31/12/2017

Um ano que termina

Quando recordares a tua vida passada, passada sem pena nem glória, considera quanto tempo perdeste, e como podes recuperá-lo: com penitência e com maior entrega. (Sulco, 996)


Um ano que termina – já foi dito de mil modos, mais ou menos poéticos – com a graça e a misericórdia de Deus, é mais um passo que nos aproxima do Céu, nossa Pátria definitiva.

Ao pensar nesta realidade, compreendo perfeitamente aquela exclamação que S. Paulo escreve aos de Corinto: tempus breve est!, que breve é a nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam, no mais íntimo do seu coração, como uma censura à falta de generosidade e como um convite constante a ser leal. Realmente é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos, nem que atiremos irresponsavelmente este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós.

Pensemos na nossa vida com valentia. Por que é que às vezes não conseguimos os minutos de que precisamos para terminar amorosamente o trabalho que nos diz respeito e que é o meio da nossa santificação? Por que descuidamos as obrigações familiares? Por que é que se nos mete a precipitação no momento de rezar ou de assistir ao Santo Sacrifício da Missa? Por que nos faltará a serenidade e a calma para cumprir os deveres do nosso estado e nos entretemos sem qualquer pressa nos caprichos pessoais? Podeis responder-me: são coisas pequenas. Sim, com efeito, mas essas coisas pequenas são o azeite, o nosso azeite, que mantém viva a chama e acesa a luz. (Amigos de Deus, 39–41)


Temas para meditar

A força do Silêncio, 284


Deus não quer o mal. Deus não quer a guerra. Deus não quer a morte nem o sofrimento.
Deus não quer a injustiça.
Contudo, permite todos estes males terrestres.
Porquê tal mistério?

O Pai pretende que nós assumamos toda a nossa vida aqui na Terra. E o mal faz parte da condição humana.
Ele quis que O Seu próprio Filho fizesse a experiência do mal mais abjecto para a redenção e a salvação do mundo


CARDEAL ROBERT SARAH

Evangelho e comentário

Tempo de Natal

Sagrada Família

Evangelho: Lc 2, 22-40

22 Quando se cumpriu o tempo da sua purificação, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor, 23 conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo o primogénito varão será consagrado ao Senhor» 24 e para oferecerem em sacrifício, como se diz na Lei do Senhor, duas rolas ou duas pombas. 25 Ora, vivia em Jerusalém um homem chamado Simeão; era justo e piedoso e esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo estava nele. 26 Tinha-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não morreria antes de ter visto o Messias do Senhor. 27  Impelido pelo Espírito, veio ao templo, quando os pais trouxeram o menino Jesus, a fim de cumprirem o que ordenava a Lei a seu respeito. 28 Simeão tomou-o nos braços e bendisse a Deus, dizendo: 29 «Agora, Senhor, segundo a tua palavra, deixarás ir em paz o teu servo, 30 porque meus olhos viram a Salvação 31 que ofereceste a todos os povos, 32 Luz para se revelar às nações e glória de Israel, teu povo.» 33 Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que se dizia dele. 34 Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: «Este menino está aqui para queda e ressurgimento de muitos em Israel e para ser sinal de contradição; 35 uma espada trespassará a tua alma. Assim hão-de revelar-se os pensamentos de muitos corações.» 36 Havia também uma profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser, a qual era de idade muito avançada. Depois de ter vivido casada sete anos, após o seu tempo de donzela, 37 ficou viúva até aos oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, participando no culto noite e dia, com jejuns e orações. 38 Aparecendo nessa mesma ocasião, pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém. 39 Depois de terem cumprido tudo o que a Lei do Senhor determinava, regressaram à Galileia, à sua cidade de Nazaré. 40 Entretanto, o menino crescia e robustecia-se, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele.

Comentário:

A apresentação de Jesus no Templo tem, por assim dizer, “testemunhas de peso”.

O Senhor deseja que tudo quanto Lhe respeite seja o normal e comum de qualquer outro bom israelita do Seu tempo e, igualmente, no que concerne à Sua Família. Nada O há-de distinguir dos outros, a nada Se exime.
De facto, parece que o Menino se antecipa ao Sacrifício da Cruz oferecendo-se a Seu Pai nos começos e no final da Sua vida terrena.

Fica bem vincado, assim, que Ele veio para cumprir um Pano Divino, a Vontade Soberana de Deus e que, este será observado sempre sejam as circunstâncias tranquilas da Apresentação no Templo sejam as dramáticas ocorrências da Sua Paixão e Morte.

(ama, comentário sobre Lc 2, 22-40, 02.02.2014)







Leitura espiritual

MARIA, A MÃE DE JESUS 8


A DEVOÇÃO A MARIA SANTÍSSIMA

O nosso relacionamento, a nossa intimidade com Maria é essencialmente filial. O vínculo filiação-maternidade “determina sempre – como lembra a Encíclica Redemptoris Mater – uma relação única e irrepetível entre duas pessoas: da mãe com o filho e do filho com a mãe” [i]. E a medula desse vínculo, evidentemente, é o amor. Por isso, só perguntando-nos pelas características que tornam autêntico esse amor é que descobriremos os traços da verdadeira devoção a Maria Santíssima. Com isso, perceberemos também melhor o que Deus quis que representasse para nós o imenso dom que nos fez, dando-nos Maria como Mãe. Comecemos pelos aspectos dessa devoção que se nos impõem de maneira mais imediata. Um cristão que vive de fé sabe que Maria o ama e o auxilia com carinho de Mãe. Sabe-a voltada maternalmente para ele. É natural que, dessa certeza, flua espontaneamente uma sincera afeição filial. “Nada convida tanto ao amor – comenta São Tomás – como a consciência de sentir-se amado” [ii].
A devoção mariana manifesta-se, por isso, em mil expressões, delicadas e fervorosas, de carinho de filho: no tom afetuoso da oração que dirigimos a Ela, na alegria de visitá-la nos lugares onde se quis fazer especialmente presente, nos muitos pormenores íntimos do coração, que o pudor vedaria externar. Juntamente com esse afeto filial, e impregnando-o intimamente, brota também espontaneamente um sentimento de profunda confiança. “Nunca se ouviu dizer – reza uma bela oração atribuída a São Bernardo – que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado”. Esta certeira confiança dos fiéis exprimiu-se num leque multicolorido de invocações marianas, que traduzem a segura experiência do coração cristão: Mãe de misericórdia, Virgem poderosa, Auxílio dos cristãos, Consoladora dos aflitos, Onipotência suplicante... Era essa a confiança que fazia Dante escrever estes preciosos versos: Donna, se' tanto grande e tanto vali, / che qual vuol grazia e a te non ricorre, / sua disianza vuol volar sanz'ali; “Senhora, és tão grande e tanto podes, que para quem quer graça e a ti não recorre, o seu desejo quer voar sem asas” [iii]. Amor e confiança. Trata-se de sentimentos com fortes raízes no coração. Ora é bem sabido que os afectos do coração possuem muitas vezes uma sutil ambivalência: são sentimentos que a custo se equilibram na difícil passarela onde o amor beira sempre o egoísmo. Não é raro que os muito sentimentais sejam também muito egoístas. Por isso, se a devoção a Maria não estivesse fundamentada nos alicerces da fé – da doutrina – e da caridade, poderia deslizar imperceptívelmente para os declives do egoísmo. Tal coisa aconteceria no caso de uma devoção meramente sentimental – não animada por desejos de entrega e de amor operante – que, embora cheia de efusões de ternura, não incidisse fortemente na vida para modificá-la. Mais facilmente ainda se daria essa deturpação se a devoção mariana se reduzisse a um simples recurso para alcançar uma “proteção” ou uns “favores” meramente interesseiros. Esses desvios, contudo, não se darão se o nosso amor filial a Maria entrar, como deve, em sintonia com o seu amor maternal. Pensemos que o coração da nossa Mãe, “cheia de graça”, é uma fornalha ardente de caridade, de amor a Deus e aos homens. Nele se encontra, em medida quase infinita, a caridade derramada pelo Espírito Santo [iv]. Isto significa que quem se aproximar dEla com um coração reto e sincero se sentirá necessariamente impelido para o amor a Deus e ao próximo. Este é o segredo divino da devoção a Maria. Foi de fato para nos facilitar a entrega a esse duplo amor – o mandamento que resume todos os outros – que Deus, em sua misericórdia, quis dar-nos Maria como Mãe. É por isso que a devoção a Maria, bem vivida, é sempre como um sopro – fecundo, cálido e suave – que acende o amor na alma, inflama a generosidade e move a abraçar sem reservas a vontade de Deus. “Se procurarmos Maria, encontraremos Jesus”, diz Mons. Escrivá, fazendo-se eco da tradição cristã [v].

No fundo de tudo o que a Virgem Santíssima sugere ao coração dos homens, sempre pulsam as suas palavras em Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. A verdadeira devoção é, por isso, radicalmente “cristocêntrica” – conduz a Cristo –, é “teocêntrica”. Nossa Senhora vive e faz viver em função de Jesus. Não pode haver aí nem sombra de “idolatria”. Ao mesmo tempo, é claro que, se Maria nos leva a Jesus, indefectívelmente nos aproxima também dos nossos irmãos, que são irmãos de seu Filho e filhos dEla. Ela é a Mãe comum que nos faz sentir fraternalmente vinculados em Cristo, membros da família de Deus [vi], e nos desperta na alma ânsias de doação e de serviço aos outros. O Coração de Maria infunde calor e força ao amor dos irmãos. Como vemos, se a Virgem Santíssima nos auxilia – e esta é a sua missão maternal –, é única e exclusivamente para nos colocar mais plenamente em face das exigências da nossa vocação cristã. É com este fim que Ela intercede por nós junto de Deus e distribui as graças que o Senhor colocou em suas mãos. Mesmo os favores maternos que Ela nos obtém em pequenas coisas – como em Caná – são incentivos de carinho que nos ajudam a agradecer e a retribuir a Deus as suas bondades. Em qualquer caso, Ela estende a sua mão para nos elevar – suave e fortemente – até à meta da nossa vocação cristã, que é a santidade. Com razão se pode afirmar, por isso, que o amor de Maria por seus filhos é simultaneamente doce e exigente. “Nossa Senhora, sem deixar de se comportar como Mãe, sabe colocar os seus filhos em face de suas precisas responsabilidades. Aos que dEla se aproximam e contemplam a sua vida, Maria faz sempre o imenso favor de os levar até a Cruz, de os colocar bem diante do exemplo do Filho de Deus. E nesse confronto em que se decide a vida cristã, Maria intercede para que a nossa conduta culmine com uma reconciliação do irmão menor – tu e eu – com o Filho primogênito do Pai” [vii]. A Jesus “se vai” por Maria, e a Jesus “se volta” por Ela, diz Caminho [viii].
Quando, ao rezar a Ave-Maria, nós lhe pedimos “rogai por nós, pecadores”, fazemo-lo com a consciência de que demasiadas vezes nos afastamos de Deus e, como o filho pródigo, precisamos voltar para a casa do Pai. Maria torna suave, também, e esperançado esse retorno. Não é verdade que, perto da Mãe, nos tornamos a sentir crianças? Despojamo-nos da nossa triste armadura de adultos, forjada pelo orgulho, pela vergonha ou pela decepção. E então o fardo das nossas misérias já não nos esmaga. Com Maria, sentimo-nos crianças reanimadas pela ternura da Mãe, alegres por descobrir que, para um filho pequeno, sempre é possível levantar-se, sempre é possível recomeçar, sempre é hora de esperar. Ela é a porta perpetuamente aberta na Casa do Pai. A Estrela da manhã, a Estrela do mar, a nossa Mãe, guia-nos por toda a estrada da vida, passo a passo, na bonança e na tormenta, nos avanços e nas quedas, até alcançarmos o repouso definitivo no coração do Pai. Nunca percamos de vista que “foi Deus quem nos deu Maria: não temos o direito de rejeitá-la, antes pelo contrário, devemos recorrer a Ela com amor e com alegria de filhos” [ix]. Há um antigo adágio teológico que diz: De Maria numquam satis, isto é, “nunca diremos o bastante de Maria”. Nestas páginas, tentamos aproximar-nos do esplendor do mistério de Maria. Pudemos captar apenas alguns dos seus fulgores. Mas, para alcançarmos uma luz mais plena, devemos imitar a Santíssima Virgem, procurando como Ela “guardar, meditando-as no coração” [x], todas as coisas que Deus nos quis dizer acerca de Maria. Então compreenderemos cada vez melhor por que a Igreja aplica a Nossa Senhora estas palavras do livro dos Provérbios: Aquele que me achar encontrará a Vida e alcançará do Senhor a salvação [xi].

FRANCISCO FAUS.




[i] Enc. Redemptoris Mater, n. 45
[ii] cfr. São Tomás de Aquino, Summa contra gentes, IV, XXIII
[iii] Dante Alighieri, Divina Comédia, Par. XXXIII, 13-15
[iv] cfr. Rom 5, 5
[v] Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, cit., pág. 190
[vi] cfr. Ef 2, 19
[vii] Josemaría Escrivá, ib., pág. 195
[viii] Josemaría Escrivá, Caminho, cit., n. 495
[ix] Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, cit., pág. 189
[x] cfr. Lc 2, 51
[xi] Prov 8, 35

Pequena agenda do cristão

DOMINGO



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Viver a família.

Senhor, que a minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um, absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças, azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um sejam luminosos e alegres.

Lembrar-me:
Cultivar a Fé

São Tomé, prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os que crêem sem terem visto.
E eu creio, Senhor.
Creio firmemente que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu coração.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?