24/05/2016

Maio - Santo Rosário - Mistérios da Luz

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MISTÉRIOS DA LUZ [i]

Primeiro Mistério


  
O Baptismo de Jesus




O Baptismo é o sinal indelével que torna a pessoa humana em membro da Igreja de Cristo.

É a única verdadeira porta de entrada pela qual nos convertemos em membros efectivos da Igreja Católica, como se fosse um bilhete de identidade vitalício, para empregar termos e palavras humanas que são as nossas.

Mas... os Mistérios Luminosos que têm de facto a ver com o Santo Rosário que é uma oração eminentemente Mariana?

Porque não se pode dissociar a Santíssima Virgem do seu Filho, Jesus Cristo e estes Mistérios que se referem de forma muito particular à vida pública de Cristo, à implementação do Reino de Deus e à instituição dos Sacramentos são como que o "complemento" dos outros Mistérios.

Exactamente neste primeiro Mistério começa essa  "tarefa" do Salva­dor.

A água é o elemento natural mais precioso da humanidade. A sua falta em numerosos locais da terra provoca sofrimentos indizíveis e não pou­cas vezes lutas e guerras pela sua posse ou controlo.

Ao servir-se da água como elemento fundamental do Baptismo e, tam­bém, ao aceder recebê-la como sinal visível Jesus avaliza a fórmula baptismal instituindo com a Sua acção o Sacramento, o primeiro dos sete que há-de instituir.


Podemos dizer que a Santíssima Trindade quis "reforçar" a dignidade e importância do Baptismo estando presente Deus Espírito Santo que sob a forma de pomba desceu sobre o Baptizando, Deus Filho o Bapti­zando e Deus Pai que fez ouvir a Sua voz.

Dos sete Sacramentos existem dois que imprimem carácter, ou seja, são irreversíveis porque transformam o homem em algo inteiramente diferente do que era antes de o receber.

O Batismo ao introduzir a pessoa no seio da Igreja instituída por Jesus Cristo, dá-lhe uma nobreza e uma dimensão inteiramente novas que jamais perderá mesmo que o deseje.

A patética - para usar uma expressão "suave" - teoria de deixar ao livre arbítrio de cada um o desejo do Baptismo, não o baptizando en­quanto criança, configura um risco tremendo de responsabilidade pelo seu futuro eterno.

(ama, Malta, Abril de 2016)


[i] São João Paulo II acrescentou estes “Mistérios” a que chamou da Luz – ou Luminosos– ao Rosário de Nossa Senhora.

Não sei, evidentemente, a razão que terá levado o Santo Pontífice a fazê-lo e alguém poderá questionar o que têm a ver com o Rosário Mariano.

Têm tudo a ver porque a vida de Nossa Senhora está tão intimamente unida à do Seu Filho, nosso Salvador, que me parece muito lógico e adequado.

Os Cinco Mistérios levam-nos a considerar, principalmente, a instituição dos sacramentos que Jesus nos quis deixar como preciosos e imprescindíveis meios para obter a Salvação Eterna que nos ganhou na Cruz.


Parábola dos dois lobos

Uma lição de vida


Um indiano muito sábio estava ensinando ao seu neto importantes lições de vida:

— Existe uma luta dentro de cada um de nós que se assemelha muito a uma luta entre dois lobos. Um deles representa a maldade: inveja, ciúmes, remorso, egoísmo, ambições, mentiras… o outro lobo é a personificação do bem: paz, amor, esperança, verdade, bondade, fidelidade.

A criança, comovida com as palavras de seu avô, ficou pensando por alguns instantes, e depois perguntou:

— E qual dos dois lobos costuma vencer no final?

O sábio sorriu ligeiramente e respondeu:

— Ganha sempre o lobo que você alimenta.



Antigo testamento / Êxodo 13

Êxodo13

A consagração dos primogénitos

1 E disse o Senhor a Moisés:

2 "Consagra-me todos os primogénitos. O primeiro filho israelita pertence-me, não somente entre os homens, mas também entre os animais".

3 Então disse Moisés ao povo: "Comemorem esse dia em que vocês saíram do Egipto, da terra da escravidão, porque o Senhor os tirou dali com mão poderosa. Não comam nada fermentado.

4 Neste dia do mês de abibe vocês estão saindo.

5 Quando o Senhor os fizer entrar na terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos heveus e dos jebuseus - terra que ele jurou aos seus antepassados que vos daria, terra onde há leite e mel com fartura - deverão celebrar esta cerimónia neste mesmo mês.

6 Durante sete dias comam pão sem fermento e, no sétimo dia, façam uma festa dedicada ao Senhor.

7 Comam pão sem fermento durante os sete dias; não haja nada fermentado entre vós, nem fermento algum dentro do vosso território.

8 "Nesse dia cada um dirá ao seu filho: Assim faço pelo que o Senhor fez por mim quando saí do Egipto.

9 Isto lhe será como sinal na sua mão e memorial na sua testa, para que a lei do Senhor esteja nos seus lábios, porque o Senhor o tirou do Egipto com mão poderosa.

10 Cumpram esta determinação na época certa, de ano em ano.

11 "Depois que o Senhor os fizer entrar na terra dos cananeus e vo-la entregar, como jurou a vós e aos vossos antepassados, separem para o Senhor o primeiro nascido de todo ventre. Todos os primeiros machos dos vossos rebanhos pertencem ao Senhor.

12 Resgatem com um cordeiro toda primeira cria dos jumentos, mas, se não quiserem resgatá-la, quebrem-lhe o pescoço. Resgatem também todo primogénito entre os vossos filhos.

13 "No futuro, quando os vossos filhos perguntarem: 'Que significa isto?', digam-lhes: Com mão poderosa o Senhor nos tirou do Egito, da terra da escravidão.

14 Quando o faraó resistiu e recusou deixar-nos sair, o Senhor matou todos os primogénitos do Egipto, tanto os de homens como os de animais. Por isso sacrificamos ao Senhor os primeiros machos de todo ventre e resgatamos os nossos primogénitos.

15 "Isto será como sinal na sua mão e símbolo na sua testa de que o Senhor nos tirou do Egipto com mão poderosa".

A travessia do mar

16 Quando o faraó deixou sair o povo, Deus não o guiou pela rota da terra dos filisteus, embora esse fosse o caminho mais curto, pois disse: "Se eles se defrontarem com a guerra, talvez se arrependam e voltem para o Egipto".

17 Assim, Deus fez o povo dar a volta pelo deserto, seguindo o caminho que leva ao mar Vermelho. Os israelitas saíram do Egipto preparados para lutar.

18 Moisés levou os ossos de José, porque José tinha feito os filhos de Israel prestarem um juramento, quando disse: "Deus certamente virá em vosso auxílio; levem então os meus ossos daqui".

19 Os israelitas partiram de Sucote e acamparam em Etã, junto ao deserto.

20 Durante o dia o Senhor ia diante deles, numa coluna de nuvem, para guiá-los no caminho, e de noite, numa coluna de fogo, para iluminá-los, e assim podiam caminhar de dia e de noite.

21 A coluna de nuvem não se afastava do povo de dia; nem a coluna de fogo, de noite.


(Revisão da versão portuguesa por ama)

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo Comum

Evangelho: Mc 10, 28-31

28 Pedro começou a dizer-lhe: «Eis que deixámos tudo e Te seguimos». 29 Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Ninguém há que tenha deixado a casa, os irmãos, as irmãs, o pai, a mãe, os filhos, ou as terras, por causa de Mim e do Evangelho, 30 que não receba o cêntuplo, mesmo nesta vida, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos, e terras, juntamente com as perseguições, e no tempo futuro a vida eterna. 31 Porém, muitos dos primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros».

Comentário:

Este trecho do Evangelho de São Marcos aplica-se a um tema importantíssimo: A vocação pessoal!

Em qualquer altura da vida – muito cedo ou mais tarde – o Espírito Santo insinua na alma do cristão o que chamamos vocação ou chamamento.

Normalmente associa-se a palavra vocação com a vida religiosa, o sacerdócio, enfim… uma dedicação mais completa a Deus.

Quando assim é já sabemos as “condições”: entrega total, desprendimento absoluto, obediência sem titubeios.

Não somos nós que colocamos essas condições mas sim o Senhor e porquê?

Porque se trata de servir e, ou se serve nestas “regras” ou não se serve de todo.


(AMA, comentário sobre Mc 10, 28-31, 2016.03.15)




Leitura espiritual



INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO

INTRODUÇÃO

“CREIO – AMÉM”

«Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da terra"

CAPÍTULO QUARTO

"Creio em Deus" – Hoje

1.   O Deus pessoal

Fé cristã em Deus, em primeiro lugar, é uma opção pelo primado do Logos, fé na realidade do sentido criador antecedente e conservador do mundo. Logo, enquanto fé na personificação deste sentido, também é acreditar que o proto-pensamento, cujo "ser-pensado" o mundo reproduz, não é uma consciência anónima e neutra, mas liberdade, amor criador, pessoa. Se, portanto, a opção cristã do Logos conota uma opção por um sentido pessoal, criador, então ela é, ao mesmo tempo, opção pelo primado do específico frente ao genérico. O mais elevado não é o mais genérico, mas precisamente o especial, e, por esta razão, a fé cristã também é, sobretudo, uma opção pelo homem como o ser irreduzível e relacionado com o infinito. E então também aí ela torna a ser opção pelo primado da liberdade contra o primado da necessidade das leis cósmicas. Deste modo destaca-se, com toda a precisão, o específico da fé cristã diante de outras formas optativas do espírito humano. Torna-se inequivocamente claro o lugar que homem ocupa com o Credo cristão.

E assim pode mostrar-se que a primeira opção – pelo primado do Logos contra a matéria pura – não é possível sem a segunda e a terceira, ou mais exactamente: a primeira opção, tomada isoladamente, permaneceria como puro idealismo; somente o acréscimo da segunda e da terceira opção primado do específico, primado da liberdade – denota a linha divisória entre idealismo e fé cristã, a qual é algo diverso do idealismo puro.

Muito se poderia dizer a respeito. Contentemo-nos com as explicações indispensáveis, perguntando, primeiro: Que significa: esse Logos, cujo pensamento é o mundo, é pessoa e, por conseguinte, fé é opção pelo primado do específico contra o genérico? A resposta, afinal, pode ser muito simples, pois, em última análise, não significa outra coisa, senão que esse pensar criador, que constatamos como suposição e fundamento de todo o ser, é, na verdade, um pensar consciente de si mesmo e que conhece não só a si, mas também sabe todo o seu pensamento. Significa ainda que esse pensar não somente sabe, mas ama; que é criativo por ser amor; que, por não ser apenas capaz de saber, mas de amar, colocou o seu pensamento no seio da liberdade de um ser próprio, objectivando esse pensamento, mergulhando-o na ipseidade. Portanto, tudo isto quer dizer que esse pensar sabe o seu pensamento dentro de si mesmo, que o ama e, amando, o sustenta. Com isto voltamos à expressão em cujo rumo as nossas considerações acabam sempre por voltar: não ser coartado pelo máximo, deixar-se envolver pelo mínimo: isto é divino.

Ora, se o Logos de todo o ser, o ser que a tudo sustenta e envolve, é consciência, liberdade e amor, conclui-se por si mesmo que o supremo do mundo não é a necessidade cósmica, mas a liberdade. São de grande alcance as consequências. Tais premissas, com efeito, levam à conclusão de que a liberdade, por assim dizer, constitui a estrutura necessária do mundo, o que, novamente, quer dizer que o mundo só pode ser compreendido como incompreensível, que ele deve ser a incompreensibilidade. Porquanto, sendo a liberdade o ponto supremo da construção do mundo, liberdade que, como tal, sustenta, quer, conhece e ama o mundo todo, segue-se que, com ela, faz parte essencial do mundo a incalculabilidade que lhe é inerente. A incalculabilidade é uma implicação da liberdade; jamais pode reduzir-se completamente à lógica matemática um universo onde as coisas são assim. Mas, com o ousado e grandioso de um mundo marcado pela estrutura da liberdade também está implicado o tenebroso mistério do demoníaco que nele encontramos. Um mundo criado e desejado com o risco da liberdade e do amor, não pode ser pura matemática. Como espaço vital do amor, torna-se palco das liberdades e aceita o risco do mal. Esse mundo enfrenta a aventura da treva com vistas a uma luz maior, luz que é liberdade e amor.

Volta a ser patente como as categorias de máximo e mínimo, de mais pequeno e sumo, se alteram dentro de uma tal visão. Num mundo que, afinal, não é matemática, mas amor, o mínimo é precisamente o máximo; o específico é mais do que o genérico; a pessoa, o único, o irrepetível também é o definitivo e o supremo. Em tal visão cósmica, a pessoa não é exclusivamente indivíduo, um exemplar mimeografado mediante a simples divisão da ideia pela matéria, mas é exactamente e em sentido pleno "pessoa". A mentalidade grega designava sempre os inúmeros seres individuais, inclusive os homens, apenas como "indivíduos". Eles originam-se graças ao fracionamento da ideia pela matéria. Portanto, o multiplicado sempre será o secundário; o próprio seria o único e o geral. O cristão não vê no homem um indivíduo, mas uma pessoa – parece-me que na mudança de indivíduo para pessoa se encontra a medida completa da passagem da Antiguidade ao Cristianismo, do Platonismo à Fé. Esse ser determinado não é, absolutamente, nada de secundário que nos permita adivinhar, fragmentariamente, o geral como o próprio. Como o mínimo, ele é o máximo, como o único e irrepetível, é o supremo e o próprio.

Tira-se daí uma última conclusão. Se é verdade que a pessoa é mais do que o indivíduo, que existe um primado do específico sobre o geral, segue-se que a unidade não é o único e derradeiro, mas que também a multiplicidade tem o seu direito próprio e definitivo. Esta conclusão que, com necessidade interna, se deriva da opção cristã conduz automaticamente a ultrapassar a ideia de um Deus que é exclusivamente unidade. A lógica interna da fé cristã em Deus obriga a passar por cima de um puro monoteísmo, conduzindo-nos à fé no Deus uno e trino, sobre o qual agora teremos de dar uma palavra conclusiva.

CAPÍTULO QUINTO

Fé no Deus Trino

Com as considerações feitas até agora alcançamos um ponto em que a fé cristã no Deus uno passa à aceitação do Deus uno e trino, como que por uma espécie de interna necessidade. Por outro lado, não podemos esquecer que agora pisamos um terreno onde a teologia cristã deve ter consciência da sua limitação, mais do que até agora, por vezes, se tem dado; terreno, onde qualquer falsa ousadia de querer saber tudo com exagerada exatidão há-de transformar-se em loucura de consequências imprevisíveis; terreno em que somente o humilde reconhecimento da insciência pode redundar em verdadeiro saber e só a atitude maravilhada diante do mistério impenetrável pode constituir uma fé autêntica em Deus. Amor é sempre mistério: mais do que se pode calcular e compreender. Portanto, o próprio amor – o Deus incriado e eterno – deve ser mistério em grau supremo: o mistério por excelência.

Contudo – apesar da inevitável discrição da razão, a única atitude aqui indicada para que o pensamento se mantenha fiel a si mesmo e à sua tarefa – deve lançar-se a pergunta sobre o que significa a fé em um Deus uno e trino. Não se pode tentar agora – como, aliás, seria necessário para uma resposta satisfatória – seguir, passo a passo, as várias etapas de sua evolução, nem desenvolver as diversas fórmulas pelas quais a fé procurou proteger essa verdade contra o equívoco. Umas poucas indicações deverão bastar.

1. Introduzindo na compreensão

a) Ponto de partida da fé no Deus uno e trino. A doutrina trinitária não se originou de uma especulação sobre Deus, de alguma tentativa da reflexão filosófica para explicar como se teria processado a origem de todo ser, mas foi consequência dos esforços para uma elaboração de experiências históricas. A fé bíblica primeiramente girava – no Antigo Testamento – em torno de Deus que se lhe manifestava como Pai de Israel, como Pai dos povos, como criador do mundo e seu Senhor. Na época da estruturação do Novo Testamento acrescenta-se-lhe um processo totalmente novo mediante o qual Deus se mostra sob um aspecto até ali desconhecido: em Jesus Cristo encontramos um homem que, ao mesmo tempo, se sabe e se revela como Filho de Deus. Encontramos Deus na figura do mensageiro, o qual é todo Deus e não algum ser intermediário e que, contudo, connosco chama a Deus "Pai". Donde se segue um singular paradoxo: por um lado, esse homem chama a Deus "Pai", fala-lhe como a alguém que lhe está próximo. Ora, se uma atitude assim não quiser passar por puro teatro, mas por verdadeira – como condiz a Deus – ele deve ser alguém diverso desse Pai ao qual fala e a quem nos dirigimos. Por outro lado, ele próprio é a proximidade concreta de Deus que nos vem ao encontro; a mediação de Deus para nós e, exactamente, pelo facto de ser, ele mesmo, Deus feito homem, em figura e natureza humana é o Deus connosco ("Emmanuel"). No fundo, a sua mediação eliminar-se-ia transformando-se de mediação em separação, fosse ele outro que não Deus, fosse ele um ser intermediário. Em tal caso não nos conduziria a Deus, mas afastar-nos-ia dele. Segue-se daí que, como mediador, é o próprio Deus e o "próprio homem", ambos de modo real e completo. Ora, isto significa que Deus vem ao nosso encontro não como Pai mas como Filho e irmão nosso – incompreensível e altamente compreensível, ao mesmo tempo – revelando uma dualidade em Deus, Deus como "eu" e "tu" em um. A essa experiência inédita de Deus segue-se finalmente, como terceiro, o acontecimento do Espírito, da presença de Deus em nós, na nossa vida interna. E torna a patentear-se que esse "Espírito" não é, sem mais, idêntico nem ao Pai, nem ao Filho, nem representa um terceiro entre nós e Deus, mas é a maneira como o mesmo Deus se nos doa, entra em nós, de modo que, dentro do homem e no âmago da "interioridade", lhe é infinitamente superior.

Portanto, constatamos que a fé cristã, no correr da sua evolução histórica, primeiramente gira, de facto, em torno de Deus nessa figura trina. É claro que, em breve, o homem deveria começar a reflectir como essas diferentes realidades deviam ser relacionadas entre si. Havia de se perguntar qual seria o comportamento das três formas de encontros históricos com Deus em relação à própria realidade divina. A trindade das formas divinas experimentadas seria, acaso, simplesmente a sua máscara histórica com que, fazendo diversos papéis, é sempre o mesmo único Deus que se avizinha do homem? Essa trindade revelar-nos-ia apenas algo sobre o homem e sobre as suas diversas formas de se relacionar com Deus? Ou não faria transparecer algo daquilo que é o próprio Deus em si mesmo? Hoje facilmente estaríamos inclinados a aceitar a primeira hipótese como plausível, considerando todos os problemas como resolvidos por este caminho. Contudo, cumpre tomar consciência da extensão do problema, antes de embrenhar-se por um tal atalho. Ora, trata-se de saber se o homem, na sua relação com Deus, deve haver-se exclusivamente com os reflexos da sua própria consciência ou se lhe é concedido elevar-se realmente acima de si e encontrar-se com o próprio Deus. São imensas as consequências em ambos os casos. Se a primeira hipótese está certa, a prece não passaria de uma ocupação do homem consigo mesmo; a raiz de uma adoração propriamente dita está truncada, como também a da súplica – consequência, que, a seguir, mais e mais se vai avolumando. Tanto mais fortemente se impõe a pergunta, se tal atitude, afinal, não se baseia num certo comodismo mental, que escolhe o caminho do menor esforço, sem fazer muitas perguntas. Porquanto, se a segunda hipótese for a verdadeira, adoração e súplica são, não só possíveis, mas ordenadas, isto é, são um postulado do ser humano aberto na direcção de Deus.

Quem perceber a profundeza desta questão compreenderá também a paixão da luta que em torno dela se desencadeou, na antiga Igreja: compreenderá que nessa luta actuaram outras forças que não cavilações idealísticas ou culto de fórmulas, como facilmente poderia pensar o observador superficial; terá consciência de que a luta de então tornou a se reacender hoje, exactamente a mesma luta do homem em torno de Deus e de si mesmo; terá consciência de que não podemos sobreviver como cristãos, julgando poder escolher hoje um caminho mais cómodo do que o de outrora. Antecipemos a resposta na qual foi então encontrada a separação entre o caminho da fé e uma vereda que forçosamente conduziria a uma aparência de fé: Deus é como se revela. Deus não se revela de um modo que não seja o seu. Nesta afirmação está baseada a relação cristã com Deus; nela está fundada a doutrina trinitária; ela é essa doutrina.

(cont)

joseph ratzinger, Tübingen, verão de 1967.

(Revisão da versão portuguesa por ama)






Doutrina – 153

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

Compêndio


PRIMEIRA PARTE: A PROFISSÃO DA FÉ
SEGUNDA SECÇÃO: A PROFISSÃO DA FÉ CRISTÃ
CAPÍTULO PRIMEIRO CREIO EM DEUS PAI

OS SÍMBOLOS DA FÉ

57. Se Deus é omnipotente e providente porque é que existe o mal?


A esta pergunta, tão dolorosa quanto misteriosa, só o conjunto da fé cristã pode dar resposta. Deus não é de maneira nenhuma, nem directamente nem indirectamente, a causa do mal. Ele ilumina o mistério do mal no seu Filho Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para vencer aquele grande mal moral que é o pecado dos homens e que é a raiz dos outros males.

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?





Tratado da vida de Cristo 105

 Questão 46: Da Paixão de Cristo

Art. 9 — Se Cristo sofreu no tempo conveniente.

O nono discute-se assim. — Parece que Cristo não sofreu no tempo conveniente.

1. — Pois, a paixão de Cristo era figurada pela imolação do cordeiro pascal donde o dizer o Apóstolo: Cristo, que é a nossa Páscoa, foi imolado. Ora, o cordeiro pascal era imolado no dia catorze à tarde, como refere a Escritura. Logo, parece que então é que deveria Cristo sofrer. O que é falso, pois, então, celebrou a Páscoa com os seus discípulos, segundo o Evangelho: No primeiro dia, em que se comiam os pães ázimos, quando se imolava o cordeiro pascal; e no dia seguinte sofreu a paixão.

2. Demais. — A paixão de Cristo foi a sua exaltação, segundo o Evangelho: Importa que seja levantado o Filho do Homem. Ora, Cristo é chamado na Escritura o Sol de Justiça. Logo, parece que devia ter sofrido na hora sexta, (meio dia), quando o sol está no ponto máximo de elevação. Ora, o contrário está no Evangelho: Era, pois a hora de terça, tempo em que eles o crucificaram.

3. Demais. — Assim como o sol atinge cada dia o seu ponto mais alto na hora sexta (meio dia), assim no solstício do verão é que está, cada ano, no seu ponto mais elevado. Logo, Cristo devia ter sofrido a Paixão, antes no tempo do solstício do verão que por ocasião do equinócio da primavera.

4. Demais. — A presença de Cristo no mundo iluminava-o a este, segundo o Evangelho: Eu, enquanto estou no mundo sou a luz do mundo. Logo, teria sido mais conveniente à salvação humana que tivesse vivido por mais tempo neste mundo, de modo que não viesse a sofrer na idade de moço, mas quando já idoso.
Mas, em contrário, o Evangelho: Sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo ao Pai. E noutro lugar: Ainda não é chegada a minha hora. Ao que diz Agostinho: Quando fez tanto quanto julgava suficiente, então veio a sua hora; não imposta por necessidade, mas voluntária; não dependente de uma condição, mas do seu poder. Logo, sofreu no tempo conveniente.

Como dissemos, a Paixão de Cristo dependia da sua vontade. Ora, a sua vontade era dirigida pela sabedoria divina, que dispõe todas as coisas convenientemente e com suavidade, no dizer da Escritura, Donde devemos concluir que a Paixão de Cristo se consumou no tempo conveniente. Donde o dizer um autor: O Salvador fez tudo em lugares e tempos próprios.

DONDE A RESPOSTA ÀPRIMEIRA OBJECÇÃO. — Alguns dizem que Cristo sofreu na décima quarta lua, quando os judeus imolavam a Páscoa. Por isso refere o Evangelho, que os judeus não entraram no Pretório do Pilatos, no dia mesmo da Paixão, por se não se contaminarem, para comerem a Páscoa, ao que diz Crisóstomo: Então os judeus celebravam a Páscoa; ao passo que Cristo celebrou a Páscoa um dia antes, reservando-se a sua imolação para a sexta-feira quando se celebrava a Páscoa antiga. Com o que parece estar de acordo o dito do Evangelho, que antes do dia da festa da Páscoa Cristo acabada a ceia, lavou os pés dos discípulos. Mas contra este sentir é o lugar do Evangelho, onde se diz que no primeiro dos dias em que se comiam os pães ázimos, vieram ter com Jesus os seus discípulos, dizendo: Onde queres tu que te preparemos o que se há-de comer na Páscoa? Donde resulta que chamando-se dia de ázimos o décimo quarto dia do primeiro mês, quando o cordeiro era imolado e era o plenilúnio, como adverte Jerónimo, resulta que Cristo celebrou a ceia na décima quarta lua e sofreu a Paixão na décima quinta. E isso é mais expressamente mencionado pelo no Evangelho: No primeiro dia em que se comiam os pães ázimos, quando se imolava o cordeiro pascal, etc. E noutro lugar: Chegou o dia dos pães ázimos no qual era necessário imolar-se a Páscoa. Por isso, alguns dizem, que Cristo no dia conveniente, isto é, na décima quarta lua, comeu a Páscoa com os seus discípulos, mostrando assim que até o último dia não era contrário à lei, como ensina Crisóstomo. Mas os judeus, ocupados em condenar Cristo à morte, adiaram para o dia seguinte a celebração da Páscoa, contrariando a lei. E por isso o Evangelho diz deles que, no dia da Paixão de Cristo, não quiseram entrar no pretório, por não se contaminarem, mas comerem a Páscoa.

Mas também este modo de ver não concorda com as palavras de Marcos quando diz: No primeiro dia em que se comiam os pães ázimos, quando se imolava o cordeiro pascal. Logo Cristo e os judeus celebraram simultaneamente a antiga Páscoa. E, como Beda diz: embora Cristo, que é a nossa Páscoa, fosse crucificado no dia seguinte, isto é, na décima quinta lua, contudo na noite em que o cordeiro foi imolado, entregou o seu corpo e o seu sangue aos discípulos para a celebração dos santos mistérios; e então preso e ligado pelos judeus, consagrou o principio da sua imolação, isto é da sua paixão. Quanto ao que diz o Evangelho — Antes do dia da festa da Páscoa — entende-se que foi a décima quarta lua, que então teve lugar na quinta-feira; pois, a lua décima quinta era o dia soleníssimo da Páscoa entre os judeus. E assim, o mesmo dia a que João chama — antes do dia da festa da Páscoa — por causa da distinção natural dos dias, Mateus denomina o primeiro dia em que se comiam os ázimos. Porque, segundo o rito da festividade judaica, a solenidade principiava na tarde do dia precedente. — Quanto ao lugar, que os judeus haviam de comer a Páscoa na décima quinta lua, devemos entender que ai a Páscoa não significa o cordeiro pascal, que fora imolado na décima quarta lua; mas a comida pascal, isto é, os pães ázimos, que deviam ser comidos pelos puros. E por isso Crisóstomo, comentando esse lugar refere noutra exposição: Páscoa pode tomar-se por toda a festa dos judeus, que durava sete dias.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz Agostinho, era quase a hora sexta quando o Senhor foi entregue para ser crucificado por Pilatos, segundo refere João. Assim, ainda não era plenamente a sexta, mas quase a sexta, isto é, já se tinha passado a quinta e tinha decorrido já uma parte da sexta, até que, estando esta completa Cristo pendente da cruz, fizeram-se as trevas. Entende-se, porém que era à terceira hora, quando os Judeus vociferavam pedindo pela crucifixão do Senhor; e é absolutamente verdade que o crucificaram quando vociferavam. Donde, a fim de que ninguém, afastando dos judeus o pensamento de um tão grande crime, o fizesse recair sobre os soldados, o Evangelho diz que era a hora terceira e então o crucificaram. De modo que se entenda, antes, terem sido os que vociferavam os que o crucificaram na hora sexta. — Embora não falte quem queira entender como a terceira hora do dia a Parasceve, que João comemora, ao dizer — Era então o dia da preparação da Páscoa (Parasceve), quase à hora sexta. Porque Parasceve significa preparação. Porém e verdadeiramente, a Páscoa celebrada na Paixão do Senhor, começou a ser preparada desde a nona hora da noite, isto é, quando todos os príncipes dos sacerdotes disseram — É réu da morte. Assim que, dessa hora da noite até à crucificação de Cristo, decorreu a hora sexta da Parasceve, segundo João, e a terceira hora do dia, segundo Marcos. — Alguns, porém dizem que essa diversidade resulta de um erro do copista grego; pois, os números que representam três e seis são muito semelhantes entre si.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Diz um autor: O Senhor quis remir e reformar o mundo pela sua paixão, na mesma época em que o criou, isto é, no equinócio. É então que o dia começa a ser mais longo que a noite, porque pela paixão do Salvador somos tirados das trevas para a luz. E como a iluminação perfeita será no segundo advento de Cristo, por isso o tempo do segundo advento é comparado ao estio, pelo Evangelho, quando diz: Quando os seus ramos (da figueira) estão já tenros e as folhas tem brotado, sabei que está perto o estio; assim também vós quando vides tudo isto, sabei que esta perto, às portas. E então terá lugar a exaltação suprema de Cristo.

RESPOSTA À QUARTA. — Cristo quis sofrer na idade de moço por três razões. — Primeiro, para nos demonstrar melhor o seu amor, dando a sua vida por nós, quando a tinha no seu estado mais perfeito. — Segundo, porque não convinha que nele se manifestasse nenhuma decadência física, como nem qualquer doença, segundo se disse. - Terceiro, a fim de que, morrendo e ressurgindo na quadra da mocidade, mostrasse de antemão em si a qualidade futura dos ressuscitados. Por isso diz o Apóstolo: Até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a estado de varão perfeito, segundo a medida de idade completa de Cristo.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.