Nossa Mãe
Os
filhos, especialmente quando são ainda pequenos, costumam pensar no que hão-de
fazer por eles os seus pais, esquecendo-se das suas obrigações de piedade
filial.
Nós,
os filhos, somos geralmente muito interesseiros, embora esta nossa conduta - já
o fizemos notar - não pareça incomodar muito as mães, porque têm suficiente
amor nos seus corações e querem com o melhor carinho: aquele que se dá sem
esperar correspondência.
Assim
acontece também com Santa Maria.
Mas
hoje, na festa da sua Maternidade divina, temos de nos esforçar por fazer uma
reflexão mais profunda.
Hão-de
doer-nos, se as encontrarmos, as nossas faltas de delicadeza com esta boa Mãe.
Pergunto-vos
e pergunto-me a mim mesmo: como a honramos?
Voltemos
mais uma vez à experiência de cada dia, ao modo de tratar com as nossas mães na
terra.
Acima
de tudo, que desejam dos seus filhos, que são carne da sua carne e sangue do
seu sangue?
O
seu maior desejo é tê-los perto.
Quando
os filhos crescem e não é possível continuarem a seu lado, aguardam com
impaciência as suas notícias, emocionam-se com tudo o que lhes acontece, desde
uma ligeira doença até aos acontecimentos mais importantes.
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Olhai:
para a nossa Mãe, Santa Maria, jamais deixamos de ser pequenos, porque Ela nos
abre o caminho até ao Reino dos Céus, que será dado aos que se tornam meninos.
De
Nossa Senhora nunca nos devemos afastar.
Como
a honraremos?
Tendo
intimidade com Ela, falando com Ela, manifestando-lhe o nosso carinho,
ponderando no nosso coração os episódios da sua vida na terra, contando-lhes as
nossas lutas, os nossos êxitos e os nossos fracassos.
Descobriremos
assim, como se as recitássemos pela primeira vez, o sentido das orações
marianas, que sempre se rezaram na Igreja.
O
que são a Ave-Maria e o Angelus,
senão louvores calorosos à Maternidade divina?
E
no Santo Rosário - essa maravilhosa devoção, que nunca me cansarei de
aconselhar a todos os cristãos - passam pela nossa cabeça e pelo nosso coração
os mistérios da conduta admirável de Maria, que são os próprios mistérios
fundamentais da fé.
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O
ano litúrgico aparece engalanado de festas em honra de Santa Maria.
O
fundamento deste culto é a Maternidade divina de Nossa Senhora, origem da
plenitude dos dons naturais e da graça com que a Santíssima Trindade a adornou.
Demonstraria
escassa formação cristã - e muito pouco amor de filho - quem temesse que o
culto da Santíssima Virgem pudesse diminuir a adoração que se deve a Deus.
A
Nossa Mãe, modelo de humildade, cantou: chamar-me-ão
bem-aventurada todas as gerações, porque fez em mim grandes coisas aquele que é
Todo-poderoso, cujo nome é santo e cuja misericórdia se estende de geração em
geração, a todos os que o temem.
Nas
festas de Nossa Senhora não regateemos as demonstrações de carinho; elevemos
com mais frequência o coração pedindo-lhe aquilo de que necessitamos,
agradecendo-lhe a sua solicitude maternal e constante, encomendando-lhe as
pessoas que estimamos.
Mas,
se pretendemos comportar-nos como filhos, todos os dias serão ocasiões
propícias de amor a Maria, como o são para os que se querem deveras.
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Talvez
agora algum de vós possa pensar que o dia ordinário, o habitual ir e vir da
nossa vida, não se presta muito a manter o coração numa criatura tão pura como
Nossa Senhora.
Convidar-vos-ia
a reflectir um pouco.
Que
procuramos sempre, mesmo sem especial atenção, em tudo o que fazemos?
Quando
nos move o amor de Deus e trabalhamos com rectidão de intenção, procuramos o
que é bom, o que é limpo, o que dá paz à consciência e felicidade à alma.
Também
cometemos muitos erros?
Sim,
mas precisamente reconhecer esses erros é descobrir com maior clareza que a
nossa meta é esta: uma felicidade que não passe, profunda, serena, humana e
sobrenatural.
Existe
uma criatura que conseguiu nesta terra essa felicidade, porque é a obra-prima
de Deus: a Nossa Mãe Santíssima, Maria.
Ela
vive e protege-nos; está junto do Pai e do Filho e do Espírito Santo, em corpo
e alma.
É
Aquela mesma que nasceu na Palestina, que se entregou ao Senhor desde menina,
que recebeu a anunciação do Arcanjo Gabriel, que deu à luz o Nosso Salvador, que
esteve junto d'Ele ao pé da Cruz.
N'Ela
se tornam realidade todos os ideais, mas não devemos concluir daí que a sua
sublimidade e grandeza no-la apresentem inacessível e distante.
É
a cheia de graça, a suma de todas as perfeições; e é Mãe.
Com
o seu poder diante de Deus conseguirá o que lhe pedirmos; como Mãe, quer
conceder-no-lo.
E,
também como Mãe, entende e compreende as nossas fraquezas, anima-nos,
desculpa-nos, facilita o caminho, tem sempre o remédio preparado, mesmo quando
parece que já nada é possível.
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Quanto
cresceriam em nós as virtudes sobrenaturais se conseguíssemos verdadeira
devoção a Maria, que é Nossa Mãe!
Não
nos importemos de lhe repetir durante todo o dia - com o coração, sem
necessidade de palavras - pequenas orações, jaculatórias.
A
devoção cristã reuniu muitos desses elogios carinhosos na Ladainha que
acompanha o Santo Rosário.
Mas
cada um de nós tem a liberdade de os aumentar, dirigindo-lhe novos louvores,
dizendo-lhe o que - por um santo pudor que Ela entende e aprova - não nos
atreveríamos a pronunciar em voz alta.
Aconselho-te
- para terminar - que faças, se o não fizeste ainda, a tua experiência
particular do amor materno de Maria.
Não
basta saber que Ela é Mãe, considerá-la deste modo, falar assim d'Ela.
É
tua Mãe e tu és seu filho; quer-te como se fosses o seu único filho neste
mundo.
Trata-a
de acordo com isso: conta-lhe tudo o que te acontece, honra-a, ama-a.
Ninguém
o fará por ti, tão bem como tu, se tu não o fizeres.
Asseguro-te
que, se empreenderes este caminho, encontrarás imediatamente todo o amor de
Cristo; e ver-te-ás metido na vida inefável de Deus Pai, Deus Filho e Deus
Espírito Santo.
Conseguirás
forças para cumprir bem a Vontade de Deus, encher-te-ás de desejos de servir
todos os homens.
Serás
o cristão que às vezes sonhas ser: cheio de obras de caridade e de justiça,
alegre e forte, compreensivo com os outros e exigente contigo mesmo.
Este
e não outro é o carácter da nossa fé.
Recorramos
a Santa Maria, que Ela nos acompanhará com um passo firme e constante.
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Sentimo-nos
tocados, com o coração a bater com mais força, quando ouvimos com toda a
atenção este brado de S. Paulo: esta é a
vontade de Deus: a vossa santificação.
Hoje,
mais uma vez o repito a mim mesmo e também o recordo a cada um e à Humanidade
inteira: esta é a vontade de Deus, que sejamos santos.
Para
pacificar as almas com uma paz autêntica, para transformar a Terra, para
procurar Deus Nosso Senhor no mundo e através das coisas do mundo, é indispensável
a santidade pessoal.
Nas
minhas conversas com gente de tantos países e dos ambientes sociais mais
diversos, perguntam-me com frequência: - Que diz aos casados?
E
aos que trabalhamos no campo?
E
às viúvas?
E
aos jovens?
Respondo
sistematicamente que tenho uma só panela.
E
costumo fazer notar que Jesus Cristo Nosso Senhor pregou a Boa Nova para todos,
sem qualquer distinção.
Uma
só panela e um único alimento: o meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que me
enviou e dar cumprimento à sua obra.
Chama
cada um à santidade, pede amor a cada um: jovens e velhos, solteiros e casados,
sãos e doentes, cultos e ignorantes, trabalhem onde quer que trabalhem, estejam
onde quer que estejam.
Há
um único modo de crescer na familiaridade e na confiança com Deus: a intimidade
da oração, falar com Ele, manifestar-Lhe - de coração a coração - o nosso
afecto.
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Falar com Deus
Invocar-me-eis
e Eu vos ouvirei.
E
invocamo-lo conversando, dirigindo-nos a Ele. Por isso temos de pôr em prática
a exortação do Apóstolo: sine
intermissione orate; rezai sempre, aconteça o que acontecer. Não apenas de
coração, mas com todo o coração.
Talvez
pensemos que a vida nem sempre é suportável, que não faltam dissabores, nem
mágoas, nem tristezas.
Responderei
também com S. Paulo que nem a morte nem a
vida, nem anjos, nem principados, nem virtudes; nem o presente, nem o futuro,
nem a força, nem o que há de mais alto, nem de mais profundo, nem nenhuma outra
criatura poderá jamais separar-nos do amor de Deus, que se fundamenta em Jesus
Cristo, Nosso Senhor.
Nada
nos pode afastar da caridade de Deus, do Amor, da relação constante com o nosso
Pai.
Mas
recomendar esta união contínua com Deus não será apresentar um ideal tão
sublime, que se torna impraticável à maioria dos cristãos? Na verdade a meta é
alta, mas não impraticável.
O
caminho que conduz à santidade é o caminho da oração; e a oração deve
enraizar-se a pouco e pouco na alma, como a pequena semente que se tornará mais
tarde árvore frondosa.
(cont)