Jesus Cristo o Santo de Deus
CAPÍTULO V
O SUBLIME CONHECIMENTO DE CRISTO
4.O Nome e o Coração de Jesus
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Em relação a Jesus Cristo,
temos alguma coisa bem mais real a que nos “agarrar” para entrarmos em contacto
com a Sua pessoa vivente: temos o Seu Coração!
O rosto era somente um
símbolo metafórico, porque se sabia bem que Deus não tem um rosto humano; mas o
coração é, agora, para nós, depois da Encarnação, um símbolo real – isto é, ao
mesmo tempo, símbolo e realidade – porque sabemos que Cristo tem um coração
humano, que dentro da SS Trindade existe, um coração humano que pulsa.
Se, de facto, Cristo
ressuscitou da morte, também o Seu coração ressuscitou da morte; ele vive, como
o resto do Seu corpo, numa dimensão diferente da primeira – espiritual e não
carnal – mas vive.
Se o Cordeiro vive no Céu
“imolado, mas de pé” [i],
também o Seu coração condivide o mesmo estado; é um coração trespassado, mas
vivo; eternamente trespassado, porque eternamente vivo.
É esta talvez a certeza que
faltava (ou que não estava suficientemente expressa) no culto tradicional do
Sagrado Coração e que pode contribuir para renovar e revitalizar este culto.
O Sagrado Coração não é
somente aquele Coração que pulsava no peito de Cristo, quando vivia na terra e
que foi trespassado na cruz e do qual só a fé e a devoção, ou, no máximo, a
Eucaristia, podem perpetuar a presença entre nós.
Ele não vive somente na devoção,
mas também na realidade; não se coloca somente no passado, mas também no
pressente.
A devoção ao Sagrado Coração
de Jesus não está ligada exclusivamente e uma espiritualidade que privilegia o
Jesus terrestre e Crucificado, como foi durante muitos séculos a
espiritualidade latina, mas também está aberta ao mistério da ressurreição e da
primazia de Cristo.
Todas as vezes que pensamos
neste Coração, que o ouvimos, por assim dizer, pulsar sobre nós, no centro do
corpo místico, nós entramos em cantacto com a pessoa viva de Deus.
A devoção ao Sagrado Coração
não se esgotou, por isso, a sua tarefa com o desaparecimento co jansenismo, mas
permanece, também hoje, como o melhor antídoto contra a abstracção, o
intelectualismo, e aquele formatismo que tornam tão áridas a teologia e a fé.
Um coração que pulsa é
aquilo que mais claramente distingue uma realidade viva do seu conceito, porque
o conceito pode sintetizar tudo numa pessoa, excepto o seu coração que palpita.
CAPÍTULO VI
«TU AMAS-ME?»
O AMOR POR JESUS
São Tomás distingue o amor
em duas grandes espécies: o amor de concupiscência e o amor de amizade, o que
corresponde, em parte, à outra distinção, mais comum, entre eros e ágape, entre o amor de procura e o amor de doação.
O amor de concupiscência –
diz ele – é quando alguém ama alguma coisa (aliquis
aliquid), isto é, quando uma pessoa ama uma coisa, entendendo-se por “coisa”
não só um bem material ou espiritual, mas também uma pessoa se esta não for
amada como tal, mas sim instrumentalizada e reduzida precisamente a uma coisa.
O amor de amizade é quando
alguém ama alguém (aliquis amat aliquem),
isto é, quando uma pessoa ama uma
outra pessoa [ii].
A relação fundamental que
nos liga a Jesus enquanto pessoa é então o amor.
A pergunta que nos pusemos
acerca da divindade de Cristo era: “Tu crês?”;
A pergunta que nos devemos
pôr acerca da pessoa de Cristo, é: “Tu amas-me?”
Existe um exame de
cristologia em que todos os crentes, não só os teólogos, devem passar, e este
exame comporta duas perguntas obrigatórias para todos.
O examinador aqui é o
próprio Cristo.
Do resultado deste exame
depende não o acesso ao sacerdócio ou ao ministério da pregação, ou de uma
láurea em teologia, mas sim o acesso à vida eterna.
E essas duas perguntas são:
“Tu crês?” e “Tu amas-me?”:
Tu crês na divindade de
Cristo?
Tu amas a pessoa de Cristo?
S. Paulo pronunciou estas
terríveis palavras:
«Se alguém não ama o Senhor,
seja anátema!» [iii],
e o Senhor de quem se fala aqui é o Senhor Jesus Cristo.
No decurso dos séculos foram
pronunciados a propósito de Cristo muitos anátemas: contra quem negava a Sua
humanidade, contra quem dividia as Suas duas naturezas, contra quem as
confundia…, mas talvez nunca se deu bastante importância ao facto de que o
primeiro anátema da cristologia, pronunciado por um Apóstolo em pessoa, é
contra aqueles que não amam Jesus Cristo.
Nesta sexta etapa do nosso
caminho de aproximação a Cristo pela via dogmática da Igreja, iremos enfrentar,
com a ajuda do Espírito, precisamente algumas perguntas referentes ao amor de
Cristo:
Porquê amar Jesus Cristo?
Que significa amar Jesus
Cristo?
É possível amar Jesus
Cristo?
Amamos nós a Jesus Cristo?
(cont)
rainiero cantalamessa, Pregador da Casa Pontifícia.
[ii] S. Tomás, Summa Theol., I-Hae, 9-27
a.1