Caridade 1
Crer no amor de
Deus
Temos fé por dom de
Deus e por ela sabemos que Deus é amor e que esse amor se manifestou ao máximo
no amor de Jesus, que morreu por cada um de nós, entrega-Se-nos na Eucaristia e
acompanha-nos, em todo momento, como amigo e irmão. Por isso, verdadeiramente,
podemos dizer com São Josemaria essas três palavras que condensam um pensamento
de São Paulo: omnia in bonum! (cf. Rm 8,28), pois queremos amar a Deus e para os que O amam todas as coisas cooperam
de algum modo para o bem, ainda que nem sempre o entendamos. Crer no amor de
Deus é tão fundamental que São João resume assim a experiência dos Apóstolos no
trato com Jesus Cristo: «nós conhecemos e acreditamos no amor que Deus nos
tem» (1 Jo 4, 16). A fé cristã é,
portanto, fé no Amor pleno, no seu poder eficaz, na sua capacidade de
transformar o mundo e iluminar o tempo(Francisco, Lumen Fidei, 15). O rosto desse
Amor manifesta-se-nos em Jesus Cristo, na Sua entrega por nós, para a nossa
salvação. O Papa Francisco, falando de São Pedro, comenta que, talvez, a maior
tentação do demónio era insinuar nele a ideia de não se considerar digno de
ser amigo de Jesus Cristo, porque o tinha traído. Mas o Senhor é fiel. A
amizade possui essa graça: um amigo que é mais fiel pode, com a sua fidelidade,
fazer fiel o outro, que talvez não o seja tanto. E se se trata de Jesus, Ele
tem, mais do que ninguém, o poder de fazer fiéis os seus amigos(Francisco,
Discurso, 2-III-2017).
Nada move tanto a
amar como o saber-se amado por esse Deus que nos quer fazer entrar na corrente
trinitária do seu Amor.
São Josemaria unia essa segurança do amor divino com o
profundo sentido da filiação divina: que confiança, que descanso e que
otimismo vos dará, no meio das dificuldades, sentir-vos filhos de um Pai, que
tudo sabe e que tudo pode (São Josemaria, Carta 9-I-1959, 60). No entanto, acreditando nisto, tantas vezes ficamos nervosos,
inquietamo-nos diante das dificuldades, diante das nossas falhas e limitações,
diante das contrariedades, diante das incompreensões. Isto é humanamente
lógico, mas é sinal de que ainda não acreditamos plenamente que, em todo
momento, Deus nos acompanha com um amor infinito, que sabe tudo e que tudo
pode: Ele é interior intimo meo (Santo Agostinho, Confissões, III, 6), mais íntimo a mim do que eu próprio. Viver da fé:
essas palavras que foram depois tantas vezes tema de meditação para o apóstolo
Paulo, vêm-se realizadas amplamente em São José. O seu cumprimento da vontade
de Deus não é rotineiro nem formalista, mas espontâneo e profundo. A lei que
todo o judeu praticante vivia não foi para ele um simples código nem uma
recompilação fria de preceitos, mas expressão da vontade de Deus vivo. Por isso
soube reconhecer a voz do Senhor quando se lhe manifestou inesperada,
surpreendente (Cristo que passa,
41). Se nos
inquietamos demasiado, significa que, no fundo, a segurança e a paz – que todos
naturalmente desejamos – a pomos de facto, em certa medida, ainda em nós
próprios: em que as coisas nos corram bem, em que a saúde seja boa, no trabalho
que nos convém, no apreço dos outros... mesmo no apostolado. E Jesus Cristo?
Ainda temos esse pecado de que só o Espírito Santo nos pode, primeiro, ‘convencer’
(arguir), e depois curar mediante a perfeição da caridade: assim
acreditaremos plenamente no amor do Senhor.
Santo Agostinho
comenta as palavras do Senhor no evangelho de São João afirmando que Deus porá
em nós o amor de que necessitamos: [Jesus] disse: Ele [o Espírito Santo]
arguirá o mundo”, como se dissesse: Ele derramará a caridade em vossos
corações (Santo Agostínho,
In Ioannis Evangelium tractatus, 95, 1). A plenitude da caridade é a santidade, a que apenas chegaremos no Céu.
Com a graça do Espírito Santo e a nossa generosa correspondência, já nesta vida
podemos crescer cada vez mais na fé que age mediante a caridade. Para este
crescimento, é preciso ancorar toda a nossa segurança no amor de Deus.
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