Tenho
por hábito – assim me ensinou o Rei meu Pai – acudir às necessidades dos meus
súbditos e, por vezes, vou algo mais além do que seria aconselhável ou, até,
prudente. Foi o que aconteceu exactamente com um homem que, sei, possuía
razoáveis meios de fortuna, mas que por motivos que não averiguei se viu numa
situação muito delicada.
Veio
à minha presença várias vezes com pedidos de ajuda que nunca lhe neguei.
Concedi-lhe sempre o que me pedia.
Acontece
que ontem mesmo, o meu administrador veio ter comigo para me expor um problema
que me deixou… atónito. Começou por dizer-me que o erário real estava
francamente desfalcado e que os empréstimos que vinha fazendo não poderiam
continuar no mesmo ritmo e, sobretudo, os montantes elevados, sob pena de
correr risco de forte recessão. Concretamente referiu-me o tal servo de que
falava cuja dívida atingia a enormidade de dez mil talentos!
Rapidamente
fiz as “contas”: Dez mil talentos, uns sessenta milhões de denários!
Sendo
um denário o salário diário de um trabalhador…
Tive
de reconhecer que me excedera e de algum modo não fora justo para com os outros
meus súbditos entregando a um o que poderia ter repartido por muitos. Mandei
chamar o homem e, sem mais, disse-lhe que era tempo de me devolver o que lhe
emprestara.
A
reacção foi surpreendente: disse-me pura e simplesmente que não tinha como
pagar-me.
Perguntei-lhe
o que fizera com tanto dinheiro que lhe emprestara para reconstruir a sua vida,
mas… não me deu resposta.
Ao
meu ouvido o administrador dizia-me que este súbdito não era muito boa pessoa,
descurava os seus deveres até para com a família e, tudo isto porque tinha o
terrível vício da avareza. No fim e ao cabo o dinheiro que eu lhe dava
graciosamente servia para empresta-lo a outros cobrando juros elevadíssimos,
praticando uma usura miserável com o que não era de facto seu.
Fiquei
naturalmente indignado e lavrei uma sentença que, em suma, decretava que se
vendesse quanto tinha, se apreendessem todos os seus bens, se necessário
vendessem a mulher e os filhos até reunir a quantia em dívida. Mas o desgraçado
– não posso chamar-lhe outra coisa – lavado em lágrimas e gemendo pediu-me
encarecidamente que lhe desse um pouco mais de tempo, que conseguiria resolver
a sua vida e reunir o necessário para satisfazer a dívida.
Tive
pena do pobre homem, é verdade! Senti uma enorme pena de uma pessoa que, não
obstante a sua má conduta, talvez merecesse que lhe concedesse o que me pedia.
Mas eu tinha bem a noção da enormidade da dívida e que nunca lhe seria possível
devolver-me o que lhe emprestara. Assim, para acabar com o assunto e na
esperança que realmente se corrigisse, perdoei-lhe toda a dívida e mandei-o
embora em paz.
Confesso
que fiquei muito contente com a minha decisão, afinal de que me serve ser Rei
se não posso fazer o que quero com o que é meu?
Não
vou revelar o meu nome, direi apenas que sou um dos servos que constatou a
tristíssima cena daquele nosso compatriota apertando o pescoço a um outro que
lhe devia uma quantia que, depois vim a saber, somava cerca de cem denários. E,
não revelo o meu nome porque, confesso, tenho receio daquele sujeito, homem de
“maus fígados” que toda a gente sabe, é um usurário que “explora” as
necessidades dos outros revelando-se um intransigente sem dó nem piedade,
exigindo por qualquer meio a devolução do emprestado aos que tiveram a desdita
de lhe caírem nas “garras”. Mas, todos sabíamos que esse dinheiro que
emprestava a elevados juros vinha directamente das mãos do nosso Senhor e Rei
que nunca recusava nada a quem a ele recorria. Espantava-nos como podia
continuar a emprestar-lhe enormes quantias que – todos o sabíamos – atingiam um
valor absurdamente elevado, sem exigir que prestasse contas como seria de
esperar. Mas, finalmente chegou o dia em que o nosso Senhor e Rei se inteirou
da situação e resolveu chamá-lo à sua presença. Estávamos todos naturalmente
suspensos do que se iria passar e ficamos cá fora no átrio do palácio à espera
do desfecho.
Para
nosso espanto, o homem sai do palácio com um sorriso rasgado no rosto como que
animado de grande contentamento para, logo depois, completamente alterado o
semblante e a atitude, proceder como a princípio relatei. Que se teria passado?
Logo
tudo se esclareceu porque imediatamente surgiu no cimo da escadaria o escrivão
do Rei levantando os braços ao céu e mostrando toda uma surpresa e
descontentamento que não pudemos ignorar. Então contou-nos o que acontecera: Em
resumo disse que depois de o Rei lhe ter exigido que pagasse quanto lhe devia e
tendo obtido como resposta que não o podia fazer, que lhe desse um pouco mais
de tempo… prometendo pagar logo que possível, o nosso excelente Rei que o
ameaçara com a prisão e a venda de todos os seus bens incluindo a mulher e os
filhos, encheu-se de compaixão e simplesmente mandou-o embora perdoando-lhe
toda a enorme dívida. Ficámos, naturalmente, espantados com a atitude do nosso
Senhor que, embora conhecendo a sua bondade para com os seus súbditos, perdoava
assim – sem mais nem menos – uma quantia exorbitante. Evidentemente que o Rei
pode fazer com o seu dinheiro o que muito bem entender e só nos competia dar
graças por tão excelente Senhor. Mas sabíamos que sendo extremamente generoso
era, também, absolutamente justo e que deveria ficar a saber que o servo a quem
perdoara tão grande dívida acabava de praticar um acto exactamente oposto para
com um colega e, por isso mesmo, fomos – todos - à sua presença contar o que se
passara. Note-se que não fomos apresentar uma “queixa”, mas tão só procedemos
como achávamos que era de absolutamente correcto fazer. Caberia ao nosso Rei e
Senhor julgar conforme o seu superior critério.
…
Reflectindo
O mérito possível
das acções que pratico não reside, propriamente nas acções em si, mas na
intenção que me leva a praticá-las.
Como resolver este
assunto?
Pois… penso que há
uma forma eficaz:
Pedir ao Divino
Espírito Santo que “avalie” as minhas intenções o que realmente procuro e
desejo: servir outros ou ser servido?
Servir outros é
algo desinteressado em busca de benefício próprio, servir-me será procurar que
me de alguma forma me admirem e louvem.
Como dissse Jesus:
Já tive a “minha paga”.
Tenho de considerar
que é pouco… muito pouco e não me serve para nada.
Eu quero, desejo,
anseio, que Quem me “Pague” seja Aqule que retribui sempre com muito mais - muitíssimo
mais – que o que recebe.
Aquele que nem
um simples copo de água deixa de retribuir e recompensar.
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