SE
EXISTE,
PORQUE
SE ESCONDE
Pergunta:
Deus, ou seja, o Deus
bíblico, existe. Mas então acaso seja compreensível o protesto de muitos, tanto
de ontem como de hoje:
Porque não se manifesta
mais claramente?
Porque não dá provas
tangíveis a todos da Sua existência?
Porque a Sua misteriosa
estratégia parece ser a de julgar esconder-se das Suas criaturas?
Resposta:
Penso que as perguntas que
coloca – e que por outro lado são as de tantos outros – não se referem nem a
São Tomás nem a Santo Agostinho, nem a
toda a tradição judaico-cristã. Parece-me que apontam mais para outro terreno,
o puramente racionalista, que é próprio
da filosofia moderna, cuja história se inicia com Descartes, que, por assim
dizer, separou o pensar do existir e identificou-o com a própria razão:
Cogito,
ergo sum.
Que diferente é a postura
de Sã Tomás, para quem não é o a existência, mas sim a existência, o esse, o
que decide o que pensar!
Penso do modo que penso
porque sou o que sou – quer dizer -, uma criatura – e porque Ele é O que é,
quer dizer, o absoluto Mistério increado.
Se Ele não fosse Mistério,
não haveria necessidade da Revelação, ou melhor, falando de modo mais rigoroso,
da auto-revelação de Deus.
Se o homem, com o seu
intelecto criado e com as limitações da própria subjectividade, pudesse superar
a distância que separa a criação do Criador, o ser contingente e não necessário
(«o que não é – segundo a conhecida expressão dirigida por Cristo a Santa Catarina
de Sena - [i]
só então as suas perguntas teriam fundamento.
Os pensamentos que o
inquietam, e que aparecem nos seus livros, estão formados por uma série de
perguntas que não são realmente suas; o Senhor quer erigir-se em porta-voz dos
homens da nossa época, pondo-se a seu lado nos caminhos – às vezes difíceis e intrincados
por vezes aparentemente saem saída – da procura de Deus.
(…)
Tentaremos ser imparciais
no nosso raciocínio:
Poderia
Deus ir mais além na Sua condescendência na Sua aproximação ao homem,
consoante as suas possibilidades cognitivas?
Verdadeiramente,
parece que tenha sido tudo o mais longe possível.
Mais
além não poderia ir.
Em certo sentido, Deus foi
demasiado longe!
Precisamente porque
chamava Seu Pai a Deus, porque o manifestava tão abertamente em Si mesmo, não
podia deixar de causar a impressão de que era demasiado…
O homem já não estava em
condições de suportar tal proximidade, e
começaram os protestos.
Este grande protesto tem
nomes concretos: primeiro chama-se Sinagoga, e depois Islão.
Nenhum dos dois pode
aceitar um Deus assim humano.
«Isto não convém a Deus –
protestam –
Deve permanecer
absolutamente transcendente, deve permanecer como pura Majestade.
Supostamente, Majestade
cheia de misericórdia mas não até ao ponto de pagar as culpas dos pecados da
própria criatura.
Sob uma certa óptica é
justo dizer que Deus se revelou ao homem inclusive demasiado no que tem de mais
divino, no que é a Sua vida íntima; revelou-se no próprio Mistério.
(Cfr entrevista de
Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA,
Outubro de 1994)
(Tradução do castelhano
por AMA)