Julgamento de Gualter - profissional de futebol. [i]
A baliza parecia-lhe muito pequena e o guarda-redes desmesuradamente grande como que ocupando todo o espaço disponível. Não entendia o que se estava a passar consigo. Sentia como que um peso tremendo que quase o esmagava.
Mas… não podia falhar! Este golo no derradeiro minuto do desafio era a porta para o triunfo no campeonato.
Tomou balanço, com os trejeitos do costume, e avançou para a bola com a calam costumada.
Já não viu a bola a entrar na baliza nem ouviu a gritaria da multidão de adeptos entusiasmados festejando o golo.
Jazia caído no chão derrubado por um AVC fulminante.
Desde miúdo que Gualter revelara um especial jeito para a bola, na escola, os estudos não eram o seu forte mas no recreio não havia quem se lhe comparasse na habilidade no futebol.
Todos os momentos livres – e eram muitos – passava-os na rua em frente da modesta casa dos pais a jogar futebol com uma bola de trapos com os outros miúdos da aldeia.
Com doze anos feitos e, finalmente, a “primária” concluída apareceu lá em casa um sujeito muito bem-falante que se demorou mais de hora e meia a conversar com o pai.
Este não resistiu às aliciantes propostas do homem e o Gualter lá embarcou no flamante automóvel a caminho da cidade.
Na secção juvenil do grande clube deu logo nas vistas e, muito rapidamente, assim que a idade permitiu, entrou no primeiro desafio da equipa principal.
Como tivesse marcado um golo o seu lugar ficou instantaneamente assegurado e, a partir daí, foi um sucessivo acumular de desafios, dribles fantásticos, golos memoráveis.
Os media começaram a falar dele com frequência e não passou um ano que não fosse aliciado por um famoso clube estrangeiro com um ordenado de príncipe das arábias.
A sua vida era um conto de fadas, o dinheiro acumulava-se no banco não só fruto dos salários fabulosos mas também dos principescos proventos de publicidade que iam desde marcas de roupas caríssimas, cosméticos, automóveis…
O Juiz falou:
“O que se acaba de ouvir não serve para nada…”
Gualter admirava-se de o Ser resplandecente que estivera a relatar a sua vida não tivesse mencionado os prémios, as taças, as medalhas que enchiam toda uma divisão da sua luxuosa mansão.
Mas, o Juiz, prosseguia:
“Não consta uma obra de caridade, um auxílio solidário, uma preocupação com alguém…”
“Tenho de dizer algo - ouviu-se numa voz tão suave que parecia uma brisa sussurrante – o Gualter teve uma filha e quis que fosse baptizada.
A sua família queria pôr-lhe um desses nomes que parecem estar de moda mas ele insistiu – e impôs – que lhe fosse dado o meu nome…”
O Juiz disse então:
"Como em Caná da Galileia fiz o que me pediu, faça-se agora como a Minha Mãe desejar".
[i] Levanta-se a questão da vida para além da morte. É uma das grandes interrogações que alguma vez durante a sua vida o homem se coloca. É natural porque o ser humano é dotado de espírito, alma, que tem preocupações mais para além do imediatamente sensível.
Para os cristãos a segurança da Fé fá-los compreender que está destinado à eternidade, ou seja, embora o corpo pereça e acabe a vida terrena, a sua alma não morrerá jamais e, naturalmente, tende a voltar para o seu Criador, Deus.
Sim... a lógica propõe o que a fé garante, porque não se concebe o Criador abandonar a criatura a um desaparecimento puro e simples.
O restante do problema é o que se refere ao "destino" da alma e que é "marcado" na conclusão do juízo a que é sujeita pelo próprio Criador, logo que, após a separação do corpo, se apresenta perante Si.
No imaginário livro da vida, ao contrário do que que é mais comum, não existem colunas de "deve" e "haver" onde é feita uma espécie de contabilidade, não! O que existe é uma lista completa dos bens recebidos em vida, os dons, graças, auxílios, inspirações e meios com que o Senhor foi dotando cada um de forma especial e única.
Cada ser humano recebe um "pacote" específico, para si em exclusivo.
Deus Nosso Senhor não dispensa os Seus benefícios adrede ou de uma forma sistemática ou mecânica. Cada ser humano é objecto de atenção exclusiva e única por parte do Criador que lhe concede os Seus dons e benefícios conforme a Sua Soberana Vontade determina.
Esta misteriosa magnitude de Deus tem uma razão de ser.
O homem não é capaz por si mesmo de evoluir, de melhorar sem que um estímulo o leve a tal.
Este estímulo surge exactamente no estreitamento das suas relações com Deus.
Quanto mais se relaciona mais recebe e, quanto mais se recebe mais se deseja intimar com Deus.
Por isso no Evangelho consta «àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado» Lc 8, 16-18.
Para chegar a Deus, o caminho seguro, é Maria Sua e nossa Mãe!
Sancta Maria iter para tutum! (Santa Maria, prepara-me um caminho seguro)