Aparentemente pode parecer ''coisa de religião'' exacerbada ou exigente', as pessoas ''normais'' não terão necessidade destas preocupações. Isto é profundamente errado e um sintoma evidente de soberba. Quem pode julgar-se impecável no seu comportamento, como e no que pensa, o que e de que modo faz?
Quem, dotado de algum juízo, pode considerar que não tem nada a corrigir, a emendar, a rever?
Uma pessoa assim revela-se intratável e pouco digno de confiança.
Ocorre, a propósito, uma frase que deixou um lastro irremediável: ''nunca me engano e raramente tenho dúvidas''.
A irresponsabilidade de uma afirmação como esta só pode enraizar-se numa exacerbada vaidade pessoal, decerto grave e, de certeza ridícula.
Mas será que muitas vezes não temos, cada um de nós, a mesma convicção interior?
Não temos, de facto uma atitude de superioridade, uma como que imunidade pessoal que nos torna singulares, ''especiais''?
Acontece que, a maior parte das vezes isto acontece exactamente por falta de exame pessoal. Não gostamos que nos apontem um erro, que desqualifiquem uma opinião que emitimos, quanto mais sermos nós próprios a fazê-lo. Até parece masoquismo ou autoflagelação, pensamos.
Vemos na crítica ou no apontamento desfavorável algo que nos diminui e envergonha. Afinal pode tratar-se de uma ocasião soberana para corrigir a tempo, algo que talvez, se o não fizermos, pode ter consequências pouco agradáveis.
O interessante está em que nem mesmo assim nos coibimos de atentar nos erros, verdadeiros ou imaginados por nós, que vemos nos outros.
A velha máxima da descoberta do argueiro no olho do vizinho e a incapacidade para detectar a trave no nosso.
A obrigação de corrigir os próprio erros está intimamente ligada ao mesmo dever de corrigir o outro. Temos de pensar e ter claro que o outro, sobretudo se é nosso amigo, tem direito a que o corrijamos tal como nós podemos legitimamente esperar que ele faça o mesmo convosco.
Quem sou eu para corrigir seja quem for? Ouve-se com frequência esta alegação que, na verdade, revela indiferença, pelo menos, e egoísmo seguramente.
Mas, repete-se, o médico pelo facto de estar doente fica incapacitado de receitar a outrem o medicamento necessário para a maleita que apresenta?
Atenção que se fala de correcção no verdadeiro sentido do termo, que é, deve ser, uma atitude construtiva, e não de crítica que é algo completamente diferente.
A primeira é um desejo que o outro corrija algo que, a nosso ver, não é correcto. A segunda é um apontamento de outro cariz ou seja, uma avaliação pura e simples.