31/07/2019

El Antiguo Testamento y la elección de Israel



Evangelho e comentário


TEMPO COMUM



Evangelho: Mt 13 44-46

44 «O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra o campo. 45 O Reino do Céu é também semelhante a um negociante que busca boas pérolas. 46 Tendo encontrado uma pérola de grande valor, vende tudo quanto possui e compra a pérola.»

Comentário:

Sobre estas parábolas do Reino do Céu só um comentário é possível ou adequado:

Não existe bem mais sublime nem valor maior!

Na procura incessante da felicidade que, no fundo, move cada ser humano, e não tiver esta verdade bem presente jamais alcançará o que deseja e gastará o tempo inutilmente atrás de sonhos e quimeras que nunca satisfarão os seus desejos.


(AMA, comentário sobre Mt 13, 44-46, 06.05.2019)




Temas para reflectir e meditar

Amor de Deus


Ouve como foste amado quando não eras amável; ouve como eras amado quando eras torpe e feio; antes, enfim, de que houvesse em ti coisa digna de amor. 

Foste amado primeiro para que te tornasses digno de ser amado.

(Stº. AgostinhoSermão 142)

Leitura espiritual


JESUS CRISTO NOSSO SALVADOR

Iniciação à Cristologia


SEGUNDA PARTE

A OBRA REDENTORA DE JESUS CRISTO


Capítulo X

A PAIXÃO E MORTE DE CRISTO E A NOSSA REDENÇÃO

1. O desígnio de Deus Pai sobre a paixão e Morte de Cristo

a) O desígnio divino e a Morte de Cristo

    A Morte de Jesus pertence ao misterioso desígnio de Deus, como explica São Pedro: «foi entregue segundo determinado desígnio e presciência de Deus» (Act 2,23). E assim também o dizem os primeiros cristãos cheios do Espírito Santo: «Aliaram-se nesta cidade contra o teu santo servo Jesus, que tu ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações gentias e os povos de Israel (cf. Sal 2,1-2), para levar a cabo quanto o teu poder e a tua sabedoria tinham previsto que ocorresse» (Act 4,27-28).
    Na Morte de Jesus, acima das causas históricas imediatas – o Sinédrio, Pilatos, os soldados – há uma causa de nível mais alto que só pode ser conhecida pela revelação: o plano e a disposição de Deus que permitiram os actos nascidos da cegueira dos homens para realizar o desígnio da nossa salvação (cf. Act 3,17-18)[i].

b) Porquê a cruz, nos planos divinos?

    Já dissemos que a salvação é uma intervenção do amor misericordioso de Deus na situação humana de pecado, que enviou o seu Filho para nos salvar por meio da sua Paixão e Morte. E porque quis Deus a cruz de Cristo? Ainda que nos seja difícil responder essa pergunta, tentemos ver algum ponto de luz neste mistério.

    Deus quer o homem se arrependa do seu pecado e expresse o seu arrependimento interior com obras externas de penitência (como é próprio da condição humana, composta de corpo e alma). Só assim pode tomar parte na Nova Aliança e receber o perdão.
Para demonstrar o amor a Deus e o arrependimento devemos renunciar ao «homem velho», ao desonrado amor por nós mesmos que nos levou a desobedecer a Deus. O homem tem que manifestar este amor penitente com obras de entrega rendida à vontade divina, e em primeiro lugar com a aceitação voluntária das penalidades que Deus permite.

    As penas derivadas do pecado ordenam-se à reparação do mesmo. Deus não faz nem quer o mal, nem a morte: «Acaso me comprazo eu na morte do malvado – palavra do Senhor – e não antes que se converta da sua conduta e viva?» (Ez 18,23; cf. Sab 1,13). Deus ama tudo o que criou, e ama o pecador (cf. Rom 5,8; Jo 3,16).
    Portanto, se Deus permite que o homem experimente as penalidades derivadas do pecado, estas são remédios e ordenam-se a um bem maior: a vida sobrenatural que é muito mais valiosa que a vida natural[ii]. Essas penas não constituem propriamente um castigo, nem são uma retribuição directa pelo pecado de cada um (cf. Jo 9,2-3; Lc 13,1-5). No plano divino a dor tem lugar para purificar a alma, para tirar o obstáculo da vontade própria que nos afastou de Deus; serve, com a Judá da graça divina, para reparar a desordem do pecado no homem: e isto é o que, em teologia, chama-se «satisfazer»[iii].
    Mas nem todas as penas derivadas do pecado servem para a restauração do homem, mas só as que afectam bens temporais e corporais[iv]. E a principal pena satisfatória devida ao pecado comum da humanidade é a morte, á qual se ordenam e em que se consumam todas as penas físicas: «o salário do pecado é a morte» (Rom 6,23)[v].

    A reparação plena dos pecados do género humano dá-se pela Paixão e Morte de Cristo. Deus dispôs que a satisfação pelo pecado do género humano fosse completa, enquanto devia tirar o pecado e todas as suas consequências, e enquanto devia afectar todos os homens. Já vimos no capítulo VII que ninguém pode reparar o pecado por si mesmo sem a graça, e ainda que com ela, nenhum homem podia reparar o pecado de toda a humanidade.
    Assim pois, Cristo, como novo Adão e Cabeça do género humano, livremente e por amor assumiu o sofrimento derivado do pecado comum até à sua culminação na morte: Ele emendou e substituiu a desobediência de Adão com o seu amor e a sua obediência, e sofreu a morte para reparar a desordem introduzida em todos os homens pelo pecado original.

c) Deus Pai não é causa directa da Morte do seu Filho; somente a permite

    Poderia parecer que Deus Pai fora a causa ou o autor da Paixão e Morte de Cristo, já que na revelação divina se afirma que «não pedrou o seu próprio Filho, antes o entregou por nós» (Rom 8,32). Mas realmente o Pai é só a sua causa indirecta ou permissiva: não quer a sua mote, nem muito menos a causa, antes a tolera.
    Se a permitiu, ainda que não a causasse, é porque daí proviria um bem maior. Mas é imaginável algo melhor que a vida corporal do seu Filho? A resposta é um mistério que de todo não podemos compreender, sobretudo se o olhamos com uma visão simplesmente humana. Todavia, com a cruz da fé podemos entrever que a glória e a exaltação de Cristo que se seguiu á sua morte são muito mais valiosas que os sofrimentos que padeceu (cf. Lc 24,26; Flp 2,8-11). E também podemos admirar neste mistério o valor imenso que a salvação das almas tem para Deus.
    Então, em que sentido se pode dizer que o Pai entregou o seu Filho por nós? Podemos dizer que o Pai entregou Cristo à Paixão e Morte porque segundo a sua eterna vontade dispôs a Paixão para reparar os pecados do género humano; também, enchendo Jesus de caridade, o inspirou a vontade de padecer por nós; e, em terceiro lugar, porque na Paixão não o protegeu, podendo, dos perseguidores.

2. Os autores da Paixão e Morte de Cristo

    Os autores da paixão de Cristo – sua causa eficiente – são os que tinham a intenção de o matar e o fizeram sofrer os tormentos que produziram a sua morte[vi]. E estes foram Judas, o Sinédrio, Pilatos, etc. E a Escritura acrescenta que por detrás de todos eles actua Satanás, príncipe das trevas, que é homicida desde o princípio (cf. Jo 8,44).

    Os falsos motivos que os judeus aduziam para o rejeitar foram principalmente, como assinala muito bem o Catecismo da Igreja Católica: o valor da Lei de Moisés, o sentido do templo de Jerusalém, e a declaração de Jesus de ser Filho de Deus[vii].

    A responsabilidade subjectiva de cada um dos autores da Paixão só Deus a conhece, e, além disso, temos de ter presente que Jesus pediu perdão para eles. Todavia, podemos assinalar algumas situações objectivamente diferentes:
- Judas, o traidor, um dos Doze, um dos amigos íntimos do Mestre, que conhecia bem a sua vida e doutrina e o entregou aos judeus: a sua culpa é gravíssima.
- As autoridades judias, o Sinédrio, tiveram a informação suficiente para saber que Jesus era o Messias prometido e rejeitaram-no[viii]. Certamente alguns deles acreditaram em Cristo (como Nicodemos e José de Arimateia), mas a maioria, por ódio e inveja (cf. Jo 15,24; Mt 27,18), não acreditou n’Ele, declaram-no réu de morte, e forçaram Pilatos para que o crucificasse. Na Escritura reconhece-se que tiveram alguma ignorância, mas também se diz que não tiveram desculpa do seu pecado[ix]: Deus saberá calibrar a sua culpa.
- Pilatos pecou condenando o justo por temor mundano a César (Jo 19,12-16), ainda que como disse Jesus: «Os que me entregaram a ti têm maior pecado» (Jo 19,11). A culpa do Procurador foi menor, pois não conhecia que Jesus era o Messias o Filho de Deus.
-A multidão dos judeus, que pediu a gritos a crucifixão do Senhor (cf. 15,11) e ratificou e aprovou a sua condenação por Pilatos (cf. Mt 27,25), tinha um conhecimento menor que os seus chefes e, além do mais, foi guiada e manipulada pelas autoridades legítimas do seu povo: por isso, a sua culpa, foi menor.
- Todavia, como o Concílio Vaticano II assinala: «Ainda que as autoridades dos judeus com os seus seguidores reclamassem a morte de Cristo o que se perpetuou na sua Paixão não pode ser imputado indistintamente a todos os judeus que viviam então nem aos judeus de hoje (…) Não se há-de assinalar os judeus como reprovados por Deus e malditos como se tal coisa se deduzisse da Sagrada Escritura»[x].




(cont)

Vicente Ferrer Barriendos

(Tradução do castelhano por ama)





[i] Cf. CCE, 599, 600.
[ii] Torna-se sempre difícil encontrar uma resposta para a dor, mas é impossível a quem considera como valores supremos os bens materiais (por exemplo, a saúde e o bem-estar material). Sem uma visão de fé o homem não pode entender que a possessão da vida eterna vale muito mais que ganhar todo o mundo.
[iii] CF. CONC. DE TRENTO, DS, 1690; CCE, 1472, 1459.
[iv] Os defeitos morais, que também drivam do pecado (a privação da graça, a ignorância, a desordem moral, etc.), não servem para reparar ao homem caído mas antes são impedimentos; mais, são parte da desordem que há que eliminar (cf. S. TOMÁS DE AQUINO, S. Th. III,14,1; III,46,4, ad 2; Compendium theologiae, cap 226, nn. 471-474).
[v] Cf. 1 Cor 15,56; CCE, 602; S. TOMÁS DE AQUINO, S. Th. III,14,1; III,46,4, ad 2; Compendium theologiae, cap 227, n. 475).
[vi] Convém ter em conta que quando a Sagrada Escritura diz que Jesus morreu «por nós» ou «por todos» (cf. Rom 5,8; 2 Cor 5,15) ou «pelos nossos pecados» (cf. 1 Cor 15,3; Gal 1,4), expressa o motivo que teve a morte de Cristo, ou seja, a «causa final» da sua Paixão, que é a salvação dos homens e a libertação do pecado, como vimos no capítulo II. E quando diz que padeceu e foi reprovado «pelos judeus» (cf. Lc 9,22; 17,25), expressa quem foram os autores desses padecimentos, quer dizer, a «causa eficiente» da sua Paixão, constituída pelos que o crucificaram, seus executores.
[vii] Cf. CCE, 574-594.
[viii] Cf. A parábola dos vinhateiros infiéis de Lc 20,9-19, ou a proposta de Caifás de Jo 11,49-50.
[ix] Por um lado tiveram ignorância, pois o próprio Jesus disse: «Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34; cf. Act 3,17). Mas por outro lado foram culpados, como também o Senhor assinala: «Não têm desculpa do seu pecado (…) Se não tivesse feito entre eles obras que nenhum outro fez, não teriam pecado; mas agora não só viram, como me aborreceram a mim e a meu Pai» (Jo 15,22-24).
[x] CONC. VATICANOII, Nostra aetate,

Pequena agenda do cristão

Quarta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?









Jesus ainda está à procura de pousada


Jesus nasceu numa gruta em Belém, diz a Escritura, "porque não havia lugar para eles na estalagem". Não me afasto da verdade teológica, se te disser que Jesus ainda está à procura de pousada no teu coração. (Forja, 274)


Não me afasto da mais rigorosa verdade se vos digo que Jesus continua agora a buscar pousada no nosso coração. Temos de Lhe pedir perdão pela nossa cegueira pessoal, pela nossa ingratidão. Temos de Lhe pedir a graça de nunca mais Lhe fechar a porta das nossas almas.
O Senhor não nos oculta que a obediência rendida à vontade de Deus exige renúncia e entrega porque o amor não pede direitos: quer servir. Ele percorreu primeiro o caminho. Jesus, como obedecestes Tu? Usque ad mortem, mortem autem crucis, até à morte e morte de Cruz. É preciso sair de nós mesmos, complicar a vida, perdê-la por amor de Deus e das almas... Tu querias viver e que nada te acontecesse; mas Deus quis outra coisa... Existem duas vontades: a tua vontade deve ser corrigida para se identificar com a vontade de Deus, e não torcida a de Deus para se acomodar à tua.

Com alegria, tenho visto muitas almas que jogaram a vida – como Tu, Senhor, "usque ad mortem"! – para cumprir o que a vontade de Deus lhes pedia, dedicando os seus esforços e o seu trabalho profissional ao serviço da Igreja, pelo bem de todos os homens.
Aprendamos a obedecer, aprendamos a servir. Não há maior fidalguia do que entregar-se voluntariamente ao serviço dos outros. Quando sentimos o orgulho que referve dentro de nós, a soberba que nos leva a pensar que somos super-homens, é o momento de dizer que não, de dizer que o nosso único triunfo há-de ser o da humildade. Assim nos identificaremos com Cristo na Cruz, não aborrecidos ou inquietos, nem com mau humor, mas alegres, porque essa alegria, o esquecimento de nós mesmos, é a melhor prova de amor. (Cristo que passa, 19)


30/07/2019

Evangelho e comentário


TEMPO COMUM


São Pedro Crisólogo – Doutor da Igreja

Evangelho: Mt 13 36-43

36 Afastando-se, então, das multidões, Jesus foi para casa. E os seus discípulos, aproximando-se dele, disseram-lhe: «Explica-nos a parábola do joio no campo.» 37 Ele, respondendo, disse-lhes: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem; 38 o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do Reino; o joio são os filhos do maligno; 39 o inimigo que a semeou é o diabo; a ceifa é o fim do mundo e os ceifeiros são os anjos. 40 Assim, pois, como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será no fim do mundo: 41 o Filho do Homem enviará os seus anjos, que hão-de tirar do seu Reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, 42 e lançá-los na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes. 43 Então os justos resplandecerão como o Sol, no Reino de seu Pai. Aquele que tem ouvidos, oiça!»

Comentário:

No mundo coexistem bons e maus, aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a seguem semeando-a na sua alma e à sua volta e os que, ao contrário, seguem as instruções do demónio e propagam o joio do erro e da mentira.

Sim, é verdade, podem coexistir mas, os encarregados da ceifa final, não se deixarão enganar e depositarão nos celeiros do Dono da seara os frutos bons e destruirão inexoravelmente o joio inútil fruto do ódio e da mentira.


(AMA, comentário sobre Mt 13, 36-43. 06.05.2019) 

Temas para reflectir e meditar

Morte


Pensemos bem nisto: enquanto vivemos esta vida terrena, vivemos para morrer ou para viver? 

Se vivemos em Cristo, vivemos para viver, porque em Cristo não há morte, nem Ele nos deixa morrer.


(JMA, comentários sobre os Novíssimos - Morte, 2010.10.26) 

Leitura espiritual


Um estilo para a Nova Evangelização


        A nova evangelização é o desafio mais radical que a história impôs ao cristianismo; as dificuldades que a doutrina católica pode encontrar em certos ambientes são um estímulo para falar de um modo novo, e para isso, devemos redescobrir os tesouros do Evangelho.
             A primeira vez que João Paulo II usou o termo “nova evangelização” foi em 9 de Março de 1983, no Haiti, durante uma reunião de bispos da América Latina. Ali ressaltou que, à vista dos desafios apresentados pela secularização de países tradicionalmente cristãos, a Igreja devia empreender uma nova evangelização “no seu ardor, nos seus métodos, na sua expressão”[1].
Não é difícil perceber a actualidade dessas palavras de S. João Paulo II. Países de longa tradição cristã experimentam um processo de secularização que não deixou de avançar durante as últimas décadas. E, na medida em que se ignora Deus, desumanizam-se as leis e os costumes, começando pelos que se referem à vida humana.
A nova evangelização é o desafio mais radical que a história impôs ao cristianismo[2];
Entretanto, as dificuldades que a doutrina católica pode encontrar em certos ambientes não nos incapacitam para a anunciar: mais ainda, são um estímulo para falar non nova sed noviter[3],
Não de coisas novas, mas de um modo novo. Essa é a nossa missão: dar luz, com o tesouro da Revelação, às inúmeras situações que apresenta o mundo contemporâneo e para isso, devemos redescobrir os tesouros do Evangelho, permitir que iluminem todos os recantos da nossa existência de cristãos do século XXI. Só se interiorizarmos a nossa fé, poderemos mostrar àqueles que nos rodeiam como ela enriquece a vida quotidiana. Nesse sentido, a chamada que Bento XVI fez para aproveitar o Ano da Fé e “voltar a encontrar o entusiasmo de comunicar a todos as verdades da fé”[4] torna-se ainda mais importante.
Com uma visão positiva da realidade
S. Josemaria também experimentou na primeira pessoa os desafios da secularização, já desde os anos 30 do século passado. Na sua vida e ensinamentos encontramos luzes que nos ajudam nas circunstâncias actuais e sempre. Entre outras, destaca o valor da secularidade, que consiste em amar o mundo apaixonadamente, participar do seu dinamismo, sentir-se responsável pela sua evolução[5].
S. Josemaria recordou de mil maneiras que os católicos estão chamados a impregnar de dignidade humana e sentido cristão as actividades e profissões, das quais não se podem desentender. Nós, cristãos, não somos espectadores, mas sim protagonistas das transformações sociais positivas: encontramo-nos “nas próprias entranhas da sociedade civil”[6].
S. Josemaria transmitia uma visão positiva do mundo, das realidades criadas, das tarefas humanas nobres. Convidava-nos a compartilhar com os nossos concidadãos todos os grandes desejos de melhoria social, de desenvolvimento cultural, de avanço científico, de progresso tecnológico, como algo próprio, sem espírito de suspeita nem alteridade. Ensinava-nos a saber discernir o trigo da cizânia, com um trabalho valente de purificação. “O mal e o bem misturam-se na história humana e por isso o cristão deve saber discernir; mas nunca esse discernimento o deve levar a negar a bondade das obras de Deus, antes, pelo contrário, a reconhecer o divino que se manifesta no humano, inclusivamente por trás das nossas fraquezas. Um bom lema para a vida cristã pode encontrar-se naquelas palavras do Apóstolo: todas as coisas são vossas, e vós de Cristo, e Cristo de Deus[1], para realizar assim os desígnios desse Deus que quer salvar o mundo”[7]
A nova evangelização é uma batalha que se trava nas bibliotecas, nos parlamentos, nos meios de comunicação e em todos os lugares onde os homens e as mulheres do nosso tempo acorrem para aprender a viver e a ser felizes. Ali – nos livros, nas leis, na moda, nos filmes – se debate sobre a vida e a morte, a saúde e a doença, o amor e a beleza, o trabalho e o descanso. Todos falam e todos escutam o que consideram sábio. É preciso estar presente nesses debates, possuir a credibilidade de quem conhece e respeita as regras do jogo próprias de cada actividade: o Direito, a Educação ou a Literatura; para serem levados a Cristo, devem progredir a partir de verdadeiros juristas, pedagogos e literatos, de mente aberta e enamorados do Senhor. Como dizia um escritor cristão dos primeiros séculos, “o que a alma é num corpo, isso são os cristãos no mundo”[8]; “não se distinguem do resto da humanidade nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes”[9]
É o amor ao mundo, e concretamente a essa parte do mundo em que cada um atua, que dá legitimidade para opinar e autoridade para ser escutado. É a proximidade de Deus que permite iluminar as realidades seculares. A nova evangelização não é compatível com um olhar distante de quem se sente alheio à sociedade, mas com o olhar próximo de um filho de Deus que é parte do mundo e o ama. Por isso S. Josemaria dizia, “quanto mais dentro do mundo estivermos, tanto mais temos de ser de Deus.”[10].

Com amor à verdade

Nós, cristãos, somos testemunhas de uma verdade que recebemos, e sabemos que sendo suas testemunhas, oferecemos um serviço inestimável, tanto nas relações pessoais como na vida social. Num mundo em que tudo parece relativo e efémero, o compromisso com a verdade dá estabilidade e coerência: temos que estar pessoalmente convencidos daquilo em que acreditamos, sentirmo-nos parte de uma belíssima tradição que tem muito a oferecer à sociedade.
Não somos cristãos por herança, nem por pertencer a um grupo social, mas sim porque encontrámos Jesus Cristo e esse encontro transformou a nossa existência. Experimentamos “a alegria de O acompanhar, de O sentir perto de nós, presente em nós e no nosso meio, como um amigo, como um irmão, mas também como rei, isto é, como farol luminoso da nossa vida”[11].
Por isso nos sentimos estimulados a voltar continuamente à Palavra de Deus, luz da nossa vida. A verdade implica conhecê-la, meditá-la, possuí-la de modo reflexivo. Convida-nos a celebrá-la e a contemplar a sua beleza.
O cristão não tem medo da verdade, de fazer a si próprio as perguntas mais difíceis que o ambiente ou a sociedade lhe colocam. Sabe que o Evangelho possui a capacidade de iluminar os dilemas e problemas mais difíceis que perseguem o homem. Um cristão que vive a sua fé, que a conhece bem, pode tornar-se um ponto de referência, de apoio, para as pessoas que o rodeiam. E será assim porque dará uma abordagem positiva a tudo, recordando que Deus nos ama, nos liberta e nos salva. No fundo, falar das verdades de fé é falar do que se vive, com honradez e humildade, apoiados na confiança e não na imposição.
Este amor à verdade permite transmitir a fé como é: um sim imenso ao homem, à mulher, à vida, à liberdade, à paz, ao desenvolvimento, à solidariedade, às virtudes. Se Cristo nos fez felizes, é normal que essa mesma alegria se transmita na nossa atitude. De facto, “a força com que a verdade se impõe tem que ser a alegria, que é a sua expressão mais clara. Por ela deveriam apostar os cristãos e nela deveriam dar-se a conhecer ao mundo”[12].
Ao mesmo tempo, numa sociedade em que as opiniões subjectivas parecem imperar, muitas pessoas alcançam a verdade graças ao facto de encontrarem aqueles que lutam por viver de um modo coerente com a fé e são felizes. Nesse caso, está-se disposto com mais facilidade a escutar e valorizar argumentos que lhe são oferecidos.

Sempre orientados para o diálogo e a amizade

Ser cristão na sociedade contemporânea implica de um modo muito especial não só estar convencido da verdade da revelação, mas também ser capaz de dar razão dela, ser capaz de dialogar sobre ela. O diálogo é o caminho privilegiado para levar à fé aqueles que nos rodeiam, pois permite que a verdade se imponha só “pela força da própria verdade, que penetra suave e fortemente nas almas”[13].

O diálogo inclui a arte da escuta atenta, o profundo respeito pela liberdade do outro, a lucidez de pensamento e a clareza de expressão. O diálogo cria um clima de abertura às perguntas dos outros, que encerram sempre uma inquietação que é preciso interpretar com acerto. No diálogo, a Palavra de Deus, que habita a nossa inteligência e o nosso coração, exprime-se em palavras pronunciadas com delicadeza e com desejos de ajudar. A nossa fé amadurece quando se submete à prova do diálogo. Só assim as convicções pessoais se exprimem, se contrastam, se interiorizam. Comunicar a fé não é discutir para vencer, mas dialogar para convencer, pois “as ideias não se impõem, mas propõem-se”[14].

Dialogar leva a mostrar melhor uma Verdade que ilumina decisivamente as nossas vidas. Não se trata de derrotar ninguém, mas de iluminar, ilustrar a mente e o coração dos que escutam sobre algo que realmente os afecta.
O diálogo, para S. Josemaria, pressupõe o amor à verdade, mas implica, além disso, uma “leal amizade com os homens”[15].
A amizade possui uma dimensão humana, que é potenciada pela caridade. Para transmitir a fé, é preciso amar a Deus e, além disso, também amar a pessoa com quem estamos a lidar. Aprender a evangelizar significa aprender a amar: ter o coração grande, ser acolhedores, compreender, servir. No Ano da Fé, convém recordar que a caridade molda o conteúdo, o método, o caminho e o estilo da nova evangelização.
Podemos recordar nesse contexto as palavras que São Paulo usa na sua carta aos Efésios, para desenhar o retracto do “homem novo”, o homem transformado por Cristo. Exorto-vos, pois, dizia-lhes, “a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz”[16].
Humildes, amáveis, compreensivos, elementos de unidade, semeadores de paz e de alegria. Eis aqui parte do estilo, sempre novo, que exige a nova evangelização.
“O nosso tempo exige cristãos que tenham sido arrebatados por Cristo (...), que sejam quase um livro aberto que narra a experiência da vida nova no Espírito, a presença daquele Deus que nos sustém”[17].
Se aprendemos a viver assim, seremos luzes que brilham na escuridão e que ajudam, com a sua vida quotidiana e humilde, a “que as verdades cristãs sejam luz das novas transformações culturais” [18], de modo que muitos redescubram o sentido de sua vida.


M. de Sandoval
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Notas:


[1] (1 Cor. 3, 22-23)


[1] S. João Paulo II, Discurso na assembleia do CELAM, 9/03/1983.
[2] Cf. S. João Paulo II, Discurso, 11/10/1985
[3] Cf. S. Paulo VI, Audiência, 29/09/1976.
[4] Bento XVI, Audiência, 21/11/2012.
[5] Cf. S. Josemaria, Temas Atuais do Cristianismo, n. 114-116.
[6] S. Josemaria, Carta 14/02/1950, n. 20, cit. por Ernst Burkhart e Javier López, Vida Cotidiana y santidad en la enseñanza de san Josemaría, Rialp, Madrid 2013, vol. I, p. 81.
[7] S. Josemaria, Temas Atuais do Cristianismo, n. 70.
[8] Epistola ad Diognetum, 6.
[9] Ibidem, 5.
[10] S. Josemaria, Forja, n. 740.
[11] Francisco, Homilia no domingo de Ramos, 24/03/2013
[12] J. Ratzinger, «Que significa para mim o Corpus Domini?», em Opera Omnia, v. 11, parte C, XI, 4.
[13] Conc. Vaticano II, Decr. Dignitatis humanae, n. 1.
[14] S. João Paulo II, Discurso, 3/05/2003.
[15] S. Josemaria, Forja, n. 943.
[16] Ef 4, 1-3.
[17] Bento XVI, Audiência, 24/10/2012.
[18] Bento XVI, Audiência, 17/10/2012.