à Fé, à Esperança e
à Caridade deite raízes no homem e se possa dizer de qualquer cristão que «vive
da Fé» e para que no final do processo Cristo chegue a viver verdadeiramente no
crente, requerem-se o que poderíamos chamar «conversões prévias», também frutos
da acção da Graça e da cooperação livre do homem.
A primeira e decisiva conversão é a de
tomar consciência de ser criatura que leva a aceitar a criação do homem por
Deus.
A primeira
relação que Deus Pai estabelece com o homem.
A segunda conversão é viver a
consciência de ser pecador.
Esta conversão
leva a aceitar a Encarnação, a Redenção e a estar convencidos de necessitar da
Graça para vencer o pecado.
O homem, com
esta conversão, responde à segunda relação que Deus Filho estabelece com o ser
humano.
A terceira conversão que logicamente
pressupõe as duas anteriores, consiste em ansiar ser «nova criatura» e leva
consigo aceitar a vinda do Espírito Santo à alma num Pentecostes constante.
Nesta
conversão, o cristão descobre o gozo de viver como «nova criatura», de fé, de
esperança, de caridade.
E aceita
agradecido a terceira relação que Deus Espírito Santo estabeleceu com a
criatura: a santificação.
disposições necessárias para crescer na fé
A essa tomada de consciência correspondem umas disposições no espírito do
cristão que vão configurando a conversão.
Sem essas
disposições vivas na alma a «nova criatura» nunca acabará de se formar.
Ao mesmo tempo
essas disposições manifestam a liberdade com que o homem acolhe as luzes de
Deus e quer secundar os seus planos.
Estas disposições são fundamentalmente
três:
A primeira, a humildade, que torna possível que a Fé assente no homem, ao mesmo
tempo que a humildade se origina na
Fé.
Esta é a
disposição do homem que se sabe «criatura de Deus» e agradece os dons
recebidos: A Vida, a Graça.
A humildade
manifesta-se especialmente numa afirmação repetida de «não ser nada», de «não
valer nada», mas no reconhecimento de tudo o que o ser humano tem de bom é «dom
de Deus», «dom gratuito do amor de Deus».
É o canto do Magnificat da Santíssima Virgem Maria.
A Mãe de Deus
expressa a humildade dando graças a Deus porque «fez coisas santas nela ao ver
a humildade da sua escrava».
O humilde
anseia sempre dar toda a glória a Deus.
Em segundo lugar a docilidade sem a qual é impossível que a Caridade assente na alma e
que, ao mesmo tempo, abre sempre novos horizontes à Caridade.
É a disposição
do homem que se abre sem reservas à vida de Deus e pede a Deus que venha ao seu
espírito e «faça nele morada».
Também foi a Virgem Maria quem melhor
expressou esta disposição da alma, ao abrir plenamente a sua pessoa à vontade
de Deus.
«Faça-se em
mim segundo a Tua palavra».
A docilidade
é o abandono na vontade amorosa de Deus que o homem nunca chega a conhecer
totalmente, o cristão vive a docilidade
porque sabe que de Deus, seu Pai amoroso, só pode vir o bem.
É normal ver essa docilidade expressa com a frase bíblica: « como o barro nas mãos do
oleiro» [2].
Se lemos a
frase com perspectiva humana a docilidade pode ser entendida como quase
escravidão e o homem converter-se-ia num brinquedo de Deus.
Se, pelo
contrário, a lemos com perspectiva divina e a unimos à passagem da criação do
homem quando Deus enche de espírito o barro da terra, compreenderemos que «as
mãos do oleiro» dão vida ao barro, enchem-no de espírito.
Esse é o fruto
da docilidade.
A terceira disposição, o arrependimento que assenta na Esperança
e que ao mesmo tempo possibilita que a Esperança renasça sempre no espírito do
cristão.
É a disposição
do homem que reconhece o seu pecado, não se esconde do olhar de Deus como Adão
fez no Paraíso e solicita a Graça para renovar a amizade com Deus.
O arrependimento
permite ao homem nunca afastar o seu olhar da luz de Deus e assim recompor,
enriquecido, o «manancial que salta até à vida eterna», a acção da Graça em
nós.
E ao mesmo
tempo recompor de tal forma a sua orientação vital que todo o seu existir fica
de novo dirigido a Deus guiado pela luz de Deus.
Logicamente estas disposições-conversões
não têm uma ordem de sucessão temporal e não podem existir umas sem as outras.
É necessário
que se deem conjuntamente num movimento complementar.
De facto, a
humildade torna possível o arrependimento e é impossível sem a docilidade.
Por sua vez o
arrependimento enriquece a humildade e faz crescer a docilidade.
A docilidade
permite que o arrependimento cresça na alma e goze na humildade.
Temos de lembrar que estamos falando de
«vida cristã pessoal»
De uma vida
que surge da acção conjunta da Graça divina e da vontade humana.
Entende-se que
a Graça e a vontade não actuam como duas forças que confluem na acção, mas que
a acção o viver a «vida cristã», o homem que actua surge da inserção da Graça
na vontade, da vontade na Graça.
Repetimos que este caminho de conversão
nunca acaba pelo simples facto de nunca chegar a ser plenamente cristãos que a
nossa pessoa seja e se torne totalmente «una com Cristo».
Nunca podemos
chegar, por exemplo, a ser tão dóceis» ao Espírito Santo que alcancemos amar
como Cristo ama.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)
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