Dentro do Evangelho
Não assisti à
conversa, nem poderia porque estavam só os dois: Jesus e a Samaritana
conversando sentados na beira do poço de Jacob.
Quando acabou a
conversa segui a mulher até à cidade. Pude ouvi-la numa excitação incontrolável
a contar a quem queria ouvir, e eram muitos e cada vez se juntavam mais, a sua
conversa com Jesus.
Era algo
saliente, inusitado:
- «Ele
disse-me tudo a meu respeito»!
Os testemunhos
simples, concretos e verdadeiros têm este efeito nas pessoas de boa índole:
querer saber, conhecer pessoalmente, quem é essa pessoa que se encontra por
primeira vez e que demonstra um poder tão extraordinário: saber quem é, o que
faz ou fez.
E... foi o que
fizeram: foram ter com Jesus a convidá-Lo para ficar com eles.
Jesus acedeu,
contente, bem-disposto e ali ficou por três dias a conversar, responder a
perguntas, falando do quer que fosse que eles queriam falar.
Eu, tenho a
certeza que estes Samaritanos jamais esqueceram esses dias, isto porque eles
próprios confessam à mulher que já não é por causa dela que acreditam em Jesus
mas porque eles próprios ficaram convencidos que Ele era a indubitável Verdade
que cada um procurava.
Esta
"jornada" em Samaria causou-me profunda impressão. Era algo tão
inusitado, tão extraordinário que não podia deixar de pensar nesta realidade:
as pessoas, sejam quem forem, desejam ouvir a verdade. Não interessa se quem a
revela é alguém conhecido, do nosso círculo de amigos, ou alguém que se cruza
connosco nos caminhos da nossa vida, importa que reconheçamos que o que nos
revela seja a verdade tal qual é.
Alguém que logo
num primeiro encontro prova que conhece os "segredos" do outro, tem
de levar-nos a pensar duas vezes, estou perante um "mágico", um
"hábil adivinho" enfim... ou perante alguém com poderes que
ultrapassam a minha compreensão? E, é aqui que realmente se impõe ser honesto e
tentar perceber o que se passa.
Desde logo a
atitude: não foi revelado nenhum segredo íntimo mas mencionado um facto do
conhecimento de muita gente; não há nem uma crítica nem uma recriminação,
digamos... um "julgamento" mas a constatação de algo que pode
comprovar-se, depois há uma postura pessoal da pessoa que leva à certeza lógica
que não procura nada para si mesma mas tão só dar a entender que, seja como
for, mais tarde ou mais cedo, "não há nada, ainda que bem guardado que
esteja, que não venha a ser revelado".
Deixo-me de
"ilacções filosóficas" para concluir que a Verdade só tem uma face:
Ou é ou não é!
Esta
consideração levanta algumas questões, uma das quais será esta que ficou na
história como a "pergunta" mais patética até agora registada. Pilatos
perguntou a Jesus:
- «O que é a
verdade».
Mas foi uma
pergunta capciosa, porque Pilatos não queria uma resposta, como refere o
Evangelho, «voltou as costas e retirou-se».
Talvez
erradamente, eu agradeço a Pilatos esta atitude, sobretudo porque me ensina a
não perguntar o que for se a minha verdadeira intenção não é saber o que
interrogo.
Confesso...
tenho pena de Pilatos e, até tenho por ele alguma simpatia porque, procedendo
como fez, me indica claramente que a resposta à sua pergunta, caso a tivesse
tido, seria de tal forma "devastadora" que inevitavelmente o levaria
a uma profundíssima revisão de vida... o que, realmente, não lhe apetecia fazer.
Assim, ao
procurar uma resposta a algo que me inquieta tenho que ser honesto e obtida
esta considerar o que me foi respondido.
Mas... volto a
Pilatos para considerar que seria muito difícil esperar que procedesse de outro
modo.
Acontece quase
sempre assim aos que estão como que "instalados" na vida; pretendem
saber o que melhor lhes convém e o que devem evitar conhecer que possa de algum
modo alterar o "satus quo", ter como único objectivo "viver o
melhor possível" sem "maçadas" ou preocupações.
De facto,
concluo que Pilatos é um "gigantesco" ignorante e, considerado como
tal, é difícil esperar que procedesse de outro modo.
Lembro-me que
Jesus pouco antes de expirar na Cruz disse...
«Pai...
perdoai-lhes porque não sabem o que fazem», e eu atrevo-me a incluir Pilatos
nestes.
Sou levado irremediavelmente a pensar: 'E eu... sei o que faço?'
Não quero
voltar a fazer esta pergunta e por isso prefiro pedir a Jesus que me ensine a
fazer, em tudo, a Justíssima e Amabilissima Vontade de Deus em tudo e, assim
fico tranquilo.
Reflectindo
Sou santo
De
repente, sem que haja um motivo assim… evidente… penso que sou santo!
É
um perfeito disparate porque, na verdade, não passa de um desejo e não de uma
realidade.
Será?
Então
eu não procuro fazer, em tudo, a Vontade de Deus?
Não
desejo veementemente aceitar o que Ele manda?
Não
quero o que Ele quer?
Talvez…
sim…, mas no meu íntimo, bem no fundo, não desejo que Ele queira o que eu
quero?
Ah!
Aqui
está a distância, o “gap”, o abismo!
De
facto, tenho de concluir, que quero ser santo, mas, à minha “maneira”, da forma
que mais me convém.
E
concluo: quanto me falta!
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