Semana IV da Páscoa
São
José – Operário
Evangelho:
Mt 13 54-58
54 E, indo para a Sua terra, ensinava nas sinagogas, de modo que se
admiravam e diziam: «Donde Lhe vem esta sabedoria e estes milagres? 55
Porventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chama Sua mãe Maria, e
Seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56 Suas irmãs não vivem
todas entre nós? Donde, pois, Lhe vêm todas estas coisas?». 57 E
estavam perplexos a Seu respeito. Mas Jesus disse-lhes: «Não há profeta sem
prestígio a não ser na sua terra e na sua casa». 58 E não fez ali
muitos milagres, por causa da incredulidade deles.
Comentário:
Em tempos antigos,
quando se procurava identificar alguém era costume dizer: é filho de fulano.
A referência ao
progenitor era quase sempre como que um “aval” da pessoa em causa, por exemplo na atribuição
de um emprego.
Se os conterrâneos de Jesus soubesse ser os “sinais”
abundantes que a Sua vida mostrava identificariam a Sua Filiação Divina.
(ama, comentário sobre Mt
13, 54-58, 2015.04.20)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
O QUE É SER CRISTÃO?
IX – Os Sacramentos.
…/17
A UNÇÃO DOS DOENTES
«Com
a sagrada unção dos doentes e com a oração dos presbíteros, a Igreja inteira
encomenda os doentes ao Senhor sofredor e glorificado para que nos alivie e os
salve. Inclusive anima-os a unir-se livremente à paixão e morte de Cristo e
contribuir, assim, para o bem do Povo de Deus”.[i]
Já
recordamos que os sacramentos, mais que serem «marcas” da passagem de Cristo
sobre a terra, são a realidade da presença de Cristo na terra, hoje e agora. De
Cristo «sofredor e glorificado”.
No
seu viver na terra, Jesus Cristo quis aliviar a dor e curara a doença de muitos
paralíticos, coxos, surdos, mudos, leprosos, cegos. Doentes físicos nos quais
todos os homens se descobrem a si próprios como doentes espirituais.
Cristo
prolonga e continua neste sacramento, o seu desejo de partilhar a fragilidade
dos seres humanos que viveu na sua vida terrena e fortifica o homem para que
também na dor e no sofrimento alcance viver como «nova criatura”.
Cristo
relaciona-se sempre pessoalmente com a totalidade do ser humano.
Não
existe na vida do homem nenhuma circunstância que possa afastá-lo
necessariamente da graça de Deus, do amor de Deus.
São
Paulo, expressa-o com muita clareza: «Quem nos separará do amor de Cristo? A
tribulação? A Angústia? A perseguição? A Fome?..., nem a morte nem a vida nem
os anjos nem os principados (…) poderão separar-nos do amor de Deus manifestado
em Cristo Nossa Senhor”.[ii]
O
cristão está chamado a ser «outro Cristo”, o «próprio Cristo”, em qualquer
idade e tempo, na saúde e na doença. Cristo nele e com Ele.
Na
unção dos doentes, Cristo torna-se presente e acompanha o homem na doença, na
dor, na morte.
E,
ao acompanhá-lo, transmite-lhe já um adiantamento da glória da Ressurreição.
São Tiago anuncia esta realidade eficaz do sacramento, ao falar-nos da sua
prática nos tempos apostólicos: «Alguém entre vós adoece? Faça chamar os
presbíteros da Igreja para que orem por ele, depois de tê-lo ungido com óleo em
nome do Senhor. E a oração feita com fé salvará o doente e o Senhor o reanimará.
E, se cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados”.[iii]
Os
cinco sacramentos que até agora consideramos incidem em cada cristão
pessoalmente, no processo da sua conversão em «nova criatura”.
O
homem, o cristão, todavia, nunca está sozinho.
Pode
chegar a viver uma certa solidão física, cultural e até espiritual; que o levem
a sentir-se e saber-se separado dos outros seres humanos.
Em
caso algum, todavia, a presença na terra «deste” homem se explica por si mesma.
O
seu existir exige a existência de outros seres humanos que lhe tenham
transmitido a vida ou aos quais ele próprio a transmitiu, e com quem partilha o
seu viver.
No
primeiro relato da criação fica sublinhada esta unidade do género humano a
partir do primeiro instante da sua origem e não somente com Deus, o Criador,
mas também entre o homem e a mulher: «Façamos o homem à nossa imagem, segundo a
nossa semelhança… Deus criou, pois, o homem à sua imagem, conforme a imagem de
Deus o criou; varão e fêmea os criou”.[iv]
Esta
unidade do ser humano – homem e mulher; varão e fêmea – e a sua cooperação com
Deus na criação, na redenção, na santificação, fica definitivamente
estabelecida e manifestada por Cristo no sacramento do Matrimónio.
O MATRIMÓNIO
Para
abrir a nossa inteligência a uma adequada compreensão da riqueza sacramental do
matrimónio, é necessário superar uma concepção muito difundida estre os fiéis
cristãos, que reduz muito o verdadeiro significado do matrimónio.
Essa
ideia generalizada leva a considerar que o ser «sacramento” apenas acrescenta
uma simples bênção sobrenatural à «instituição natural” do matrimónio.
Como
se a importância fundamental do matrimónio estivesse no «contrato natural” de
um homem com uma mulher, no qual se trocam promessas de fidelidade e de vida.
O
ser «sacramento” limitar-se-ia à realização de umas cerimónias, para «legalizar”
essa união diante de Deus.
Podemos
tranquilamente afirmar que esta visão do matrimónio é falsa: esquece o facto
fundamental da acção da Graça: enxertar o cristão em Cristo; e também
desconhece a própria noção de sacramento, e o seu efeito de «originar a Graça”.
Ou
seja, de tornar efectiva, no momento de o receber, a «participação na natureza
divina” necessária para quem a recebem em cada sacramento possam chegar a
converter-se em «nova criatura” e a desenvolver essa vida que se lhes concede
segundo o pensar e o querer de Deus.
Limitamo-nos,
simplesmente, a assinalar a nova realidade sobrenatural da aliança matrimonial,
ao ter sido elevada por Cristo a sacramento, permanecendo idêntica a realidade
natural original.
Esta
conversão comporta curar as feridas causadas pelo pecado na ordem da criação e
converte o matrimónio-sacramento em princípio de redenção e de santificação.
E
torna possível que o amor exista sempre no mundo.
A
importância do matrimónio nos planos da criação não será nunca suficientemente
sublinhada, não obstante as palavras claras do Génesis, que manifestam a
confiança e a alegria de Deus no matrimónio: «Deus abençoou-os dizendo-lhes:
Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a; dominai sobre os peixes
do mar e sobre as aves do céu e sobre todos os animais que serpenteiam sobre a
terra (…). E viu Deus tudo quanto tinha feito, e heis que estava muito bem”.[v]
Para
alcançar a perspectiva da «nova criatura em Cristo”, que é todo o cristão, é
muito oportuno ter presente a grandeza do sacramento do matrimónio e a
importante acção redentora e santificadora da Graça, que nele tem lugar, dois
aspectos que ficaram reflectidos nestes dois textos do Catecismo:
«A
Sagrada Escritura principia com o relato da criação do homem e da mulher á imagem
e semelhança de Deus [vi]
e acaba com a visão das “bodas do cordeiro”.[vii]
De
um extremo ao outro, a Escritura fala do matrimónio e do seu «mistério”, da sua
instituição e do sentido que Deus lhe deu, da sua origem e do seu fim, das suas
diversas realizações ao olongo da história da salvação, das suas dificuldades
nascidas do pecado e da sua renovação «no Senhor”,[viii]
tudo na perspectiva da Nova Aliança de Cristo e da Igreja”[ix].[x]
E
mais à frente: «A ordem da Criação subsiste, ainda que gravemente perturbada.
Para
curar as feridas do pecado, o homem e a mulher necessitam da ajuda da graça que
Deus, na sua misericórdia infinita, jamais lhes negou.[xi]
Sem
esta ajuda, o homem e a mulher não podem chegara realizar a união das suas
vidas em ordem da qual Deus os criou «no princípio).[xii]
No
sacramento do matrimónio, Cristo dá uma graça própria que «está destinada a
aperfeiçoar o amor dos cônjuges, a fortalecer a sua unidade indissolúvel.
Por
meio desta graça ajudam-se mutuamente a santificar-se com a vida matrimonial conjugal
e no acolhimento e na educação dos filhos”.[xiii]
Com
este pressupostos, podemos dizer que, no matrimónio, na família que se origina,
a criação primigénia fica entroncada com a nova criação, e torna possível que
os filhos dos homens da primeira criação se convertam em filhos de Deus em
Cristo, da segunda criação.
Não
sem um sentido cheio de «mistério”, a vinda de Cristo à terra tem lugar no seio
de uma família; e o primeiro milagre da sua vida pública na terra acontece na
celebração de umas bodas.
O
cristão descobre que o matrimónio e a família e no matrimónio se origina e
fundamenta, não pode ser tratado simplesmente como uma cédula da sociedade,
como uma parte que o homem estrutura e organiza de acordo com uma série de
necessidades naturais. Ou seja, qualquer visão meramente sociológica da família
não descobre a verdadeira, variada e rica realidade humana e sobrenatural que a
família é.
A
família é o âmbito pessoal do desenvolvimento humano e espiritual do homem, O
sacramento do Matrimónio confere aos cônjuges a graça de acompanhar os seus
filhos também no seu desenvolvimento como «filhos de Deus em Cristo”.
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)