01/12/2014

Meditação pessoal no Advento – 1

Começa o Advento como se fosse o primeiro da minha vida e, de facto é!

Advento muito próprio e pessoal em que espero uma vida nova que me conduza à tranquilidade e à calma que aspiro e que, pobre de mim, nem sempre consigo encontrar

Não desejo que desapareçam as saudades nem se esbatam as lembranças mas que as saiba encarar e viver com os sentidos postos em Ti, meu Senhor e meu Deus, seguro como estou que tudo fazes para bem.  

São algo duros e contraditórios estes últimos tempos que tenho vivido. (1)

Duros porque me atingem como uma espada, um cacete que corta e esmaga a minha alma deixando-a muitas vezes exangue perdido o tino a visão serena e positiva.

Contraditórios, porque me sinto feliz por ter esta oportunidade para merecer e, sobretudo, desagravar.

Tempo de Advento, do meu advento particular que quero e desejo viver intensamente esperando a alegria do Nascimento do Salvador mundo.



Fernandinha:

Tens a certeza que não vens?

Se pedires ao Senhor Ele não te deixa vir?

Pelo amor que me tens

Pede-lhe, insisto!
Olha para mim

Que não desisto
Como te espero
Enfim…

Então? Não vens?

Eu quero!

Porto, 2014-11-29




[1] A Fernandinha partiu para o Céu em 04 de Agosto passado, celebraríamos 49 anos de casados no próximo dia 08 de Dezembro!

Chamaste-me, Senhor?

Pareceu-me ouvir a tua voz
vinda de dentro de mim,
da mente, do coração,
do centro do amor e da paz,
da minha vida,
do meu eu,
onde Tu estás.

Chamaste-me, Senhor?

É que ouvi um sussurro,
num fugidio momento,
um canto, uma melodia,
um suspiro,
parecia levado p’lo vento,
tão repleto de alegria,
que respondo ao chamamento.

Chamaste-me, Senhor?

É que senti no coração
um amor tão grande e puro,
que logo me apercebi,
sendo eu assim tão impuro,
que esse amor feito oração,
só podia vir de Ti.

Chamaste-me, Senhor?

Aqui estou ajoelhado,
esperando que me levantes,
assim por Ti abraçado,
cheio da tua bondade,
abrindo-me todo a Ti,
para fazer a tua vontade.

Chamaste-me, Senhor?

Aqui estou!
Enche-me do teu amor,
e envia-me,
porque por Ti, Senhor,
eu vou!



Marinha Grande, 27 de Novembro de 2014


Joaquim Mexia Alves
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Fome e sede dele e da sua doutrina

Sem a vida interior, sem formação, não há verdadeiro apostolado nem obras fecundas: o trabalho é precário e, inclusivamente, fictício. Que responsabilidade, portanto, a dos filhos de Deus! Temos de ter fome e sede dele e da sua doutrina. (Forja, 892)

Às vezes, com a sua actuação, alguns cristãos não dão ao preceito da caridade o valor máximo que tem. Cristo, rodeado pelos seus, naquele maravilhoso sermão final, dizia à maneira de testamento: "Mandatum novum do vobis, ut diligatis invicem", dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros.

E ainda insistiu: "In hoc cognoscent omnes quia discipuli mei estis", nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.

Oxalá nos decidamos a viver como Ele quer! (Forja, 889)

Se faltar a piedade – esse laço que nos ata a Deus fortemente e, por Ele, aos outros, porque neles vemos Cristo –, é inevitável a desunião, com a perda de todo o espírito cristão. (Forja, 890)

Agradece com todo o coração a Nosso Senhor as potências admiráveis... e terríveis, da inteligência e da vontade com que quis criar-te. Admiráveis, porque te fazem semelhante a Ele; terríveis, porque há homens que as põem contra o seu Criador.


A mim, como síntese do nosso agradecimento de filhos de Deus, ocorre-me dizer a este Pai-nosso, agora e sempre: "Serviam!" – Servir-te-ei! (Forja, 891)

Tratado do verbo encarnado 46

Questão 6: Da ordem da assunção

Art. 6 — Se o Filho de Deus assumiu a natureza humana mediante a graça.

O sexto discute-se assim. — Parece que o Filho de Deus assumiu a natureza humana mediante a graça.

1 — Pois, pela graça é que nos unimos a Deus, Ora, em Cristo a natureza humana, estava por excelência unida a Deus. Logo, essa união fez-se mediante a graça.

2. Demais. — Assim como o corpo vive pela alma, que lhe dá a perfeição, assim a alma, pela graça. Ora, a natureza humana torna-se apta para a assunção, por meio da alma. Logo, o Filho de Deus assumiu a alma mediante a graça.

3. Demais. — Agostinho diz, que o Verbo Encarnado é como o nosso verbo, quando falamos. Ora, o nosso verbo une-se à palavra mediante o espírito. Logo, o Verbo de Deus une-se à carne mediante o Espírito Santo, e portanto, mediante a graça, que é atribuída ao Espírito Santo, segundo o Apóstolo. Há repartição de graças, mas um mesmo é o Espírito.

Mas, em contrário, a graça é um acidente da alma, como na Segunda Parte se demonstrou. Ora, a união do Verbo com a natureza humana fez-se por subsistência e não por acidente, como do sobredito se colhe. Logo, a natureza humana não foi assumida mediante a graça.

Em Cristo há a graça de união e a graça habitual. Logo, a graça pode ser entendida como meio, na assunção da natureza humana, quer tratemos da graça de união, quer da habitual. Pois, a graça de união é o ser próprio pessoal, dado gratuitamente à natureza humana, por Deus, na pessoa do Verbo, o qual é o termo da assunção. E a graça habitual, pertencente à santidade pessoal do Homem-Deus, é um efeito consequente à união, conforme o Evangelho: Vimos a sua glória, como de Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade, pelo que dá a entender que do próprio facto de ser o Homem Cristo o Unigénito do Pai — o que lhe advinha da união — tem a plenitude da graça e da verdade. Se porém, entendermos a graça como a vontade de Deus, que faz ou dá alguma coisa gratuitamente, nesse caso a união fez-se pela graça, não como um meio, mas como pela causa eficiente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A nossa união com Deus é mediante uma operação, isto é, enquanto o conhecemos e amamos. Donde, essa união dá-se pela graça habitual enquanto que a operação perfeita procede do hábito. Mas a união da natureza humana com o Verbo de Deus é segundo o ser pessoal, não dependente de nenhum hábito, mas imediatamente da própria natureza.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A alma é a perfeição substancial do corpo, ao passo que a graça é uma perfeição acidental da alma. Por isso, a graça não pode ordenar a alma para a união pessoal, que não é acidental, como a alma e o corpo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O nosso verbo une-se à palavra, mediante o espírito, não, certamente, como por um meio formal, mas como por um meio movente, pois, do verbo interiormente concebido procede o espírito, de que se forma a palavra. E semelhantemente, do Verbo eterno procede o Espírito Santo, que formou o corpo de Cristo, como a seguir se dirá. Mas daí não se segue que a graça do Espírito Santo seja um meio formal, na referida união.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Ev coment. L esp (Cristo que passa)

Advento I Semana

Evangelho: Mt 8 5-11

5 Tendo entrado em Cafarnaum, aproximou-se d'Ele um centurião, e fez-Lhe uma súplica, 6 dizendo: «Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico e sofre muito». 7 Jesus disse-lhe: «Eu irei e o curarei». 8 Mas o centurião, respondeu: «Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; diz, porém, uma só palavra, e o meu servo será curado. 9 Pois também eu sou um homem sujeito a outro, mas tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: “Vai”, e ele vai; e a outro: “Vem”, e ele vem; e ao meu servo: “Faz isto”, e ele o faz». 10 Jesus, ouvindo estas palavras, admirou-Se, e disse para os que O seguiam: «Em verdade vos digo: Não achei fé tão grande em Israel. 11 Digo-vos, pois, que virão muitos do Oriente e do Ocidente, e se sentarão com Abraão, Isaac e Jacob no Reino dos Céus,

Comentário:

Os maiores elogios que o Senhor faz a alguém e que constam nos Evangelhos, são feitos a propósito da Fé. Para se conseguir o que se pretende é fundamental acreditar profundamente que o Senhor pode, se quiser, fazê-lo. Não se pedem coisas como que para “experimentar” a Misericórdia do Senhor. Deus não se compadece com “experiências” ou “lágrimas de crocodilo”, atende, apenas, quem a Ele se dirige com a convicção profunda de que, Ele, ouve a petição, e, ouvindo-a, a atenderá se daí vier, de facto, um bem para quem Lhe pede.

(ama, comentário sobre Mt 8, 5-11, 2010.10.27)


Leitura espiritual



São Josemaria Escrivá

Cristo Que passa 152 a 159

152           
Uma vida nova

É o momento simples e solene da instituição do Novo Testamento. Jesus derroga a antiga economia da Lei e revela-nos que Ele próprio será o conteúdo da nossa oração e da nossa vida.

Vede a alegria que inunda a liturgia de hoje: seja o louvor pleno, sonoro, alegre. É o júbilo cristão que canta a chegada de outro tempo: terminou a antiga Páscoa, inicia-se a nova. O velho é substituído pelo novo, a verdade e faz com que a sombra desapareça, a noite é iluminada pela luz.

Milagre de amor. Este é verdadeiramente o pão dos filhos; o Primogénito do Pai Eterno, oferece-Se-nos como alimento. E o mesmo Jesus Cristo, que aqui nos robustece, espera-nos no Céu como comensais, co-herdeiros e sócios, porque os que se alimentam de Cristo morrerão com a morte terrena e temporal, mas viverão eternamente, porque Cristo é a vida que não termina .

A felicidade eterna, para o cristão que se conforta com o maná definitivo da Eucaristia, começa já agora. Passou o que era velho: deixemos de lado tudo o que é caduco, seja tudo novo para nós - os corações, as palavras e as obras .

Esta é a Boa Nova. É novidade, notícia, porque nos fala de uma profundidade de Amor, de que antes não suspeitávamos. É boa, porque nada é melhor do que unir-nos intimamente a Deus, Bem de todos os bens. É a Boa Nova, porque, de alguma maneira e de um modo indescritível, nos antecipa a eternidade.

153           
Tratar com Jesus na palavra e no pão

Jesus esconde-se no Santíssimo Sacramento do altar, para que nos atrevamos a tratar com ele, para ser o nosso sustento, com o fim de que nos façamos uma só coisa com Ele. Ao dizer sem mim nada podeis, não condenou o cristão à ineficácia, nem o obrigou a uma busca árdua e difícil da sua Pessoa; ficou entre nós com uma disponibilidade total.

Quando nos reunimos junto do altar enquanto se celebra o Santo Sacrifício da Missa, quando contemplamos a Hóstia Sagrada exposta na custódia ou a adoramos escondida no Sacrário, devemos reavivar a nossa fé, pensando nessa existência nova, que vem a nós, e comover-nos com o carinho e a ternura de Deus.

E perseveravam todos na doutrina dos Apóstolos, e na comum fracção do pão, e nas orações. É assim que a Escritura nos descreve a conduta dos primeiros cristãos: congregados pela fé dos Apóstolos em perfeita unidade, a participarem da Eucaristia, unânimes na oração. Fé, Pão, Palavra.

Jesus, na Eucaristia, é penhor seguro da sua presença nas nossas almas; do seu poder, que sustenta o mundo; das suas promessas de salvação, que ajudarão a que a família humana, quando chegar o fim dos tempos, habite perpetuamente na casa do Céu, em torno de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo:

Santíssima Trindade, Deus único. É toda a nossa fé que se põe em acto quando cremos em Jesus, na sua presença real sob os acidentes do pão e do vinho.

154           
Não compreendo como se possa viver cristãmente sem sentir a necessidade de uma amizade constante com Jesus na Palavra e no Pão, na oração e na Eucaristia. E entendo perfeitamente que, ao longo dos séculos, as sucessivas gerações de fiéis tenham vindo a concretizar essa piedade eucarística. Umas vezes com práticas multitudinárias, professando publicamente a sua fé; outras, com gestos silenciosos e calados, na sagrada paz do templo ou na intimidade do coração.

Antes de mais, devemos amar a Santa Missa, que deve ser o centro do nosso dia. Se vivemos bem a Missa, como não havemos depois de continuar o resto da jornada com o pensamento no Senhor, com o desejo ardente de não nos afastarmos da sua presença, para trabalhar como Ele trabalhava e amar como Ele amava? Aprendemos então a agradecer ao Senhor essa sua outra delicadeza: não quis limitar a sua presença ao momento do Sacrifício do Altar, mas decidiu permanecer na Hóstia Santa que se reserva no Tabernáculo, no Sacrário.

Dir-vos-ei que, para mim, o Sacrário foi sempre Betânia, o lugar tranquilo e aprazível onde está Cristo, onde Lhe podemos contar as nossas preocupações, os nossos sofrimentos, as nossas aspirações e as nossas alegrias, com a mesma simplicidade e naturalidade com que aqueles amigos seus Marta, Maria e Lázaro lhe falavam. Por isso, ao percorrer as ruas de alguma cidade ou de alguma aldeia, alegra-me descobrir, ainda que ao longe, a silhueta duma igreja: é um novo Sacrário, mais uma ocasião para deixar a alma escapar-se para estar, em desejo, junto do Senhor Sacramentado.

155           
Fecundidade da Eucaristia

Quando o Senhor na última Ceia instituiu a Sagrada Eucaristia, era de noite, o que - comenta S. João Crisóstomo - manifestava que os tempos tinham sido cumpridos. Caía a noite sobre o mundo, porque os velhos ritos, os antigos sinais da misericórdia infinita de Deus para com a humanidade iam realizar-se plenamente, abrindo caminho a um verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa. A Eucaristia foi instituída durante a noite, preparando de antemão a manhã da Ressurreição.

Também nas nossas vidas temos de preparar essa alvorada. Tudo o, que é caduco, o que é prejudicial, o que não serve - o desânimo, a desconfiança, a tristeza, a cobardia - tudo isso tem de ser deitado fora. A Sagrada Eucaristia introduz a novidade divina nos filhos de Deus e devemos corresponder in novitate sensus , com uma renovação de todo o nosso sentir e de todo o nosso agir. Foi-nos dado um novo princípio de energia, uma raiz poderosa, enxertada no Senhor. Não podemos voltar à antiga levedura, nós que temos o Pão de agora e de sempre.

156           
Nesta festa, em cidades de um extremo ao outro da Terra, os cristãos acompanham em procissão o Senhor que, escondido na hóstia, percorre as ruas e praças - como durante a sua vida terrena - aparecendo aos que O querem ver, vindo ao encontro dos que O não procuram. Jesus aparece assim, uma vez mais, no meio dos seus. Como reagimos perante esse chamamento do Mestre?

As manifestações externas de amor devem nascer do coração e prolongar-se com o testemunho da conduta cristã. Se fomos renovados com a recepção do Corpo do Senhor, temos de o manifestar com obras. Que os nossos pensamentos sejam sinceros: de paz, de entrega, de serviço. Que as nossas palavras sejam verdadeiras, claras, oportunas; que saibam consolar e ajudar, que saibam sobretudo levar aos outros a luz de Deus. Que as nossas acções sejam coerentes, eficazes, acertadas: que tenham esse bonus odor Christi , o bom odor de Cristo, por recordarem o seu modo de Se comportar e de viver.

A procissão do Corpo de Deus torna Cristo presente nas aldeias e cidades do mundo. Mas essa presença, repito, não deve ser coisa de um dia, ruído que se ouve e se esquece. Essa passagem de Jesus lembra-nos que temos também de descobri-Lo nos nossos afazeres quotidianos. A par da procissão solene desta quinta-feira. deve ir a procissão silenciosa e simples da vida corrente de cada cristão, homem entre os homens, mas com a felicidade de ter recebido a fé e a missão divina de se comportar de tal modo que renove a mensagem do Senhor sobre a Terra. Não nos faltam erros, misérias, pecados. Mas Deus está com os homens, e temos de nos dispor a que se sirva de nós e se torne contínua a sua passagem entre as criaturas.

Vamos, pois, pedir ao Senhor que nos conceda sermos almas de Eucaristia, que a nossa relação pessoal com Ele se traduza em alegria, em serenidade, em desejo de justiça. E facilitaremos aos outros o trabalho de reconhecer Cristo, contribuiremos para colocá-lo no cume de todas as actividades humanas. Cumprir-se-á a promessa de Jesus: Eu, quando for levantado sobre a terra, atrairei tudo a mim.

157           
O pão e a ceifa: comunhão com todos os homens

Jesus, dizia-vos no começo, é o semeador. E por intermédio dos cristãos continua a sua sementeira divina. Cristo aperta o trigo nas suas mãos chagadas, embebe-o com o seu sangue, limpa-o, purifica-o e lança-o no sulco que é o mundo. Lança os grãos um a um, para que cada cristão, no seu próprio ambiente, dê testemunho da fecundidade da Morte e da Ressurreição do Senhor.

Se estamos nas mãos de Cristo, devemos impregnar-nos do seu Sangue redentor, deixar-nos lançar ao vento, aceitar a nossa vida tal como Deus a quer. E convencer-nos de que a semente, para frutificar, tem que se enterrar e morrer. Depois ergue-se o caule e surge a espiga. Da espiga, o pão, que será convertido por Deus no Corpo de Cristo. Dessa forma voltaremos a reunir-nos em Jesus, que foi o nosso semeador. Visto que há um só pão, nós, embora muitos formamos um só corpo, nós todos que participamos de um mesmo pão.

Nunca percamos de vista que não há fruto se antes não houve sementeira: por isso é preciso difundir generosamente a Palavra de Deus, fazer com que os homens conheçam Cristo e que, ao conhecê-Lo, tenham fome d'Ele. Esta festa do Corpus Christi - Corpo de Cristo, Pão da vida é uma boa ocasião para meditar na fome de verdade, de justiça, de unidade e de paz que se adverte nos homens. Perante a fome de paz, teremos de repetir com S. Paulo: Cristo é a nossa paz, pax nostra. Os desejos de verdade hão-de levar-nos a recordar que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Aos que procuram a unidade, temos de colocá-los perante Cristo, que pede que estejamos consummati in unum, consumados na unidade. A fome de justiça deve conduzir-nos à fonte originária da concórdia entre os homens: ser e saber-se filhos do Pai, irmãos.

Paz, verdade, unidade, justiça. Que difícil parece por vezes o trabalho de superar as barreiras, que impedem o convívio entre os homens! E contudo nós, os cristãos somos chamados a realizar esse grande milagre da fraternidade: conseguir, com a graça de Deus, que os homens se tratem cristãmente, levando uns as cargas dos outros, vivendo o mandamento do Amor, que é o vínculo da perfeição e o resumo da lei.

158           
Não deixemos de reparar que fica ainda muito por fazer. Em determinada ocasião, talvez contemplando o suave movimento das espigas já gradas, disse Jesus aos seus discípulos: A messe é grande mas os operários são poucos. Rogai pois ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe. Como então, também agora faltam homens que queiram suportar o peso do dia e do calor . E se nós, os que trabalhamos, não formos fiéis, acontecerá o que escreveu o profeta Joel: destruída a colheita a terra ficou de luto: porque o trigo está seco, o vinho arruinado, o azeite perdido. Confundi-vos, lavradores; gritai, vinhateiros, pelo trigo e pela cevada. Não há colheita.

Não há colheita, quando não se está disposto a aceitar generosamente o trabalho constante, que pode tornar-se longo e fatigante: lavrar a terra, semear, cuidar do campo, fazer a ceifa e a debulha... Na história, no tempo, edifica-se o Reino de Deus. O Senhor confiou-nos a todos essa tarefa e ninguém se pode sentir dispensado dela. Ao adorarmos e contemplarmos hoje Cristo na Eucaristia, pensemos que ainda não chegou a hora do descanso, porque a jornada continua.

Está dito no livro dos Provérbios: quem lavrar a sua campina terá pão em abundância. Tiremos a lição espiritual destas palavras: quem não lavra o terreno de Deus, quem não é fiel à missão divina de se entregar aos outros, ajudando-os a conhecer Cristo, dificilmente conseguirá entender o que é o Pão eucarístico. Ninguém gosta daquilo que não lhe custou esforço. Para apreciar e amar a Sagrada Eucaristia, é preciso percorrer o caminho de Jesus; sermos trigo, morrermos para nós próprios, ressuscitarmos cheios de vida e darmos fruto abundante: cem por um!

Esse caminho resume-se numa única palavra: amar. Amar é ter o coração grande, sentir as preocupações dos que estão à nossa volta, saber perdoar e compreender: sacrificar-se, com Jesus Cristo, por todas as almas. Se amamos com o coração de Cristo, aprenderemos a servir, e defenderemos a verdade claramente e com amor. Para amar desta maneira, é preciso que cada um expulse da sua vida tudo o que estorva a Vida de Cristo em nós: o apego à nossa comodidade, a tentação do egoísmo, a tendência à exaltação pessoal. Só reproduzindo em nós a Vida de Cristo, poderemos transmiti-la aos outros; só experimentando a morte do grão de trigo, poderemos trabalhar nas entranhas da terra, transformá-la por dentro, torná-la fecunda.

159           
O optimismo cristão

Alguma vez poderá surgir a tentação de pensar que tudo isto é tão belo como um sonho irrealizável. Falei-vos de renovar a fé e a esperança; permanecei firmes, com a certeza absoluta de que as nossas aspirações serão ultrapassadas pelas maravilhas de Deus. Mas torna-se indispensável que nos apoiemos verdadeiramente na virtude cristã da esperança.

Não nos acostumemos aos milagres que se operam perante nós: ao admirável portento que é o Senhor descer todos os dias às mãos do sacerdote. Jesus quer que estejamos despertos, para que nos convençamos da grandeza do seu poder, e para que ouçamos novamente a sua promessa: venite post me, et faciam vos fieri piscatores hominum, se Me seguirdes, far-vos-ei pescadores de homens; sereis eficazes e atraireis as almas a Deus. Devemos, portanto, confiar nessas palavras do Senhor: meter-se na barca, pegar nos remos, içar as velas e lançar-nos a esse mar do mundo que Cristo nos deixa em herança. Duc in altum et laxate rectia vestra in capturam! : fazei-vos ao largo e lançai as vossas redes para pescar.

Este zelo apostólico que Cristo infundiu no nosso coração não se deve esgotar - extinguir - por uma falsa humildade. Se é verdade que arrastamos connosco as nossas misérias, também é verdade que o Senhor conta com os nossos erros. Não escapa ao seu olhar misericordioso que nós, os homens, somos criaturas com limitações, com fraquezas, com imperfeições, inclinadas ao pecado. Por isso, manda-nos lutar, reconhecer os nossos defeitos; não para nos acobardarmos, mas para nos arrependermos e fomentarmos o desejo de sermos melhores.

Aliás, temos de lembrar-nos sempre de que somos apenas instrumentos: Que é, pois, ApoIo? e que é Paulo? Ministros daquele em quem vás crestes, segundo o dom que o Senhor deu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas Deus é que deu o crescimento. A doutrina, a mensagem que temos de difundir, tem uma fecundidade própria e infinita, que não é nossa, mas de Cristo. É o próprio Deus quem está empenhado em realizar a obra salvadora, em redimir o, mundo.

(cont)





Temas para meditar - 288





A fé é a colaboração do homem no exercício do poder de Deus.




(federico suarezA Virgem Nossa Senhora, Éfeso, 4ª Ed. nr. 115)

Bento VXI – Pensamentos espirituais 27


A sabedoria


Entendo por sabedoria a compreensão daquilo que é importante, o olhar que capta o essencial... A sabedoria da fé não consiste em dominar uma grande quantidade de pormenores, o que é próprio de uma profissão, mas em olhar para além dos pormenores e identificar o essencial da vida: como ser Pessoa, como construir o futuro.


(Entrevista à Rádio Vaticano. (14.Ago.05)

(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)


Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)





Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?