Pentecostes
Evangelho: Jo 20, 19-23
19 Chegada a tarde daquele mesmo dia,
que era o primeiro da semana, e estando fechadas as portas da casa onde os
discípulos se encontravam juntos, por medo dos judeus, foi Jesus, colocou-Se no
meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!». 20 Dito isto, mostrou-lhes
as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se muito ao ver o Senhor. 21 Ele
disse-lhes novamente: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou,
também vos envio a vós». 22 Tendo dito esta palavras, soprou sobre eles e
disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo. 23 Àqueles a quem perdoardes os pecados,
ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos».
Comentário:
O Espírito Santo vem sobre os apóstolos
como um sopro de Jesus. Deus Filho transmite Deus Espírito Santo aos que irão
prosseguir a tarefa de difundir o Reino de Deus por todo o mundo.
A obra da Redenção está terminada agora
começa a da Salvação só possível por aquela ganha com o sangue de Cristo
derramado na Cruz.
Tomará a seu cargo conduzir os homens
confirmando-os na fé pelos caminhos divinos na terra em direcção ao mundo
futuro,
(ama, Comentário sobre 20, 19-23, 2013.05.19)
Documentos do Concílio Vaticano II
CONSTITUIÇÃO
PASTORAL
GAUDIUM ET SPES
SOBRE
A IGREJA NO MUNDO ACTUAL
CAPÍTULO
IV
A
FUNÇÃO DA IGREJA NO MUNDO ACTUAL
Relação mútua entre a
Igreja e o mundo
40. Tudo quanto dissemos
acerca da dignidade da pessoa humana, da comunidade dos homens, do significado
profundo da actividade humana, constitui o fundamento das relações entre a
Igreja e o mundo e a base do seu diálogo recíproco 1. Pelo que, no
presente capítulo, pressupondo tudo o que o Concílio já declarou acerca do
mistério da Igreja, considerar-se-á a mesma Igreja enquanto existe neste mundo
e com ele vive e actua.
A Igreja, que tem a sua
origem no amor do eterno Pai 2, foi fundada, no tempo, por Cristo
Redentor, e reúne-se no Espírito Santo 3, tem um fim salvador e
escatológico, o qual só se poderá atingir plenamente no outro mundo. Mas ela
existe já actualmente na terra, composta de homens que são membros da cidade
terrena e chamados a formar já na história humana a família dos filhos de Deus,
a qual deve crescer continuamente até à vinda do Senhor. Unida em vista dos
bens celestes e com eles enriquecida, esta família foi por Cristo «constituída
e organizada como sociedade neste mundo» 4, dispondo de
«convenientes meios de unidade visível e social» 5. Deste modo, a
Igreja, simultâneamente «agrupamento visível e comunidade espiritual» (6),
caminha juntamente com toda a humanidade, participa da mesma sorte terrena do
mundo e é como que o fermento e a alma da sociedade humana 7, a qual
deve ser renovada em Cristo e transformada em família de Deus.
Esta compenetração da
cidade terrena com a celeste só pela fé se pode perceber; mais, ela permanece o
mistério da história humana, sempre perturbada pelo pecado, enquanto não chega
a plena manifestação da glória dos filhos de Deus. Procurando o seu fim
salvífico, a Igreja não se limita a comunicar ao homem a vida divina; espalha
sobre todo o mundo os reflexos da sua luz, sobretudo enquanto cura e eleva a
dignidade da pessoa humana, consolida a coesão da sociedade e dá um sentido
mais profundo à quotidiana actividade dos homens. A Igreja pensa, assim, que
por meio de cada um dos seus membros e por toda a sua comunidade, muito pode
ajudar para tornar mais humana a família dos homens e a sua história.
Além disso, a Igreja
católica aprecia grandemente a contribuição que as outras igrejas cristãs ou comunidades
eclesiais têm dado e continuam a dar para a consecução do mesmo fim. E está
também firmemente persuadida de que pode receber muita ajuda, de vários modos,
do mundo, pelas qualidades e acção dos indivíduos e das sociedades, na
preparação do Evangelho. Expõem-se, a seguir, alguns princípios gerais para
promover convenientemente o intercâmbio e ajuda recíproca entre a Igreja e o
mundo, nos domínios que são de algum modo comuns a ambos.
Ajuda que a Igreja oferece
ao homem
41. O homem actual está a
caminho de um desenvolvimento mais pleno da personalidade e uma maior
descoberta e afirmação dos próprios direitos. Tendo a Igreja, por sua parte, a
missão de manifestar o mistério de Deus, último fim do homem, ela descobre ao
mesmo tempo ao homem o sentido da sua existência, a verdade profunda à cerca
dele mesmo. A Igreja sabe muito bem que só Deus, a quem serve, pode responder
às aspirações mais profundas do coração humano, que nunca plenamente se
satisfaz com os alimentos terrestres. Sabe também que o homem, solicitado pelo
Espírito de Deus, nunca será totalmente indiferente ao problema religioso, como
o confirmam não só a experiência dos tempos passados, mas também inúmeros
testemunhos do presente. Com efeito, o homem sempre desejará saber, ao menos
confusamente, qual é o significado da sua vida, da sua actividade e da sua
morte. E a própria presença da Igreja lhe traz à mente estes problemas. Mas só
Deus, que criou o homem à sua imagem e o remiu, dá plena resposta a estas perguntas,
pela revelação em Cristo seu Filho feito homem. Aquele que segue Cristo, o
homem perfeito, torna-se mais homem.
Apoiada nesta fé, a Igreja
pode subtrair a dignidade da natureza humana a quaisquer flutuações de
opiniões, por exemplo, as que rebaixam exageradamente o corpo humano ou, pelo
contrário, o exaltam sem medida. Nenhuma lei humana pode salvaguardar tão
perfeitamente a dignidade pessoal e a liberdade do homem como o Evangelho de
Cristo, confiado à Igreja. Pois este Evangelho anuncia e proclama a liberdade
dos filhos de Deus; rejeita toda a espécie de servidão, a qual tem a sua última
origem no pecado 8; respeita escrupulosamente a dignidade da
consciência e a sua livre decisão; sem descanso recorda que todos os talentos
humanos devem redundar em serviço de Deus e bem dos homens; e a todos recomenda,
finalmente, a caridade 9. É o que corresponde à lei fundamental da
economia cristã. Porque, embora seja o mesmo Deus o Criador e o Salvador, o
senhor da história humana e o da história da salvação, todavia, segundo a
ordenação divina, a justa autonomia das criaturas e sobretudo do homem, não só
não é delimitada mas antes é restituída à sua dignidade e nela confirmada.
Por isso, a Igreja, em
virtude do Evangelho que lhe foi confiado, proclama os direitos do homem e
reconhece e tem em grande apreço o dinamismo do nosso tempo, que por toda a
parte promove tais direitos. Este movimento, porém, deve ser penetrado pelo
espírito do Evangelho, e defendido de qualquer espécie de falsa autonomia. Pois
estamos sujeitos à tentação de julgar que os nossos direitos pessoais só são
plenamente assegurados quando nos libertamos de toda a norma da lei divina.
Enquanto, por este caminho, a dignidade da pessoa humana, em vez de se salvar,
perde-se.
Ajuda que a Igreja oferece
à sociedade
42. A unidade da família
humana recebe um grande reforço e encontra o seu acabamento na unidade da
família dos filhos de Deus -. Certamente, a missão própria confiada por Cristo
à sua Igreja, não é de ordem política, económica ou social: o fim que lhe
propôs é, com efeito, de ordem religiosa 11. Mas desta mesma missão
religiosa deriva um encargo, uma luz e uma energia que podem servir para o
estabelecimento e consolidação da comunidade humana segundo a lei divina. E
também, quando for necessário, tendo em conta as circunstâncias de tempos e
lugares, pode ela própria, e até deve, suscitar obras destinadas ao serviço de
todos, sobretudo dos pobres, tais como obras caritativas e outras semelhantes.
A Igreja reconhece, além
disso, tudo o que há de bom no dinamismo social hodierno; sobretudo o movimento
para a unidade, o processo duma sã socialização e associação civil e económica.
Promover a unidade é, efectivamente, algo que se harmoniza com a missão essencial
da Igreja, pois ela é, «em Cristo, como que o sacramento ou sinal e o
instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» 12.
Ela própria manifesta assim ao mundo que a verdadeira união social eterna flui
da união dos espíritos e dos corações, daquela fé e caridade em que
indissoluvelmente se funda, no Espírito Santo, a sua própria unidade. Porque a
energia que a Igreja pode insuflar à sociedade actual consiste nessa fé e
caridade efectivamente vividas e não em qualquer domínio externo, actuado com
meios puramente humanos.
Além disso, dado que a
Igreja não está ligada, por força da sua missão e natureza, a nenhuma forma
particular de cultura ou sistema político, económico ou social, pode, graças a
esta sua universalidade, constituir um laço muito estreito entre as diversas
comunidades e nações, contanto que nela confiem e lhe reconheçam a verdadeira
liberdade para cumprir esta sua missão. Por esta razão, a Igreja recomenda a
todos os seus filhos, e também a todos os homens, que superem com este espírito
de família próprio dos filhos de Deus, todos os conflitos entre nações e raças,
e consolidem internamente as legítimas associações humanas.
O Concílio considera com
muito respeito o que há de bom, verdadeiro e justo nas instituições tão
diversas que o género humano criou e sem cessar continua a criar. E a Igreja
declara querer ajudar e promover todas essas instituições, na medida em que
isso dela dependa e seja compatível com a sua própria missão. Ela nada deseja
mais ardentemente do que, servindo o bem de todos, poder desenvolver-se
livremente sob qualquer regime que reconheça os direitos fundamentais da pessoa
e da família e os imperativos do bem comum.
Ajuda que a Igreja oferece
à atividade humana
43. O Concílio exorta os
cristãos, cidadãos de ambas as cidades, a que procurem cumprir fielmente os
seus deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho. Afastam-se da
verdade os que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que
vamos em demanda da futura 13, pensam que podem por isso descuidar
os seus deveres terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os obriga mais
a cumpri-los, segundo a vocação própria de cada um 14. Mas não menos
erram os que, pelo contrário, opinam poder entregar-se às ocupações terrenas,
como se estas fossem inteiramente alheias à vida religiosa, a qual pensam
consistir apenas no cumprimento dos actos de culto e de certos deveres morais.
Este divórcio entre a fé que professam e o comportamento quotidiano de muitos
deve ser contado entre os mais graves erros do nosso tempo. Já no Antigo
Testamento os profetas denunciam este escândalo 15; no Novo, Cristo
ameaçou-o ainda mais veementemente com graves castigos 16. Não se
oponham, pois, infundadamente, as actividades profissionais e sociais, por um
lado, e a vida religiosa, por outro. O cristão que descuida os seus deveres
temporais, falta aos seus deveres para com o próximo e até para com o próprio
Deus, e põe em risco a sua salvação eterna. A exemplo de Cristo que exerceu um
mister de operário, alegrem-se antes os cristãos por poderem exercer todas as
actividades terrenas, unindo numa síntese vital todos os seus esforços humanos,
domésticos, profissionais, científicos ou técnicos com os valores religiosos, sob
cuja elevada ordenação, tudo se coordena para glória de Deus.
As tarefas e actividades
seculares competem como próprias, embora não exclusivamente, aos leigos. Por
esta razão, sempre que, sós ou associados, actuam como cidadãos do mundo, não
só devem respeitar as leis próprias de cada domínio, mas procurarão alcançar
neles uma real competência. Cooperarão de boa vontade com os homens que
prosseguem os mesmos fins. Reconhecendo quais são as exigências da fé, e por
ela robustecidos, não hesitem, quando for oportuno, em idear novas iniciativas
e levá-las a realização. Compete à sua consciência previamente bem formada,
imprimir a lei divina na vida da cidade terrestre. Dos sacerdotes, esperem os
leigos a luz e força espiritual. Mas não pensem que os seus pastores estão
sempre de tal modo preparados que tenham uma solução pronta para qualquer
questão, mesmo grave, que surja, ou que tal é a sua missão. Antes, esclarecidos
pela sabedoria cristã, e atendendo à doutrina do magistério 17,
tomem por si mesmos as próprias responsabilidades.
Muitas vezes, a concepção
cristã da vida incliná-los-á para determinada solução, em certas circunstâncias
concretas. Outros fiéis, porém, com não menos sinceridade, pensarão
diferentemente acerca do mesmo assunto, como tantas vezes acontece, e
legitimamente. Embora as soluções propostas por uma e outra parte, mesmo independentemente
da sua intenção, sejam por muitos facilmente vinculadas à mensagem evangélica,
devem, no entanto, lembrar-se de que a ninguém é permitido, em tais casos,
invocar exclusivamente a favor da própria opinião a autoridade da Igreja. Mas
procurem sempre esclarecer-se mutuamente, num diálogo sincero, salvaguardando a
caridade recíproca e atendendo, antes de mais, ao bem comum.
Os leigos, que devem tomar
parte activa em toda a vida da Igreja, não devem apenas impregnar o mundo com o
espírito cristão, mas são também chamados a serem testemunhas de Cristo, em
todas as circunstâncias, no seio da comunidade humana.
Quanto aos Bispos, a quem
está confiado o encargo de governar a Igreja de Deus, preguem juntamente com os
seus sacerdotes a mensagem de Cristo de tal maneira que todas as actividades
terrenas dos fiéis sejam penetradas pela luz do Evangelho. Lembrem-se, além disso,
os pastores que, com o seu comportamento e solicitude quotidianos 18,
manifestam ao mundo o rosto da Igreja com base no qual os homens julgam da
força e da verdade da mensagem cristã. Com a sua vida e palavra, juntos com os
religiosos e os seus fiéis, mostrem que a Igreja, com todos os dons que contém
em si, é só pela sua simples presença uma fonte inexaurível daquelas virtudes
de que tanto necessita o mundo de hoje. Por meio de assíduo estudo, tornem-se
capazes de tomar parte no diálogo com o mundo e com os homens de qualquer
opinião. Mas sobretudo, tenham no seu coração as palavras deste Concílio: «Dado
que o género humano caminha hoje cada vez mais para a unidade civil, económica
e social, tanto mais necessário é que os sacerdotes em conjunto e sob a
direcção dos Bispos e do Sumo Pontífice, evitem todo o motivo de divisão, para
que a humanidade toda seja conduzida à unidade da família de Deus» 19.
Ainda que a Igreja, pela
virtude do Espírito Santo, se tenha mantido esposa fiel do Senhor e nunca tenha
deixado de ser um sinal de salvação no mundo, no entanto, ela não ignora que
entre os seus membros 20, clérigos ou leigos, não faltaram, no
decurso de tantos séculos, alguns que foram infiéis ao Espírito de Deus. E
também nos nossos dias, a Igreja não deixa de ver quanta distância separa a
mensagem por ela proclamada e a humana fraqueza daqueles a quem foi confiado o
Evangelho. Seja qual for o juízo da história acerca destas deficiências,
devemos delas ter consciência e combatê-las com vigor, para que não sejam
obstáculo à difusão, do Evangelho. Também sabe a Igreja quanto deve aprender
com a experiência dos séculos, no que se refere ao desenvolvimento das suas
relações com o mundo. Conduzida pelo Espírito Santo, a Igreja mãe «exorta sem
cessar os seus filhos a que se purifiquem e renovem, para que o sinal de Cristo
brilhe mais claramente no rosto da Igreja» 21.
__________________________________
Notas:
Capítulo
IV
1.
Cfr. Paulo VI, Enc. Ecclesiam suam, III: AAS 56 (1964), p. 637-659.
2.
Cfr. Tit. 3,4: « philanthropia».
3.
Cfr. Ef. 1,3. 5-6. 13-14. 23.
4.
Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecelesia, Lumen gentium, cap. I, n. 8: AAS
57 (1965), p. 12.
5.
Ibid. cap. II, n. 9: AAS 57 (1965), p. 14; efr. n. 8: AAS 1. c., p. 11.
6.
Ibid. cap. I, n. 8: AAS (1965), p. 11.
7.
Cfr. Ibid. cap. IV, n. 38: AAS 57 (1965), p. 43, com a nota 120.
8.
Cfr. Rom. 8, 14-17.
9.
Cfr. Mt. 22,39
10.
Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, cap. II, n. 9: AAS 57 (1965), p.
12-14.
11.
Cfr. Pio XII, Alocução aos cultores de história e de arte, 9 março 1956: AAS 48
(1956), p. 212: «O seu divino fundador, Jesus Cristo, não lhe deu nenhum
mandato nem fixou nenhum fim de ordem cultural. O fim que Cristo lhe assinala é
estritamente religioso (...) A Igreja deve conduzir os homens a Deus, para que
eles se Lhe entreguem sem reservas (...) A Igreja jamais poderá perder de vista
este fim estritamente religioso, sobrenatural. O sentido de todas as suas
actividades, até ao último cánon do seu Direito, não pode ser outro senão
concorrer para isso directa ou indirectamente.
12.
Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, cap. I, n. 1: AAS 57 (1965), p. 5.
13.
Cfr. Hebr. 13,14.
14.
Cfr. 2 Tess. 3, 6-13; Ef. 4,28.
15.
Cfr. Is. 58, 1-12.
16.
Cfr. Mt. 23, 3-33; Mc. 7, 10-13.
17.
Cfr. João XXIII. Ene. Mater et Magistra, IV: AAS 53 (1961), p. 456-457; e I: 1.
c., p. 407, 410-411.
18.
Cfr. Const. dogm. De Ecelesia, Lumen gentium, cap. III, n. 28: AAS 57 (1965),
p. 34-35.
19.
Ibid. n. 28: AAS, 1, c., p. 35-36.
20.
Cfr. S. Ambrósio, De Virginitate, cap. VIII, n. 48: PL 16, 278.
21.
Cfr. Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, cap. II, n. 15: AAS 57 (1965), p.
20.