07/11/2021

Publicações em Novembro 7

 


 

Tenho por hábito – assim me ensinou o Rei meu Pai – acudir às necessidades dos meus súbditos e, por vezes, vou algo mais além do que seria aconselhável ou, até, prudente. Foi o que aconteceu exactamente com um homem que, sei, possuía razoáveis meios de fortuna, mas que por motivos que não averiguei se viu numa situação muito delicada.

Veio à minha presença várias vezes com pedidos de ajuda que nunca lhe neguei. Concedi-lhe sempre o que me pedia.

Acontece que ontem mesmo, o meu administrador veio ter comigo para me expor um problema que me deixou… atónito. Começou por dizer-me que o erário real estava francamente desfalcado e que os empréstimos que vinha fazendo não poderiam continuar no mesmo ritmo e, sobretudo, os montantes elevados, sob pena de correr risco de forte recessão. Concretamente referiu-me o tal servo de que falava cuja dívida atingia a enormidade de dez mil talentos!

Rapidamente fiz as “contas”: Dez mil talentos, uns sessenta milhões de denários!

Sendo um denário o salário diário de um trabalhador…

Tive de reconhecer que me excedera e de algum modo não fora justo para com os outros meus súbditos entregando a um o que poderia ter repartido por muitos. Mandei chamar o homem e, sem mais, disse-lhe que era tempo de me devolver o que lhe emprestara.

A reacção foi surpreendente: disse-me pura e simplesmente que não tinha como pagar-me.

Perguntei-lhe o que fizera com tanto dinheiro que lhe emprestara para reconstruir a sua vida, mas… não me deu resposta.

Ao meu ouvido o administrador dizia-me que este súbdito não era muito boa pessoa, descurava os seus deveres até para com a família e, tudo isto porque tinha o terrível vício da avareza. No fim e ao cabo o dinheiro que eu lhe dava graciosamente servia para empresta-lo a outros cobrando juros elevadíssimos, praticando uma usura miserável com o que não era de facto seu.

Fiquei naturalmente indignado e lavrei uma sentença que, em suma, decretava que se vendesse quanto tinha, se apreendessem todos os seus bens, se necessário vendessem a mulher e os filhos até reunir a quantia em dívida. Mas o desgraçado – não posso chamar-lhe outra coisa – lavado em lágrimas e gemendo pediu-me encarecidamente que lhe desse um pouco mais de tempo, que conseguiria resolver a sua vida e reunir o necessário para satisfazer a dívida.

Tive pena do pobre homem, é verdade! Senti uma enorme pena de uma pessoa que, não obstante a sua má conduta, talvez merecesse que lhe concedesse o que me pedia. Mas eu tinha bem a noção da enormidade da dívida e que nunca lhe seria possível devolver-me o que lhe emprestara. Assim, para acabar com o assunto e na esperança que realmente se corrigisse, perdoei-lhe toda a dívida e mandei-o embora em paz.

Confesso que fiquei muito contente com a minha decisão, afinal de que me serve ser Rei se não posso fazer o que quero com o que é meu?

 

Não vou revelar o meu nome, direi apenas que sou um dos servos que constatou a tristíssima cena daquele nosso compatriota apertando o pescoço a um outro que lhe devia uma quantia que, depois vim a saber, somava cerca de cem denários. E, não revelo o meu nome porque, confesso, tenho receio daquele sujeito, homem de “maus fígados” que toda a gente sabe, é um usurário que “explora” as necessidades dos outros revelando-se um intransigente sem dó nem piedade, exigindo por qualquer meio a devolução do emprestado aos que tiveram a desdita de lhe caírem nas “garras”. Mas, todos sabíamos que esse dinheiro que emprestava a elevados juros vinha directamente das mãos do nosso Senhor e Rei que nunca recusava nada a quem a ele recorria. Espantava-nos como podia continuar a emprestar-lhe enormes quantias que – todos o sabíamos – atingiam um valor absurdamente elevado, sem exigir que prestasse contas como seria de esperar. Mas, finalmente chegou o dia em que o nosso Senhor e Rei se inteirou da situação e resolveu chamá-lo à sua presença. Estávamos todos naturalmente suspensos do que se iria passar e ficamos cá fora no átrio do palácio à espera do desfecho.

Para nosso espanto, o homem sai do palácio com um sorriso rasgado no rosto como que animado de grande contentamento para, logo depois, completamente alterado o semblante e a atitude, proceder como a princípio relatei. Que se teria passado?

Logo tudo se esclareceu porque imediatamente surgiu no cimo da escadaria o escrivão do Rei levantando os braços ao céu e mostrando toda uma surpresa e descontentamento que não pudemos ignorar. Então contou-nos o que acontecera: Em resumo disse que depois de o Rei lhe ter exigido que pagasse quanto lhe devia e tendo obtido como resposta que não o podia fazer, que lhe desse um pouco mais de tempo… prometendo pagar logo que possível, o nosso excelente Rei que o ameaçara com a prisão e a venda de todos os seus bens incluindo a mulher e os filhos, encheu-se de compaixão e simplesmente mandou-o embora perdoando-lhe toda a enorme dívida. Ficámos, naturalmente, espantados com a atitude do nosso Senhor que, embora conhecendo a sua bondade para com os seus súbditos, perdoava assim – sem mais nem menos – uma quantia exorbitante. Evidentemente que o Rei pode fazer com o seu dinheiro o que muito bem entender e só nos competia dar graças por tão excelente Senhor. Mas sabíamos que sendo extremamente generoso era, também, absolutamente justo e que deveria ficar a saber que o servo a quem perdoara tão grande dívida acabava de praticar um acto exactamente oposto para com um colega e, por isso mesmo, fomos – todos - à sua presença contar o que se passara. Note-se que não fomos apresentar uma “queixa”, mas tão só procedemos como achávamos que era de absolutamente correcto fazer. Caberia ao nosso Rei e Senhor julgar conforme o seu superior critério.

 

 

Reflectindo

 

O mérito possível das acções que pratico não reside, propriamente nas acções em si, mas na intenção que me leva a praticá-las.

Como resolver este assunto?

Pois… penso que há uma forma eficaz:

Pedir ao Divino Espírito Santo que “avalie” as minhas intenções o que realmente procuro e desejo: servir outros ou ser servido?

Servir outros é algo desinteressado em busca de benefício próprio, servir-me será procurar que me de alguma forma me admirem e louvem.

Como dissse Jesus: Já tive a “minha paga”.

Tenho de considerar que é pouco… muito pouco e não me serve para nada.

Eu quero, desejo, anseio, que Quem me “Pague” seja Aqule que retribui sempre com muito mais - muitíssimo mais – que o que recebe.

Aquele que nem um simples copo de água deixa de retribuir e recompensar.

 

 

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