Tempo comum XXXIV Semana
Evangelho:
Lc 21, 29-33
29 Acrescentou esta
comparação: «Vede a figueira e todas as árvores. 30 Quando começam a
desabrochar, conheceis que está perto o Verão. 31 Assim, também,
quando virdes que acontecem estas coisas, sabei que está próximo o reino de
Deus. 32 Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que
todas estas coisas se cumpram. 33 Passará o céu e a terra, mas as
Minhas palavras não hão-de passar.
Comentário:
Nós
cristãos sabemos muito bem que as palavras de Jesus Cristo são palavras de Vida
Eterna e a única verdade que podemos ter como certa.
É
portanto de suma importância prestar-lhes a máxima atenção e entender bem o seu
significado.
Na
direcção espiritual ajudar-nos-ão a melhor compreender e como pôr em prática os
conselhos, avisos e regras que Ele, Supremo Mestre, nos quer transmitir.
Está
em jogo a nossa salvação pessoal!
(ama,
comentário sobre Lc 21 29-33 2014.11.28)
Leitura espiritual
Catequeses sobre a família 2
Amados
irmãos e irmãs, bom dia!
O
Sínodo dos Bispos sobre a Família, recém-celebrado, foi a primeira etapa de um
caminho, que terminará em Outubro próximo com a celebração de mais uma
Assembleia sobre o tema:
«Vocação
e missão da família na Igreja e no mundo».
A
oração e a reflexão que devem acompanhar este caminho comprometem todo o Povo
de Deus.
Gostaria
que também as habituais meditações das audiências de quarta-feira se inserissem
neste caminho comum.
Por
isso, decidi ponderar convosco, durante este ano, precisamente sobre a família,
sobre este dom grandioso que o Senhor ofereceu ao mundo desde os primórdios,
quando conferiu a Adão e Eva a missão de se multiplicar e encher a terra [i].
Um
dom que Jesus confirmou e selou no seu Evangelho.
A
proximidade do Natal acende uma luz forte sobre este mistério.
A
encarnação do Filho de Deus abre um novo início na história universal do homem
e da mulher.
E
este novo início tem lugar no seio de uma família, em Nazaré. Jesus nasceu numa
família.
Ele
podia ter vindo de modo espectacular, ou como um guerreiro, um imperador...
Mas
não: veio como filho, numa família.
Isto
é importante: ver no presépio esta cena tão bonita!
Deus
quis nascer numa família humana, que Ele mesmo formou.
Forjou-a
num longínquo povoado da periferia do Império romano. Não em Roma, que era a
capital do Império, não numa cidade grande, mas numa periferia quase invisível,
aliás, bastante famigerada. Recordam-no também os Evangelhos, praticamente como
um modo de dizer:
«Pode porventura vir algo de bom de Nazaré?»
[ii].
Talvez,
em muitas regiões do mundo, nós mesmos ainda falemos assim, quando ouvimos o
nome de um lugar periférico de uma cidade grande.
Pois
bem, precisamente aí, na periferia do grande Império, começou a história mais
santa e boa, a de Jesus entre os homens!
E
essa família vivia ali.
Jesus
permaneceu naquela periferia durante trinta anos.
O
evangelista Lucas assim resume este período:
Jesus
«vivia submetido a eles» [ou seja, a Maria
e José].
E
poder-se-ia dizer:
«Mas
este Deus que vem para nos salvar perdeu trinta anos ali, naquela periferia de
má fama?».
Perdeu
trinta anos!
Ele
quis que fosse assim.
O
caminho de Jesus era no seio daquela família.
«A Mãe conservava tudo isto no seu coração, e
Jesus crescia em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens» [iii].
Não
se fala de milagres ou curas, de pregações — não fez alguma nessa época — de
multidões que acorrem.
Em
Nazaré tudo parece acontecer «normalmente», segundo os costumes de uma família
israelita piedosa e diligente: trabalhava-se, a mãe cozinhava, ocupava-se dos
afazeres de casa, passava a ferro... coisas de mãe.
O
pai, carpinteiro, labutava, ensinava o filho a trabalhar.
Trinta
anos.
«Mas que desperdício, Padre!».
Os
caminhos de Deus são misteriosos.
Mas
ali o importante era a família!
E
isto não constituía um desperdício!
Eram
grandes santos: Maria, a mulher mais santa, Imaculada, e José, o homem mais
justo...
A
família.
Sem
dúvida, enternece-nos a narração do modo como Jesus, adolescente, enfrentava os
encontros da comunidade religiosa e os deveres da vida social; saber como,
jovem operário, trabalhava com José; e depois, o seu modo de participar na
escuta das Escrituras, na oração dos Salmos e em muitos outros hábitos da vida
diária.
Na
sua sobriedade, os Evangelhos nada falam sobre a adolescência de Jesus,
deixando esta tarefa à nossa meditação afectuosa.
A
arte, a literatura e a música percorreram este caminho da imaginação.
Sem
dúvida, não é difícil imaginar o que as mães poderiam aprender do esmero de
Maria pelo seu Filho!
E
quanto os pais poderiam aprender do exemplo de José, homem justo, que dedicou a
sua vida para apoiar e defender o Menino e a Esposa — a sua família — nas horas
difíceis!
Sem
mencionar quanto os jovens poderiam ser encorajados por Jesus adolescente a
entender a necessidade e a beleza de cultivar a sua vocação mais profunda, e de
fazer sonhos grandiosos!
E
nestes trinta anos Jesus cultivou a sua vocação, para a qual o Pai o enviara.
E
nessa época Jesus nunca desanimou, mas cresceu em coragem, para ir em frente
com a sua missão.
Cada
família cristã — como Maria e José — pode primeiro acolher Jesus, ouvi-lo,
falar com Ele, conservá-lo, protegê-lo e crescer com Ele, e assim melhorar o
mundo.
Deixemos
espaço ao Senhor no nosso coração e nos nossos dias. Assim fizeram também Maria
e José, mas não foi fácil: quantas dificuldades tiveram que superar!
Não
era uma família fictícia, nem uma família irreal.
A
família de Nazaré compromete-nos a redescobrir a vocação e missão da família,
de cada família.
E,
como aconteceu naqueles trinta anos em Nazaré, assim também pode ocorrer para
nós: fazer com que o amor se torne normal, e não o ódio, fazer com que se a
entreajuda se torne comum, não a indiferença ou a inimizade.
Então,
não é por acaso que «Nazaret» significa «Aquela
que conserva», como Maria, que — diz o Evangelho — «conservava tudo isto no seu coração» [iv].
A
partir de então, quando uma família preserva este mistério, até na periferia do
mundo, entra em acção o mistério do Filho de Deus, o mistério de Jesus que vem
salvar-nos.
E
vem para salvar o mundo.
Esta
é a grande missão da família: deixar lugar a Jesus que vem, acolher Jesus na
família, na pessoa dos filhos, do marido, da esposa, dos avós... Jesus está aí.
É
preciso acolhê-lo ali, para que cresça espiritualmente naquela família.
Que
o Senhor nos conceda tal graça nestes últimos dias antes do Natal.
Obrigado!
papa francisco,
Audiência Geral 17 de Dezembro de 2014