18/11/2020

Novíssimos

 



JUÍZO FINAL

 

Contemplar o mistério

 

"Conheço algumas e alguns que não têm sequer força para pedir socorro", dizes-me desgostoso e cheio de pena. Não passes por eles de largo; a tua vontade de te salvares e de os salvares pode ser o ponto de partida da sua conversão. Além disso, se reconsiderares, notarás que a ti também te estenderam a mão. 

 

Adoro-te aumenta-me a fé

 


Quando o receberes, diz-lhe: – Senhor, espero em Ti; adoro-te, amo-te, aumenta-me a fé. Sê o apoio da minha debilidade, Tu, que ficaste na Eucaristia, inerme, para remediar a fraqueza das criaturas. (Forja, 832)

 

Assistindo à Santa Missa, aprenderemos a falar, a privar com cada uma das Pessoas divinas: com o Pai, que gera o Filho, que é gerado pelo Pai; e com o Espírito Santo, que procede dos dois. Habituando-nos a privar intimamente com qualquer uma das três Pessoas, privaremos com um único Deus. E se falarmos com as três, com a Trindade, privaremos também com um só Deus, único e verdadeiro. Amai a Santa Missa, meus filhos, amai a Santa Missa! E que cada um de vós comungue com ardor, mesmo que se sinta gelado, mesmo que não haja correspondência por parte da emotividade. Comungai com fé, com esperança e com caridade inflamada.

Não ama Cristo quem não ama a Santa Missa e quem não se esforça no sentido de a viver com serenidade e sossego, com devoção e com carinho. 0 amor transforma aqueles que estão apaixonados em pessoas de sensibilidade fina e delicada. Leva-os a descobrir, para que se não esqueçam de os pôr em prática, pormenores que são por vezes mínimos, mas que trazem a marca de um coração apaixonado. É assim que devemos assistir à Santa Missa. Por este motivo, sempre pensei que aqueles que querem ouvir uma missa rápida e atabalhoada demonstram com essa atitude, já de si pouco elegante, que não conseguiram aperceber-se do significado do Sacrifício do altar.

O amor a Cristo, que se oferece por nós, anima-nos a saber encontrar, uma vez terminada a Santa Missa, alguns minutos de acção de graças pessoal e íntima, que prolonguem no silêncio do coração essa outra acção de graças que é a Eucaristia. (Cristo que passa, 91–92) expulsá-lo. (Amigos de Deus, 187-188)

Leitura espiritual 18 Novembro

 


Evangelho

 

Jo XIII, 1-17

 

Jesus lava os pés aos Seus discípulos

 

1 Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo. 2 O diabo já tinha metido no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a decisão de o entregar. 3 Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, 4 levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. 5 Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura. 6 Chegou, pois, a Simão Pedro. Este disse-lhe: «Senhor, Tu é que me lavas os pés?» 7 Jesus respondeu-lhe: «O que Eu estou a fazer tu não o entendes por agora, mas hás-de compreendê-lo depois.» 8 Disse-lhe Pedro: «Não! Tu nunca me hás-de lavar os pés!» Replicou-lhe Jesus: «Se Eu não te lavar, nada terás a haver comigo.» 9 Disse-lhe, então, Simão Pedro: «Ó Senhor! Não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!» 10 Respondeu-lhe Jesus: «Quem tomou banho não precisa de lavar senão os pés, pois está todo limpo. E vós estais limpos, mas não todos.» 11 Ele bem sabia quem o ia entregar; por isso é que lhe disse: ‘Nem todos estais limpos’. 12 Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: 13 «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. 14 Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. 15 Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também. 16 Em verdade, em verdade vos digo, não é o servo mais do que o seu Senhor, nem o enviado mais do que aquele que o envia. 17 Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática.

 


Amar a Igreja

 

21

        

É a fé que os cristãos sempre confessaram.

Ouçam comigo estas palavras de Santo Agostinho: “e desde então Cristo está formado pela cabeça e pelo corpo”, verdade que, não duvido, conheceis bem.

A cabeça é o nosso próprio Salvador, que padeceu sob Pôncio Pilatos e agora, depois de ressuscitar de entre os mortos, está sentado à direita do Pai.

E o Seu corpo é a Igreja.

Não esta ou aquela igreja, mas a que se encontra espalhada por todo o mundo.

Nem sequer é apenas a que existe entre os homens actuais, uma vez que a ela pertencem também os que viveram antes de nós e os que hão-de existir depois, até ao fim do mundo.

Assim, toda a Igreja, formada pela reunião dos fiéis - e porque todos os fiéis são membros de Cristo-, possui Cristo como Cabeça, que governa do Céu o Seu corpo.

E, embora esta Cabeça se encontre fora da vista do corpo, está unida pelo amor.

 

 

22

        

Agora compreendem porque não se pode separar a Igreja visível da Igreja invisível.

A Igreja é, simultaneamente, corpo místico e corpo jurídico.

Pelo próprio facto de ser corpo, a Igreja distingue-se com os olhos, ensinou Leão XIII.

No corpo visível da Igreja - no comportamento dos homens que dela fazemos parte aqui na terra - aparecem misérias, vacilações, traições.

Mas a Igreja não se esgota aí, nem se confunde com essas condutas erradas: pelo contrário, não faltam, aqui e agora, generosidades, afirmações heróicas, vidas de santidade que não fazem barulho, que se consomem com alegria no serviço dos irmãos na fé e de todas as almas.

 

Considerem também que, se as claudicações superassem numericamente as atitudes corajosas ficaria ainda essa realidade mística - clara, inegável, embora a não percebamos com os sentidos - que é o Corpo de Cristo, o próprio Senhor Nosso, a acção do Espírito Santo, a presença amorosa do Pai.

 

A Igreja é, por conseguinte, inseparavelmente humana e divina. É sociedade divina pela sua origem, sobrenatural pelo seu fim e pelos meios que se ordenam proximamente a esse fim; mas, na medida em que se compõe de homens, é uma comunidade humana.

Vive e actua no mundo, mas o seu fim e a sua força não estão na terra, mas no Céu.

 

Enganar-se-iam gravemente aqueles que procurassem separar uma Igreja carismática - que seria a verdadeiramente fundada por Cristo-, doutra jurídica ou institucional, que seria obra dos homens e simples efeito de contingências históricas.

Só há uma Igreja.

Cristo fundou uma única Igreja: visível e invisível, com um corpo hierárquico e organizado, com uma estrutura fundamental de direito divino e uma íntima vida sobrenatural que a anima, sustenta e vivifica.

 

E não é possível deixar de recordar que Nosso Senhor, ao instituir a Sua Igreja, não a concebeu nem formou de modo a compreender uma pluralidade de comunidades semelhantes no seu género, embora diferentes, e não ligadas por aqueles vínculos que tornam a Igreja indivisível e única...

Por isso, quando Jesus fala deste místico edifício, refere-se apenas a uma Igreja a que chama Sua: «edificarei a Minha Igreja» (Mat. XVI, 18). Qualquer outra que se imagine fora desta, em virtude de não ter sido fundada por Ele, não pode ser a Sua verdadeira Igreja.

 

Fé, repito; aumentemos a nossa Fé; pedindo-a à Santíssima Trindade, cuja festa hoje celebramos.

Poderá acontecer tudo, excepto que o Deus três vezes Santo abandone a Sua Esposa.

 

23

 

O fim da Igreja

 

São Paulo, no primeiro capítulo da Epístola aos Efésios, afirma que “o mistério de Deus, anunciado por Cristo, se realiza na Igreja. Deus Pai pôs debaixo dos pés de Cristo todas as coisas, e constituiu-O cabeça de toda a Igreja, que é o Seu corpo e o complemento d'Aquele que cumpre tudo em todos. O mistério de Deus é, uma vez chegada a plenitude dos tempos, restaurar em Cristo todas as coisas, assim as que há no céu, como as que há na terra. Um mistério insondável, de pura gratuitidade de amor: porque Ele mesmo nos escolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados diante d'Ele”.

 

O amor de Deus não tem limites: o próprio São Paulo anuncia que “o Nosso Salvador quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade”.

 

Este, e não outro, é o fim da Igreja: a salvação das almas, uma a uma.

 

«Para isso o Pai enviou o Filho, e Eu envio-vos também a vós.

Daí o mandato de dar a conhecer a doutrina e de baptizar, para que, pela graça, a Santíssima Trindade habite na alma: foi-Me dado todo o poder no Céu e na terra. Ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei; e eis que Eu estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos

 

São as palavras simples e sublimes do final do Evangelho de São Mateus.

 

Aí se assinala a obrigação de pregar as verdades de fé, a urgência da vida sacramental, a promessa da contínua assistência de Cristo à Sua Igreja.

Não se é fiel a Nosso Senhor se se passa por cima destas realidades sobrenaturais: a instrução na fé e na moral cristãs, a prática dos sacramentos.

 

Com este mandato Cristo funda a Sua Igreja.

 

Tudo o resto é secundário.

 

 

24

 

Na Igreja está a nossa salvação

 

Não podemos esquecer que a Igreja é muito mais do que um caminho de salvação: é o único caminho.

 

Ora isto não foi inventado pelos homens, mas foi Cristo quem assim dispôs: «o que crer e for baptizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado

 

 

Por isso se afirma que a Igreja é necessária, com necessidade de meio, para nos salvarmos.

 

Já no século II Orígenes escrevia: “se alguém quer salvar-se, venha a esta casa, para que possa consegui-lo... que ninguém se engane a si mesmo: fora desta casa, isto é, fora da Igreja, ninguém se salva.”

 

E São Cipriano: ”Se alguém tivesse escapado (do dilúvio) fora da arca de Noé, então poderíamos admitir que quem abandona a Igreja pode escapar da condenação.

 

Extra Ecclesiam, nulla salus.

 

Admite Santo Agostinho: ”fora da Igreja católica pode encontrar-se tudo - - menos a salvação. Pode ter-se honra, pode haver Sacramentos, pode cantar-se o "aleluia", pode responder-se "ámen", pode defender-se o Evangelho, pode ter-se fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo e, inclusivamente, até pregá-la. Mas nunca, se não for na Igreja católica, pode encontrar-se a salvação.” É o aviso contínuo dos Padres

 

No entanto, como se lamentava São Pio XII há pouco mais de vinte anos, “alguns reduzem a uma fórmula vã a necessidade de pertencer à Igreja verdadeira para alcançar a salvação eterna”.

 

Este dogma de fé integra a base da actividade corredentora da Igreja, é o fundamento da grave responsabilidade apostólica dos cristãos. Entre os mandatos expressos de Cristo determina-se categoricamente o de nos incorporarmos no Seu Corpo Místico pelo Baptismo.

 

E o nosso Salvador não só promulgou o mandamento de que todos entrassem na Igreja, mas estabeleceu também que a Igreja fosse meio de salvação, sem a qual ninguém pode chegar ao reino da glória celestial.

 

É de fé que quem não pertence à Igreja não se salva; e que quem se não baptiza não ingressa na Igreja.

 

A justificação, depois da promulgação do Evangelho, não pode verificar-se sem o lavacro da regeneração ou o seu desejo”, estabelece o Concilio de Trento.

 

 

Pequena agenda do cristão

 


Quarta-Feira

Pequena agenda do cristão

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




Reflexão

 


Ser cristão

 

O cristão, como a criança pequena, não se ira se é insultado (…), não se vinga se é maltratado.

 

Mais ainda: o Senhor exige-Lhe que ore pelos seus inimigos, que deixe a túnica e o manto aos que lhos levam, que apresente a outra face a quem o esbofeteia.

 

(São Máximo de Turim, Homília, 58)

Virtudes

 


Caridade 1

Crer no amor de Deus

Temos fé por dom de Deus e por ela sabemos que Deus é amor e que esse amor se manifestou ao máximo no amor de Jesus, que morreu por cada um de nós, entrega-Se-nos na Eucaristia e acompanha-nos, em todo momento, como amigo e irmão. Por isso, verdadeiramente, podemos dizer com São Josemaria essas três palavras que condensam um pensamento de São Paulo: omnia in bonum! (cf. Rm 8,28), pois queremos amar a Deus e para os que O amam todas as coisas cooperam de algum modo para o bem, ainda que nem sempre o entendamos. Crer no amor de Deus é tão fundamental que São João resume assim a experiência dos Apóstolos no trato com Jesus Cristo: «nós conhecemos e acreditamos no amor que Deus nos tem» (1 Jo 4, 16). A fé cristã é, portanto, fé no Amor pleno, no seu poder eficaz, na sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo(Francisco, Lumen Fidei, 15). O rosto desse Amor manifesta-se-nos em Jesus Cristo, na Sua entrega por nós, para a nossa salvação. O Papa Francisco, falando de São Pedro, comenta que, talvez, a maior tentação do demónio era insinuar nele a ideia de não se considerar digno de ser amigo de Jesus Cristo, porque o tinha traído. Mas o Senhor é fiel. A amizade possui essa graça: um amigo que é mais fiel pode, com a sua fidelidade, fazer fiel o outro, que talvez não o seja tanto. E se se trata de Jesus, Ele tem, mais do que ninguém, o poder de fazer fiéis os seus amigos(Francisco, Discurso, 2-III-2017).

Nada move tanto a amar como o saber-se amado por esse Deus que nos quer fazer entrar na corrente trinitária do seu Amor.

São Josemaria unia essa segurança do amor divino com o profundo sentido da filiação divina: que confiança, que descanso e que otimismo vos dará, no meio das dificuldades, sentir-vos filhos de um Pai, que tudo sabe e que tudo pode (São Josemaria, Carta 9-I-1959, 60). No entanto, acreditando nisto, tantas vezes ficamos nervosos, inquietamo-nos diante das dificuldades, diante das nossas falhas e limitações, diante das contrariedades, diante das incompreensões. Isto é humanamente lógico, mas é sinal de que ainda não acreditamos plenamente que, em todo momento, Deus nos acompanha com um amor infinito, que sabe tudo e que tudo pode: Ele é interior intimo meo (Santo Agostinho, Confissões, III, 6), mais íntimo a mim do que eu próprio. Viver da fé: essas palavras que foram depois tantas vezes tema de meditação para o apóstolo Paulo, vêm-se realizadas amplamente em São José. O seu cumprimento da vontade de Deus não é rotineiro nem formalista, mas espontâneo e profundo. A lei que todo o judeu praticante vivia não foi para ele um simples código nem uma recompilação fria de preceitos, mas expressão da vontade de Deus vivo. Por isso soube reconhecer a voz do Senhor quando se lhe manifestou inesperada, surpreendente (Cristo que passa, 41). Se nos inquietamos demasiado, significa que, no fundo, a segurança e a paz – que todos naturalmente desejamos – a pomos de facto, em certa medida, ainda em nós próprios: em que as coisas nos corram bem, em que a saúde seja boa, no trabalho que nos convém, no apreço dos outros... mesmo no apostolado. E Jesus Cristo? Ainda temos esse pecado de que só o Espírito Santo nos pode, primeiro, ‘convencer’ (arguir), e depois curar mediante a perfeição da caridade: assim acreditaremos plenamente no amor do Senhor.

Santo Agostinho comenta as palavras do Senhor no evangelho de São João afirmando que Deus porá em nós o amor de que necessitamos: [Jesus] disse: Ele [o Espírito Santo] arguirá o mundo”, como se dissesse: Ele derramará a caridade em vossos corações (Santo Agostínho, In Ioannis Evangelium tractatus, 95, 1). A plenitude da caridade é a santidade, a que apenas chegaremos no Céu. Com a graça do Espírito Santo e a nossa generosa correspondência, já nesta vida podemos crescer cada vez mais na fé que age mediante a caridade. Para este crescimento, é preciso ancorar toda a nossa segurança no amor de Deus.