Tempo de Quaresma III Semana
São João de Deus
Evangelho:
Mt 18 21-25
21 Então, aproximando-se d'Ele Pedro, disse: «Senhor, até quantas vezes
poderá pecar meu irmão contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes?». 22
Jesus respondeu-lhe: «Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes
sete. 23 «Por isso, o Reino dos Céus é comparável a um rei que quis
fazer as contas com os seus servos. 24 Tendo começado a fazer as
contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. 25
Como não tivesse com que pagar, o seu senhor mandou que fosse vendido ele, a
mulher, os filhos e tudo o que tinha, e se saldasse a dívida. 26
Porém, o servo, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo,
eu te pagarei tudo”. 27 E o senhor, compadecido daquele servo,
deixou-o ir livre e perdoou-lhe a dívida. 28 «Mas este servo, tendo
saído, encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem denários e,
lançando-lhe a mão, sufocava-o dizendo: “Paga o que me deves”. 29 O
companheiro, lançando-se-lhe aos pés, suplicou-lhe: “Tem paciência comigo, eu
te pagarei”. 30 Porém ele recusou e foi mandá-lo meter na prisão,
até pagar a dívida. 31 «Os outros servos seus companheiros, vendo
isto, ficaram muito contristados e foram referir ao seu senhor tudo o que tinha
acontecido. 32 Então o senhor chamou-o e disse-lhe: “Servo mau, eu
perdoei-te a dívida toda, porque me suplicaste. 33 Não devias tu
também compadecer-te do teu companheiro, como eu me compadeci de ti?”. 34
E o seu senhor, irado, entregou-o aos guardas, até que pagasse toda a dívida. 35
«Assim também vos fará Meu Pai celestial, se cada um não perdoar do íntimo do
seu coração ao seu irmão»
Comentário:
O perdão é uma capacidade exclusiva do ser
humano porque lhe advém da sua imagem e semelhança com Deus.
Perdoar é, no fim e ao cabo, amar, e Deus é
amor, perdão.
Quem não ama não se sente urgido a perdoar nem
sente a necessidade de ser perdoado.
È tão triste ver essas pessoas carregando uma
enorme lista de agravos e ofensas de que se considera alvo e, quanto mais a
carrega e nela se detém, mais acrescenta até que, coisas mínimas e sem nenhuma
importância – a maior parte das vezes não passam de diferenças de opinião –
adquirem um volume e um peso enormes.
O egoísmo e amor próprios são os responsáveis
por estas atitudes que tornam as pessoas cada vez mais separadas da realidade,
as afasta gradualmente do convívio com os outros e as convertem em pessoas insuportáveis
e antipáticas.
Quase sempre, se não arrepiam caminho, acabam
sozinhas, sem amigos e, até, sem família que lhes queira verdadeiramente.
(ama,
cometário sobre Mt 18, 21-35, 2013.03.05)
Leitura espiritual
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS
PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O ANÚNCIO
Outros
desafios eclesiais
102. A imensa maioria do
povo de Deus é constituída por leigos. Ao seu serviço, está uma minoria: os
ministros ordenados. Cresceu a consciência da identidade e da missão dos leigos
na Igreja. Embora não suficiente, pode contar-se com um numeroso laicado,
dotado de um arreigado sentido de comunidade e uma grande fidelidade ao
compromisso da caridade, da catequese, da celebração da fé. Mas, a tomada de
consciência desta responsabilidade laical que nasce do Baptismo e da
Confirmação não se manifesta de igual modo em toda a parte; nalguns casos,
porque não se formaram para assumir responsabilidades importantes, noutros por
não encontrar espaço nas suas Igrejas particulares para poderem exprimir-se e
agir por causa dum excessivo clericalismo que os mantém à margem das decisões.
Apesar de se notar uma maior participação de muitos nos ministérios laicais,
este compromisso não se reflecte na penetração dos valores cristãos no mundo
social, político e económico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da
Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação
da sociedade. A formação dos leigos e a evangelização das categorias
profissionais e intelectuais constituem um importante desafio pastoral.
103. A Igreja reconhece a
indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma sensibilidade, uma
intuição e certas capacidades peculiares, que habitualmente são mais próprias
das mulheres que dos homens. Por exemplo, a especial solicitude feminina pelos
outros, que se exprime de modo particular, mas não exclusivamente, na
maternidade. Vejo, com prazer, como muitas mulheres partilham responsabilidades
pastorais juntamente com os sacerdotes, contribuem para o acompanhamento de
pessoas, famílias ou grupos e prestam novas contribuições para a reflexão
teológica. Mas ainda é preciso ampliar os espaços para uma presença feminina
mais incisiva na Igreja. Porque «o génio feminino é necessário em todas as
expressões da vida social; por isso deve ser garantida a presença das mulheres
também no âmbito do trabalho»[i]
e nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja
como nas estruturas sociais.
104. As reivindicações dos
legítimos direitos das mulheres, a partir da firme convicção de que homens e
mulheres têm a mesma dignidade, colocam à Igreja questões profundas que a
desafiam e não se podem iludir superficialmente. O sacerdócio reservado aos
homens, como sinal de Cristo Esposo que Se entrega na Eucaristia, é uma questão
que não se põe em discussão, mas pode tornar-se particularmente controversa se
se identifica demasiado a potestade sacramental com o poder. Não se esqueça
que, quando falamos da potestade sacerdotal, «estamos na esfera da função e não
na da dignidade e da santidade».[ii]
O sacerdócio ministerial é um dos meios que Jesus utiliza ao serviço do seu
povo, mas a grande dignidade vem do Baptismo, que é acessível a todos. A
configuração do sacerdote com Cristo Cabeça – isto é, como fonte principal da
graça – não comporta uma exaltação que o coloque por cima dos demais. Na
Igreja, as funções «não dão justificação à superioridade de uns sobre os
outros».[iii]
Com efeito, uma mulher, Maria, é mais importante do que os Bispos. Mesmo quando
a função do sacerdócio ministerial é considerada «hierárquica», há que ter bem
presente que «se ordena integralmente à santidade dos membros do corpo místico
de Cristo».[iv]
A sua pedra de fecho e o seu fulcro não são o poder entendido como domínio, mas
a potestade de administrar o sacramento da Eucaristia; daqui deriva a sua
autoridade, que é sempre um serviço ao povo. Aqui está um grande desafio para
os Pastores e para os teólogos, que poderiam ajudar a reconhecer melhor o que
isto implica no que se refere ao possível lugar das mulheres onde se tomam
decisões importantes, nos diferentes âmbitos da Igreja.
105. A pastoral juvenil,
tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças
sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram
respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós,
adultos, custa-nos a ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações
ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles
entendem. Pela mesma razão, as propostas educacionais não produzem os frutos
esperados. A proliferação e o crescimento de associações e movimentos [v]
predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma acção do Espírito
que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de
espiritualidade profunda e dum sentido mais concreto de pertença. Todavia é
necessário tornar mais estável a participação destas agregações no âmbito da
pastoral de conjunto da Igreja.[vi]
106. Embora nem sempre
seja fácil abordar os jovens, houve crescimento em dois aspectos: a consciência
de que toda a comunidade os evangeliza e educa, e a urgência de que eles tenham
um protagonismo maior. Deve-se reconhecer que, no actual contexto de crise do
compromisso e dos laços comunitários, são muitos os jovens que se solidarizam
contra os males do mundo, aderindo a várias formas de militância e
voluntariado. Alguns participam na vida da Igreja, integram grupos de serviço e
diferentes iniciativas missionárias nas suas próprias dioceses ou noutros
lugares. Como é bom que os jovens sejam «caminheiros da fé», felizes por
levarem Jesus Cristo a cada esquina, a cada praça, a cada canto da terra!
107. Em muitos lugares, há
escassez de vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Frequentemente isso
fica-se a dever à falta de ardor apostólico contagioso nas comunidades, pelo
que estas não entusiasmam nem fascinam. Onde há vida, fervor, paixão de levar
Cristo aos outros, surgem vocações genuínas. Mesmo em paróquias onde os
sacerdotes não são muito disponíveis nem alegres, é a vida fraterna e fervorosa
da comunidade que desperta o desejo de se consagrar inteiramente a Deus e à
evangelização, especialmente se essa comunidade vivente reza insistentemente
pelas vocações e tem a coragem de propor aos seus jovens um caminho de especial
consagração. Por outro lado, apesar da escassez vocacional, hoje temos noção
mais clara da necessidade de uma melhor selecção dos candidatos ao sacerdócio.
Não se podem encher os seminários com qualquer tipo de motivações, e menos
ainda se estas estão relacionadas com insegurança afectiva, busca de formas de
poder, glória humana ou bem-estar económico.
108. Como já disse, não
pretendi oferecer um diagnóstico completo, mas convido as comunidades a
completarem e a enriquecerem estas perspectivas a partir da consciência dos
desafios próprios e das comunidades vizinhas. Espero que, ao fazê-lo, tenham em
conta que, todas as vezes que intentamos ler os sinais dos tempos na realidade
actual, é conveniente ouvir os jovens e os idosos. Tanto uns como outros são a
esperança dos povos. Os idosos fornecem a memória e a sabedoria da experiência,
que convida a não repetir tontamente os mesmos erros do passado. Os jovens
chamam-nos a despertar e a aumentar a esperança, porque trazem consigo as novas
tendências da humanidade e abrem-nos ao futuro, de modo que não fiquemos
encalhados na nostalgia de estruturas e costumes que já não são fonte de vida
no mundo actual.
109. Os desafios existem
para ser superados. Sejamos realistas, mas sem perder a alegria, a audácia e a
dedicação cheia de esperança. Não deixemos que nos roubem a força missionária!
CAPÍTULO
III
O
ANÚNCIO DO EVANGELHO
110. Depois de considerar
alguns desafios da realidade actual, quero agora recordar o dever que incumbe
sobre nós em toda e qualquer época e lugar, porque «não pode haver verdadeira
evangelização sem o anúncio explícito de Jesus como Senhor» e sem existir uma
«primazia do anúncio de Jesus Cristo em qualquer trabalho de evangelização».[vii]
Recolhendo as preocupações dos Bispos asiáticos, João Paulo II afirmou que, se
a Igreja «deve realizar o seu destino providencial, então uma evangelização
entendida como o jubiloso, paciente e progressivo anúncio da Morte salvífica e
Ressurreição de Jesus Cristo há-de ser a vossa prioridade absoluta».[viii]
Isto é válido para todos.
I. todo o povo de deus anuncia o evangelho
111. A evangelização é
dever da Igreja. Este sujeito da evangelização, porém, é mais do que uma
instituição orgânica e hierárquica; é, antes de tudo, um povo que peregrina
para Deus. Trata-se certamente de um mistério que mergulha as raízes na
Trindade, mas tem a sua concretização histórica num povo peregrino e evangelizador,
que sempre transcende toda a necessária expressão institucional. Proponho que
nos detenhamos um pouco nesta forma de compreender a Igreja, que tem o seu
fundamento último na iniciativa livre e gratuita de Deus.
Um
povo para todos
112. A salvação, que Deus
nos oferece, é obra da sua misericórdia. Não há acção humana, por melhor que
seja, que nos faça merecer tão grande dom. Por pura graça, Deus atrai-nos para
nos unir a Si.[ix]
Envia o seu Espírito aos nossos corações, para nos fazer seus filhos, para nos
transformar e tornar capazes de responder com a nossa vida ao seu amor. A
Igreja é enviada por Jesus Cristo como sacramento da salvação oferecida por
Deus.[x]
Através da sua acção evangelizadora, ela colabora como instrumento da graça
divina, que opera incessantemente para além de toda e qualquer possível
supervisão. Bem o exprimiu Bento XVI, ao abrir as reflexões do Sínodo: «É sempre
importante saber que a primeira palavra, a iniciativa verdadeira, a actividade
verdadeira vem de Deus e só inserindo-nos nesta iniciativa divina, só
implorando esta iniciativa divina, nos podemos tornar também – com Ele e n’Ele
– evangelizadores».[xi]
O princípio da primazia da graça deve ser um farol que ilumine constantemente
as nossas reflexões sobre a evangelização.
113. Esta salvação, que
Deus realiza e a Igreja jubilosamente anuncia, é para todos,[xii]
e Deus criou um caminho para Se unir a cada um dos seres humanos de todos os
tempos. Escolheu convocá-los como povo, e não como seres isolados.[xiii]
Ninguém se salva sozinho, isto é, nem como indivíduo isolado, nem por suas
próprias forças. Deus atrai-nos, no respeito da complexa trama de relações
interpessoais que a vida numa comunidade humana supõe. Este povo, que Deus
escolheu para Si e convocou, é a Igreja. Jesus não diz aos Apóstolos para
formarem um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: «Ide, pois, fazei
discípulos de todos os povos»[xiv].
São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, «não há judeu nem grego (...),
porque todos sois um só em Cristo Jesus»[xv].
Eu gostaria de dizer àqueles que se sentem longe de Deus e da Igreja, aos que
têm medo ou aos indiferentes: o Senhor também te chama para seres parte do seu
povo, e fá-lo com grande respeito e amor!
114. Ser Igreja significa
ser povo de Deus, de acordo com o grande projecto de amor do Pai. Isto implica
ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a
salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido,
necessitado de ter respostas que encorajem, dêem esperança e novo vigor para o
caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam
sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa
do Evangelho.
Um
povo com muitos rostos
115. Este povo de Deus
encarna-se nos povos da Terra, cada um dos quais tem a sua cultura própria. A
noção de cultura é um instrumento precioso para compreender as diversas
expressões da vida cristã que existem no povo de Deus. Trata-se do estilo de
vida que uma determinada sociedade possui, da forma peculiar que têm os seus membros
de se relacionar entre si, com as outras criaturas e com Deus. Assim entendida,
a cultura abrange a totalidade da vida dum povo.[xvi]
Cada povo, na sua evolução histórica, desenvolve a própria cultura com legítima
autonomia[xvii]
Isso fica-se a dever ao facto de que a pessoa humana, «por sua natureza,
necessita absolutamente da vida social»[xviii]
e mantém contínua referência à
sociedade, na qual vive uma maneira concreta de se relacionar com a
realidade. O ser humano está sempre culturalmente situado: «natureza e cultura
encontram-se intimamente ligadas».[xix]
A graça supõe a cultura, e o dom de Deus encarna-se na cultura de quem o
recebe.
116. Ao longo destes dois
milénios de cristianismo, uma quantidade inumerável de povos recebeu a graça da
fé, fê-la florir na sua vida diária e transmitiu-a segundo as próprias
modalidades culturais. Quando uma comunidade acolhe o anúncio da salvação, o
Espírito Santo fecunda a sua cultura com a força transformadora do Evangelho. E
assim, como podemos ver na história da Igreja, o cristianismo não dispõe de um
único modelo cultural, mas «permanecendo o que é, na fidelidade total ao
anúncio evangélico e à tradição da Igreja, o cristianismo assumirá também o
rosto das diversas culturas e dos vá- rios povos onde for acolhido e se
radicar».[xx]
Nos diferentes povos, que experimentam o dom de Deus segundo a própria cultura,
a Igreja exprime a sua genuína catolicidade e mostra «a beleza deste rosto
pluriforme».[xxi]
Através das manifestações cristãs dum povo evangelizado, o Espírito Santo
embeleza a Igreja, mostrando-lhe novos aspectos da Revelação e presenteando-a
com um novo rosto. Pela inculturação, a Igreja «introduz os povos com as suas
culturas na sua própria comunidade»,[xxii]
porque «cada cultura oferece formas e valores positivos que podem enriquecer o
modo como o Evangelho é pregado, compreendido e vivido».[xxiii]
Assim, «a Igreja, assumindo os valores das diversas culturas, torna-se sponsa
ornata monilibus suis, a noiva que se adorna com suas joias [xxiv]».[xxv]
117. Se for bem entendida,
a diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja. É o Espírito Santo,
enviado pelo Pai e o Filho, que transforma os nossos corações e nos torna
capazes de entrar na comunhão perfeita da Santíssima Trindade, onde tudo
encontra a sua unidade. O Espírito Santo constrói a comunhão e a harmonia do
povo de Deus. Ele mesmo é a harmonia, tal como é o vínculo de amor entre o Pai
e o Filho.[xxvi]
É Ele que suscita uma abundante e diversificada riqueza de dons e, ao mesmo
tempo, constrói uma unidade que nunca é uniformidade, mas multiforme harmonia
que atrai. A evangelização reconhece com alegria estas múltiplas riquezas que o
Espírito gera na Igreja. Não faria justiça à lógica da encarnação pensar num
cristianismo monocultural e monocórdico. É verdade que algumas culturas
estiveram intimamente ligadas à pregação do Evangelho e ao desenvolvimento do
pensamento cristão, mas a mensagem revelada não se identifica com nenhuma delas
e possui um conteúdo transcultural. Por isso, na evangelização de novas
culturas ou de culturas que não acolheram a pregação cristã, não é
indispensável impor uma determinada forma cultural, por mais bela e antiga que
seja, juntamente com a proposta do Evangelho. A mensagem, que anunciamos,
sempre apresenta alguma roupagem cultural, mas às vezes, na Igreja, caímos na
vaidosa sacralização da própria cultura, o que pode mostrar mais fanatismo do
que autêntico ardor evangelizador.
118. Os Bispos da Oceânia
pediram que a Igreja neste continente «desenvolva uma compreensão e exposição
da verdade de Cristo partindo das tradições e culturas locais», e instaram
todos os missionários «a trabalhar de harmonia com os cristãos indígenas para
garantir que a doutrina e a vida da Igreja sejam expressas em formas legítimas
e apropriadas a cada cultura».[xxvii]
Não podemos pretender que todos os povos dos vá- rios continentes, ao exprimir
a fé cristã, imitem as modalidades adoptadas pelos povos europeus num determinado
momento da história, porque a fé não se pode confinar dentro dos limites de
compreensão e expressão duma cultura.[xxviii]
É indiscutível que uma única cultura não esgota o mistério da redenção de
Cristo.
(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
Notas:
[i] 72 Pont. Conselho
«Justiça e Paz», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 295.
[ii] João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal Christifideles laici (30 de Dezembro de 1988), 51: AAS
81 (1989), 493.
[iii] Congr. para
aDoutrina da Fé, Decl. sobre a questão da admissão das mulheres ao sacerdócio
ministerial Inter Insigniores
[iv] João Paulo II,
Carta ap. Mulieris dignitatem (15 de Agosto de 1988), 27: AAS 80 (1988),
1718.85
[v] (15 de Outubro de
1976), VI: AAS 69 (1977), 115, citado por João Paulo II na Exort. ap.
pós-sinodal Christifideles laici (30 de Dezembro de 1988), 51 (nota 190): AAS
81 (1989)
[vi] Cf. Propositio
51.86
[vii]João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Asia (6 de Novembro de 1999), 19: AAS 92
(2000), 478.
[viii] Ibid., 2: o. c.,
451.90
[x] Cf. Conc. Ecum.
Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1.
[xi] Meditação na
primeira Congregação geral da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos
Bispos (8 de Outubro de 2012): AAS 104 (2012), 897.
[xii] Cf. Propositio 6;
Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium
et spes, 22.
[xiii] Cf. Conc. Ecum.
Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 9.92
[xvi] Cf. III Conferência
Geral do Episcopado Latino- -americano e do Caribe, Documento de Puebla (23 de
Março de 1979), 386-387.
[xvii] Cf. Conc. Ecum.
Vat. II, Const. past. sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes,
36.
[xx] João Paulo II,
Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 40: AAS 93 (2001),
294-295.
[xxi] Ibid., 40: o. c.,
295.
[xxii] João Paulo II,
Carta enc. Redemptoris missio (7 de Dezembro de 1990), 52: AAS 83 (1991), 300.
Cf. Exort. ap. Catechesi tradendae (16 de Outubro de 1979), 53: AAS 71 (1979),
1321.
[xxiii] João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Oceania (22 de Novembro de 2001), 16: AAS 94
(2002), 384.
[xxv] João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 61: AAS 88
(1996), 39.
[xxvi] «Excluído o
Espírito Santo, que é o vínculo de ambos, não se pode entender a concórdia da
unidade entre o Pai e o Filho» (São Tomás de Aquino, Summa theologiae, I, q.
39, a. 8 cons. 2; veja-se também ibid., I, q. 37, a. 1, ad 3).
[xxvii] João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Oceania (22 de Novembro de 2001), 17: AAS 94
(2002), 385.
[xxviii] Cf. João Paulo II,
Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Asia (6 de Novembro de 1999), 20: AAS 92
(2000), 478-482.